por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 22 de março de 2012

O Paranaporã de Menhã


Os matozenses eram conhecidos, em toda biboca desse mundão de meu Deus, por serem gabões de não mais se ver. Vilazinha perdida lá onde o vento faz a curva, lugar onde se vendia Coca-Cola em dose e onde urubu comia bagaço, o povo, no entanto, respirava ares de grande metrópole. Esta gabolice vinha , talvez, da comparação inevitável com as vilazinhas próximas : Bertioga e Serrinha do Nicodemos, estas bem mais raquíticas e pobres. Um matozense contemplava o leito invariavelmente seco do Paranaporã, com o orgulho de quem visse o Sena, o Tâmisa ou o Danúbio. E foi pela comparação inevitável que “Totonho da Rabeca” , compôs , em homenagem à sua terra natal, o chorinho “Paranaporã de Menhã”, certamente no pensamento de embotar o “Danúbio Azul” de Strauss. A musiquinha, fácil de assoviar, pegou rápido e terminou por se consagrar como o tema de Matozinho, uma espécie de “Cidade Maravilhosa” da catinga.

Terá sido, certamente, esta empáfia que levou o prefeito Sinderval Bandeira, depois de folhear alguns velhos almanaques Capivarol, a construir, uma réplica da Torre Eiffel, logo na entrada da cidade. Dizia que seria o cartão postal de Matozinho e apôs o nome de Torre da Bandeira, sob pretexto de que ali, no topo, estaria eternamente hasteado o panteão municipal da Vila. Na verdade, era uma tentativa de , sorrateiramente, imprimir seu nome na obra, fugindo de perseguições de adversários e da Justiça Eleitoral. Rapidamente o povo, com a sabedoria que lhe é peculiar, batizou a obra de “Torre da Bandalheira”.

Na Comemoração dos 200 Anos da Revolução Francesa, foram arrebanhados vários artistas populares com fins de participar das festividades na França. Em Matozinho a lembrança caiu , imediatamente, em “Totonho da Rabeca” que terminou sendo convocado e partiu para as estranjas com a digna missão de representar Matozinho. Uns dez dias depois, Totonho estava de volta da sua viagem diplomática. Voltou importante, falando meio engrolado. Só aprumou quando , no Bar do Giba, resolveu agradecer ,à francesa, um elogio e ao pronunciar o “Merci, Beaucoup!” , Francelino Catavento tomou aquilo como palavrão – “Vá tomar aonde, seu filho duma égua? Repita !” -- e sentou-lhe o braço no escutador de novela do artista. Depois disso, Totonho desistiu, definitivamente, dos galicismos. Ao narrar sua experiência em terras estrangeiras, nosso rabequeiro não conseguia conter o bairrismo epidêmico de Matozinho :

--- Paris é até bonitinha ! Um pouco maior que Matozinho! Mas dos franceses, eu não gostei, não ! Ou povo invejoso das mulestas dos cachorros! Pois vocês acreditam que os miseráveis construíram uma Torre lá também, igualzinha à de Bandalheira ? Pode ser um desaforo desses?

Há uns dois meses, Sinderval entrou na Câmara com um projeto muito mais mirabolante. Resolveu reconstruir em Matozinho as “Torres Gêmeas”, cada uma com sete andares. Uma delas abrigaria a Prefeitura Municipal e a outra a Câmara de Vereadores. Na justificativa, Sinderval lembrava que aquilo era uma homenagem que prestavam à cidade co-irmã de Nova York, além de ser um ato contra o Terrorismo Internacional. A Vila embebeu-se de uma euforia quase que incontida. Sinderval já vislumbrava uma re-eleição saltando da cartola com a nova iniciativa. Não teria maiores dificuldades em ver aprovado o projeto já que tinha ampla maioria na Câmara e a idéia se tornara a notícia mais badalada nas praças, botecos e boticas nas últimas semanas. Qual não foi sua surpresa quando vieram avisá-lo da derrota fragorosa da proposta na última reunião da Câmara. Sinderval procurou, irado, o presidente em exercício “Lulu da Vêmaguete”, seu correligionário ferrenho, cobrando explicações sobre a traição que sofrera. Aquilo se consubstanciava num verdadeiro cataclisma político para o Partido. Vêmaguete , meio atarantado, tentou justificar o ocorrido:

--- Seu prefeito, todo mundo queria a construção e o projeto do senhor, no início, estava certo de ser aprovado por unanimidade. Foi aí que Gerebaldo Mobral, nosso Secretário, nos alertou do perigo. “Se a gente construir essas Torres, meus amigos, fiquem certos de uma coisa. Esses doidos do Afeganistão vem para cá e vão jogar os aviões deles em cima das torres, ora se vão ! Não fizeram do mesmo jeitinho até em Nova York? Se ao menos acertassem só na Torre de Sinderval, ainda vá lá ! Mas vou logo alertando, cambada ! quem avisa amigo é : Vai ser caco de vereador prá todo lado, viu?

J. Flávio Vieira

Pérola da MPB !


Desacato- por José do Vale P.Feitosa




Inofensivo aquele Antonio Carlos
Que falava aos corações apaixonados
De costas para as sombras torturadas.

Que nem sequer se incomodou
E pedindo ao Jocafi rimas doces.
Deixa estar eu vou entregar você.

Quem destratou a agonia em dores
Não fui eu, e fui tratando de esquecer.
Leve as manchetes com você.

Inofensivo aquele horror
Que nem sequer pegou
Os desaparecidos ensanguentados

Não adianta me envolver,
Nas sentenças dos torturadores,
A anistia rimará com agonia.

E vá tratando de esquecer
Um a um vai morrer.
Igualmente as garras ensanguentadas.

DESACATO - José do Vale Pinheiro Feitosa

quarta-feira, 21 de março de 2012

Nota!




75% das mesas estão vendidas  e/ou reservadas.
A música de Hugo, o glamour  do povo caririense , a participação especial de alguns artistas , o toque especial de Sérgio Cardoso, garantem o sucesso!

Podem apostar!
Façam a sua reserva:
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Mazé Sales – Uma palavra viva do Caldeirão




Uma escritora que não se limita. Mazé tem contribuido para o resgate da história regional atraves da literatura. Fiha de remanescente do Caldeirão e autora do livro Auto do Caldeirão - dos calheiros da santa cruz do deserto e do Beato José Lourenço ela afirma que: “Tudo o que minha mãe falava sobre o Caldeirão está ali, contado em forma de teatro. Ela contava que havia abundância de tudo, muita fartura. Tudo era de todos.



