Não procure algo por aqui, tudo se encontra no vídeo acima, mesmo que a música e o texto der no saco suporte-os até o fim. Quando setembro vier estaremos aqui novamente.
por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Lupeu Lacerda - O corpo é um equipamento absolutamente artístico
Poeta e artista visual, atrevido e bem humorado, Lupeu Lacerda é
um dos remanescentes da arte no Cariri da década de 80 do século passado, que
antes era fanzineiro e hoje blogueiro. O escritor que fala de sexo nos seus
trabalhos diz que “exploro a sexualidade
em meu trabalho por saber que isso sempre causará estranhamento. As pessoas,
por incrível que pareça, ainda tem pudores em ler um texto que vem recheado de
palavras como: boceta, pica, cú”.
Alexandre
Lucas - Quem é Lupeu Lacerda?
Lupeu
Lacerda - De todas as perguntas que me fazem, essa é sempre a mais
escrota de responder... vamos lá: Lupeu é meu apelido. Antigo. Dos tempos de
menino. Odiava o apelido, mas ele foi se tornando tão forte que dominou o meu
nome: Paulo Luiz Matos de Lacerda. Incorporei-o. Por não haver mais o que
fazer. Daí comecei a assinar as coisas que escrevia e desenhava com esse nome Lupeu, o sobrenome é da minha família
cariri. Lacerda. E Lupeu Lacerda é um homem do sexo masculino, nascido no ano
da graça de 1965 em São Paulo, com 46 anos no costado, criado quando menino em
Santana do Cariri, depois em Juazeiro do Norte, que adotou o Crato como cidade
do coração, e que depois de morar em um monte de lugares aportou em Juazeiro da
Bahia, nos beiços do Rio São Francisco. Aprendiz de escritor, aprendiz de
artesão, apaixonado por todas as formas e manifestações artísticas. Pai de duas
filhas, escritor de dois livros publicados (Entre o Alho e o Sal / Caos
Technicolor), participação em algumas coletâneas, um blog meio desativado
chamado “Séquiço Sacro” (mesmo nome do fanzine que inaugurou a era de fanzines
no cariri nos anos 80), uma página meia boca na internet www.lupeulacerda.com.br , ainda cheio de sonhos, ainda
apaixonado, ainda achando que sempre dará tempo de fazer e mudar alguma coisa.
Lupeu
Lacerda - Meu
contato com a arte se deu através de gigantes! Conheci ainda adolescente
algumas pessoas que mudaram o prumo da minha visão de arte: começo com Stênio
Diniz, que já barbarizava com uma arte absolutamente “nova” na “velha” mídia da
xilogravura. Na casa dele conheci Luis Karimai (um mestre do desenho) e
Gilberto Morimitsu (um mestre da fotografia), os japas liam coisas diferentes,
olhavam coisas diferentes, gostavam de musicas diferentes. Depois enveredei nos
caminhos de Craterdã, e aprendi muito com Luis Carlos Salatiel, Normando,
Nicodemos, Carlos Rafael... enfim, tive um aprendizado absolutamente eclético.
Lia Dostoievski no sebo de Manel, conversava sobre Carlos Castaneda com Rafael,
via os desenhos de Normando, a poesia cristal de Nicodemos, bebia cerveja e
sonhos com Stenio e fui assim, aprendendo e as vezes acho que até ensinando
(pelo menos uma outra forma de olhar). Ainda hoje é assim. Meu contato com a
arte sempre foi e sempre será o contato com as pessoas que me cercam.
Lupeu
Lacerda - Bom,
eu escrevo desde que eu me entendo por coisa, bicho e gente. Mas a coisa de
publicar e ser lido vem de meados dos anos 80, com a criação do Séquiço Sacro.
Naquela época era foda escrever e ser lido. Bem foda... o único jornal
alternativo já era extinto, o “Folha de Pequi”, e partimos pra guerrilha, eu,
Uberdan e Gledson. Depois foram incorporados Hamurabi, Sidney e o grande Junior
R., rei das colagens perfeitas. Passou-se o tempo, participei de uma coletânea
de poesia organizada pelo Stênio Diniz, uma coisa bem bacana, um livro em cartões
postais. Não lembro o nome. Participei como vocalista da banda Fator RH/Lerfa
Mu (tempo melhor da minha vida). Em 2006
Sidney Rocha pegou um material meu e transformou em livro, lançado em 2007 pela
Kabalah Editora. Em 2009 participei de uma coletânea de contos chamada “tempo
bom”, que saiu pela Iluminuras. Este ano estou lançando o “Caos Technicolor”, o
que talvez seja meu último esparro poético. Nunca fui um poeta de verdade, essa
é a verdade. Sou mais um fotógrafo de palavras. Influencia Beat talvez.
Alexandre
Lucas - Como você caracteriza a
sua produção literária?
Lupeu
Lacerda - Minha
produção? Estudo. Muito estudo. Ler pra caralho. Escrever pra caralho. Apagar
pra caralho. Sei que tenho coisas a dizer. Mas ainda estou no processo de
aprender “como dizer”. Se tiver tempo, ainda quero escrever um puta livro de
contos. Ou um romance desses de guardar na estante com respeito e carinho.
Alexandre
Lucas – Como ocorre o seu processo criativo?
Lupeu
Lacerda - Gosto de escrever à mão. Em cadernos pautados. Usando barras
em vez de pontuação, pra não perder a velocidade do pensamento saca? Gosto de
escrever de noite, tomando café, depois que a casa se acalma. As vezes começo a
escrever com raiva de alguma coisa, as vezes é uma notícia que li, as vezes
forço. E me obrigo a escrever pelo menos duas páginas de rabiscos por dia.
Passo uns dias e volto pra ler a parada. Daí começo a aproveitar o que é de
aproveitar e jogar fora o que não serve. Acredito que cada pessoa que lida com
arte tem um processo, eu acho que em todos eles uma coisa é comum: trabalho
duro. E inspiração, pra ajudar a engolir o comprimido.
Alexandre
Lucas - A sexualidade é
algo notório na sua produção visual e literária. Qual a relação entra arte e
sexualidade?
Lupeu
Lacerda - O
corpo é um equipamento absolutamente artístico. Exploro a sexualidade em meu trabalho
por saber que isso sempre causará estranhamento. As pessoas, por incrível que
pareça, ainda tem pudores em ler um texto que vem recheado de palavras como:
boceta, pica, cú. Mesmo alguns que se dizem “mezzo” modernos acham bonito ver
um casal de lésbicas trepando, mas acham nojento um casal de gays. Lembro da
Dercy Gonçalves falando que na época dela, toda “artista” era puta. Acredito
sempre que arte é liberdade, que sexualidade é liberdade. E tanto uma como
outra, são mecanismos lúdicos pra trazer alegria. E a alegria meu amigo, ainda
é a prova dos nove. Tem também a influencia do que li, lógico: Miller, Anais
Nin, Ginsberg, Sade, Gide, entre tantos outros gigantes que exploraram essa seara.
