Manhã cor-de-rosa ,doce aurora ! Da janela o mundo parece foto - inanimado ! Se não fosse o latido dos cães , chilro dos pássaros , eu só teria o som do teclado .
O rádio na madrugada revive um samba antigo , e na minha memória, uma velha vitrola, soluça "Anaih".
Tempo do leiteiro à cavalo; do padeiro na carroça; do pirulito na tábua; das verduras no balaio.
Mingau na mamadeira, papa no dedo,chupeta no beiço, passeio nas calçadas com pijama flanelado. Casa varrida e aguada;cheiro de café torrado ; chão de tijolos, casa com chaminé; pinico nos quartos, banho de cuia , tina no quintal. Gritos de empregada e patroa : o que fazer pro almoço, carne cosida ou torrada ? E o pilão comendo frouxo. O abano cansando a mão; a boca soprando brasas.
Infância danada !
- Soltar barcos de papel , na rua alagada da chuva;chorar a morte do soldadinho de chumbo, derretido no fogão de lenha; Branca de Neve envenenada porque mordeu a maça; Bela adormecida, no sono do fuso encantado e eu, patinho feio, querendo presentear o meu gato com uma bota de mil quilômetros.
Estou no Crato, e em todos os lugares que vivi. Estou em Copacabana , onde um dia te vi. Estou no largo de uma saudade que não machuca , e me faz feliz !
Um comentário:
Seleções perfeitas de nossa memória! Abraço. Araceli
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