por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 15 de junho de 2012


Sertão de Aço



(José Marcolino e Luiz Gonzaga )

Lá lá lá rá rá
Se você visse
Como é o meu sertão
Aí você diria
Que eu falo com razão
Lavoura lá
Dá só com o cheiro de chuva
Tem resistência
O milho e o feijão
Com uma chuva
Em cada mês
A coisa aumenta
Que a lavoura lá aguenta
Trinta dias de verão
Trá lá lálá ai...
Tem ano lá
Que o inverno é variado
Lucro e remessa
Num canto e outro não
O sertanejo ainda num desespera
Com coragem ainda espera
Pela safra de algodão
Havendo safra
Nem é bom falar
Meu Deus do céu
E com tanto samba que há
O sertanejo
Esquece logo o tempo ruim
Finca o pé na dança
Sem sentir cansaço
No outro dia
Cuida da obrigação
Digo por esta razão
Que meu sertão é de aço

Ô VÉIO MACHO; 1962; RCA VICTOR

Precisa-se de um (a) cozinheiro (a)!- socorro moreira


Perdi todos os meus pontos. Fiz arroz sem sal, farofa torrada demais, feijão com caldo fino e carne sem suculência. Até a musse de chocolate ficou doce demais.
Face aos destemperos, aposento o meu avental, ou começo tudo do zero?
È desse jeito o bem viver... Recomeço!
Lições de tolerância, modulação da voz, delicadeza e amorosidade. Humor é fundamental!
Quando convivo com um casal que gargalha, aposto na relação.
Na falta do modelo próprio recorro à poesia. Solução pra solidão. Ela é a “outra” de todos os homens: perfumada, colorida e vadia!
“Quero a vida sempre assim...” Reaprendendo as letras que esqueci; absorvendo o novo que se apresenta, e lhe dando boas vindas.


2012 - CENTENÁRIO DE LUIZ GONZAGA


ASA BRANCA (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira) – Toada-Baião lançado em 03/1947

 
quando oiei a terra ardeno
quá fogueira de são João
eu preguntei a Deus do céu, ai
pru que tamanha judiação

qui brasero, qui fornáia!
nem um pé de prantação
por farta dágua perdi meu gado
morreu de sede meu alazão!

inté mesmo a asa branca
bateu asas do sertão
entonce eu disse: adeus Rosinha
guarda contigo, meu coração!

hoje londe muitas légua
numa triste solidão
espero a chuva cair de novo
pra mim vortá pro meu sertão!

quando o verde dos teus óio
se espaiá na prantação
eu te asseguro, num chore não, viu
que eu vortarei, viu, meu coração!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Bola e a Bóia



                                   Há quem considere a Crônica um gênero literário menor. Talvez, comparando com o Conto, o Romance, o Ensaio, a Poesia, não tenha ela o mesmo charme e a mesma fama .  Desconfio, no entanto, que esta opinião advém da volatilidade maior do estilo: ligada geralmente aos fatos mais corriqueiros e cotidianos , possui uma permanência mais etérea. O texto publicado no jornal,  hoje, amanhã já está, muito provavelmente, limpando as vidraças da sala. Trabalhar com esta impermanência , tecendo o bordado numa ponta, enquanto o tempo desfaz o fio do outro lado, parece-me  uma coisa mágica e remete quase que imediatamente à efemeridade da vida: matéria prima de todos os gêneros literários. E não são poucos os grandes escritores que soçobram ante os mistérios da Crônica; faltam-lhes, tantas vezes,  leveza, despojamento, humildade para enfrentar o profundo abismo que é escrever acossado pelo grande e implacável  apagador das horas. Machado de Assis, meu escritor predileto, talvez o maior que o país já produziu, não me parece um grande cronista. Humberto de Campos,  o mais produtivo da sua época, hoje é totalmente esquecido. Lembro da grande coleção azul,  dele,  de mais de  trinta livros , na biblioteca imensa do Tio Sávio Pinheiro. Devorei-a, na adolescência, com voracidade. Talvez os textos fossem datados demais e tenham perdido o glamour com o advento das novas gerações. Rubem Braga, certamente ,mantém-se distanciado como  o mais importante escritor  do gênero, em língua portuguesa, possivelmente porque  é profundamente poético e poesia não tem idade : banha-se na fonte da eterna juventude.
                                   O certo é que me apetece esse encanto de garimpar nossa doce história cotidiana. Fatos aparentemente sem importância, gestos leves, movimentos fortuitos, personagens tidos como menores e que cairiam  rapidamente na lixeira da memória não fosse o olhar atento do cronista. E mais: tentar perenizá-los usando a mesma argamassa amorfa,  frágil e etérea com que são constituídos.
                                   Querem  um exemplo ? Esta semana publicou-se uma notícia trivial na televisão. Foram devolvidos a alguns japoneses, alguns objetos tragados no terrível Tsunami do ano passado. As marés os carregaram até o Alaska, na outra extremidade do mundo. Algumas pessoas os recolheram e identificando alguns deles os devolveram aos seus donos no Japão. Sakiro Miura, uma japonezinha simpática, recebeu uma bóia que emoldurava a porta da sua loja de mergulho: nela estava escrito, em caracteres japoneses, o nome do esposo, falecido há 30 anos. Um rapaz recebeu uma bola de futebol onde gravara o próprio nome  e estampava várias assinaturas dos seus colegas de escola. A bola e a bóia não possuíam qualquer valor monetário e a notícia, tirando-se o inusitado, não carrega maior importância. Debite-se na conta ainda  a gentileza dos moradores do Alaska : perceberam que , de alguma maneira, junto com os objetos, devolviam à Sakiro e ao rapazinho um pouco daquilo que a tragédia havia arrancado das suas mãos. A bola e a bóia restituíam junto a esperança: o combustível de toda nossa jornada nesta terra.
                                   Atrás da notícia, escondia-se uma verdade só perceptível ao cronista. O  preço real  das coisas não pode ser avaliado apenas por seu valor venal: de troca, de venda , de escambo. Existe tantas vezes um valor sentimental que imanta os objetos e que não pode ser mensurado por trena , nem pesado com balança Fillizola. Sakiro não negociaria sua bóia por qualquer dinheiro desse mundo. E mais : só ela consegue dimensionar este custo, ninguém mais desse mundo. Seu tesouro está assim, biblicamente, imune às traças, aos ladrões e  ao caruncho.
                                   Quando os tsunamis por fim devastarem as praias da nossa existência, estes serão os únicos bens que boiarão e que um dia , quem sabe, o destino devolverá à nossa porta, para nosso gáudio, como a bóia de Sakiro Miura : uma florzinha que desabrocha em meio ás  ruínas que restaram.