Sexo é criação. Arte é recriação. No fim das contas tudo vai desaguar no mar da
arte.
Alexandre
Lucas – O que é um poeta
marginal na contemporaneidade?
Lupeu
Lacerda - À
margem como antigamente? Nada. Até porque hoje a internet bombardeia com um
zilhão de blogs de poesia, contos, micro contos, romances, receitas de bolo,
como ser um terrorista em 10 lições, enfim... não acredito que haverá a
qualidade dos “anos de ouro” 1970. Existia ali uma “coisa” fazendo a poesia
fervilhar. Uma ditadura dos milicos. Dezenas de bons escritores desesperados e
desesperançados. Dificuldade de publicar. Acho que a dureza serviu de peneira.
Difícil imaginar nessa “contemporaneidade” o surgimento de Ana Cristina Cesar,
Chacal, Cacaso, Chico Alvim... existem caras bons? Lógico que sim! Mas são mais
difíceis de encontrar, porque hoje, todo mundo anda de jeans. Rsrsrsrsrs.
Alexandre
Lucas - Como você
caracteriza seu trabalho?
Lupeu
Lacerda - Meu
trabalho é o de um aprendiz. Será sempre assim, porque quero que seja assim.
Quando escrevo eu entro todo ali. Sou onisciente ali dentro. Onipresente.
Talvez seja esse viés que faz com que alguns dos meus amigos achem que existe
algo ainda não dito, ou não feito, por mim. Gosto de escrever pra caralho! Me
faz bem, me desentala. Então, mesmo sabendo que em literatura provavelmente
“tudo” já tenha sido dito, enquanto tiver tesão de fazer isso, vou continuar
escrevendo. Persistência? Pode ser. Caracterizaria meu trabalho sim. Catarse
também. E dor. Porque escrever dói.
Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seus trabalho?
Lupeu
Lacerda - Não
acredito que a arte, seja ela qual for, tenha esse papel de “salvadora”. As
pessoas mudam, “ou não”, de vida a partir de uma leitura de um livro. Como
haverá alguns que mudem depois de ter perdido um avião, ou comido uma comida
estragada, ou escutado uma música. Artistas são apêndices de uma sociedade que
sempre os aturou a uma certa distancia, mas que nunca os engoliu bem de perto.
Aqui em Juazeiro da Bahia e Petrolina nós soltamos livros pelas ruas em um
projeto intitulado “Livros Andarilhos”, eu espero sinceramente que as pessoas
que encontrem esses livros façam bom proveito deles, e que depois de lidos eles
sejam de novo largados ad infinitum. As pessoas que lêem podem continuar
tristes, amarguradas e infelizes, mas nunca estarão sozinhas em companhia da
porra de um livro. Ensinar arte, compartilhar arte, levar a arte pra todos é a
vontade maior. Eu nunca faço nada pensando em atingir público A, B, ou C. eu só
quero ser lido. O resto vem por inércia. Quem lê, cobra, exige, grita, pede,
vota nulo. A contribuição social que quero não só do meu trabalho, mas do de
cada pessoa que escreve, é que os livros (todos, de qualquer gênero) deveriam
fazer parte do cotidiano das pessoas assim como o sexo, as novelas, as drogas,
a música, enfim...
Alexandre
Lucas - Quais
os próximos trabalhos?
Lupeu
Lacerda - Estou
em ritmo de finalização de meu primeiro livro de contos, que se chamará “o
trigésimo segundo dia”. Tem sido uma experiência muito prazerosa, cheia de
dúvidas e certezas, de comemorações e desesperos, de delírios de grandeza e
certeza de inutilidade. Enfim, uma gestação. Como pai e mãe espero ansioso pelo
nascimento, que deve se dar ainda este ano, caso a porra do mundo não acabe. Se
o mundo acabar, bom, vou procurar um kardecista. Sai psicografado em algum
outro planeta, que essa porra me deu muito trabalho.
terça-feira, 19 de junho de 2012
Por Socorro Moreira
O tempo trouxe de volta o inacabado
Peça artesanal sem arremate final
Pano amarelado
Lavanda aninhada no linho
Faltou o amor?
Sobrou o que não ficou...
Meu coração minado
Insiste na canção
Que as vezes toca no rádio
Sem censura- por Socorro Moreira
Depois de algumas décadas consegui manter uma secretária doméstica. O espaço criado, meu ócio, é um convite compulsório pra contar em linhas tortas, a vida na terceira idade.
As horas se arrastam como na infância, atenta às badaladas. O leiteiro é motoqueiro, e me parece engraçado. Vende-se cheiro verde e bananas, na bodega aqui do lado.
As modistas perderam o glamour. Delas corro léguas. São raras e quase despreparadas. Difícil porém é achar roupas baratas.Mas pra que tanta vaidade, se já não assisto missa aos domingos?
Sem saudosismo... Mas até a galinha caipira perdeu seu gostinho mágico. As mãos de avó e mãe, hoje desencarnadas, deixaram de plantar florzinhas nos canteiros desta casa.
Casas sem pilão, e sem mão. Nos últimos tempos corremos atrás de receitas que incluíam enlatados. Chega!
A simplicidade voltou ..Arroz, feijão, uma poeira de farinha, tudo no fogo brando, e um pedaço de carne assada. Desligo a TV, mas as calçadas vaziam desprezam a primeira estrela.
Tenho uma proposta de amor ausente. Realidades solitárias – eis a questão! Mas não tem nada não!
Os correios não entregam cartinhas de amor, nem telegramas. Era tão bonitinho no tempo em que, ao invés de faturas dos cartões, recebíamos envelopes aéreos com letras bem desenhadas.Rasgava o envelope de qualquer jeito e lia do fim pro começo...” do seu...Querida!”..E assim ia.Ia um sonho de amor, noite afora, noite e dia.
Nestes tempos de junho era de praxe um vestido romântico com rendas e estampados.A boca ficava mais vermelha e o cangote mais perfumado.Cabia fita ou rosa no cabelo, brinco na orelha pendurado.Sapatos de saltos, nem que as pernas entortassem.
Quadrilhas!
E o cavalheiro? Tinha lenço no pescoço, um bigode bem charmoso, uma pegada aprumada.Saltavam os olhos; abriam sorrisos...
- Me dá um beijo na boca, moça do meu gosto...Se me negares, eu roubo!
- Paguei penitência... Suave, doce Ave-Maria!
- Me dá um beijo na boca, moça do meu gosto...Se me negares, eu roubo!
- Paguei penitência... Suave, doce Ave-Maria!
• Queria muito aliança de brinquedo. O dourado e o bombom. O papel de celofane verde, amarelo ou azul.
• Àquela no bolso não pesa, nem obriga juramento, que se debate como o vento, na folha da macaúba.
• Anoitece. Fiz bolo em homenagem à Walda.Desde menina comemoro esta data.Ela tem o nome da minha mãe, além de ser uma colega e amiga, que nunca perdeu lugar especial, no meu coração.
