por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mil Palavras - Fábio Brüggemann



Apesar da frase feita avisar que uma imagem vale por mil palavras, as duas linguagens são tão distintas, que uma não substituirá a outra, tanto em seu significante (o óbvio) quanto no seu significado.

Para a sustentação da tese de que uma imagem vale por mil palavras é preciso usar de palavra. De que maneira, com imagem, conseguiríamos?

Mesmo que alguém, ao mostrar uma imagem, implicitamente queria dizer que não necessita de palavras, ela ainda terá tanta conotação, que será bem difícil o receptor da mensagem entender o que ela queria ou quis dizer.

Por que necessitamos tanto reter uma imagem num papel, numa tela, na parede da casa? Mesmo antes da invenção da fotografia, desde os primeiros rabiscos pré-históricos, sempre houve gente querendo “fixar” a realidade de algum modo. Mas a realidade é “infixável”, porque a própria fixidez é momentânea, disse Octávio Paz.

Talvez seja por isto que a arte (principalmente esta que quer ser fixada, a imagem), tenha tanta importância no imaginário coletivo.

Ela não é vida, mas é um sinal dela, evidência, pegada, vestígio de que existiu alguma coisa, um objeto, uma pessoa, uma montanha ou uma araucária e, o mais importante, o de que alguém idealizou e deu forma àquele objeto a que chamamos imagem.

Ela é tão complexa que mesmo “fixa” podemos ver seu movimento.O que nos leva a desejar o que não nos pertence? Por que quero saber o que não está impresso na fotografia?

As frases das meninas correndo numa hora feliz, o banco de ferro onde o casal sentou em Barcelona na foto de Robert Capa, a blusa de lã listrada na única fotografia tirada naquela sacada, o rosto escondido atrás dos braços e o pescoço visto de lado e mal iluminado.

O que pensava?

O que sentia enquanto sorria para a fotografia?

Por que parece tão múltipla e tão inexistente ao mesmo tempo?

A vida é assim mesmo, como disse Roland Barthes, feita a golpes de pequenas solidões.

Talvez por isso eu carregue esta impressão (em ambos os sentidos) de que me restou apenas uma fotografia.

Quem sabe nela resida este vestígio de mil palavras que um dia significaram “sim”, mas que a imagem hoje insiste em me dizer “não”.


Fábio Brüggemann

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