por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 5 de fevereiro de 2011

Prosa com Luis Eduardo

... Em 2004, eu morava na 713 sul – no Plano Piloto, a parte do DF que recebe o governo, os ministérios etc., a que se chama Brasília; o que seriam os bairros aqui são chamadas cidades satélites, umas vinte, moramos em Taguatinga, a maior delas.
Um dia, em 2004, logo que eclodiu o escândalo “mensalão do PT”, eu ouvia a CBN. Em frente à casa que eu morava, na av. W3 sul, fica o bar do Chico, onde ia de vez em quando. Não conhecia bem as pessoas, mas observara que havia lá um grupo de várias “da direita”, do PSDB e do PMDB. Da “esquerda”, não havia quase ninguém, não me lembro de alguém. Eu ia até lá com Kleber, o editor Da Anta Casa, editora que publicou livros excepcionais, de conteúdo diferenciado e grande esmero técnico. Kléber é meu conterrâneo, de Patos de Minas, MG. (O nome da nossa cidade naturalmente vem de a região, rota de tropeiros, ter um lago e muitas das aves, e as pessoas acampavam ali, até que se formou um povoado, que aumentou...)
Naquele dia, ouvia a Rádio CBN, quando o senador Eduardo Suplicy foi entrevistado. Eu não sou partidário, mas nas eleições fiz votar sempre na “esquerda”, PT, PCdoB, nutri portanto simpatia pelos partidos supostamente de tendência socialista ou comunista. Politicamente, não colocaria alguém da “direita”, essencialmente defensor da ideia da propriedade privada no poder, pois isso me pareceu sempre colocar a raposa para tomar conta do galinheiro... O repórter da CBN: “Senador, agora que está patente que o PT está envolvido no ‘mensalão’, o senhor vai deixar o partido, certo?” E Suplicy respondeu que não, que o PT não tinha nada a ver com mensalão, que o PT surgira de um sonho de liberdade e justiça social, que haveria apuração de tudo, que os culpados seriam punidos, e que o PT representava um sonho de liberdade no Brasil... Ele disse algo assim. Fui ao bar “da direita”.
No bar, onde cheguei batendo palmas, praticamente exigindo a atenção das pessoas, os pmdbistas e psdbistas estavam no fundo, próximos à televisão. Eu me dirigia a eles batendo palmas e dizendo algo como “Atenção, por favor, vocês ouviram a entrevista do Suplicy?” O senador sempre foi respeitado pelos “direitistas”, por isso os abordava daquela maneira. Todos naturalmente negaram ter ouvido a entrevista, que acontecera aquela hora, pelo rádio. Fiz uma resenha rápida da entrevista e endossei a posição do senador. Eles me olhavam sem poder falar nada. Eu desabafara, de tanto ouvi-los “descer a lenha” no PT e na esquerda em geral, meus simpáticos...
Em seguida a falar para eles, virei-me para o balcão e perguntei a Chico por uma cerveja e uma pinga (beber pinga naquele momento era um sinal de que não brincava...). Nisso, alguém, de duas pessoas sentadas do lado de fora do bar, que bebiam, me faz sinal para me aproximar, insiste. Já com a cerveja e a pinga na mão, me dirigi à parte de fora do bar, e a pessoa me diz que gostou do que falei, e me convida para me sentar. Sim, me sentei e conversamos. Era Oswaldo, mais ou menos 60 anos, petista. As pessoas o respeitam muito, digno, sincero, militante de tempo integral das idéias cooperativistas. Passamos a nos encontrar diariamente no bar, onde ele sempre bebeu três Teacher’s, 6h da tarde, e saiu em seguida, geralmente ficando 30/40 minutos apenas.
Um dia, Mauro, amigo de Patos, me dá um edital do MEC oportunizando um concurso para a elaboração de textos que atendessem ao público do projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA). À noite, chegando ao bar, à pergunta de Oswaldo sobre o dia, disse-lhe que a única novidade era que um amigo me dera o edital de concurso literário do MEC. Pediu para ver, “posso levar para ler a íntegra, trago de volta amanhã”... Claro!
No dia seguinte, Oswaldo me esclareceu o edital e disse já ter começado o texto, que gostaria me mostrar, e contar com meu trabalho de revisor. Quando vi seu material, gostei – seu ponto de vista contempla o esoterismo maçônico, o cooperativismo e a administração, sua formação básica –, e propus algumas ideias complementares aos raciocínios que ele desenvolvia. Pediu que escrevesse tais idéias, fiz isso, e ele disse que sim, que estava adequado. Fizemos o livro, não fomos contemplados no concurso – o MEC disse que o livro era “autoritário”, “preconceituoso”. Com estes adjetivos, Oswaldo considerou que então “o livro é bom”, se o pensamento estabelecido o qualifica de tal modo... Ele o livro ficou de lado alguns anos, Oswaldo muito envolvido em seu trabalho, a construção de um centro clínico, ele administrador de uma cooperativa de médicos, e eu envolvido com as revisões de textos. Em 2005 deixei aquele endereço e vim para Taguatinga...

*Eduardo chegará ao Crato dentro em breve. Espero muito a sua participação ativa neste espaço.
Podem apostar numa figura amiga.

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