Pra você, minha notinha amorosa- por socorro moreira
Fátima Guedes
Ah, meu amor, estamos condenados
Nós já podemos dizer que somos umNós somos um
E nessa fase do amor em que se é um
É que perdemos a metade cada um
Ah, meu amor, estamos mais safadosHoje tiramos mais proveito do prazer
E somos um
Quando dormimos juntos, sonhos separados
Que nós não vamos confessar de modo algum
Ah, meu amor, ah, meu amor
Quantas pequenas traições
Pobres mentiras diplomáticas de puras intenções
Estamos condenados
Ah, meu amor, de discretos pecados
Formamos esse ser tão uno divisível
Parece incrível
Que nós tentemos que ele dure eternamente
Nessas metades incompletas
Mas decentes
Hoje amanheci com esta música na cabeça.Ela é pouco divulgada, e a gente só consegue aprendê-la pela metade.
Mas existem versos geniais, ou parecidos demais com tudo que desejamos do amor: que ele seja eterno, não enquanto dure , mas enquanto a gente vive.Respeito os amores que se firmam. A melhor e mais admirável qualidade humana é saber relaxar, no amor da sua vida.
Tive um amigo que dizia: " sou mau marido".Quem tem minha parte namorado tem a melhor parte. Mas a gente deseja o sonho separado, na mesma cama. A gente deseja o trivial café da manhã...Que besteira!
O amor é um material intacto. Quando acontece é luxo e lixo pra eternidade.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
A "argola saltitante" - José Nilton Mariano Saraiva
Basta um click no controle e lá estão elas: simpáticas, normalmente bem afeiçoadas, impecavelmente “produzidas”, sorriso no rosto e dicção perfeita; são as apresentadoras dos telejornais de certa emissora de TV, aqui de Fortaleza.
De princípio um tanto quanto tímidas, aos poucos vão pegando os macetes da profissão e começam a se soltar, findando, em pouco tempo, por nos apresentar um trabalho de boa qualidade (uma delas, recentemente, numa reportagem sobre o circo, se meteu dentro de um daqueles “globo da morte” e ficou ali, estática, enquanto duas possantes motos zanzavam a toda velocidade em torno dela).
Um detalhe, no entanto, as caracteriza (pelo menos parte delas) e não é preciso ser tão observador pra constatar: apesar de todo o treinamento e técnica que adquiriram a fim de se habilitarem a se postar diante das câmaras, que inclui obrigatoriamente até a forma como se deve empunhar um microfone, com a diária exposição midiática o “fenômeno” acontece; não mais que de repente, elas não se seguram ou “esquecem” momentaneamente tudo que aprenderam e fazem questão de orgulhosamente nos mostrar a “argola”, normalmente grossa o suficiente pra ser visualizada a quilômetros de distância, enfiada no dedo anular da mão direita (a que segura o microfone), como se nos dissesse: “aqui, bicho, tô noiva, viu” ??? (recentemente, uma delas chegou a convencer o “chefe” a comparecer ao programa esportivo que apresenta, a fim que o próprio anunciasse ao vivo e a cores que a subordinada estava noiva).
O que impressiona, ainda, é a VELOCIDADE com que a tal “argola” transmuta-se da mão direita pra a mão esquerda da jovem e a “OBRIGATORIEDADE” que elas sentem de – mesmo destras – empunharem o tal do microfone agora com a mão esquerda, como a nos anunciar: “olha aí, casei, sacou” ???
Mas, como o número de fãs é expressivo e o assédio certamente que idem, de repente lá estão elas no vídeo trocando, até de forma acintosa, o microfone incessantemente de mãos, como se fizessem questão de mostrá-las agora sem nenhuma “argola”, só nos faltando confidenciar: “e aí, cara, tô livre, pode chegar junto”. E como a vida continua, dentro de pouco tempo a história recomeçará... a “argola” na mão direita, transferência para a mão esquerda e, de repente... tomou doril, a “argola” sumiu.
Ô “argolazinha saltitante”.
domingo, 17 de junho de 2012
Oriente - por Everardo Norões
a luz se esquece
sobre o corpo
nem oprime nem aquece
palpita a pele
suburbana papoula
no jarro
e no muro o musgo
a conjurar as pedras
o coração a maldizer
as setas
a indicarem retas
e eu
....... só desvios
Você não sabe amar - por José do Vale Pinheiro Feitosa
E já começou afirmando, “Você não sabe amar meu bem”, que ela não sabia conjugar o verbo amar. Nem conjugar e nem dominar o conceito: “Não sabe o que é o amor”.
E eles sabiam, Dorival Caymmi, Carlos Guinle e Hugo Lima, não apenas o conceito como tudo aquilo que se desdobra nos tempos, modos e pessoas do verbo amar. Não apenas singrar os mares do verbo, seja com seus símbolos e metáforas. Eles, quem sabe sentados na pérgula do Copacabana Palace, um violão, frases soltas e notas arrumando as idéias. Ou, talvez, no piano do bar, entre um copo e outro de uma boa bebida no entardecer da cidade.
A verdade é que eles sentiam que ela não sabia amar pois “Nunca sofreu, nunca viveu” e tão jovem diante de tantos anos vividos “E quer saber mais que eu”.
E neste abismo de tempo de sofrer e viver, já havia uma senha para o desfecho: "O nosso amor parou aqui. E foi melhor assim. Eu esperava e você também. Que fosse esse o seu fim."
O amor, de sofrer e viver, é, também, o recipiente das coisas boas da vida, é ação e móvel da ação, é conteúdo e recipiente ao mesmo tempo e sendo assim, é um todo indistinto, cuja identificação apenas se dar por sentimentos e nos sentidos do corpo. Tua presença, teu odor, esta distância impreterível a nos separar como o sol à lua.
E quando se explica o que tudo aconteceu eis que "O nosso amor não teve querida, as coisas boas da vida. E foi melhor para você. E bem melhor pra mim. "Claro que mais uma vez a distância da idade entre ela e ele.
Vocês sabem ? - por Socorro Moreira
Nasci aprendendo coisas com o instinto e com a razão.Com ou sem razão, internalizei o que criei ou copiei.De tudo e todas , o que mais me interessou por encanto , foi a vivência do amor, em todas as suas formas, em todos os seus cantos.
Nos anos flores a gente arrisca, cai do pau pra ver o tamanho da queda , petisca, condor ou sem dor..Nos anos frutos , a gente colhe o que plantou , mas também é cansativo reunir o nosso amor.Ele já se espalhou, se desintegrou ... Enfim , nosso quebra-cabeça amoroso , tem pedras de todos os tamanhos, formas e cores.
Quando , no tempo das sementes , desejo semear o carinho, o faço sem alardes , e entre trovoadas ... Se retornar eu guardo, pra depois (re)espalhar !
Eu vivi intensamente meu potencial afetivo. Hoje ele é da paz, mas nunca foi desistente de um sentimento maior , curado de todos os defeitos que contrataram perdas e contraíram mágoas.
Hoje sem amargura, descubro que o meu amor está inteirinho, como se nunca tivesse sido exercitado, pronto pra passar pro lado de lá , e continuar do lado de cá , sem posse e com destino !