J. Flávio Vieira

O Banhado do Taim, a fundação do Movimento Verde e a Rio +20 - José do Vale Pinheiro Feitosa


Vínhamos pela BR-471 de Chuí para Pelotas quando avistamos, na estrada quase vazia de automóveis, placas indicando um trecho cuja velocidade mínima seria de 40 km por hora. Perigo de animais selvagens atravessando a pista. Estávamos na região da Reserva Ecológica do Taim, uma estreita faixa de terra entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim, nos municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.

Rio de Janeiro, junho de 2012, as ruas cheias como o seu dia-a-dia de veículos explodindo fumaça pelo escapamento. O noticiário igualmente tomado de notícias da Rio +20. Pelas ruas da cidade, a cada esquina, encontro da espécie humana grunhindo suas cordas vocais em múltiplos idiomas.

A consciência ecológica, verde, conservacionista, sustentável ou que nome venha a ter é ampla nesta Conferência das Nações. E pensar que tudo começou no turbilhão que jogou o mundo entre os anos 60 e 70. Quando a consciência planetária se imiscuiu na cultura e na política. A consciência que igualmente esteve no movimento hippie, no Rock and Roll, na Guerra do Vietnã e a resistência a ela, nos movimentos estudantis pelo mundo inclusive o Paris de 68 e além das guerras de libertação colonial na África e na Ásia.

A Reserva Ecológica do Taim faz parte da planície costeira que caracteriza o extremo sul do Brasil. Os banhados do Taim, como é seu nome original se compõem por praias lagunares, marinhas, lagoas, campinas, pântanos e dunas. Ali vive e se formou um rico ecossistema composto por animais e plantas. João de Barros, Tuco-Tuco, Tartarugas, Capivaras, Jacaré-do-Papo-Amarelo, Ratão-do-Banhado, Orquídeas, Bromélias, Cactos, Figueiras, Juncos e Água Pés.

No Forte de Copacabana se montou uma estrutura enorme onde os militantes ecológicos, visitantes, curiosos e representações populares e do mundo científico engajado se mistura como uma Torre de Babel de línguas. No RioCentro as delegações penam em discordâncias e concordâncias com um longo texto que será retificado pelos Chefes de Estado.

A primeira vez que se tomou uma consciência ecológica do ponto de vista político e como uma consciência na cultural mundial, aconteceu por fatos cumulativos e com a Conferência de Estocolmo, ou Conferência da ONU sobre Meio Ambiente Humano começando em 5 de junho de 1972 (apenas 40 anos). O mundo estava perplexo com os efeitos da contaminação por venenos no solo, nas águas e nos animais oriundos de processos industriais e da agricultura. Os testes com bombas atômicas deixavam uma rastro letal de Estrôncio-90 no meio ambiente. A Baleia Azul tinha sido tão perseguida que estava à beira da extinção.

Entramos na velocidade indicada nas placas sobre um aterro que atravessa aproximadamente 20 Km da reserva do Taim e se descortina uma paisagem belíssima ladeada pelos pampas, a criação de gado e grandes grupos de capivaras de um lado e outro do banhado. Enquanto o motor do carro nos transportava vinha-me a lembrança da grita do Pasquim e do Coojornal do Rio Grande do Sul denunciando a construção da BR-471 sobre a reserva do Taim, expondo suas obras e uso ao desastre ecológico.

O Presidente Obama, a Chanceler Merkel e David Camerom não se farão presentes à cúpula dos Chefes de Estado da Rio +20. Num desânimo estrutural e na contramão da necessidade de se repensar a marcha da humanidade, estes líderes das nações mais intensas em consumo do planeta, não virão, permanecerão onde estão. Numa atitude sempre evasiva nestes fóruns mundiais, mas quando se trata de defender o meramente econômico com base em moeda pura, as grandes nações nunca se escondem. Estão lá para fazer os acordos entre si, à margem da maioria da humanidade.

Na Primeira Conferência a de Estocolmo de 1972, aquela que funda o movimento verde, o atual formato já estava pronto: a sociedade civil, cientistas e chefes de estado. Indira Ghandi, premier da Índia disse: “A minha percepção é de que pessoas que não se entendem com a natureza são cínicas em relação à humanidade e não estão confortáveis consigo mesmas”. A partir dali o assunto entrou na agenda da humanidade e o Brasil, por sua cidade Rio de Janeiro, se tornou uma referência fundamental nas principais conferências até aqui.

Enquanto o nosso carro avançava no aterro sobre o banhado do Taim, aquelas frases de efeito na grita contra a truculência da ditadura que apontara o dedo no mapa para aquela região e ali plantara a estrada que violentava a natureza. Tudo que lera no Pasquim e no Coojornal fazia sentido: um, dois, três, quatro, mais outro, outro e outros mais corpos de capivaras jaziam esmagados a se confundir com o asfalto da rodovia.

Hoje pela manhã o Rio amanheceu azul após tantos dias de chuvas. Amanheceu azul com uma matriz da floresta da tijuca a ladear o intrincado de ruas. Tudo de ruim que disseram das cidades aqui acontece. Aconteceu e acontecerá. Mas não existe esperança que não sejam sobre os eventos em acontecimento e por isso pode-se mudar o rumo da história. Pelo fato pura e simples do que acontece continuamente é de onde se transforma.  

Antes de terminar é impossível esquecer do livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson, sistematizando os efeitos do desenvolvimento e do progresso sobre o meio ambiente. Assim como José Lutzemberg a abrir a consciência ecológica no Brasil após anos de trabalho na BASF quando sentiu os efeitos danosos dos agrotóxicos sobre os agricultores. E aqui uma frase dele de 1972 a primeira vez que li sobre o assunto numa entrevista que ele deu acho que para o Pasquim ou outro jornal alternativo da época feito O Movimento ou Opinião: “Se não conseguirmos, em pouco tempo vencer a piromania nacional, estará nosso país a transformar-se, durante a vida dos jovens e crianças de hoje, em deserto e serão indescritíveis as calamidades que sofreremos. A provável e talvez já desencadeada inversão climática tornará impossível a recuperação, mesmo a longo prazo.”   Lutezemberg foi um dos primeiros a falar no aquecimento global com esta frase. 

VIVA GONZAGÃO

No centenário do nosso grande Luiz Gonzaga, o registro de um encontro memorável que tive com o Rei do Baião em Crato.





O ANO ELEITORAL EM CRATO - José do Vale Pinheiro Feitosa


Quando um empresário se candidata, se elege e assume um cargo público ele vive um dilema, mas um dilema a priori resolvido: entre o interesse público e o seu ele fica com o seu.”
Wilson Fadul, Prefeito de Campo Grande, Deputado Federal, Ministro da Saúde, Editor, Presidente de Banco.

Todos sonhamos e desejamos a retomada da vocação da cidade de Crato para que a região do Cariri tenha melhores chances de desenvolvimento. Sem o Crato ou com a Política da cidade funcionando de modo subalterno e confuso, a região ficará empacada numa eterna perda de autonomia, apenas absorvendo as sobras das políticas ditadas pelo Governo Estadual e suas alianças regionais.

A rigor ninguém tem a fórmula para a retomada desta vocação, mas algumas tradições históricas, educacionais e culturais dão algumas pistas como bem explicitou Dr. José Flávio Pinheiro Vieira em postagem recente. E não se tem uma pista completa por que antes é preciso ouvir a sociedade, fazê-la se manifestar sobre o tema, incluindo desde as associações de bairros, passando por organizações da sociedade civil, do comércio e indústria, a URCA e setorialmente todas as instâncias municipais: câmara de vereadores e conselhos municipais e os funcionários dos diversos setores da administração municipal.

É preciso ter este objetivo de construir coletivamente a vocação da cidade para que as políticas públicas se orientem por ela. E este coletivamente só pode existir no povo do Crato, ele não vem de fora, é a partir do seu conceito próprio que a cidade pode apresentar a sua contribuição para a região e reivindicar políticas estaduais e federais para dar curso às políticas locais.

Por isso mesmo, alguns parâmetros políticos precisam ser evitados a todo custo para que a cidade retome seu destino e exerça o papel de liderança que lhe cabe. Quais são estes parâmetros de natureza conjuntural e estrutural:

a     a ) Do ponto de vista conjuntural: o Crato não pode ficar nestas eleições a reboque dos desejos políticos do Governador do Estado. Não pode por dois motivos muito simples: o Governador tem mais dois anos de mandato e trabalha nesta altura apenas para a sua própria sobrevivência política o que não trás vantagem alguma para o Crato além do atual Governo estadual ser fruto de uma aliança entre forças politicas da região metropolitana de Fortaleza e da região norte para as quais os interesses do Cariri são secundários.

b      b) Ainda na lógica conjuntural: seria um erro histórico o Crato eleger um prefeito por força de um ou dois políticos regionais, cujos interesses se resumem ao próprio domínio político. Sejam estes políticos senadores ou deputados da região não é pelo desejo deles que a cidade conquistará autonomia, pois o desejo deles quase que se insere apenas no espectro do poder pessoal.

c      c) Do ponto de vista estrutural: o Crato precisa superar a velha política local, feita por conchavos entre famílias, que se prendem a um saudosismo eterno e uma inveja doentia do sucesso de outras cidades. Esta estrutura precisa ser superada até para que os filhos e netos destas famílias possam ter progresso e amplie a capacidade de liderança para o bem comum.

