por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 16 de outubro de 2011

Os Velhinhos Transviados - José do Vale Pinheiro Feitosa



Parei a camionete Chevrolet, 1962, duas boléias, pára-lamas, teto e detalhes da carroceria verdes com todo o resto branco. A vaga na frente do número 114 da Rua João Pessoa. Para os padrões rurais muito iluminada, mas nada comparável à intensidade de diamante da Siqueira Campos, com o Cine Cassino, o Café Crato e a Sorveteria dE Bantim. Tudo isso a dar palco aos passos altos daquelas meninas eternas a furar meu coração apaixonado. Naquela noite na casa de Conceição Romão uma tertúlia ao som de um toca discos.

A noite inteira ao ritmo dos “Velhinhos Transviados” e o som universal de sua orquestração só para dançar, tocar-se e se tornar um mar agitado. Os cheiros de cinema das meninas, como a nos conduzir pela ponta do lobo frontal feito uma lobotomia. E maior contramão ali acontecia: um furor pela conclusão das sugestões à sujeição da vontade delas. Só quando casar.

Os “Velhinhos Transviados” mandavam brasa: Huly Gully Baby; Calhambeque; Limbo Rock; SanFrancisco; Les Comichons; Anjo Azul; Quando entre tantos LPs. Tome música nas noites de sábado. E quem era o líder dos Velhinhos? Nada menos que o guitarrista Zé Menezes nascido em Jardim e que começou a vida artística em Juazeiro do Norte, aos oito anos de idade apresentando-se para o Padre Cícero. Aos onze era músico da Banda Municipal de Juazeiro.

Como era do tempo de busca, da aventura vai para Fortaleza e vive como radialista num serviço de alto-falantes. Retorna a juazeiro e no início das escaramuças da segunda guerra mundial e do aumento da influência americana, o primo Luís Rosi se torna líder de uma banda de Jazz e Zé Menezes o acompanhe, inclusive tentando Fortaleza pela segunda vez. Ali aprende o ofício de Alfaiate. No início dos anos 40 é contratado como segundo violonista da orquestra da Ceará Rádio Clube de onde formou um regional próprio para tocar na emissora durante quatro anos.

O famoso radialista César Ladeira o conhece e o contrata para a Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro. Em 1945 formou o "Conjunto Milionários do Ritmo" que muita gente ainda hoje lembra. A partir de 1947 fica 25 anos na Rádio Nacional, parte do tempo ao lado de Garoto no programa "Nada além de dois minutos". Em 1948 compõe o primeiro sucesso, o samba "Nova Ilusão" (em parceria com Luiz Bittencourt) e grava com grupo "Os Cariocas". Em 1950 o choro "Sereno", com Luiz Bittencourt foi gravado por Chiquinho do Acordeom. Grava solos ao violão tenor e os choros compostos com Luiz Bittencourt. Em 1951, grava o baião "Não interessa não" e o choro "Vitorioso", com Luiz Bittencourt. Continua gravando na década, inclusive faz um solo de violão elétrico do samba "Copacabana", de João de Barro e Alberto Ribeiro, e a valsa "Um domingo no Jardim de Alah". É dele o famoso samba "Tudo azul", com Luiz Bittencourt lançado pelo grupo vocal As Moreninhas.

E Zé Menezes continuou operando músico com os gênios dos anos 50 e 60 e gravando discos com seu grupo. "Os Velhinhos Transviados", surgem em 1962 com "Nós os carecas", "Pierrot apaixonado", "Fica comigo esta noite", "Chuá, chuá", "Bossa nova", entre outras músicas. No mesmo ano lança o segundo LP "Os Velhinhos Transviados - Sensacionais". Em 1963, os LPs "Os Velhinhos Transviados - Fabulosos" e "Os Velhinhos Transviados - Espetaculares". Em 1964, no LP "Os Velhinhos Transviados - Bárbaros!", chegando ao "Mas, que nada", de Jorge Bem; "Louco", "Rio", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Os Velhinhos Transviados renderam 13 LPs.

E após aquela lobotomia na minha esquizofrenia entre atacar e me apascentar, turvo de conflito, esgotado do irrealizado sugerido por elas, desço pela Miguel Lima Verde, é demais e seus azulejos no futuro assassinados. A camioneta tinha motor de arranque: um pedal no lado direito do acelerador para juntar as duas funções: ignição e alimentação. E logo eu com aqueles símbolos aos meus pés. Eu que fora ingnificado, mas não alimentado.

Fui me agasalhar no manto escuro da estrada rural. Passando a ponte velha, chegando à porta da garagem apenas com as lanternas da camionete para iluminar. Guardo o carro, abro a porta, vou ao quarto e deito-me. Com elas nos meus braços ao menos dando curso às minhas forças transviadas.

 por José do Vale Pinheiro Feitosa

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