Não sei o que é o amor... Vocês sabem ?
Não respondam com palavras !
Milágrimas
Música: Itamar Assumpção
Letra: Alice Ruiz
Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre
Bolo Pé-de-Moleque
Ingredientes:
3 xícaras de chá de castanha de caju torrada e triturada
2 1/2 xícaras de chá de água
2 xícaras de chá de leite de coco
1/2 xícara de chá de manteiga
1/2 colher de sopa de café solúvel
1/2 colher de sopa de canela em pó
1/2 colher de sopa de cravo triturado
1/2 colher de sopa de erva-doce triturada
1/2 colher de chá de sal
1kg de massa de mandioca úmida e peneirada
500g de rapadura escura em pedaços
4 ovos
Preparo:
Bata no liquidificador a rapadura com a água até dissolver. Leve ao fogo até ferver, desligue e acrescente a manteiga, a erva-doce, o cravo, a canela e o café. Misture bem, deixe esfriar e reserve. Bata os ovos e o sal até espumar. Com a batedeira desligada, coloque a massa de mandioca e misture com uma colher de pau. Com a batedeira ligada, junte aos poucos o leite de coco, até ficar homogêneo. Desligue a batedeira e acrescente a rapadura já fria. Misture bem. Volte à batedeira, em velocidade baixa, e acrescente a castanha triturada. Bata até obter uma mistura homogênea. Aqueça o forno em temperatura média. Unte a fôrma com manteiga e, se desejar, coloque um pouco de leite de coco nos lados da fôrma, sobre a manteiga. Ponha a massa. Leve ao forno médio, por 1 hora e 40 minutos ou até que, ao espetar um palito, ele saia quase limpo. Retire do forno e deixe esfriar. Desenforme sobre um prato e decore com as castanhas.
Fonte: Ariadna's Site
E CALOU-SE A VOZ DE ALTEMAR...
UMA VOZ COMOVENTE, PLANGENTE
QUE FEZ TANTA GENTE SONHAR
...........................
QUE IRONIA ATROZ DO DESTINO
ESSE HOMEM- MENINO MORREU AO CANTAR
E AO CANTAR FEZ UM MUNDO MELHOR
ONDE A GENTE ACREDITA,QUE EXISTA AMOR
SUA VOZ SE CALOU, MAS O ECO FICOU
NÃO MORREU ALTEMAR!
BASTINHA JOB
PARA GRACILIANO RAMOS ESCREVER DEVE SER IGUAL A BATER ROUPA
O escritor alagoano Graciliano Ramos recomendava que o ofício da escrita devia ser feito da mesma maneira como as lavadeiras lavavam roupa em Alagoas. Eis o texto de Graciliano Ramos:
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
PARA GUIMARÃES ROSA ESCREVER É FERVER, FILTRAR E PURGAR A PALAVRA
A lição que nos vem de Guimarães Rosa não é diferente. Para o escritor mineiro escrever era um exercício de alquimia: a palavra fervida e filtrada, purgada e rezada. Ele afirmava que escrevia para tentar “desvendar o mistério cósmico.”
“Sou incorrigivelmente pelo melhorar e aperfeiçoar, sem descaso, em ação repetida, dorida, feroz, sem cessar, a todo custo. Faço isso com meus livros. Neles, não há nem um momento de inércia. Nenhuma preguiça! Tudo é retrabalhado, repensado, calculado, rezado, refiltrado, refervido, recongelado, descongelado, purgado e reengrossado, outra vez filtrado. Agora, por exemplo, estou refazendo, pela 23ª vez, uma noveleta. A gente tem que escrever para 700 anos. Para o Juízo Final.”
Um desafio tamanho muralha da China
Amigos,
No último campeonato brasileiro de kung fu, em Brasília, reconheci em alguém muito próximo o que significa estar centrada, apaixonada, enraizada em uma atividade.
Giselle Kian, uma das minhas sobrinhas, meio nordestina meio japonesa, mora em Juazeiro do Norte, a cidade onde nasci.
De uma família de poucos recursos, morando no interior, encontrou no caminho do esporte um caminho para a vida. Desde os sete anos, foi uma vida de intenso treinamento. Mesmo num período em que foi fazer faculdade na Paraíba, numa cidadezinha onde quase não se praticam esportes, sempre que podia, ia a sua cidade e dedicava todo tempo aos treinos.
Tal disciplina rendeu, nos últimos tempos, desde algumas medalhas em campeonatos no Ceará, até o Campeonato Nacional em Brasília, no ano passado. Este ano, além de quatro medalhas de ouro, no Campeonato Cearense, foi considerada uma atleta de ponta, sendo convocada para a Seleção Brasileira de Kung Fu/Wuchu.
Agora, a alegria pelas vitórias é tão grande quanto o novo desafio. A Seleção irá participar do 5th World Traditional Wushu Festival, em Huang Shan, na China, em novembro deste ano.
O desafio ou a quase muralha a ser transposta é que não há patrocínio, nem incentivo de parte dos governos de qualquer instância ou de qualquer instituição ou empresa, para custear os gastos com a viagem. O que seria insignificante para uma empresa é uma montanha de dinheiro para uma família de poucos rendimentos.
O que fazer para levantar um dinheirão desses em tão pouco tempo (calcula-se em torno de R$ 12 mil, desde a saída de Juazeiro do Norte, no Ceará, até a China), com todas as despesas por conta do atleta?
De minha parte, vesti a camisa. Farei o possível, divulgando, trocando idéias e pensando e trabalhando formas de levantar o valor necessário à realização deste sonho. Até porque acredito que o feito desta "garota de ouro" deve servir de exemplo para muitos jovens no Brasil, principalmente quando não têm recursos financeiros e têm que contar com seus esforços, disciplina, dedicação.
A primeira idéia foi vender uma camisa, com estampa que faz referência ao kung fu. Já pesquisei em uma loja que faz camisetas, no centro. Falta levar o desenho.
Giselle "bolou" um desenho muito bonito. Vou anexar a esta o modelo que ela mandou pra vocês darem uma opinião. A minha idéia difere um pouco num detalhe: em vez de colocar uma palavra na parte da frente e um desenho atrás, eu colocaria apenas o desenho na frente. O custo é menor e a palavra não diz muito pra quem não é da área.
Além das camisetas, como eu poderia ajudar mais? Minha cabeça está vivendo numa tempestade de idéias ultimamente, mas não quero sair por aí, jogando-as sem uma avaliação melhor. Tenho conversado com minha irmã e sobrinha sobre as possibilidades, mas quero estender essa conversa a mais amigos.
Por isso, resolvi trocar idéias com vocês. As consultas que faço aos amigos sempre são positivas, sempre recebo opiniões úteis, e é mais uma nova oportunidade de estarmos juntos, para além das trocas de mensagens ou cumprimentos ocasionais.
Tenho um montão de DVD's e CD's que poderia tentar vender. Tenho mania de comprar filmes em promoção. E sou do tempo em que se colocava cd pra ouvir, em vez de por tudo num mp3.
