por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 17 de junho de 2011

FOTÓGRAFO ZEKA ARAUJO - UM TRANSGRESSOR DA MODERNIDADE? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Autor da foto: Miguel Hijjar - www.miguelhijjar.com

Estou aqui com o Zeka Araújo um dos grandes fotógrafos brasileiro. Nascido no Rio de Janeiro, mas como diz o Zeka “é um ser do mundo”. De um mundo em mutação, deslocando a fotografia do eixo da técnica para o ser humano. Para o Zeka, a fotografia migrou do “tecnê” para o fotógrafo. Com isso querendo dizer que aquele tecnicismo das origens do profissionalismo se transformou com a fotografia digital e agora as pessoas tiram fotos como querem, a qualquer momento, com qualquer equipamento, desde o celular a grandes máquinas ditas profissionais para não dizer de quem pode comprar.

Zeka Araújo trabalhou nas principais editoras do Brasil, em jornais e revistas. Aquela famosa fotografia do Edson Luiz morto, nos idos de 1968 e que abriu as grandes passeatas estudantis é do Zeka. Ele trabalhou no Diário de Notícias, na Revista O Cruzeiro, no Globo, Placar, Veja. Além de ter sido sócio-editor de fotografia da Manchete ele trabalhou na Quatro Rodas, Claudia e assim muito mais veículos de comunicação. Por muitos anos chefiou a parte de fotografia da Agência F4-cooperativa que prestava serviços para News Week, Observer, Veja etc.

Andou em 18 países seja para realizar um trabalho ou para permanecer períodos em alguns deles. Na Inglaterra morou vários anos. Além da prática profissional o Zeka é um fazedor de escola ou de centros de formação de quadros e de acervos de imagens. Criou e manteve o Núcleo de Fotografia da Funarte, curador do Centro de Imagens do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, criou cursos de fotografia na Escola de Artes Visuais do Parque Lages, do ateliê de imagens da ESDI e da Escola de Cinema Darcy Ribeiro.

Em 1998, recebe do Ministro Francisco Weffort, titular do Ministério da Cultura o Prêmio Nacional da Fotografia pelo conjunto de sua obra e valiosa contribuição ao desenvolvimento da fotografia no Brasil.

O Zeka Araujo, aos 64 anos, tem um carinho de vida e uma doce lembrança de um trabalho especial. Junto com Tom Jobim editaram o livro muito belo chamado Meu Querido Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Mas esta doçura na fotografia documental, com imagens de objetos universais de reconhecimento é transgredida por este homem ousado. Este experimentador de subjetividades. O fotógrafo do inacabado, o parceiro do expectador.

No Rio de Janeiro, neste semestre está acontecendo a quinta edição do FotoRio – Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro. São centenas de exposições por toda a cidade, em comunidades, prédios públicos, museus, centros culturais, simultaneamente espalhados nos bairros mais distantes. O Foto Rio dar visibilidade a grandes acervos e coleções públicas e privadas e à produção fotográfica contemporânea brasileira e estrangeira. Acontece de tudo em algum lugar, desde cursos, seminários, oficinas, mesas-redondas, palestras e conferências.

A Revista Veja da semana passada destacou o Encontro e a exposição que acontece no Centro Cultura Hélio Oiticica e nesta a exposição do Zeka BALANGANDÃS, ornamentos e amuletos usados em dias de festas. Aí vem o Zeka transgressor.

O Zeka pretende “desconstruir” além do autor, também a referência a objetos prontos e acabados do fotógrafo em imposição ao expectador. O Zeka não fotografa flores, animais, paisagens, ele “destrói” este objetos e desloca o referente da imagem. Ao deslocar este referente na direção de uma foto expressiva, ele torna o expectador também autor da interpretação do expressivo da imagem. Como ele diz: deixar livre a imaginação, criar um espaço poético que permite compor a realidade projetada numa parceria com o leitor.

O interessante do Zeka, como ele bem diz, não é o “tecnês” da imagem, mas a imagem como uma construção do expectador. O Zeka pode até usar meios de edição como o fotoshop, mas não é aí que reside o seu trabalho. O seu trabalho continua sendo a captura do referente, mas de um modo a deslocá-lo do fotógrafo para o expectador.

Você pode ver na internet algumas destas imagens presentes no Google.


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