Alexandre Lucas – Quem é Mazé Sales?



Mazé Sales - Uma menina da roça que se tornou professora na cidade. Encantou-se com o teatro do Grupo Construção 10 ( anos 70) e gostava de ler. Tomava livros emprestado e os devolvia antes do prazo para ter direito a outros empréstimos. Meus colegas de escola colaboravam comigo trazendo-me cópias de poemas que eu decorava e declamava em algumas ocasiões. Escrevia poemas para os namorados das minhas colegas, a pedido destas. Para isto eu precisava saber como eram eles. Gostava também de escrever diários. Sou também atriz. Passei por alguns grupos de teatro amador como o William Shakespeare, do extinto GMAXO , o ANTA e atualmente estou no LIVREMENTE. Faço Donana na peça Dentro da Noite Escura de Emanuel Nogueira e direção de Jean Nogueira, meu ex-aluno.Tenho também umas pequenas participações em alguns filmes: Padre Cícero ( anos 70), Caminho das Nuvens, O Cinematógrafo Hereje de Jeferson Albuquerque (2011), um conto de Zé Flávio Vieirra.


Alexandre Lucas – Como ocorreu seus primeiros contatos com a literatura?


Mazé Sales - "A Flor e as Fontes" de Vicente de Carvalho foi um poema que me emocionou bastante na minha infância. Ai como eu sofria com o sofrimento da flor! Então, fiz um poeminha para minha mãe. Enquanto escrevia os diários ia também fazendo versos. Minha infância foi recheada por literatura de cordel. Dobrava versos na tipografia São Francisco, antiga Lira Nordestina, e Dona Ana Silva me presenteava com muitos cordéis que eu lia em casa para a família.


Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória:


Mazé Sales - Escrevi vários cadernos de "matérias" de poesias e algumas peças de teatro. Fui à gráfica e vi que não era pra mim. O custo era alto. Como me disse o dono de uma gráfica: "Publicar livros fica pra quem é rico e vaidoso". Fiquei muito triste. Então, resolvi selecionar somente uns cinco poemas que cabia no meu orçamento e assim nasceu Banquete dos Deuses, em 1997. É como dar a luz ao filho desejado.


Alexandre Lucas – Você é filha de Maria de Lourdes Andrade Sales uma remanescente da Comunidade do Caldeirão . Quais as memórias que sua mãe contava dessa comunidade?



Mazé Sales - Tudo o que minha mãe falava sobre o Caldeirão está ali, contado em forma de teatro. Ela contava que havia abundância de tudo, muita fartura. Tudo era de todos. O que me impressiona é saber que havia no sítio Caldeirão muitas fruteiras: bananeiras, laranjeiras, etc. E hoje, você chega lá e pensa que era fruto da imaginação das pessoas. Que naquele lugar não poderia produzir nada. Mas, voltando à realidade da época: havia uma comunidade, sob a liderança do Beato José Lourenço cujo lema era trabalho, disciplina e oração, então, podiam tirar leite das pedras e transformar um deserto em um pomar.


Alexandre Lucas – Você publicou o Auto do Caldeirão - dos calheiros da santa cruz do deserto e do Beato José Lourenço ( Teatro). Como foi essa experiência?


Mazé Sales - Tal como Padre Cícero: Filho do Crato, Pai do Juazeiro foi direcionado aos alunos com os quais eu trabalhava e como os colegas pediam fotocópias, resolvi publicá-los. Era como se estivesse prestando uma homenagem póstuma a todos os mortos no massacre do Caldeirão, bem como aos que sobreviveram e tiveram que calar como se nada tivesse acontecido. Ou falaram baixinho e eu fui juntando os sussuros e os medos e fiz deles uma teia onde a aranha conta a sua história.


Alexandre Lucas – Você escreveu outra peça de teatro em 1999: Padre Cícero: Filho do Crato Pai do Juazeiro. Essa obra levanta que discusão?

Mazé Sales - A prosposta era tão somente didática: contar a história de Juazeiro que se confunde com a do Padre Cícero para meus alunos de Educação Artística do Colégio Salesiano, na época. Revendo o texto, vejo que questionamos coisas que hoje são realidades: os romeiros visitarem também o Crato, Faculdades para Juazeiro, etc.


Alexandre Lucas – Como você define a sua poética?


Mazé Sales - Dizem que definir é limitar. Eu acho que não definir é não saber. E agora? Minha poética é tão minha que não encontra ressonância em nada, a não ser em mim mesma, sem ser original. Talvez em Manuel Bandeira eu tenha me inspirado, mas a minha leitura foi de cordel. Nunca conseguir fazer um soneto nem um cordel porque ambos tem que ser perfeitos. E a imperfeição é um traço forte no que faço, às vezes sem querer. E ainda acho belo, como toda mãe coruja.


Alexandre Lucas – Como você ver a relação entre arte e política?


Mazé Sales - Se "a vida imita a arte e a arte imita a vida" a política deveria administrar a vida em sociedade refletindo sobre as necessidades do povo, visto que os bens são do povo e a estes devem servir e os administradores são colocados pelo povo para cumprir com sua missão de bem administrar e não apenas para o bem estar dos políticos. Proporcionando bem estar a todos, visto que num país rico não poderia haver pobreza. E a arte critica, por mais comportada que seja, essa realidade. A arte é (o) a porta voz da sociedade.


Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Mazé Sales - Como somos produto do meio e sobre o meio atuamos, acredito que meu trabalho, mesmo pouco e pequeno, tenha contribuido para o esclarecimento, do ponto de vista didático, de acontecimentos da história regional ou para simples deleite para quem gosta de ler.



Alexandre Lucas – Quais seus proximos trabalhos?



Mazé Sales - Há quase dois anos está quase pronto: Santidade e Loucura à Beira do Rio Salgadinho. Aguardem! Estou também tentando escrever um infanto-juvenil com acontecimentos fantásticos baseado na Física Quântica. Ai! Será? Porque paranormal não é. Vamos ver! "Quem viver verá!" Quando eu me aposentar vou ter mais tempo para escrever. Será? Obrigada.

Desejo- José do Vale P.Feitosa




Pinga,fura,pula, escorre
Chupa.Engole uma poça,
Canto de nidação.

