por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 23 de março de 2012

A Felicidade de Tudo Perder - José do Vale Pinheiro Feitosa

Alguém sempre sabe, inclusive nós, que as coisas as perdemos quando outras dão o tom da suficiência. Quando as trilhas caminham sobre nós, os bares nos bebem e as praças nos namoram, então a casa e os carros, e claro suas chaves, se perdem.

E quando a madrugada fria no rouba a bexiga, o quarto se dilui nos campos de grilos a cantar, as touceiras vertem todas as águas que nos excedem, as chaves do banheiro se perdem. E para sempre se vão sugadas pela imensa, incomensurável dimensão de estrelas que, num passo de mágica, transfere a fantasia dos sonhos para os sonhos de uma universal fantasia.

E essa mania de achar tudo o tempo todo, remontando esquecimentos e perdas como o dia que perde as estrelas e, no entanto, elas nunca se perderam de lá. Basta que a suprema sombra da terra revele que ali havia estrelas e apenas o claro do sol perdera todo aquele infinito de igualdades a ele.

Mas padecemos do evoluir: desenvolver-se, modificar-se e mover-se. Padecer é aquilo ao qual aquele sucedeu para continuamente ser sucedido por outros. E a senilidade com a pretensão de ser o estático de uma medida de tempo esquece as pernas que ainda teimam em caminhar.

E se meus olhos enxergam a profundidade da externalidade na qual estou mergulhado, então que as lentes se percam na testa ou em outro canto qualquer. Mas quando lentes se impuserem entre meus olhos e o mundo com o fito de uma suposta nitidez, ainda assim verei tanto quanto os bebês, as avós e bisavós.

As portas não fazem parte do invólucro que as paredes de uma casa criam. Na verdade elas são a corrupção da fechadura, a abertura ao invés da chave. Uma abertura tão intensa que a espiritualidade não se diz aquilo que se separa da matéria, ao contrário, aquilo tão intensamente uno com a matéria cujas diferenças nunca existiram ou existirão. É que a espiritualidade é a natureza da matéria em seu movimento.

E apenas se podem compreender as diferenças quando a espiritualidade não se encontra nos céus, mas aqui, nestas contradições, nos calores e frios, no abrasador do sol e nas sombras desta copa vegetal. Apenas aí o coração se expõe como um botão em flor.

E o que dizer do dinheiro? Ele é para os realistas a mediação de todas as relações humanas. A forma como se trocam bens e serviços entre todos. Mas na raiz ele não passa de uma conta, daquele latim vulgar chamado dinarius que é apenas a tradução para dezenas. E convenhamos as dezenas não dizem mais que uma medida.

E as medidas as perdemos, mas não as estrelas que lá estão mesmo com o brilho de uma delas a diariamente nos “cegar”.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Meu coração balbucia, som de brisa...Ele, analfabeto, perguntou e ouviu respostas.
Que posso falar diante de tantas cores?
Que vou pensar nos ganhos, quando pensar que perdi à toa ?
Ganho estrelas, alquimia, e pedrinhas de alegria pra salvar minha agonia.
Tô na paz , que a palavra certa nos traz!