Há inúmeras formas de ganhar o dia. Dentre as muitas maneiras de tornar saboroso o tempo diário bem pode significar adquirir novas palavras para contar as velhas histórias desse chão. Entre a pessoa e os objetos, ali, imperam as palavras, entes sagrados, o significado de aprender para ensinar aos outros o conhecimento adquirido, nas presenças desta vida.
Assim, quando passamos a outros só os objetos e suas movimentações, transmitimos o que vemos no jeito que podemos. No entanto quando, a isto, acrescentamos o sentimento e repassamos palavras, no reflexo do que vemos, produzimos poesia.
Caso trabalhemos com os frios fenômenos da natureza, descrevendo e ensinando, repetimos, transmitimos técnicas, construímos nos outros a ciência. Quando, porém, dizemos daquilo que nasce dentro, no coração da gente sua forma abstrata, sem comparações com o mundo real, visível, material, trabalhamos os setores da alma. A arte vem desse lugar. Arte, o empenho dos artistas pretenderem que os demais sintam o que eles sentem, e, nisso, elaboram peças de sabor espiritual, os conhecidos bens simbólicos.
O nível de receber essas produções varia ao infinito, no grau de cada indivíduo percebê-las. Esse poder de captar o fazer artística que resolveram batizar de sensibilidade, palavra que representa o padrão de receber os impulsos da criação artística nos seus vários segmentos e manifestações. Música. Pintura. Escultura. Cinema. Literatura. Artesanato. Esportes. Teatro. Televisão. Radiofonia. As elaborações da criação nas diversas modalidades, naquilo que tocam adiante a emoção sem a importância prática imediata de modificar os cursos da matéria no meio dos fenômenos. Sem nutrir o corpo físico, resultar noutros objetos, gerar movimentos imediatos no mundo das ações e dos interesses apenas mecânicos das circunstâncias.
A arte reflete dinamismo, espaço das possibilidades internas das criaturas humanas. Bem dentro do si mesmo das consciências. No âmbito do prazer mais íntimo. Aspecto personalíssimo, insubstituível. Sentir, ou não sentir; ninguém conseguirá depor no lugar da terceira pessoa quanto ao que esta sentirá, ainda que a isso pretendam os bilhões de seres pensantes.
Daí o senso da beleza, a chamada percepção estética, guardar proporções pessoais, particulares. E as palavras novas falarem das oportunidades desconhecidas chegarem ao coração para ofertar riquezas inexistentes, os valores até então ignorados, ricos de letras e melodias, imagens e cores, traços e luzes, sonhos e esperanças... O gosto desse tesouro adormecido trazido pelas palavras novas.
Um comentário:
lembrei uma música do velho Belchior: "todo sujo de batom".
Mas ele sugere o que há muito tempo foi dito. Pra achar novas palavras, a gente tem que descobrir novos sentimentos e viver novas emoções.
Adorei a seta que vc apontou.Não vejo pedras adiante...Aquelas já limadas pelos anos. Vejo a vivência no limiar da sabedoria , oxalá com outras palavras!
Amei o texto, amigo!
Todo Sujo de Batom
Belchior
Eu estou muito cansado
Do peso da minha cabeça,
Desses dez anos passados, presentes
Vividos entre o sonho e o som
Eu estou muito cansado
De não poder falar palavra
Sobre essas coisas sem jeito
Que eu trago no peito
E que eu acho tão bom.
Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental
Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental
Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom
Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom
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