Também pensei em organizar um bazar para este fim.
Desde já, decidi que o lucro de todos os livros que vender aos amigos até novembro, mantidos em meu apartamento e cadastrados no site Estante Virtual será direcionado para este objetivo. Há cinco anos atrás, com a ajuda dos amigos consegui "transformar" livros em tijolos e ajudar a comprar uma casa para um vendedor de livros usados, o Jorge. Agora, quem sabe, consigamos transformar livros em uma viagem e ajudar a uma jovem atleta a seguir seu sonho. Neste caso, o amigo que participa não está dando dinheiro, apenas compra livros como faria em uma livraria da cidade. Ao contrário do lucro dado ao livreiro, ele se torna parceiro de um projeto solidário.
Bom, aí está a minha "questão" do momento, que vai ficar comigo até novembro. rs rs
O que vocês fariam em meu lugar se quisessem levantar uma grana pra ajudar a uma sobrinha-atleta a disputar um torneio em Pequim?
Aguardo e agradeço sugestões, idéias, críticas, comentários... tudo que vier. Se alguém gostar da idéia da camisa e quiser fazer uma pré-reserva também ajuda. Porque assim posso ter uma idéia de quantas posso mandar fazer. Quanto maior a quantidade, menor o custo.
Jogar na mega-sena? Até faço isso, mas apenas R$ 2,00 por jogo... acho melhor pensar em outras idéias.
Com o jogo a gente brinca de sonhar. Com o trabalho e o abraço dos amigos a gente transforma sonhos em realidade.
Aldo
Já entrei nessa barca, encomendei camisas e vou comprar livros através da estante virtual http://www.estantevirtual.com.br/aldocordeirolivros
(stella)
(stella)
Voo- por Everado Norões
entre dois azuis
a cor já não importa
dois horizontes se deslocam lentos
tudo abaixo de nós
parece morto
como se fora o inverso
do sol-posto
não decifro a paisagem
sigo
pássaro brilhante
de asas cegas
entre dois céus
o Sul
um mar suspenso
nem onda
nem rumor
só Teu silêncio
José Saramago - por José do Vale Pinheiro Feitosa
José Saramago,
Sabe aquela escuridão, mofada, entremeada de teias de aranha, que entupia os tubos pelos quais se respira, foi ela que te transportou para as paredes vulcânicas das Ilhas Canárias. Tu, carregado pelo braço leve de Pilar del Rio, fostes além daquele adro católico que enterra a alma portuguesa como um manto a sufocar o broto de novas flores. Sal amargo, salamargo, salamandra das pedras das Canárias.
Membro do partido comunista em solo português, como este da terra brasilis, senha para ser perseguido, acusado, demitido, culpado de tudo, até da fúria dos poderosos que, violenta, lanha tua pele em chagas. Pois quisestes muito,“participar em acções reivindicativas da dignificação dos seres humanos e do cumprimento da Declaração dos Direitos Humanos pela consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre destrutivas.”
Aquela hierarquia das cinzas, tumular dos espíritos obrigados a nascer. Tão pálida de luz e de olhos fundos, refestelada nas adegas de conventos, nos anéis cardinalícios, junto ao coração da piedosa esposa do Sr. Ministro. Ali, ao pé do ouvido, no silêncio de corredores, na ausência de testemunhas, todo um povo pobre e sofrido perdeu o progresso do século, sofreu o abandono da nova jornada interrompida num lamaçal que atolou a todos por quase um século.
E quando tua família sai pelas brechas incontidas do regime de contenção, tornaste-se, tu, Saramago, hoje reverenciado pelos cínicos que te atraiçoaram, pelo mesmo Cavaco Silva do teu exílio nas Canárias quando ousastes ser um evangelista com as marcas do tempo de agora. E teu relato autobiográfico revela a falência do ensino técnico dos tempos “americanhalhados” da indigência pedagógica do Brasil. Do ensino, tornado aborto do espírito humano, de porcas, parafusos e arruelas.
Como dizes: “meus pais haviam chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico. O mais surpreendente era que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do Francês, uma disciplina de Literatura.”
Sabe Zé, quando falastes da morte sem medo, falavas da vida. Ficou uma sensação de que o contrário da vida não é a morte, esta instituição lendária. O contrário da vida é o medo, o apego ao inseguro como se rocha fosse e tal apego não passa de um bem material em processo de liquefação. Como todos os bens e riquezas, que servem mais para causar dor no outro, do que dar coragem a quem os possui. E tudo, Zé, para demonstrar a burrice de alcaides, prefeitos e vereadores, bibliotecas para a juventude não existem. Como tu, no teu atrasado e espezinhado Portugal ainda pudeste freqüentar: “frequentar, nos períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.”
Zé, o mundo é outro mesmo! Os livros se tornaram produtos comerciais. Os escritores meros anéis de ligação na máquina de produção, distribuição e consumo. Bem sabes que teu mundo se tornou universal pelo Prêmio Nobel, sem o qual, talvez, ninguém te escutasse tanto quanto se escutou e hoje, condoídos, repetem o quanto tinhas para dizer. Se não fosse o prêmio, bem menos.
Outro dia, Zé, olhando o calendário das tuas publicações outro sentimento me roubou da mortalidade. Não eras aquele tipinho de mídia, precoce, veloz, que se torna personalidade como Lady Gaga, assim como uma espuma de shampoo. Escorre pela pele e se vai pelo ralo da próxima atração. Tuas publicações é a senha para que todo escritor, todo poeta, todo artista vá muito além dos limites de si mesmo e daqueles externos que existem para te confundir.
Se tinhas 24 anos quando de tua primeira publicação, tanto tempo não viram letras impressas dos teus poemas. Somente aos 43 anos retornastes às publicações com teus poemas. O primeiro romance aos 55, outro aos 57, levaste uma década escrevendo mesmo romance. Eis a marca de que não é no sucesso, na idade e nem no produto que “todo artista tem ir onde o povo estar”.
José Saramago, um humano como nós. Um ateu que escreveu um evangelho. Um comunista que viveu a perseguição de sê-lo.
LEITURA - POR EVERARDO NORÕES
LER
CADA SALIÊNCIA
MONTANHA SEIO OVO
A SÚBITA ENERGIA DO TATO
TECIDO DOS ÁSPEROS DIAS
APALPAR O QUE CINTILA
ESCAMAS CENTELHAS
NOS AQUÁRIOS NOTURNOS
REBERBERAÇÕES ELÉTRICAS
CONSUMIDAS NO ARDOR DAS ESTAÇÕES
CADA PORO A SORVER
A INSÓLITA RAÇÃO DA SOBERBA
LER NO ACASO DA MADEIRA
FALO FLUIDEZ FOLHAS
O VERDE VERME
VORAZ
O "PIANISTA" - José Nilton Mariano Saraiva
Com a invasão da Polônia pelos nazistas, os judeus poloneses foram segregados no “Gueto de Varsóvia”, onde enfrentaram a fome, o frio, o abandono, a tortura e humilhações de toda ordem, levando-os a um corrosivo processo de aniquilação físico-psíquico-moral. A esperança de que os aliados logo chegassem para por fim àquele diuturno martírio foi paulatinamente arrefecida, ante o sadismo, a carnificina e à seqüência de horrores praticada pelos alemães.
