Nestes segundos de agora o fogo consome a Cidade do Samba, aqui no Rio. Um pavilhão que abrigava quatro barracões das escolas prestes a desfilar se tornou chamas que amedrontam e uma coluna de fumaça que turva a manhã no centro da cidade.
Não tem como separar que o fogo ali é portentoso como necessidade da ajuntada imensa de materiais combustíveis. Onde há combustível estocado é que existe sempre uma faísca em busca de cumprir o destino. O fogo que consome os barracões como expressão simbólica daquilo que justifica tais estruturas.
O carnaval faz parte da natureza do fogo. Tornando cinzas aos materiais arcaicos dos mofados hábitos sociais, da imensa separação de classes. O carnaval é a centelha que demonstra claramente o quanto é fugaz a ordem diária do mundo. Uma ordem que é um grande armazém de materiais de combustão.
Agora as autoridades darão declarações otimistas. Tudo será melhor. Nada faltará. Os esforços serão maiores que o fogo. Tudo fantasia. O fogo ainda consome. As imagens darão novo sentido ao próximo desfile. Alguma coisa haverá para sustentar as escolas incendiadas. No carnaval será salvo o que se pode. Inclusive os resultados.
E do fogo à água. A água que tomou o destino do vale apertado em que a história implantou a cidade de Crato. Esta depressão que existe como recipiente das águas transcendentes que de anos em anos irão preencher o natural vão a si destinado. E as autoridades falarão palavras vãs.
Existe uma realidade que não se resume a criar uma vala ali onde o curso das águas será intenso. A cidade passará mais alguns anos falando desta chuva que pulou o cotidiano para demonstrar o quanto a pasmaceira social e administrativa pública são e serão ineptas com tais volumes.
Administrar uma realidade complexa é mais que um foco de algum MBA em administração. O foco não é nada se não tomar ciência que afinal tudo é para o bem comum. Que em tais circunstâncias não existem salvados em especiais. E que as contradições explodem como o fogo dos barracões das escolas de samba.
Aqui nas imediações do fogo que consome a cidade do Samba, sinto o quanto as águas que rolaram nas ruas brandas da cidade, eram maiores e bem superiores ao cotidiano que não imagina além da ordem do imediato. Os fenômenos mediatos sempre existiram e continuarão se expressando. Fortes e devastadores como a realidade.
Não se tome alguma culpa no aquecimento global. O desastre está muito mais próximo nalgum prédio público e nas residências das famílias que precisam olhar muito além dos morros que cercam a cidade. Sem perder a vista deles, mas indo até os ciclos amplos que se repetirão com chuvas iguais ou maiores que estas.
Um comentário:
Salve, poeta !
Notícia impactante. Tudo imprevisível, mas o susto e a tremedeira são visíveis.
Meu medo cresce e se encolhe ,a todo instante. Parece elástico ante a dor e a superação.
Em qualquer lugar sinto a insegurança.
Estávamos com saudades da sua presença: eu, e o espaço!
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