por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Luis Cernuda



Não dizia palavras,

Aproximava apenas um corpo interrogante,

Porque ignorava que o desejo é uma pergunta

Cuja resposta não existe,

Uma folha cujo ramo não existe,

Um mundo cujo céu não existe.

Entre os ossos a angústia abre caminho,

Ergue-se pelas veias

Até abrir na pele

Jorros de sonho

Feitos carne interrogando as nuvens.

Um contacto ao passar,

Um fugidio olhar no meio das sombras,

Bastam para que o corpo se abra em dois,

Ávido de receber em si mesmo

Outro corpo que sonhe;

Metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,

Iguais em figura, iguais em amor, iguais em

desejo.

Embora seja só uma esperança,

Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta

ninguém sabe.



***


Não é o amor quem morre,

somos nós mesmos.



Inocência primeira

Abolida em desejo,

Olvido de si mesmo em outro olvido,

Ramos entrelaçados,

Para quê viver se desapareceis um dia?



Só vive quem olha

Sempre ante si os olhos da aurora,

Só vive quem beija

Esse corpo de anjo pelo amor levantado.



Fantasmas da dor,

Ao longe, os outros,

Os que esse amor perderam,

Como lembrança em sonhos,

Correndo as tumbas

Abraçam outro vazio.



Por aí vão e gemem,

Mortos em pé, vidas sob a pedra,

Agredindo a impotência,

Arranhando a sombra

Com inútil ternura.

Não, quem morre não é o amor.

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