O modo de superação da cidade, como dissemos, é pela construção coletiva de um plano de identidade local, com a inserção de novos atores sociais e econômicos que não tiveram, não têm e nunca terão vez uma vez não se supere aquelas conjunturas e estrutura citadas. Para isso é preciso um núcleo político popular e democrático que promova a inserção destas novas forças. E isso não se mostra impossível no quadro econômico, social e político do país, quando se vive um momento especial de crescimento econômico com distribuição de renda e um novo paradigma do Estado de Direito Democrático.

O núcleo popular e democrático não tem donos, mas tem um norte que são as políticas nacionais de desenvolvimento com inserção social. O núcleo é dinâmico, inclusivo e distributivo, convocando todos os bairros para a construção coletiva. O núcleo popular e democrático terá algumas questões que estão na raiz daquilo que o Dr. José Flávio apontou: o meio ambiente, a educação pública, a saúde pública, a cultura popular e universal, saneamento básico e proteção social.

Por último o núcleo político e popular precisa ser estendido rapidamente, convocado e aberto para a construção. Seria um erro se fazer política apenas repetindo as fórmulas clássicas de programas de rádio, panfletos e palanques. É preciso multiplicar rapidamente estes núcleos nos bairros e partir para o entusiasmo popular não como objeto de promessas eleitoreiras, mas como a construção do possível e do necessário. Desenvolver o espírito crítico na população para denunciar todas as manobras que quebram o espírito democrático das eleições como cabos eleitorais assalariados, compra de votos e outras coisas que a legislação eleitoral veta.

Em palavras finais: o núcleo popular e democrático é popular e democrático e vai abandonar todas as velhas formas de fazer política com as quais a cidade se acostumou e se acomodou. É preciso ir para a rua como diz a canção: “é preciso ir aonde o povo está, se foi assim, assim será.”      

" FUTEBOL" - A Verdadeira Copa - José Nilton Mariano Saraiva

Com sede Suíça, a FIFA-Fédération Internationale de Football Association, abriga em seus quadros mais países que a própria ONU-Organização das Nações Unidas, já que com cerca de 215 afiliados. Trata-se, pois, de uma das maiores e mais rentáveis multinacionais do planeta.
Mas foi justamente aí, na ânsia desmedida em cooptar filiados através da politicagem rasteira do quantificar independentemente do qualificar, que aquela Federação Internacional acabou por transformar a sua principal mercadoria, a Copa do Mundo de Futebol, num torneio sem o charme, a atração e a credibilidade de outrora.
Se você aí do outro lado da telinha desconhece, saiba que quando o Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo, em 1958, o torneio se restringia a 16 seleções nacionais, normalmente fortes e competitivas.
Mas, a partir de certo momento, a televisão, antevendo o preenchimento da sua grade com uma atração com poder de atrair anunciantes com “bala na agulha”, firmou parceria com a FIFA e a “porteira” foi escancarada: o aumento das vagas pulou pra 24 e posteriormente para 32 seleções, sob uma justificativa não lá tão convincente: os povos dos continentes africanos, da Oceania e de outros países (sem nenhuma tradição no esporte), também eram filho de Deus e, portanto, não poderiam ficar de fora da “maior festa do futebol” (a questão do "patrocínio" foi estrategicamente "esquecida") .
E foi assim, através dessa tal globalização (um tanto quanto enviesada), que a Copa do Mundo de Futebol se transformou na xaropada que é hoje: insossa, previsível, sem atrativos, com “peladas monumentais” à espera de uma “zebra” qualquer aqui e acolá e, principalmente, com jogos em horários que se amoldem ao espaço disponível na grade televisiva e ao fuso-horario, mesmo que o distinto público não tenha condição de comparecer aos estádios (meio-dia ou tarde da noite). Daí a substituição do torcedor de arquibancada pelo torcedor de poltrona.
Ainda bem que para se contrapor a essa “zorra” toda, a UEFA (União das Federações Européias de Futebol) patrocina uma competição que, se contasse com o Brasil e a Argentina poderia perfeitamente ser rotulada com o “verdadeiro” Campeonato Mundial de Futebol: a Eurocopa, que é disputada nos mesmos moldes da antiga Copa do Mundo da Fifa - 16 clubes, divididos em 4 chaves, com 4 clubes cada, classificando-se dois de cada grupo até se chegar ao funil onde só sobram os dois finalistas (claro que, pra não fugir à regra, aqui e acolá temos que digerir algum “purgante” brabo, algum jogo chocho).
E aí, paradoxalmente, só temos que agradecer à televisão por nos permitir assistir (na poltrona, é claro) a embates virtuosos entre times de inquestionável gabarito, tais quais: Alemanha, Espanha, Rússia, Polônia, Portugal, República Tcheca, Dinamarca, Holanda, Itália, França, Inglaterra, Suécia, Croácia, Ucrânia e, um pouco menos, Irlanda e Grécia.
Alguém dúvida que se fosse possível incluir Brasil e Argentina em tal competição teríamos a verdadeira Copa do Mundo de Futebol, já que mais qualificada ???