A geração dos desejos,
O levante das satisfações,
O furor dos suspiros realizados.
E nem acabam já são desejados
Em tempestades de fantasias,
Com a armadura da busca.

E pinga, fura,escorre,
Migra na contracorrente,
Mergulha na intensidade.

Engole o destino preponente,
Digere os detalhes materiais,
Chupa tudo que parece aquilo.

Uma poça úmida de desejos,
A implantação que funde,
O separável para mais outra.

Implantar a semente que deseja
Outro encontro de espremer espaço,
O momento de agitar suspiros.

ASSIS VALENTE- Norma Hauer



Foi no dia 19 de março de 1911, que nasceu, no interior da Bahia, José de Assis Valente, que se tornou conhecido como ASSIS VALENTE.

Segundo consta, foi seqüestrado de sua família, por um casal que o levou para Alagoas, onde viveu algum tempo, regressando, com esse casal, para a Bahia,onde depois de crescido, foi explorado, trabalhando praticamente, o dia inteiro.

Com a chegada de um circo em Salvador, ele seguiu esse circo, vindo para o Rio de Janeiro no final dos anos 20. Aqui aprendeu a profissão de protético e, com um amigo, abriu um laboratório de prótese.

Mas seu destino era a composição musical. Em 1932 conheceu Heitor dos Prazeres que o levou para o meio dos músicos da época, iniciando sua carreira de compositor. Naquela mania de francês que veio do início dos anos 20, Assis Valente compôs o samba "Tem Francesa no Morro", gravado por Aracy Cortes.

1932 foi o ano que em São Paulo eclodiu a revolução constitucionalista. Assis Valente, já entusiasmado com seu primeiro sucesso, compôs um samba intitulado "Para Onde irá o Brasil ?"

Para que? Convocado para prestar esclarecimentos à Polícia de então, quase teve sua carreira morta no nascedouro porque, em pleno ano da Revolução, ousou perguntar para onde iria o Brasil. E Carlos Galhardo que a gravou (foi sua 2ª gravação) quase entra de "gaiato" também. Essa era a censura dos anos 30, antes da criação do DIP.

Felizmente para ambos, as "autoridades" concluÍram que a música não constituía "perigo para a segurança da Pátria" e a liberaram. Assim, depois do susto, a Paz voltou e nesse mesmo ano, Assis criou a primeira música para o Natal, que, gravada ainda por Carlos Galhardo, transformou-se numa espécie de hino para as festas de fim de ano. Seu nome: BOAS FESTAS"

“Anoiteceu, o sino gemeu...

A gente ficou

Feliz a rezar

Papai Noel vê se tem

A felicidade p1ra você me dar...”

Foi nessa mesma época que Carmen Miranda aproximou-se de Assis e pediu que ele compusesse músicas para ela gravar.



A partir daí, Assis conheceu vários sucessos, alguns ainda hoje regravados pelos artistas atuais.

Para as festas juninas escreveu "Cai, Cai, Balão"; já com o inglês substituindo o francês, ele, criticando, escreveu

"Good-Bye, Boy"...deixa a mania do inglês.

Isso é feio p'ra você, moreno frajola,

que nunca freqüentou as aulas da escola..."

Em 1938, quando aqui foi exibido um filme de nome "Sossega Leão", Assis aproveitou a "deixa" e compôs "Camisa Listrada":

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí;

Em vez de tomar chá com torrada, ele bebeu parati.

Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão.

E sorria quando o povo dizia, sossega leão, sossega leão..."

Assis gostava de aproveitar fatos explorados pelos jornais e compunha algo. Foi assim que escreveu "Uva de Caminhão", quando aqui surgiram caminhões trazendo uvas frescas do Rio Grande do Sul; "...E O Mundo não se Acabou", quando se noticiava que o planeta Marte iria aproximar-se da Terra, podendo haver uma explosão e o "mundo iria se acabar" e "Recenseamento", quando, após 20 anos, um novo recenseamento seria realizado aqui, esse bastante divulgado.

EM 1939-40 estava havendo muita falta d'água na cidade e Assis compôs "Jarro D'água", desta vez gravado por Cinara Rios, uma cantora que não ficou muito

conhecida mas que passou a fazer parte do elenco da Mayrink Veiga depois que Carmen Miranda foi para os Estados Unidos.

Em 1940, outro grande sucesso colheu Assis Valente: o samba exaltação "Brasil Pandeiro", que, na época,recebeu o nome de "Chegou a Hora" e ele dizia que fora feito em homenagem à revista PRANOVE, da Rádio Mayrink Veiga. Consta esse fato do nº 27, de agosto de 1940, da própria revista, no qual Assis Valente dá uma entrevista à mesma. Quem sabe disso?

Muitos sucessos...e daí? Assis era feliz?

Será que Assis Valente foi uma pessoa feliz?

Segundo soube, já quando compôs "Boas Festas", ele estava em depressão. Continuou exercendo a profissão de protético, enquanto ia compondo e obtendo sucessos, mas continuava infeliz.

No dia 15 de maio de 1941 tentou o suicídio, atirando-se do Corcovado; caiu sobre uma árvore e foi salvo pelos bombeiros.

Casou-se; seu casamento só durou o tempo da gestação de sua filha única.

Tentou, após a separação, o suicídio mais uma vez; agora cortando os pulsos. Novamente foi salvo, mas no dia 10 de março de 1958, dezenove dias antes da data em que completaria 50 anos, obteve o que desejou: tomou guaraná com formicida em um banco de praça e, sendo uma mistura que "não tem volta", dessa vez ele partiu.

Porque será que suicidas escolhem o guaraná para fazer a mistura com formicida?

Tive ocasião de conhecer Assis Valente, quando ele exercia a profissão de protético em um laboratório no Edifício Carioca, um edifício que existia ali em frente ao Convento de Santo Antônio e em cuja galeria os bondes de Santa Teresa faziam ponto final.

Assis costumava fazer lanche em um de seus bares e palestrava com todos, que dele se aproximavam. Na época não parecia uma pessoa infeliz.

Mas a verdade é que Assis pôs fim à vida em 10 de março de 1958. No seu “inferno zodiacal”.

Norma


Z´É E ZILDA- por Norma Hauer




Quem teráo sido ZÉ E ZILDA ?

