por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Volga da vida - José do Vale Pinheiro Feitosa



O lento arrastar de pés sobre a areia branca da borda dos lagos. Um arrastar de toneladas da condição humana na assimetria entre o peso do fardo e a transição dos meios desde a água ao obstáculo da areia. Não existe alívio para tanto, a gravidade se alonga na história como um destino desidratado.

Todos sabem que se necessita navegar o Volga. Ultrapassar suas margens e libertar as costas que arrastam os barcos. Abrir as portas dos planaltos onde nasce, romper as planícies igualmente navegando e chegar a um Cáspio de liberdade.

Se o mundo não é servidão, igualmente não é maldição de sofrimento. A servidão não é apenas horror, por isso se sustenta, na ponta ela trás a felicidade dos senhores. E no meio a incerteza do servo frente aos milímetros de comportamento diferenciado entre uma escolha e outra do senhor.

Todo conteúdo da maldição é fático ou determinado, portanto limitado no tempo e no espaço. Mesmo quando a maldição pretende atingir a eternidade, como a vida eterna ou o juízo final, ainda depende da autorização da misericórdia ou do guardião da eternidade.

Não sei até quando ao ouvirem na voz de Boris Christoff, este baixo nascido na Bulgária, estarão acompanhando o lento arrastar de pés na vida dos navegantes do Volga. A Rússia, a grande Rússia esteve muito tempo ausente da amigável troca de cultura.

Apenas por algumas orquestras ouvimos uma ou outra canção. Esta mesma desse vídeo apareceu na voz do cantor de opereta Nelson Ed, num dos filmes dos anos 40. Mas quase todos os baixos e barítonos já experimentaram esta canção.

E por falar em baixos e barítonos me veio à memória o Paul Robeson. Dono de uma belíssima voz e que é sozinho um mundo inteiro: ator, atleta, cantor, escritor e ativista dos direitos políticos e civis. O primeiro ator negro a interpretar o Otelo na Broadway. No cinema teve tanta força artística que abriu espaço para Sidney Poitier e Harry Belafonte. Ativista político contra o fascismo e o racismo. Socialista foi perseguido pelo Macartismo, pelo FBI e M15 inglês quando trabalhou na Inglaterra.

Neste vídeo ouvimos Robeson cantando Old Man River para o filme Magnólia Barco das Ilusões (ou Showboat de 1936).


Um comentário:

socorro moreira disse...

Magnólia Barco das Ilusões (ou Showboat de 1936).
Boa referência!

"...chegar a um Cáspio de liberdade."

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