Fênix – O pai que volta;
o choro da mãe;
a culpa e o perdão;
o desespero e a esperança;
a noite e o dia;
o sorriso da criança;
fim da agonia!

João Marni

Jamelão


José Bispo Clementino dos Santos, mais conhecido como Jamelão (Rio de Janeiro, 12 de maio de 1913 – Rio de Janeiro, 14 de junho de 2008), foi um cantor brasileiro, tradicional intérprete dos sambas-enredo da escola de samba Mangueira.

Mavutsinim



Eu, Mavutsinim, o primeiro homem

a pisar este chão abençoado,
fui só como o horizonte do infinito.

Senhor do universo, criei de uma concha
a mulher que o meu corpo reclamava.

A beleza tem forma, na verde luxúria
das ervas resinosas que nos acolheram.

O espírito do sol e o espírito da lua
pousaram sobre nós a sua luz.

O ventre da mulher cresceu como o húmus
fertilizado pelas águas vermelhas.

Ergui nos braços o meu filho varão
em oferenda à estrela da montanha.

E seguimos as sendas, que eram nossas.
A mãe voltou à sua aldeia, a lagoa,

e encantou-se, na concha de que viera.
Os índios são os filhos do meu filho.

Eu, Mavutsinim, cumpri o meu destino.


 

 

quarta-feira, 13 de junho de 2012


Por isso eu canto assim - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Cafona, brega, caipira, matuto, beiradeiro! Eita, isso eu sou!

E ainda mais ouvindo Carlos Gonzaga, num radinho de pilha, na calçada da frente, olhando o canavial e sonhando com aquela musa que tudo podia sobre mim:

O Iraci,
Ai como eu amo a ti,
Sem ti não sei viver,
Mas que coisa louca,
É amar alguém...

Mas que Iraci mais danada meu deus! Podia me encharcar de amor, me deixar assim meio sem...sem prumo, sem saber o que mais sabia que era viver. E tinha mais. Era uma coisa louca, coisa louca deve ser o melhor que o mundo germina, derrubando estas xícaras arrumadas para o café, começando a manhã como se fosse outra coisa, uma coisa que é amar alguém. Ainda com aquele arranjo de balada, bem balançante, como eram aquelas músicas dos americanos que impregnaram o sangue da juventude por meio do cinema.

Eu sou feliz,
Por ti querer assim
Sem ti não sei viver
Eu ficar sem ti
É bom morrer!

E tinha o Gala Campina, o Canarinho, o Bigodinho, o Bico de Prata, e os altos galhos do Pé de Timbaúba, tão como Iraci, que dava a felicidade. Tem coisa mais alta, mais acima, no topo do que ser feliz. Ti querer assim, mas tanto que nem o ar se leva em conta, nem a água ou a rapadura, menos ainda a farinha, querer assim sem mais saber como viver. E nunca me faltes, o Iraci, pois se eu ficar sem ti, o mundo todo já sabe eu vou ao mais supremo do amor, ao mais radical da doação que sem você é bom morrer.

Desde que eu ti vi,
Nunca mais te esqueci
Tive a sensação que ia ser feliz,
E o pouco amor que eu pedi a ti
Foi negado a mim
Por isso eu canto assim.

Um simples olhar, aquele que imanta, que puxa, agarra, prende. Um olhar que substitui todos os olhares já havidos e por haver. E quando se falar em esquecimento, ainda é pouco, nada tem com lembranças, nem memórias, é um tudo contínuo, que sempre existiu, sem paralelas. E o mais sublime de todos os desafios que o mundo deu em escarpas e vendavais, eu te pedi um pouco que fosse e tu me negaste. E negar não é igual a um sim. Não é dual a este. Negar, para este pouco que ti pedi, Iraci, é igual a morrer, quando se diz vida, é como ir se a placa é de pare. Negar, um pouco de amor que seja é, em troca, oferecer ao negado, o legado da mágica espada do amor que nunca cessa, sempre existirá como possibilidade e jamais como cotidiano, feito o sabão a lavar pratos, a água sanitária no vaso. Negar é força do sol que sempre surge no horizonte quando se ausentou só para eternizar-se nas manhãs.


Poema contrito
Verdade descrita
Imagens que se formam
na mente enlouquecida ... Coração !

- Oração !
O poeta adormece
e amanhece esquecido

socorro moreira

Da janela do ônibus - por Everardo Norões


Apenas da janela do ônibus
enxergamos
as vértebras do vidro.
Unhas dilaceram veias.
E no semáforo,
quando tudo para
vomitamos sobre o mundo
a tensão de um segundo.

Somente de pé,
no ônibus,
é possível provar
a ração do descaso.
No horizonte raso,
o suor da distância
recompôe nosso medo.

As moedas se descobrem
no convexo da palma.
No barulho do aço
a cercar a cintura,
somos animais
do acaso.

Gado
inerte e mudo:
sem ferro ou pasto.

Silvero Pereira - A arte existe para tremer os conceitos



Professor, ator, diretor, pesquisador,  proletária da arte assim é o jovem que com apenas três décadas tem na sua bagagem muita história para contar.  Silvero vem desenvolvendo um trabalho significativo que une pesquisa, experimentação estética/artística e comprometimento político com as questões do movimento LGBTTT. O artista enfatiza “Acredito que a nossa sociedade ainda não está preparada para compreender as questões de sexualidade na nossa atualidade, por isso utilizo minha arte para provocar, tirar do conforto, confrontar e questionar os paradigmas”.

Alexandre Lucas – Quem é Silvero Pereira?

Silvero Pereira -  é um garoto que completa 30 anos agora em junho (20). Garoto porque aos 12 anos começou a  trabalhar para ajudar nas despesas da família, trabalhando de dia e estudando a noite e com isso nunca teve tempo de curtir sua infância, sua imaginação. Assim, aos 30 anos e tendo 14 anos dedicados ao teatro, descobriu nessa arte a possibilidade de viver sua infância perdida, de poder brincar, criar, imaginar e realizar. Entretanto, tudo isso é com muita responsabilidade e dedicação. O Silvero, como me enxergo, é um batalhador, um trabalhador que acredita naquilo que faz, que faz teatro por necessidade, seja essa necessidade de viver, de brincar, de questionar ou de expor inquietações.

Alexandre Lucas – Quando você teve seus primeiros contatos com a arte?

Silvero Pereira -  Desde pequeno eu já realizava algumas manifestações artísticas, sempre gostei de pintar, desenhar e nas brincadeiras de criança sempre fazia dramatizações, imitações de filmes, novelas, mas tudo de forma muito intuitiva. Meu real contato com o Teatro se deu aos 17 anos quando ingressei no ETFCE (atual IFCE) para fazer Ensino Médio e Técnico em Turismo. Assim, nas aulas de educação artística decidi por teatro e com o Paulo Ess (professor na época) pude enxergar o teatro compromissado com a arte, com a formação de artistas e de platéia. Desde modo, me envolvi, ingressei no grupo de Teatro da Instituição, fui fazer curso de Teatro após Ensino Médio e desde e então faço Teatro. 

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:

Silvero Pereira -  Comecei em 1997, na Cia Dionisyos de Teatro com direção de Paulo Ess. Dentre meus espetáculos como ator estão "Filé Com Fritas ao Vinagrete“, "O Rei Que Não Sabia Ler", "O Suicida", "Ray Tex" e "Meu Admirador Secreto”, todos com direção de Paulo Ess; com exceção do último que teve como diretor o Autor e Pesquisador Fernando Lira. Em 2000 ingressei para a CIA LUA de Teatro, onde atuaria nos espetáculos "Rosa Escarlate, "Dominus Tecum" e " Não Confirmo Nem Duvido", todos com direção de Ueliton Rocon. No mesmo ano criei o Grupo Parque de Teatro, por meio da Fundação Parque de Formação Integral do Tapuio na cidade de Aquiraz, onde desenvolvo  um trabalho social e voluntário com crianças e jovens usando a arte como mecanismo educacional e social. Com o Grupo Parque de Teatro realizei a montagem dos seguintes espetáculos : “O Destino a Deus Pertence” (2002), “O Mistério da Cascata” (2004), “Muito Barulho Por Nada” (2005), “Conte Lá Que eu Conto Cá!” (2007) e " A Incrível Jornada de Vicente e a Estrela Cadente" (2012). Ainda em 2005, pelo mesmo grupo estreie  o solo “Uma Flor de Dama” , tendo minha direção, texto adaptado, interpretação, cenário, figurino, maquiagem e sonoplastia.Com este solo participei de mais de 16 festivais por todo o Brasil (CE, PE, PA, DF, RN, BA, MG, ES). Em 2006 atuei em “Dorotéia”, com direção de Herê Aquino, pelo Grupo Expressões Humanas. E no período de 2001 a 2004 atuei no Grupo Bagaceira de Teatro nos espetáculos: “Os Brinquedos No Reino da Gramática” (com direção de Renata Gomes), “Ano 4 D.C.” e “Engodo” (ambos com direção de Yuri Yamamoto). 
Atualmente sou integrante e encenador do Grupo 3x4 de Teatro, de Fortaleza-CE onde dirigi os esquetes:“As vivas cores da ilusão”, “Para Sempre Fiel” e “Confissões Entre Paredes”, “Para Uma Avenca Partindo”, “Os Sobreviventes”, "Red Roses", "Terça-Feira Gorda" e “Creme de Alface”, na mesma dirigi os espetáculos “As Rosas”, “Aniversário de Casamento”, “Curtas nº 1”, “Curtas nº 2”, "Para Papai Noel..." e "Silvestres". Em 2009 dirigi o espetáculo “Tudo o que eu queria te dizer” da Cia. Lai-tu de Teatro (Fortaleza) e , como professor do Curso Princípios Básicos de Teatro, realizei a montagem de “Alice – Nem tudo que parece é” (2009). Em 2010 estrei o terceiro trabalho de minha pesquisa sobre o universo das travestis cearenses com o título de “Engenharia Erótica – Fabrica de Travestis” com o Grupo Parque de Teatro. No mesmo ano estrei no espetáculo “S./A. Sociedade Anônimna” Produção do Grupo 3X4 de Teatro; o Solo “DEPOIS DO PONTO” e “Mixórdia – Encontro Desordenado de Fragmentos” no Curso Princípios Básicos de Teatro, do qual sou  professor e onde estreei em agosto de 2011 o espetáculo de conclusão “E SE...”. Já em janeiro de 2012 realizei a montagem de "Cabaret Show: Yes, Nós Temos Bananas!" e trabalho na montagem de 03 espetáculos com previsão de estreia ainda neste ano: "Metrópole" do Grupo 3X4 de Teatro; "Quanto vale o preço de quem paga o seu verdadeiro amor" do CPBT; "Quem Tem Medo de Travesti" com o Grupo As Travestidas.