Ele era, nada mais, nada menos, que o José Gonçalves, nascido em 6 de janeiro de 1906, aqui no Rio de Janeiro e ela ZILDA GONÇALVES, nascida em 18 de março de 1921.

Ambos formaram a dupla ZÉ E ZILDA.

Casados, desde 1938, formaram uma dupla que começou a atuar na Rádio Transmissora, exatamente onde se conheceram e atuavam com o nome de “Dupla da Harmonia”.

Passando, nesse mesmo ano para a Rádio Cruzeiro do Sul, a dupla foi ali “batizada” por Paulo Roberto de ZÉ E ZILDA. Assim, mantiveram-se juntos até que Zé faleceu, prematuramente, em 10 de outubro de 1954, aos 48 anos.

A partir de 1946, Jorge Veiga gravou, da autoria de ambos, “Caboclo Africano” ; Emilinha Borba: “Nosso Amor”; Marlene , da co-autoria de Adelino Moreira e Zé, o samba “Quebra-Mar”; Orlando Silva, de Zé da Zilda e Marino Pinto fez grande sucesso com “Aos Pés da Cruz”.

Aos pés da Santa Cruz,

Você se ajoelhou

E em nome de Jesus

Um grande amor você jurou;

Jurou mas não cumpriu,

Fingiu e me enganou

P’ra mim você mentiu

P’ra Deus você pecou.

O coração tem razão,

Que a própria razão desconhece

Faz promessas e juras, depois esquece.

Seguindo esse princípio.

Você também prometeu.

Chegou até a jurar um grande amor,

Mas depois esqueceu.



O primeiro sucesso da dupla como cantores foi 'RESSACA"

“Tá todo mundo de ressaca,

Ressaca, ressaca, ressaca”...

O segundo sucesso foi

SACA-ROLHA

As águas vão rolar

Garrafa cheia eu não quero ver sobrar

Eu passo mão na saca saca saca rolha

E bebo até me afogar

Deixa as águas rolar

Se a polícia por isso me prender

Mas na última hora me soltar

Eu pego o saca saca saca rolha

Ninguém me agarra ninguém me agarra

Da autoria de ambos e Waldir Machado

Nesse mesmo ano, com o coro artístico da Odeon, fizeram outro sucesso: ”Império do Samba”.

No ano seguinte, saiu a gravação de “As Águas Continuam”, embora ZÉ já houvesse falecido.

Com o falecimento de Zé, Zilda compôs em sua homenagem, o samba :”Vai, Que Depois Eu Vou” e “Meu Zé” .

Em 1958. outro samba:”Amor, Vem me Buscar”, dela com Ricardo Galeno.

Em 1961 gravou, de Paquito e Romeu Gentil, ainda em homenagem ao Zé, o samba “Vem Amor”.

Ela não se conformou com a morte de Zé mostrando o grande amor que os uniu.

Isso é muito bonito, principalmente tratando-se de dois artistas unidos na vida e hoje na morte.

Assim, ambos merecem nossa Saudade.

Norma Hauer - 19 de mar

Jorge Goulart - Por Norma Hauer



Nosso querido Jorge Goulart partiu para sua última viagem depois de haver corrido o mundo, fazendo sucesso onde se apresentava. Uma pequena biografia em sua homenagem: Foi a 16 de janeiro de 1926 que nasceu, aqui no Rio de Janeiro, Jorge Neves Bastos, que se tornou conhecido como JORGE GOULART.
E por que Goulart? No início de sua carreira, havia um fortificante de grande aceitação naquela época, de nome Elixir de Inhame Goulart. Foi então aconselhado a adotar o nome artístico de Jorge Goulart. E com esse nome, tendo conhecido o compositor Ari Barroso, este gostou de sua voz e deu-lhe para gravar um samba seu em parceria com Fernando Lobo, de nome "Xangô”, ao mesmo tempo em que o levou para a Rádio Tupi. Isso se deu em 1945.

Gravou outras composições, mas ainda não era um nome conhecido do público, até que lançou, em 1950, para o carnaval de 1951, seu primeiro grande sucesso:"Balzaquiana". Naquela ocasião, estavam muito em moda "os brotinhos", a partir de gravação de Francisco Carlos da marchinha de Humberto Teixeira e Lauro Maia, "Meu Brotinho".

Então surgiu a "Balzaquiana"
"Não quero broto,
Não quero, não quero,
Não quero não.
Não sou garoto ,
Pra viver mais de ilusão.
Sete dias por semana,
Eu preciso ver minha Balzaquiana.

" O francês sabe escolher,

Por isso ele não quer Qualquer mulher.

“Papai” Balzac já dizia

Paris inteiro repetia Balzac atirou “na pinta”.

Mulher só depois dos trinta.

"Balzaquiana" chamou a atenção para a voz de Jorge Goulart, logo convidado por Lamartine Babo para gravar os hinos do América (time do coração de Lamartine) e do Madureira.

Goulart, conhecido, foi convidado para participar do filme "Rio, 40 Graus", quando "estourou" com o samba de Zé Ketti "Eu Sou o Samba". Isso em 1956.

A partir dai, fez parte de um dos maiores programas musicais da Rádio Nacional: "Um Milhão de Melodias", onde cantava com a orquestra da emissora, ficando conhecido em todo o Brasil.

Como música romântica, lançou uma grande composição de Braguinha, que se expraiou por toda parte: "Laura". Talvez seu maior sucesso no gênero romântico.

Lembrar Jorge Goulart, é também lembrar de "Couro de Gato", de Grande Otelo e Rubens Silva.. ."aquele gato que tanto zombava de mim. Aquele gato não é mais gato, hoje é tamborim"... Mas foi em 1964 que João Roberto Kelly deu para Jorge Goulart aquele que ainda hoje é um dos maiores sucessos dentro e fora do carnaval:"CABELEIRA DO ZEZÉ":

"Olha a cabeleira do Zezé,
Será que ele é?,
Será que ele é?..."

Depois de 1º de abril de 1964, foi afastado da Rádio Nacional, acusado de comunista (o que ele nunca negou) e saiu por esse mundo, levando a beleza de sua voz para terras estranhas, como as da então União Soviética e outros países da Europa (do leste e do oeste), sempre recebido com carinho, acompanhado de sua companheira Nora Nei, com quem, regressando ao Brasil, se casou.
Pouco tempo depois, foi acometido por um câncer, exatamente em seu bem mais precioso: suas cordas vocais. Antes de ser operado para a retirada do tumor, gravou várias músicas, copm elas enriquecendo seu repertório.

Superando o grande trauma que foi a perda das cordas vocais, hoje ele se apresenta fazendo "mímica", usando "play-back", o que o faz ser aplaudido em todos os lugares por onde passa, até mesmo nas apresentações carnavalescas no palco que todos os anos é erguido na Cinelândia, em frente à Câmara Municipal. Anualmente, por ocasião de seu aniversário, ele é homenageado em algum teatro ou casa de “shoiw” carioca. Sempre aplaudido, apesar de usar “play back”.
Jorge Goulart é um grande exemplo de perseverança, que não se entregou quando perdeu seu mais precioso bem: sua voz.
A PARTIR DE HOJE É UMA GRANDE SAUDADE

Narrando acima um resumo biográfico de Antonio Maria, citei sua composição "Meninio Grande", gravada por Nora Ney.

Nora foi companmheira de Jorge Goulart e foi ela que solicitou a Antonioo Maria que compusesse uma canção para que ela homenegeasse Jorge Goulart.


Norma

Por Socorro Moreira





Assusta, derrama,desconserta

Chama,embriaga, entontece.

Culpa, pecado- signo de uma geração
Desculpa da curiosidade-
Apelo inevitável.-

Fome de carinho
Amor encarnado!

Olhar que busca
- Alma encantada!

E nega, e deixa, e chora
Sorri da loucura, e foge.

Quase entrega...
 Integra, recua.
Abraça o destino
Desiste, procura

Belisca a própria pele,
Mordisca a isca
Fareja a seiva que libera

Levita, deixa escapar o chão
Boca aberta, olhos cerrados...
- Descompassa o coração.

Encolhe-se, desnuda-se
Encontros no clarão da lua
Despedidas em poças
Buracos dos olhos, buracos da chuva

Vício de amar
Suspiros, saudades.

terça-feira, 20 de março de 2012


Show Baile
Hugo Linard e Orquestra
14 de abril de 2012
22 h, no Crato Tênis Clube.

Reserva de  mesas  pelos telefones:
35232867
35234305



Desejo - José do Vale Pinheiro Feitosa


Romeiro de Lima - escritor e historiador
(sobrinho do Maestro Fon-Fon)
 


Escritor de Santa Luzia do Norte é premiado pela AAL - 1994


O livro " Império dos Miseráveis", do escritor Antônio Romeiro de Lima, natural de Santa Luzia do Norte, recebeu, no último dia 14, o prêmio da Academia Alagoana de Letras. Inscrita no concurso da AAL na categoria ficção, a obra aborda a questão de corrupção no meio político de Vila Verde, imaginário país do escritor.

A solenidade de entrega dos prêmios aconteceu na última quarta-feira, no auditório da Academia Alagoana de Letras, cujos  trabalhos  inscritos no concurso foram selecionados por uma comissão formada por membros da AAL, entre eles as escritoras Anilda Leão e Theomirtes de Barros.

O livro "Império dos Miseráveis" é o primeiro trabalho literário de Romeiro de Lima, lançado no dia 17 de junho deste ano, e editado pela João Escortecci, com capa e ilustração de José Luiz da Silva. Trata-se de uma viagem pelo inconsciente do personagem .Edgar, cidadão vilaverdense, radicado no município de Santa Luzia do Norte.

"Ele é um sujeito bastante vivido, amadurecido e consciente dos direitos da cidadania, e, nessa condição, tem sua vida pautada na observação e análise dos fatos políticos e, enfim, do desenrolar das tramas sociais, como um todo, praticados pelos detentores do poder, em detrimento da comunidade", diz Romeiro.

O " Império dos Miseráveis" atenta, oportunamente, para a omissão da classe oprimida, para a falta de escrúpulo  dos políticos e para descrença no futuro melhor, enquanto não houver a tomada do poder. E eis que esse sonho acontece, numa trama de muito suspense,  prendendo o leitor até as últimas páginas do livro, que é escrito em português clássico e representa uma boa contribuição do autor para o pensamento moderno. Antônio Romeiro  anunciou para breve uma nova obra, desta vez de conteúdo histórico. 


 reportagem da Gazeta de Alagoas.


Autor: Dário Augusto Alves de Lima




Graciliano Ramos



Graciliano Ramos de Oliveira (Quebrangulo, 27 de outubro de 1892 — Rio de Janeiro, 20 de março de 1953) foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX, mais conhecido por seu livro Vidas Secas (1938)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Conflito de "irmãos" - José Nilton Mariano Saraiva

Em razão da sua comprovada facilidade e habilidade de manipulação das palavras e conseqüente persuasão de analfabetos e ignorantes (visando extorquir-lhes até o último centavo), o “apóstolo” Valdomiro Santiago foi, durante muito tempo, o “queridinho” do “bispo” Edyr Macedo, o todo poderoso proprietário da Igreja Universal do Reino de Deus.
Para tanto, no entanto (sem trocadilho) era regiamente remunerado, em reconhecimento ao seu “gogó-de-ouro”, à sua desfaçatez, à sua falta de vergonha na arte de convencer e enganar o povão.
Mas, aí, a inveja e a cobiça pintaram no pedaço: presenciando no dia-a-dia a extrema facilidade com que o patrão progredia financeira e materialmente, nada mais natural que o “empregado” partisse pra botar o próprio “negócio”, já que conhecedor de todos os labirintos, atalhos, mumunhas, veredas e subterfúgios capazes de, também, como num passe de mágica, o elevar ao “reino dos céus”. E assim deu bye-bye ao “chefe” e fundou uma igreja só pra ele, particularíssima, a Igreja Mundial do Poder de Deus.
Tudo indica que o “cruzado no queixo” foi sentido, que o “baque” provocou certo desconforto, já que o antigo “manda-chuva” (Edyr Macedo), hoje dono de um “brinquedinho” capaz de manipular mentes e corações desavisados, a forte Rede Record, botou seu exército de experientes repórteres pra escarafunchar a vida do antigo aliado.
E a “coisa” (e não há porque duvidar dos documentos autenticados apresentados pela TV) é realmente de assombrar: só no coração do Pantanal, no Estado do Mato Grosso, o “apóstolo” Valdomiro Santiago comprou várias fazendas (conjugadas), que ocupam uma área de 26 mil hectares (o correspondente a 13.400 estádios do Maracanã), onde cria dezenas de milhares de cabeça de gado, tem pista de pouso própria, avião particular e mansão com piscina (vídeos foram mostrados). E tudo adquirido com o suado dinheirinho doado pelos miseráveis que freqüentam a sua Igreja Mundial do Poder de Deus.
Segundo avaliação de “experts”, somando tudo, gado, terras, aviões e benfeitorias, o investimento total de Valdomiro Santiago chega a “irrisórios e desprezíveis” R$ 50 milhões, em dinheiro vivo (mais do que a maioria dos prêmios da Mega-Sena acumulada). O valor seria suficiente para comprar vinte Ferraris 0 km, ou dez coberturas em Nova York (EUA), a cidade mais cara do mundo.
Pena é que nesse autêntico “conflito de irmãos” a Rede Record não faça nenhuma menção ao espetacular patrimônio acumulado do “bispo” Edyr Macedo, e quais os meios utilizados para consegui-lo. Pra você, aí do outro lado da telinha, estaria caracterizada aqui a célebre situação do “sujo-falando-do-mal-lavado” ???

Afasta de mim esse cálice! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Reconheço a barra pesada que seria revelar o nome da cidade ou identificar a secretaria municipal onde estas cenas ocorreram. Nada de bom para minha saúde.

Posso dizer que não foi na Paraíba ou mesmo num vale qualquer que forme uma região. Se me perguntarem se os fatos aconteceram no Rio de Janeiro, o Estado, isso lá não garanto.

Aos fatos!

Esta coisa que balança entre o público e o privado. Que gera uma corrida de aventureiros pelos fundos das verbas do povo que deveria ir para o povo. E não vão. A ganância é tanta que sempre se pretende ganhar mais por menos feito. Aí o déficit do que já é pouco se amplia ainda mais. Escoa para os “esquemas” que criam “riquezas” para ganhar “eleições” e deixando um número de “sócios” com os “bolsos” abarrotados.

Pois é: o grande sonho de uma geração de sanitaristas, educadores, humanistas e outros mais, de uma sociedade democrática e protegida pela municipalização virou a “vantagem” da espertaria que privatiza os bens públicos.

Como diz a grosseria popular: a “sacanagem” se municipalizou. Então estão explicados, em princípio, como os fatos se sucederam: sem respeito humano, sem ética, uma esculhambação que derruba todos os limites da honra das pessoas.

O primeiro personagem é o típico homem de “negócio”. Conhece os “trâmites” das licitações, carrega na algibeira os “fornecedores” por onde anda e por aí “faz” grana que financia a “política” e então fica de município em município fazendo “negócio”. Sanitarista ou professor assalariado para eles é um esquerdista “dinossáurico” e eles se agarram às maçanetas do poder como uma craca ao casco de um navio.

O segundo personagem é uma mulher bonita, técnica, com curso superior, ambiciosa e que pelas “qualidades” ocupa cargo de chefia. O marido também foi um secretário só que de outra pasta e agora não mais exerce função nenhuma no novo governo.

É neste ambiente que o homem de “negócio” e a mulher de “qualidades” se encontram, só que ele é o chefe. Mas isso não é tão a seco assim. Há que lubrificar o choque de interesses, piadas, encontros públicos e almoçarem juntos numa repartição junto com outro terceiro personagem de importância relativa.

Enquanto a mulher se esquiva entre uma piada e outra, põe gelo no fervor dos olhares do homem, as coisas vão para um desfecho em que ele já se imagina vencedor do certame. Ele ganha todas as licitações em que participa. Só que ela é casada e o marido um homem acima do desenvolvimento estatural e alguns excessos ponderais para a média nacional, sem contar para um “nanismo” relativo do homem de “negócio”.

Interpretado os fatos, ponderamos que a grosseria típica desta época, somada à arrogância do poder e da vitoriosa “carreira” nas verbas públicas, levou o baixinho a uma escorregadela indevida. Não foi a única, talvez nem a primeira e certamente não será a última. A não ser a respeito desse assunto especificamente quando seria melhor que ele se tornasse monge.

Este negócio de e-mail a nossa avó bem que disse que tivéssemos cuidado: o bicho é viral e se espalha feito epidemia. E não foi aí que o cara, “tomado” da sutileza com que as percentagens são negociadas nas licitações, veio para cima da mulher com muitas “qualidades”.

Para Cc.: “eu sei que você saiu com o fulano. Agora tem que ser comigo.” O bisavô de qualquer um já avisara: a chantagem funciona até certo limite, a partir daí se declara guerra. No estilo “mafioso” da “negociação” o malandro pretendia ganhar a mulher de outro com mais de um metro e oitenta e que já fora secretário e até mais do que este que era o famoso vice de “negócio”.

Até aí ela segurou a barra, mas a arrogância é assim: não tem um limite em razão do outro. Avança de qualquer modo e naquela grosseria que lhe cabe disse por e-mail que já tinha praticado cinco atos solitários só pensando nela. Isso, convenhamos, não é sedução e nem objetividade: é puro desperdício. Todo desejo é apenas para o outro e como o outro. Uma fantasia já resolvida em si mesma, com o outro apenas na imagem, se torna uma traição da própria essência que é o desejo que ela despertou no homem.

O marido foi instado a tomar providências. Os verdadeiros móveis da convocação ele jamais o saberá, pois se sobrepõe, a qualquer um, a honra matrimonial. Não interessa a interioridade do orgulho feminino ferido, apenas a honra familiar traída. E o marido se tornou um gigante de ódio.

Mas aí surge a contradição máxima. Ir para cima do conquistador “internético” e dar-lhe uns merecidos safanões se tornaria a vingança do corno. E o baixinho ainda sairia com os roxos da face como medalha do conquistador que levou ao desespero um homem daquele tamanho. Então foram enormes noites solitárias a pensar numa solução para a ação. O segundo ato foi preparar a munição para a vingança uma vez concluída qual arma seria mais eficiente.

Tudo pronto. Ação!

Sete horas da manhã o “marido” furioso se encontra na porta da secretaria. A vida segue normal: funcionários com ar de enfado da rotina entrando e assinando o ponto. O guardador de carros arrumando vagas na rua. Pessoas em busca de recursos. No outro lado da calçada a vida normal, especialmente do café onde as pessoas vão tomar conhecimento das novas fofocas do mundo e da cidade.

Aí o homem de “negócio”, já pelas nove horas da manhã estaciona tomando de pronto duas vagas sem necessidade. Só para mostrar poder. Desce do seu carro e naquele andar rapidinho de quem tem pernas curtas, com o corpanzil acima do peso como é devido a todo mundo que ganha bem, vai em direção de sua sala.

Encontra o “maridão” acumulado de fúria pela espera. O homem de “negócios” o cumprimenta e o outro diz que precisava conversar com ele no gabinete de “negociações”. Ambos sobem uma escada, passam por uma guarda de segurança que se posta ali para proteger as autoridades. O baixinho nem se aproveitou do descanso ao colocar sua pasta cheia de processos em sua de sua mesa. Não deu tempo e a tempestade vociferante despejou-se sobre sua honra, sua covardia, sua inação.

Os decibéis da voz do “gigante” ferido inundaram o espaço inteiro do quarteirão. O pessoal que estava no café saiu de lá e se aglomerou na calçada com os olhos espiando as janelas abertas por onde vazavam “elogios” dantescos. Os funcionários que estavam nas salas, em todos os andares, se agitaram com a gritaria. A secretária do indigitado homem de “negócio” usou os arquivos de ferro como casamata de proteção.

E a coitada da guarda de segurança? Pois é: o gigante começou a vociferação ainda com a porta aberta. A segurança que estava sentada numa mesa próxima à porta deu um pulo tão logo soaram as primeiras sílabas e postou-se após o verbo em posição de ênclise. E dali agiu com a voz sumida na audioamplicação presente: gente, por favor, pare com isso. Gente pelo amor de Deus!

O escândalo tomara o coração da cidade. Não foi uma simples audiência localizada: foi um verdadeiro comício. Seu filho disso, daquilo e daquilo outro. Seu isso e seu aquilo. Vai querer minha mulher, mas não vai levar. Mas eu vou te dar o que você quis dar para ela. Tome aqui! Tome! É todo meu! Leve o que é meu!

E abrindo um vidro jogou um líquido gosmento sobre o rosto do baixinho pálido e estático com os costados sobre um forte armário de aço. O coitado ainda se protegeu levando a mão em defesa do rosto e aquela gosma ficou pingando na ponta dos dedos como uma cópula de sucesso.

Leve! Leve o que é meu! O gigante finalizava sua ação e começava a se retirar deixando um homem empalidecido ao extremo, as pernas bambas e um grande alívio. Ele esperava que daquele vidro saísse um ácido com poder de corroer até as madeiras daquelas famosas caras. Ele limpou alguns dedos nas bordas do armário, buscou papéis para recompor-se dos excessos de gosma logo ao amanhecer.

A guarda de segurança, com a boca escancarada, os olhos esbugalhados, afastou-se para que o marido refeito e vitorioso de seu ato seguisse em frente sem que o corpo dela serviço de empecilho ao livre ir e vir daquela ira. Tão logo conseguiu soltar a respiração, pensou em ir arrumar um pacote de papel toalha para limpar os excessos do chefe.

A rua inteira só comentava o ocorrido e as versões se multiplicaram na rosa dos ventos da cidade. Alguns dias depois um amigo perguntou ao marido sobre a natureza da vingança. Ele respondeu: matutei muito o que deveria fazer até tomar a decisão. Então passei cinco dias juntando e misturando com um pouco de soro para se manter aquoso. Agora o mais gostoso de tudo é que todos os dias eu recebo a oferta de sêmen para ampliar o volume sobre aquele desgraçado. Tamanho é o número de desafetos do homem.

A história, dizem, não terminou aí. Alguém viu o baixinho, que por conta da exposição e do lava rosto em sêmen terminou sendo exonerado, indo, em segredo fazer um exame de sangue. Dizem que é prevenção primária do HIV. Afinal foi uma chuva de esperma sem camisinha.

Por Stela Siebra



Chego já, vai dar tempo de ir acompanhar a procissão. E tomar banho de bençãos e de chuva.
Agradecer ao santo pelas infinitas bençãos e graças que sempre derramou sobre minha família. Meus avós já reverenciavam São José; meus pais também. E eu também.
São José é o santo padroeiro da Ponta da Serra. E ainda lembro-me das novenas e festas que havia todo ano.
Uma novena, procissão com velas acesas, leilão (ocasião em se arrematava galinha assada e se bebia guaraná) Essas coisas tinham um grande valor, representavam um acontecimento significativo.
Havia a festa profana, mas era carregada de louvações ao sagrado.
Essas lembranças são parte da minha história, da história da minha família na Ponta da Serra. É bom lembrar e me deixar inundar de gratidão e reverenciar a serra do Juá (que trazia um friozinho bem grande e que, qual mãe, oferecia sua sombra e suas lajes derramando água para inesquecíveis banhos).
Vejam, quantas lembranças boas o dia de São José me trouxe. E tem mais... A Ponta da Serra é o meu Sertão, é o espaço onde meu silêncio encontra as palavras melhores, porque mais antigas, mais impregnadas de infinito. A Ponta da Serra foi onde pela priveira vez eu vi o Cosmos.

Stela Siebra



José Zumba, ou simplesmente Zumba

  Segundo o pesquisador Antônio Romeiro de Lima (2008), Zumba era um artista plástico brilhante, descendente de africanos, nasceu em Santa Luzia do Norte,  no dia 30 maio de 1920. Com a morte de sua mãe, aos dez anos, fora levado a Pernambuco, aos doze anos, já se encontrava na Escola de Belas Artes, sob a  orientação do professor Edson Figueredo, dava os primeiros passos na aprendizagem das artes. Retornou a Alagoas para servir o Exercito.

 A maioria de suas pinturas retrata as figuras de negros velhos, escravos, cenas de trabalho, belas negras, dentre outras gravuras. Foi agraciado com o diploma de Cidadão de Maceió, do Ordem de Mérito dos Palmares, diploma da Escola de Belas Artes, Comenda Desembargador Mário de Gusmão.

Zumba chegava a afirmar que o Brasil é um país anticultural. ’Não vendo os meus quadros. Troco-os por dinheiro para não morrer de fome’ (LIMA, 85-6). É com certa magoa, por ser negro, por ser de “Cor”, mesmo diplomado com todos os méritos não recebeu os louros da sociedade alagoana, mas sim,  foi quase esquecido com sua genialidade.

