por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 17 de junho de 2012


PARA GRACILIANO RAMOS ESCREVER DEVE SER IGUAL A BATER ROUPA

O escritor alagoano Graciliano Ramos recomendava que o ofício da escrita devia ser feito da mesma maneira como as lavadeiras lavavam roupa em Alagoas. Eis o texto de Graciliano Ramos:

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."


PARA GUIMARÃES ROSA ESCREVER É FERVER, FILTRAR E PURGAR A PALAVRA

A lição que nos vem de Guimarães Rosa não é diferente. Para o escritor mineiro escrever era um exercício de alquimia: a palavra fervida e filtrada, purgada e rezada. Ele afirmava que escrevia para tentar “desvendar o mistério cósmico.”
“Sou incorrigivelmente pelo melhorar e aperfeiçoar, sem descaso, em ação repetida, dorida, feroz, sem cessar, a todo custo. Faço isso com meus livros. Neles, não há nem um momento de inércia. Nenhuma preguiça! Tudo é retrabalhado, repensado, calculado, rezado, refiltrado, refervido, recongelado, descongelado, purgado e reengrossado, outra vez filtrado. Agora, por exemplo, estou refazendo, pela 23ª vez, uma noveleta. A gente tem que escrever para 700 anos. Para o Juízo Final.”

Nenhum comentário: