por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 13 de junho de 2012

Silvero Pereira - A arte existe para tremer os conceitos



Professor, ator, diretor, pesquisador,  proletária da arte assim é o jovem que com apenas três décadas tem na sua bagagem muita história para contar.  Silvero vem desenvolvendo um trabalho significativo que une pesquisa, experimentação estética/artística e comprometimento político com as questões do movimento LGBTTT. O artista enfatiza “Acredito que a nossa sociedade ainda não está preparada para compreender as questões de sexualidade na nossa atualidade, por isso utilizo minha arte para provocar, tirar do conforto, confrontar e questionar os paradigmas”.

Alexandre Lucas – Quem é Silvero Pereira?

Silvero Pereira -  é um garoto que completa 30 anos agora em junho (20). Garoto porque aos 12 anos começou a  trabalhar para ajudar nas despesas da família, trabalhando de dia e estudando a noite e com isso nunca teve tempo de curtir sua infância, sua imaginação. Assim, aos 30 anos e tendo 14 anos dedicados ao teatro, descobriu nessa arte a possibilidade de viver sua infância perdida, de poder brincar, criar, imaginar e realizar. Entretanto, tudo isso é com muita responsabilidade e dedicação. O Silvero, como me enxergo, é um batalhador, um trabalhador que acredita naquilo que faz, que faz teatro por necessidade, seja essa necessidade de viver, de brincar, de questionar ou de expor inquietações.

Alexandre Lucas – Quando você teve seus primeiros contatos com a arte?

Silvero Pereira -  Desde pequeno eu já realizava algumas manifestações artísticas, sempre gostei de pintar, desenhar e nas brincadeiras de criança sempre fazia dramatizações, imitações de filmes, novelas, mas tudo de forma muito intuitiva. Meu real contato com o Teatro se deu aos 17 anos quando ingressei no ETFCE (atual IFCE) para fazer Ensino Médio e Técnico em Turismo. Assim, nas aulas de educação artística decidi por teatro e com o Paulo Ess (professor na época) pude enxergar o teatro compromissado com a arte, com a formação de artistas e de platéia. Desde modo, me envolvi, ingressei no grupo de Teatro da Instituição, fui fazer curso de Teatro após Ensino Médio e desde e então faço Teatro. 

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:

Silvero Pereira -  Comecei em 1997, na Cia Dionisyos de Teatro com direção de Paulo Ess. Dentre meus espetáculos como ator estão "Filé Com Fritas ao Vinagrete“, "O Rei Que Não Sabia Ler", "O Suicida", "Ray Tex" e "Meu Admirador Secreto”, todos com direção de Paulo Ess; com exceção do último que teve como diretor o Autor e Pesquisador Fernando Lira. Em 2000 ingressei para a CIA LUA de Teatro, onde atuaria nos espetáculos "Rosa Escarlate, "Dominus Tecum" e " Não Confirmo Nem Duvido", todos com direção de Ueliton Rocon. No mesmo ano criei o Grupo Parque de Teatro, por meio da Fundação Parque de Formação Integral do Tapuio na cidade de Aquiraz, onde desenvolvo  um trabalho social e voluntário com crianças e jovens usando a arte como mecanismo educacional e social. Com o Grupo Parque de Teatro realizei a montagem dos seguintes espetáculos : “O Destino a Deus Pertence” (2002), “O Mistério da Cascata” (2004), “Muito Barulho Por Nada” (2005), “Conte Lá Que eu Conto Cá!” (2007) e " A Incrível Jornada de Vicente e a Estrela Cadente" (2012). Ainda em 2005, pelo mesmo grupo estreie  o solo “Uma Flor de Dama” , tendo minha direção, texto adaptado, interpretação, cenário, figurino, maquiagem e sonoplastia.Com este solo participei de mais de 16 festivais por todo o Brasil (CE, PE, PA, DF, RN, BA, MG, ES). Em 2006 atuei em “Dorotéia”, com direção de Herê Aquino, pelo Grupo Expressões Humanas. E no período de 2001 a 2004 atuei no Grupo Bagaceira de Teatro nos espetáculos: “Os Brinquedos No Reino da Gramática” (com direção de Renata Gomes), “Ano 4 D.C.” e “Engodo” (ambos com direção de Yuri Yamamoto). 
Atualmente sou integrante e encenador do Grupo 3x4 de Teatro, de Fortaleza-CE onde dirigi os esquetes:“As vivas cores da ilusão”, “Para Sempre Fiel” e “Confissões Entre Paredes”, “Para Uma Avenca Partindo”, “Os Sobreviventes”, "Red Roses", "Terça-Feira Gorda" e “Creme de Alface”, na mesma dirigi os espetáculos “As Rosas”, “Aniversário de Casamento”, “Curtas nº 1”, “Curtas nº 2”, "Para Papai Noel..." e "Silvestres". Em 2009 dirigi o espetáculo “Tudo o que eu queria te dizer” da Cia. Lai-tu de Teatro (Fortaleza) e , como professor do Curso Princípios Básicos de Teatro, realizei a montagem de “Alice – Nem tudo que parece é” (2009). Em 2010 estrei o terceiro trabalho de minha pesquisa sobre o universo das travestis cearenses com o título de “Engenharia Erótica – Fabrica de Travestis” com o Grupo Parque de Teatro. No mesmo ano estrei no espetáculo “S./A. Sociedade Anônimna” Produção do Grupo 3X4 de Teatro; o Solo “DEPOIS DO PONTO” e “Mixórdia – Encontro Desordenado de Fragmentos” no Curso Princípios Básicos de Teatro, do qual sou  professor e onde estreei em agosto de 2011 o espetáculo de conclusão “E SE...”. Já em janeiro de 2012 realizei a montagem de "Cabaret Show: Yes, Nós Temos Bananas!" e trabalho na montagem de 03 espetáculos com previsão de estreia ainda neste ano: "Metrópole" do Grupo 3X4 de Teatro; "Quanto vale o preço de quem paga o seu verdadeiro amor" do CPBT; "Quem Tem Medo de Travesti" com o Grupo As Travestidas.

Alexandre Lucas –  A sexualidade é uma das temáticas abordadas no seu trabalho. Como você ver essa questão?

Silvero Pereira -  Eu estou no Teatro porque ele me dá a oportunidade de expor minhas angústias, minhas inquietações com questões sociais. Acredito que a nossa sociedade ainda não está preparada para compreender as questões de sexualidade na nossa atualidade, por isso utilizo minha arte para provocar, tirar do conforto, confrontar e questionar os paradigmas, os conceitos e os "pré". Nossa sociedade precisa de esclarecimento e o teatro permiti, pelo menos na forma como executo, que as pessoas vejam e reflitam, não aponto conclusões, aponto desconforto naquilo que pensam.

Alexandre Lucas – Como ocorre a sua  pesquisa para construção do seu trabalho teatral?

Silvero Pereira -  Minha pesquisa é longa e cautelosa, não consigo levar nada para a cena de imediato, gosto de analisar, estudar, pesquisar, re-avaliar. O meu processo criativo dura em média entre 8 meses a dois anos de elaboração até chegar há um resultado. Essa pesquisa parte de experimentações estéticas, laboratórios corporais, emocionais, pesquisa "in locus", anotações, discussões, ensaios abertos e pesquisa acadêmica.

Alexandre Lucas – Como você ver a relação entre arte e política?

Silvero Pereira -  Necessária. Nós, artistas, temos a política nas mãos. Nós também somos formadores de opinião, ou pelo menos capazes de provocar questões e isso por si só já é ser político. A arte existe para tremer os conceitos, uma obra que não causa, que não modifica, que não desestabiliza, não tem finalidade. Só entramos em cena ou só pintamos um quadro porque queremos expor nosso ponto de vista perante à sociedade. Isso é política.

Alexandre Lucas – Qual a contribuição social do seu trabalho?

Silvero Pereira -  Meu teatro caminha em duas mãos. A primeira tem haver com a transformação social realizada no comunidade do Taupio (Distrito de Aquiraz) onde há 12 anos existe o Grupo Parque de Teatro. Neste local eu cheguei em 2000 para mostrar as crianças o que o teatro tinha de significado pra mim. No início a Comunidade encarava o Teatro como distração, lugar para deixar os filhos durante um turno para os pais terem tempo livre. Hoje a mesma comunidade encara o teatro como profissão, desejam ver os filhos no teatro. Hoje alunos meus são professores e coordenadores de arte na comunidade, são estudantes de Artes Cênicas e constituíram famílias e estabilidade financeira por meio da educação que receberam na arte. Já em segundo plano está meu trabalho no movimento LGBTTT, pois há 10 anos atrás iniciei uma pesquisa sobre o teatro e o transformista e hoje, anos depois, olho para a  cidade de Fortaleza, ou mesmo o nosso estado do Ceará, e vejo a minha colaboração. Hoje é possível ver travestis em bares, transformistas sem medo de mostrar a sua arte em qualquer local, ou mesmo quando escuto de pais e mais que assistiram meus espetáculos dizerem " Eu hoje compreendo e respeito melhor o meu filho, porque você me fez ver o quanto fui cruel!" 

Alexandre Lucas – Além desta abordagem sobre sexualidade, quais outras questões são enfatizadas no seu trabalho?

Silvero Pereira -  Meu trabalho tem haver com aquilo que no momento me incomoda. Atualmente tenho falado muito sobre sonhos, amizade, resiliência, infância e mundo Trans. 

Alexandre Lucas – Quais os próximos trabalhos?

Silvero Pereira -  Meus próximos trabalhos em vista são os seguintes:

Setembro : "Quanto vale o preço de quem paga o seu verdadeiro amor" do Curso Princípios Básicos de Teatro do Theatro José de Alencar
                        " Metrópile" Grupo 3X4 de Teatro

Outubro: " Quem Tem medo de Travesti" Grupo As Travestidas. Esse deve estrear no Cariri

Dezembro: Um infantil de natal ainda sem título pelo Grupo 3X4 de Teatro

Já em 2013: o musical "Yes, Nós Temos Bananas!" e um infantil sobre travestis e transformistas, ambos pelo Grupo As Travestidas
                      "Translendário 2013"         

Um comentário:

bastinhajob disse...

PARABÉNS SILVERO, VC. TÃO JOVEM E COM UM CURRÍCULO TÃO PRECIOSO. SUA
ENTREVISTA ME COMOVEU. UM ABRAÇO PRA VC. E ALEXANDRE LUCAS PELA EXCELENTE POSTAGEM

BASTINHA JOB