Este alagoano de Santa Luzia do Norte foi um grande batalhador. Sustentou esposa e filhos com sua arte, pintando diariamente e saindo para vender as telas pelas ruas da cidade, repartições públicas e casas de colecionadores. (Gazeta de Alagoas, 2011)

O sociólogo e político Floretan Fernandes, coloca essa questão de “preconceito de cor”, como um elemento categórico de pensamento.  Para ele, essa categoria foi criada para assinalar, vários tipos de elementos, no que se refere, por exemplo, as questões emocionais e cognitivamente a todo o modelo tradicional de relação racial. Assim sendo, quando se fala de “preconceito de cor”, tanto mulatos quanto negros, não se fazia qualquer distinção entre ambos no momento de preconceito, ou melhor, não distinguiam o preconceito propriamente dito da descriminação. Tanto um quanto outro estão elencados em um mesmo bojo conceitual. Todavia, estas apreciações forjadas pelos negros possuíam integral consciência, no tocante, ao contexto sócio-histórico pátrio. O preconceito sempre ofereceu um leque de alegações emocionais, como também morais e racionais, para o processo de distinção e formação de camadas sociais hierarquizadas. No entanto, a partir da ocasião em que o negro começou a se compreender, conseguiu explicar a situação posta, sendo esta conseqüência ou reflexo deste “preconceito de cor”.Eles começam a se notar como sujeitos históricos iguais aos demais. E entenderam que todas as discrepâncias socioeconômicas e políticas não eram frutos de questões psicológicas ou biológicas, mas sim, por conjunturas exteriores, produzidas pela atuação coletivista dos homens. Esta categoria de preconceito, no caso brasileiro, devia ser encarada como fator da desigualdade racial e devia ser combatida ferrenhamente.  (IANNI, 44-5)

Em entrevista dada ao escritor Tancredo Moraes, pelos entremeios dos anos de 1940-60, Zumba falou de sua vida sofrida na década de 1930, quando na ocasião perdera seu pai. Relembrou os estudos em Garanhuns e Gravatá e da consideração ao arquiteto Edson Figueiredo que  sempre acreditou em seu talento. De sua terrinha natal (Santa Luzia do Norte, Alagoas), solveu a secular  tradição das festas populares, e a cultura lagunar – as margens da lagoas Mundaú.

O arruado, a vegetação nativa e exótica, a igreja, a história, as pessoas e as águas do Mundaú serviram de inspiração a esse artista que nasceu vocacionado para as artes e que fez da pintura a sua principal profissão. (Gazeta de Alagoas, 2011)

No dia 30 de outrobro de 1996, veio a falecer levando para a eternidade à tristeza e a frustração por não ver seus projetos realizados.

Referência bibliográfica

IANNI, Octavio (org) Florestam Fernandes. In: col. Sociologia Grandes Cientistas Sociais. 2ª ed. São Paulo Ática, 2008. 


LIMA, Antonio Romeiro de. Santa Luzia do Norte: um pouco de sua história. Maceió: Esmal, 2008. 


Referência Eletrônica 

Gazeta de Alagoas. José Zumba: o homem que marcou a história das artes plásticas em Alagoas. VIEGAS, Osvaldo, 2011. Disponível em: http://www.interjornal.com.br/noticia.kmf?cod?=12755562


autor: Dário Augusto

por socorro moreira


Esbarrei no velho mandacaru, "que só flora na seca , quando a chuva chega”.

Nas voltas, a tarde se despedia
Barulhos urbanos não se ouviam
A paz dos feriados
deslizava, se infiltrava, e corria...
Como um rio, em tudo que se via
Banhei-me nessas águas,
e fechei o dia com uma noite morna,
serena e sem curvas tortuosas...
Respirei no alívio de um pesadelo findo,
e de um sonho colorido
com frutos do mandacaru,
ainda inteiros, vivos!

Desenredo por José do Vale PInheiro Feitosa


E foi por volta da meia noite. Ali quando o 1 deixa de ser e não se torna 2. É outro. Com as mesmas horas do canto do galo. As mesmas matinas e já não é o mesmo. Quando as alterosas deitam sombras nos vales a lembrar-lhes que apenas os são pelos píncaros que ali se ergueram. E neste deixar de ser para dar vazão àquele dos primeiros segundos, um riacho serpenteia, entre morros, das Gerais, no Desenredo de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro.

Por toda terra que passo,
Me espanta tudo que vejo,
A morte tece seu fio,
De vida feita ao avesso,
O Olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso,
Mas quando chego eu me enredo,
Nas tramas do teu desejo.

Pois nas trilhas de um continente que começa nas franjas do semi-árido e termina nas torrentes tropicais, meu coração desejava tal amplitude. E apenas em Minas iria entendê-lo. O segredo de tudo que acontece ou acontecerá em Outubro se encontra nas Gerais.

O mundo todo marcado,
A ferro, fogo e desprezo,
A vida é o fio do tempo.
A morte é o fim do novelo.
O olhar que assusta anda morto,
O olhar que avisa anda aceso
Mas quando chego eu me perco,
Nas tramas do teu segredo.

Rompendo a selvageria destrutiva das máquinas. A volúpia criativa das finanças em busca de saldos que assim os perpetue. Que chora o atropelamento que a vida não promete. Que se embriaga de vinhos numa enoteca como se executasse uma obra de arte.

Eh! Minas,
Eh! Minas
É hora de partir,
Eu vou,
Vou me embora prá bem longe. (BIS)

O segredo de tudo está em Minas Gerais. Os demais campos já estão conquistados. Apenas Minas tem meandros que a hegemonia viciada não penetra. Não procurar as retas, as curvas dominam. Encontrar ladeiras que se desdobram, becos que levam a uma minúcia que tanto pode ser a essência como um arranjo barroco.

A cera da vela queimando,
O homem fazendo seu preço,
A morte que a vida anda armando,
A vida que a morte anda tendo,
O olhar mais fraco anda afoito,
O olhar mais forte indefeso,
Mas quando eu chego eu me enrosco,
Nas cordas do teu cabelo.



. A Semana SESC de Artes Cênicas do SESC Juazeiro, terá início no dia 22 de março e vai ter em sua programção o OVERDOZE, onde acontecerá várias apresentções teatrais e musicais, que se iniciaram às 17h do dia 31 de março e seguirá pela madrugada, terminando ás 05h da manhã do dia 01 de abril. ENTRADA FRANCA Mais informações: (88) 3587.1065