Alexandre Lucas –  A sexualidade é uma das temáticas abordadas no seu trabalho. Como você ver essa questão?

Silvero Pereira -  Eu estou no Teatro porque ele me dá a oportunidade de expor minhas angústias, minhas inquietações com questões sociais. Acredito que a nossa sociedade ainda não está preparada para compreender as questões de sexualidade na nossa atualidade, por isso utilizo minha arte para provocar, tirar do conforto, confrontar e questionar os paradigmas, os conceitos e os "pré". Nossa sociedade precisa de esclarecimento e o teatro permiti, pelo menos na forma como executo, que as pessoas vejam e reflitam, não aponto conclusões, aponto desconforto naquilo que pensam.

Alexandre Lucas – Como ocorre a sua  pesquisa para construção do seu trabalho teatral?

Silvero Pereira -  Minha pesquisa é longa e cautelosa, não consigo levar nada para a cena de imediato, gosto de analisar, estudar, pesquisar, re-avaliar. O meu processo criativo dura em média entre 8 meses a dois anos de elaboração até chegar há um resultado. Essa pesquisa parte de experimentações estéticas, laboratórios corporais, emocionais, pesquisa "in locus", anotações, discussões, ensaios abertos e pesquisa acadêmica.

Alexandre Lucas – Como você ver a relação entre arte e política?

Silvero Pereira -  Necessária. Nós, artistas, temos a política nas mãos. Nós também somos formadores de opinião, ou pelo menos capazes de provocar questões e isso por si só já é ser político. A arte existe para tremer os conceitos, uma obra que não causa, que não modifica, que não desestabiliza, não tem finalidade. Só entramos em cena ou só pintamos um quadro porque queremos expor nosso ponto de vista perante à sociedade. Isso é política.

Alexandre Lucas – Qual a contribuição social do seu trabalho?

Silvero Pereira -  Meu teatro caminha em duas mãos. A primeira tem haver com a transformação social realizada no comunidade do Taupio (Distrito de Aquiraz) onde há 12 anos existe o Grupo Parque de Teatro. Neste local eu cheguei em 2000 para mostrar as crianças o que o teatro tinha de significado pra mim. No início a Comunidade encarava o Teatro como distração, lugar para deixar os filhos durante um turno para os pais terem tempo livre. Hoje a mesma comunidade encara o teatro como profissão, desejam ver os filhos no teatro. Hoje alunos meus são professores e coordenadores de arte na comunidade, são estudantes de Artes Cênicas e constituíram famílias e estabilidade financeira por meio da educação que receberam na arte. Já em segundo plano está meu trabalho no movimento LGBTTT, pois há 10 anos atrás iniciei uma pesquisa sobre o teatro e o transformista e hoje, anos depois, olho para a  cidade de Fortaleza, ou mesmo o nosso estado do Ceará, e vejo a minha colaboração. Hoje é possível ver travestis em bares, transformistas sem medo de mostrar a sua arte em qualquer local, ou mesmo quando escuto de pais e mais que assistiram meus espetáculos dizerem " Eu hoje compreendo e respeito melhor o meu filho, porque você me fez ver o quanto fui cruel!" 

Alexandre Lucas – Além desta abordagem sobre sexualidade, quais outras questões são enfatizadas no seu trabalho?

Silvero Pereira -  Meu trabalho tem haver com aquilo que no momento me incomoda. Atualmente tenho falado muito sobre sonhos, amizade, resiliência, infância e mundo Trans. 

Alexandre Lucas – Quais os próximos trabalhos?

Silvero Pereira -  Meus próximos trabalhos em vista são os seguintes:

Setembro : "Quanto vale o preço de quem paga o seu verdadeiro amor" do Curso Princípios Básicos de Teatro do Theatro José de Alencar
                        " Metrópile" Grupo 3X4 de Teatro

Outubro: " Quem Tem medo de Travesti" Grupo As Travestidas. Esse deve estrear no Cariri

Dezembro: Um infantil de natal ainda sem título pelo Grupo 3X4 de Teatro

Já em 2013: o musical "Yes, Nós Temos Bananas!" e um infantil sobre travestis e transformistas, ambos pelo Grupo As Travestidas
                      "Translendário 2013"         

A esquerda que não ousa dizer o seu nome - livro de Vladimir Safatle


A questão da igualdade e das diferenças no atual estágio da história da humanidade. Isso é importante uma vez que caracterizou o mundo desde o século XIX a idéia de uma igualdade entre os homens a que se chamou socialismo/comunismo com um número razoável de vertentes de como fazer a igualdade.

Antes uma ressalva: as principais perversões do capitalismo (acumulação) e do comunismo (concentração de poder) terminaram de alguma forma no mesmo denominador comum. Quer dizer: o poder de opressão de poucos sobre todos. A diferença básica entre os dois é que o capitalismo é um modelo econômico enquanto o comunismo um modelo essencialmente político.