Para que lições fossem extraídas daquele momento dantesco, Roman Polonski, ex “morador” do tal gueto (de onde milagrosamente conseguiu fugir), houve por bem legar à posteridade um “testemunho-reconstitutivo” daquela época, ao produzir o monumental filme “O Pianista” onde, sem fugir dos horrores vivenciados pelos poloneses, centra a narrativa numa tradicional família classe média (pai, mãe, dois irmãos e duas irmãs).
Após a invasão da Polônia pelos alemães, literalmente forçados a tomarem um trem que os levará para uma tal de “higienização” (em verdade, para o campo de extermínio de Treblinka) milhares de polacos, a família Szpilman entre eles, é o próprio retrato da impotência e do desespero. Wladyslaw Szpilman, um dos irmãos, famoso pianista da Rádio de Varsóvia, no último momento, mesmo à revelia, é posto de lado por um policial polonês amigo de infância. E vê, desesperado, pai e irmãos irem ao encontro da morte.
E aí aumenta o seu martírio. Sozinho no mundo, desempregado, sem eira e nem beira, sendo obrigado a carregar a “prova” da inferioridade da raça judaica (uma faixa no braço com a Estrela de Davi), Szpilman torna-se um morto-vivo a zanzar entre escombros e cadáveres. Recolhido ao “Gueto de Varsóvia” e obrigado a trabalhar numa unidade alemã, toma conhecimento e se engaja na formação de um grupo de resistência aos alemães. Antes que sejam descobertos e dizimados, Szpilman, com a ajuda de conterrâneos não judeus consegue fugir do gueto e é “escondido” no mais improvável dos abrigos: um apartamento localizado exatamente no “coração da toca do leão” (em frente a um Hospital alemão e vizinho da sede da Polícia nazista). Da janela, assiste ao impiedoso massacre e à aniquilação do gueto onde habitara. Com a passagem do tempo, finda sendo descoberto por uma vizinha alemã; doente e desnutrido, foge e volta a zanzar pelas ruas.
Mas o destino de Szpilman apronta-lhe uma surpresa: à procura de comida no que sobrou de uma suntuosa mansão, é descoberto pelo solitário capitão alemão Wilm Hosenfeld que, surpreendentemente cordato, lhe interroga amistosamente. Ao sabê-lo “pianista” profissional, desconfiado coloca-o frente a um piano que, sem nenhum arranhão, escapara das bombas nazistas e pede-lhe que... "toque". E aí, Szilpman, mesmo com sede e faminto, parece entender ser aquele o seu passaporte para a sobrevivência, sua senha para a vida: e extraindo do amâgo da alma uma força descomunal até então desconhecida, sob o olhar abismado do requintado oficial alemão mostra toda a sua maestria e competência no manejo do teclado do nobre instrumento (são exatos quatro minutos - uma eternidade numa projeção cinematográfica - de uma verdadeira aula de como se tocar piano).
Visivelmente sensibilizado, o capitão alemão não só NÃO o denuncia, como o orienta a resistir um pouco mais, a manter-se escondido, já que os russos se encontravam às portas da cidade e os alemães teriam que bater em retirada. Pra eles, alemães, a guerra acabara. Oferece-lhe o próprio casaco para amainar o frio e volta outras vezes trazendo-lhe comida e pondo-o a par do desfecho do confronto.
Com a retomada da Polônia pelo exército russo, Szpilman finalmente sai da toca e quase se dá mal por se achar “embrulhado” no casaco do “amigo” alemão. Feito os esclarecimentos, é reconhecido como um polonês e saudado efusivamente por ter sobrevivido ao extermínio nazista.
Após tudo normalizado, volta à Rádio de Varsóvia e retoma sua verdadeira identidade de... “pianista”. Morreu em Varsóvia em 2000, sem que antes tenha conseguido “PAGAR” uma dívida tanto antiga como eterna: conseguiu que o "amigo" alemão, capitão Wilm Hosenfeld, que lhe salvou a vida, fosse postumamente honrado... pelo poloneses.
Um filmão, filmaço, obra de arte, ou qualquer outra definição que lhe seja mais apropriada.
sábado, 16 de junho de 2012
Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás
Aos desiludidos do amor, com carinho
Vamos recapitular: este cronista dançou, na semana que antecedeu esta fatídica data dos pombinhos, no ritmo do dois pra lá, dois pra cá.
Um olho alvejando o romantismo de vitrine que humilha as damas e os cavalheiros solitários; outro olho no band-aid no calcanhar da moça ainda ferida da última dança.
Agora é hora do encorajamento, como acabei de reaprender aqui com o camarada Henry Miller, no singelo “O mundo do sexo” (José Olympio Editora).
“Tão certo como nasce o dia, fica claro demais que poucos são os que merecem o título: HOMEM”, diz o cara do Sexus, Plexus e Nexus. Ele conclama, desafia, é hora de honrar as saias e as calças.
No amor romântico, no amor erótico ou no pacote completo.
É por isso que eu repito em mais uma oração subordinada às moças:
Triste de quem fica desiludido(a) e evita outro amor de novo, cai no conto, blasfema, diz “tô fora”, já era, tira onda, ri de quem ama, pragueja e nunca mais se encontra dentro das próprias vestes.
Como se o amor fosse um quiosque de lucros, a bolsa de mercadorias e futuro, um fiado só amanhã, um comércio.
Como se dele fosse possível sair vivo, como nunca tivesse ouvido aquela parada de Camões, a do fogo que arde e não se sente, a da ferida, aquela sampleada por Renato Russo.
Triste de quem nem sabe se vingar do baque, sequer cantarola, no banheiro ou no botequim, “só vingança, vingança, vingança!”, o clássico de Lupicínio, o inventor da dor-de-cotovelo, a esquina dos ossos úmero com os ossos ulna (antigo cúbito) e rádio, claro, lição da anatomia e da espera no balcão da vida.
Tudo bem não querer repetir, com a mesma maldita pessoa, os mesmos erros, barracos e infernos avulsos e particularíssimos.
Triste de quem encerra o afeto de vez, como se aquela mulher e/ou aquele homem “x” fossem fumar o king size -duvidoso e sem filtro- lá fora e representassem o último dos humanos.
Chega do mané-clichê: todos os homens ou mulheres são iguais. Argh.
São, mas não são, senhoras e senhores. Cada vez que uma folha se mexe no universo a vida é diferente – acho que roubei isso da arte zen de consertar motocicleta.
Todos os machos e todas as fêmeas são novidades. Podem até ser piores, uns mais do que os outros, porém dependem de vários fatores. Não adianta chamar o garçom-do-amor e passar a régua para sempre por causa de apenas um traste. Como se esta miserável criatura representasse a parte pelo todo da panelinha do mundo.