Em ambos a igualdade se desfaz em contradições e por incrível que pareça a individualidade se encastela numa casamata defensiva ao mundo que lhe cerca. O capitalismo como modelo econômico é visitado pela política constantemente, com freios e contrapesos que evitem o excesso de acumulação que destrói a liberdade e a democracia. As ideias neoliberais do final do século XX e início deste século foram políticas e, portanto, com repercussões na forma de organização e vida dos indivíduos.

Os neoliberais como pensamento ideológico e político ainda estão com algum prazo de validade embora nos leve a crer que já vencido em alguns casos bastante evidentes neste momento. Especialmente por ser incapaz de uma autocrítica que extraia respostas à acumulação em poucos e a pobreza de todos.

Já o pensamento socialista como ideologia e política se debate na própria crise do fim da guerra fria e agora quando as ideias neoliberais entram em crise real, favorece a autocrítica do pensamento de esquerda, tornando-o mais aberto e consoante com a história. O Vladimir Safatle publicou o livro “A esquerda que não teme dizer o seu nome” levando Caetano Velloso a fazer uma crítica na sua coluna dominical no jornal O Globo ao que o Vladimir o respondeu com o seguinte e inovador pensamento sobre o modo de tratar as diferenças num pensamento de esquerda. Leia abaixo: 
   
Caetano critica minha maneira de defender o igualitarismo, vendo nisso um arcaísmo. Para ele, tal igualitarismo não seria muito diferente do tom opressivo da esquerda “indiferente” e “universalista” de sua juventude. Esquerda para quem questões de raça, sexo, nacionalidade e estética eram diversionismo que nos desviariam da revolução.

Longe de mim querer diminuir a importância dos apelos de modernização social embutidos em demandas de reconhecimento da diversidade de hábitos e culturas. Estas são questões maiores, por tocarem diretamente a vida dos indivíduos em sua singularidade. Não se trata de voltar aquém das políticas das diferenças e de defesa das minorias. Trata-se de tentar ir além.

Quando afirmo que devemos ser indiferentes à diferença é por defender que a vida social deve alcançar um estágio no qual a diferença do outro me é indiferente. Ou seja, a diversidade social, com sua plasticidade mutante, deve ser acolhida em uma calma indiferença. Que para alcançar tal estágio devamos passar por processos de abertura da vida social à multiplicidade, como as leis de discriminação positiva. Isso não muda o fato de não querermos uma sociedade onde os sujeitos se atomizem em identidades estanques e defensivas. Queremos uma política pós-identitária, radicalmente aberta à alteridade.

Um exemplo: discute-se hoje o direito (a meu ver, indiscutível) de homossexuais se casarem. Mas por que não ir além e afirmar que o ordenamento jurídico deve ser indiferente ao problema do casamento?

“Indiferença” significa, aqui, não querer legislar sobre as diferenças. Ou seja, por que não simplesmente abolir as leis que procuram legislar sobre a forma do casamento e das famílias, permitindo que os arranjos afetivos singulares entre sujeitos autônomos sejam reconhecidos? Não creio que isso seja arcaísmo, mas o verdadeiro universalismo.”

terça-feira, 12 de junho de 2012




Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.


( Pablo Neruda )

Seremos, algum dia, japoneses?

O dinheiro e as barras de ouro estavam em cofres e carteiras de vítimas do tsunami no Japão. Em casas e empresas destruídas. Nas ruas, entre escombros e lixo. Ao todo, o equivalente a R$ 125 milhões. Dinheiro achado não tem dono. Certo?

Para centenas ou milhares de japoneses que entregaram o que encontraram à polícia, a máxima de sua vida é outra: 'não fico com o que não é meu'! E em quem eles confiaram? Na Polícia, que localizou as pessoas em abrigos ou na casa de parentes e já conseguiu devolver 96% do dinheiro.

A reportagem foi do correspondente da TV Globo na Ásia, Roberto Kovalick. A história encantou. “Você viu o que os japoneses fizeram?” Natural a surpresa. Num país como o Brasil, onde a verba destinada às inundações na serra do Rio de Janeiro vai para o bolso de prefeitos, secretários e empresários, em vez de ajudar as vítimas que perderam tudo, esse exemplo de cidadania parece um conto de fadas. O que aconteceu em Teresópolis  e Nova Friburgo não foi um mero e imoral desvio de dinheiro público. Foi covardia. (O mesmo aconteceu com as doações e mantimentos enviados para os desabrigados pelas enchentes em Santa Catarina)

Político japonês, também pode não ser santo. Em que instante a nossa malandragem deixa de ser folclórica e cultural e passa a ser crime de desonestidade? Por que a lei de tirar vantagem em tudo está incrustada na mente de tantos brasileiros? A tal ponto que os honestos passam a ser otários porque o mundo seria dos espertos?

Eles devolveram às vítimas do tsunami R$ 125 milhões. Precisamos – nós e a Polícia – aprender a agir assim.

Um dia, todos precisaremos aprender que não se coloca no bolso, na bolsa, nas meias e nas cuecas um dinheiro que não nos pertence. É roubo.

RUTH DE AQUINO, é colunista de ÉPOCA - raquino@edglobo.com.br