Já pensou quantos amores possíveis você estaria dispensando por essa causa errada?
E quem disse que amor é para dar certo?
Amor é uma viagem. De ácido.
E tem mais: a única vacina para um amor perdido é um novo amor achado. Vai nessa, aconselho! Só cura mesmo com outro. Mesmo que um placebo.
Muitas vezes não temos o amor da vida, mas temos um belo amor da semana, da quinzena, que de tão intenso e quente logo derrete. Foi bonita a festa, pá e pronto.
Vale tudo, só não vale o fastio e a descrença. Levanta desta ressaca amorosa, meus Lázaros e minhas Lázaras.
Cúpula dos Povos - Por José de Arimatéa dos Santos
A grande mídia, como sempre, só noticia a Rio +
20 que é um evento de cunho elitista em que só representantes dos governos do
mundo inteiro discutem o meio ambiente. E pelo que escutei ontem nos telejornais
as grandes potências econômicas e capitalistas só estão preocupadas com a grande
crise que estão a passar e simplesmente "baratinadas" e somente preocupadas com
o consumismo. É tanto que a conclusão do evento no Rio de Janeiro é preocupante
quanto às decisões de como conciliar o desenvolvimento capitalista e a
sustentabilidade do planeta. Cientistas se antecipam e chegam a conclusão que a
seguir esse modelo que aí está o futuro do nosso planeta é simplesmente
catastrófico.
E nisso, a Cúpula dos Povos contrapõe a Rio +20
e segue ao mesmo tempo a debater as grandes questões do mundo. A Cúpula dos
Povos é organizada pela sociedade civil e tem a função de pressionar os governos
para a resolução dos grandes problemas da humanidade.
E esses problemas são de natureza econômica,
sociais, religiosos, raciais e ambientais, além das minorias. Sem sombra de
dúvidas representam 99% da população e tem uma representatividade bem maior que
os da Rio + 20. Esperar que o sentido de liberdade e mais democracia sejam temas
discutidos e implementados no mundo inteiro onde o respeito as individualidades
e a busca da resolução dos problemas no conjunto estejam na pauta todos os
dias.
Quanto ao Brasil vale ressaltar a grande
participação na Cúpula dos Povos dos quilombolas, religiosos(de todas as
matizes), estudantes, pequenos agricultores, mulheres na busca de um país de
mais liberdade e mais participação da sociedade nas decisões
governamentais.
Portanto, acredito que a discussão e
participação de cada um de nós pode e deve modificar esse quadro e vislumbrar um
outro mundo em que a democracia se radicalize e possamos viver num mundo de
equilíbrio realmente entre a produção e o respeito a ecologia. Esse, acredito, é
o norte que a humanidade deve seguir.
Kaika, convida!
Prepare-se para viver um verdadeiro clima de festa junina. O TERRAÇUS é uma chácara, portanto tem todo um ar de São João. E assim será essa festa que promete marcar mais uma no calendário da Sertão Pop Produções. Venha viver e reviver esse momento maravilhoso do São João. Venha vestido à caráter, assim a festa fica mais colorida e bonita.
SÃO JOÃO DA SAUDADE - Festa na Casa Grande
sexta, 22 de Junho às 22:00 em TERRAÇUS - Bar e Petiscaria
ETERNO REI DO BAIÃO - Marcos Barreto de Melo

Luiz Gonzaga é a imagem do retirante nordestino, que foge da terra seca e
exaurida pelo sol causticante da caatinga, deixando para sempre o seu tão pobre
e querido torrão natal. Do retirante que vende tudo o que tem, que joga a
família em um pau-de-arara e parte rumo ao Sul na busca ilusória de melhores
dias. Luiz é o sertanejo que planta, replanta e não perde as esperanças de um
bom Inverno. É o nortista forte e valente, mas que, chegada a hora de partir,
esquece a sua rudeza nativa e se deixa levar pela emoção. É o caboclo que
chora, quando se sente condenado a deixar o seu pedaço de chão.
Luiz Gonzaga é o vaqueiro das caatingas do Nordeste, de chapéu de couro,
gibão e perneiras, destemido e forte como uma aroeira, que anda no coice da
boiada e corre no carrasco, no marmeleiro fechado ou entre espinhos de
mandacaru no encalço de uma rês desgarrada. É o vaqueiro que laça, derruba e
domina uma rês enfezada. É o vaqueiro afamado e bom de campo que arranca
aplausos da multidão nas festas de vaquejada quando, ligeiro como um corisco,
derruba o boi mandingueiro e cobre a pista de poeira. Que acorda antes do sol e
sai para o campo ainda de madrugada, que almoça farinha com rapadura, que bebe
da água represada nas lagoas e que toma cachaça no chocalho. Luiz Gonzaga é o
vaqueiro que, no cansaço da luta, descansa à sombra de uma barriguda e que, no
fim do dia, junta o gado, sacode o pó do marmeleiro e vai para junto do seu
bem.
Luiz Gonzaga é o caboclo da roça, homem simples e trabalhador, que
acredita no canto agourento da acauã chamando a seca, no canto triste do
vim-vim e na profecia do pássaro carão, que quando solta o seu canto é sinal de
muita chuva no sertão. É o caboclo esquecido, de mãos grossas e calejadas e que
traz o rosto marcado pela vida árdua do campo. É o roceiro que faz experiências
com as pedras de sal, que espera ansioso pela barra do sol no dia de Natal e
que só se convence da seca quando vê passar sem chover o dia de São José, o
santo de sua devoção.
Luiz Gonzaga é o sertanejo de fé, que reza por uma chuva e pede a Deus
pra não ter seca, que faz promessa ao Padim Ciço pra se curar de uma doença e
que vai para as missões pedir uma bênção a frei Damião. É o caboclo que nasceu
na caatinga e que dali não quer sair, porque para ele não existe lugar melhor.
É ali que está enterrado o seu umbigo e é neste mesmo chão que ele quer morrer.
Ser enterrado à sombra de um velho umbuzeiro, vestido de vaqueiro e com uma
cruz de madeira amarrada com cipó, no meio da caatinga onde tanto aboiou e
onde, infelizmente, o seu grito de aboio ficará para sempre esquecido.
Luiz Gonzaga é o morador de pé-de-serra, que trabalha de sol a sol
durante toda a semana, mas que não abre mão de um samba de latada com o chão de
barro batido e a luz mortiça do candeeiro, onde triângulo, zabumba e uma
sanfona de oito baixos comandam a alegria. Um forrozinho onde a cabroeira
brinca, dança e se diverte, enquanto a poeira sobe e o tocador, animado, vai
castigando a sua concertina.
É o caboclo reimoso, esperto, brincalhão e prosista, com muitas estórias
engraçadas para nos contar, com aquela maneira que lhe é particular.
Luiz Gonzaga é o caminho que nos traz de volta aos pés-de-serra do sertão
nordestino através de xotes, baiões e toadas que tão bem retratam a nossa
terra. Luiz é a energia que mantém viva em cada retirante a lembrança do seu
longínquo sertão e a esperança derradeira de um dia ainda voltar para ele.
Luiz Gonzaga é tudo aquilo que emana do sertão. É a expressão de uma
terra pobre e sofrida, ora seca e triste, ora verde e alegre. De uma terra
esquecida e castigada, mas infinitamente bonita pela pureza de sua gente.
Luiz Gonzaga é a Asa Branca que volta correndo para o sertão quando ouve
o ronco das primeiras trovoadas; é o cheiro gostoso da terra molhada; é o
juazeiro com o seu eterno verde esperança; a peitica que, na copa do umbuzeiro,
canta alegre com a chegada do inverno; é o riacho que corre vorazmente,
arrastando árvores com as águas da primeira chuva; é o açude que sangra após
anos de seca; é um fole velho gemendo numa palhoça, alegrando o São João na
roça; é a rama verde da gitirana que, quando nasce, faz renascer o sertão.
Luiz Gonzaga é o filho de Januário que nasceu em Exu, em pleno sertão
pernambucano, nas terras dos Alencar, e que aprendeu com o pai a puxada da
sanfona. Luiz é aquele moleque que fugiu de casa em 1930, para tornar-se, um
dia, o grande e insuperável Rei do Baião. Luiz Gonzaga é o sanfoneiro do Riacho
da Brígida, de rosto redondo e riso largo, que deixou o sertão do Araripe para
ser o dono de um reinado que não tem fim, posto que, o seu canto é eterno.
Voa, passarinho, voa !!! - José Nilton Mariano Saraiva
Mesmo sabendo que a montanha de reais que o remunera (15 milhões) é dinheiro sujo, fruto da contravenção e da atuação desassombrada de uma quadrilha da mais alta periculosidade, Márcio Thomaz Bastos (ex Ministro da Justiça do Governo Federal) alegando já ter cumprido a quarentena exigida e, portanto, habilitado pra atuar profissionalmente (como advogado), não tá nem aí pra quem dele exige um mínimo de escrúpulo ou coerência (lembremo-nos que lá atrás ele houvera dado um parecer contundente contra o atual cliente): assim, primeiro conseguiu com que o Juiz Federal Tourinho Neto, membro do Tribunal Regional Federal da 1ª Zona, (teria “rachado” a grana com o próprio ???) em tempo recorde transferisse (sem qualquer justificativa convincente) seu cliente, Carlos Cachoeira, da prisão de segurança máxima de Mossoró-RN para o presídio da Papuda, em Brasília-DF. Agora, pouco mais de três meses da detenção, com uma agilidade não muito usual em casos da espécie, o mesmo Tourinho Neto, em decisão individual, houve por bem conceder um habeas corpus determinando que o marginal fosse posto em liberdade imediatamente (por inacreditável que pareça). O incrível argumento usado é que, como o esquema criminoso que o “coitadinho” do Cachoeira chefiava foi desfeito com a sua prisão e as casas de jogos de azar fechadas “...não há mais a potencialidade, dita no decreto da prisão preventiva, que traga perturbação à ordem pública” (quanta cretinice). Ou seja, toda a “sujeirada” que tomamos conhecimento através das gravações legais autorizadas pela Justiça, onde o senhor Carlos Cachoeira casa e batiza, faz e desfaz, manda e desmanda (e contemplando os três poderes da República), chegando a sugerir inclusive uma possível derrubada do Presidenta da República, tudo isso não vale nada, tudo isso se desmorona, tudo isso cai por terra, em razão do uso de um simples artifício, uma brecha jurídica providencialmente deixada no texto legal para casos da espécie: o ato inicial do processo teria sido proferido por um Juiz não habilitado pra tal. De outra parte, como os demais envolvidos (bem remunerados executivos da quadrilha) se escudam na própria Constituição Federal pra não abrirem o bico e como os Governadores envolvidos e convocados a depor não fazem a menor cerimônia em “gozar” com a cara dos integrantes da CPMI (o de Goiás não conseguiu explicar sobre a transação e compra de uma mansão, enquanto que o de Brasília simplesmente alegou não ser “corretor” pra saber o preço de imóvel que comprara subfaturado), a tendência é que o senhor Carlos Cachoeira, livre como um pássaro se sinta estimulado a passar umas férias longe do país, comandando sua quadrilha via celular de última geração, sem que ninguém lhe aporrinhe.
Voa, passarinho, voa !!! Desmoralize de uma vez por todas esse nosso corrupto Poder Judiciário.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Gabo esquecendo o mundo para que lembremos dele - José do Vale Pinheiro Feitosa
Gabo não podia mais dar respostas claras e acuradas a perguntas diretas e inesperadas, e era capaz de esquecer o que acabara de dizer cinco minutos antes. Eu não era especialista sobre as diferentes formas e progressões da perda da memória, mas minha impressão foi de que sua condição progredia com bastante constância. Era duro ver um homem que havia feito da memória o foco central de toda a sua existência assediado por tal infortúnio. Gabo era “um recordador profissional”, como sempre se chamou...
Com dicas adequadas podia lembrar-se de mais coisas do passado remoto – embora nem sempre os títulos de suas obras – e travar uma conversa razoavelmente normal e até bem-humorada. Mas sua memória imediata estava fragilizada, e Gabo se mostrava claramente angustiado com isso e sobre a fase em que parecia ter entrado. Depois que conversamos sobre seu trabalho e seus planos por algum tempo, declarou que não tinha certeza se voltaria a escrever. Então ele disse, quase melancólico: “Escrevi bastante, não escrevi? As pessoas não podem ficar frustradas, e não podem esperar mais nada de mim, não é?”
Estávamos sentados em imensas poltronas azuis, numa saleta íntima do hotel, de onde se via o anel rodoviário do sul da Cidade do México. Lá fora estava o século XXI, voando. Oito pistas de tráfego incessante.
Ele me olhou e disse:
- Sabe, algumas vezes fico deprimido.
- Como? Você, Gabo, depois de tudo que realizou? Não acredito. Por quê?
Ele gesticulou para o mundo além da janela – a grande artéria de tráfego intenso, a intensidade silenciosa de todas aquelas pessoas comuns vivendo a vida num mundo que não era mais seu - depois voltou o olhar para mim e murmurou:
- Porque percebo que tudo isso está chegando ao fim.
Estávamos sentados em imensas poltronas azuis, numa saleta íntima do hotel, de onde se via o anel rodoviário do sul da Cidade do México. Lá fora estava o século XXI, voando. Oito pistas de tráfego incessante.
Ele me olhou e disse:
- Sabe, algumas vezes fico deprimido.
- Como? Você, Gabo, depois de tudo que realizou? Não acredito. Por quê?
Ele gesticulou para o mundo além da janela – a grande artéria de tráfego intenso, a intensidade silenciosa de todas aquelas pessoas comuns vivendo a vida num mundo que não era mais seu - depois voltou o olhar para mim e murmurou:
- Porque percebo que tudo isso está chegando ao fim.
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