por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 8 de junho de 2011

Divane Cabral - Uma escola de arte ! - Por Socorro moreira





Um Colégio de vanguarda, o Dom Bosco. Primava pela educação integral. Fiel às normas de Diretrizes e Bases, complementava em disciplinas, as lacunas, que por ventura existiam.Assim, continuamos a estudar latim, quando deixou de ser obrigatório, no currículo escolar. Dizia-nos Dr. Zé Newton: “ninguém aprende português, sem saber latim ". Ladainha diária. Sabíamos que tinha razão, mas o latim era um tanto indigesto. Melhor deixá-lo para o ensino nos Seminários. Os colégios não ministravam “Educação Artística” – uma disciplina nova, que reunia o estudo de todas as artes. Divane era a mestra. Durante os quatro anos ginasiais, abordou com uma certa profundidade, todas elas !
Começamos pela música, e o estudo dos clássicos, que a representavam: Bach, Mozart, Beethoven, Carlos Gomes, Vila Lobos, etc. Prova oral era pra tremer. A gente escutava um deles, e tinha que identificar o instrumento musical executado pelo músico. Sabíamos o que vinha a ser uma música clássica, sacra, erudita e popular; formávamos jograis de poesia, corais, maestrados por Divane , num atento despertar dos eventuais talentos.
A partir do segundo ano, encontrou uma forma de aferir aprendizagem, e expressar resultados, na produção de Grandes Espetáculos!
Neles foram desenvolvidos: a música, a dança, literatura, teatro, poesia.
O primeiro da minha lembrança,  foi “Uma noite em Portugal”. Presença do fado, interpretado pela voz maravilhosa de Rosineide Ramos, além de explorar as danças, a cultura, aspéctos históricos, políticos e sociais daquele país irmão (como nos fazia crer).
O segundo foi “Uma noite na Espanha”. Danças e músicas flamengas. Belíssimo. Esse aconteceu, no palco da Rádio Educadora. Os personagens escolhidos eram as morenas ou loiras de olhos claros (de preferência). Lembro de umas delas , que nem pareciam cratenses , depois de caracterizadas de espanholas.
O terceiro espetáculo foi “Uma noite no Japão”. A quadra Bicentenária foi completamente transformada ! Pés de cerejeiras, jardins japoneses com suas pontes, e as japonesas, claro! Ah, nem faltou o pagode japonês, e a iluminação esteve perfeita!

Nessa eu participei como a oriental que contava tudo sobre aquela terra distante: seus costumes, educação, música, religião... Contava até sobre seus vulcões. Foi uma noite que se repetiu por quase uma semana. Quadra lotada, e o povo extasiado.

Aonde aquela mulher pescava tanta cultura, associada à sua própria criatividade?

Divane era um gênio, e a gente ia na onda, sem perceber o seu real valor.
Os últimos espetáculos foram as peças infantis : Cinderela , a Bela Adormecida e Branca de Neve. Na primeira todo mundo virou bailarino, e na segunda todo mundo virou fada, inclusive eu. Os figurinos eram etéreos, nas organzas de todas as cores. E as meninas dançando balé, completamente familiarizadas com as sapatilhas? Uma aprendizagem mágica de poucos dias de ensaios. Uma das fadas madrinhas foi a Magali, acho! A bela Adormecida foi protagonizada por Regina Vilar; a Cinderela por Ana Benvinda, e a Branca de neve por Graça Couto. Se eu forçar a memória, lembrarei de muitos mais detalhes, mas também poderia tornar cansativa , a narração.
Com relação às artes não citadas, cinema e pintura, também fizemos os nossos ensaios. Ninguém terminou o ginásio, nas mãos de Divane, sem entender como era montado um desenho animado, e o papel de cada profissional, na produção de um filme.
Como conferia nosso entendimento?
Tínhamos que assistir um determinado filme, “Fantasia” de Disney, por exemplo. Depois nos questionava, valendo nota, sobre o filme, em todos os seus aspéctos relevantes: direção, produção, trilha sonora, fotografia, atores, roteiro, etc.
Divane para nós foi tudo isso: uma mulher versada em todas as artes!
E como se não bastasse tinha uma mão levíssima para o desenho, tocava vários instrumentos, cantava, dançava, e um fantástico olhar, como fotógrafa.
Divane permanece tudo isso... O Crato e o seu povo sabem disso!
Nós do Dom Bosco, jamais a esqueceremos. Ela foi um exemplo de arte e criatividade. Nos fez entender ,definitivamente ,que o homem sem sensibilidade é uma pedra bruta.
Quando me tornei uma executiva, cumprindo os ossos do ofício, jamais deixei de cuidar da minha sensibilidade, mesmo sem os seus atributos principais: talentos.
Digo, confortável e conformadamente: não sou artista, mas tenho alma de artista!

*Ofereço esse texto à Eleonora ( filha de Cândido Figueiredo), uma entusiasta aluna dessa grande mestra, e a todos os que foram seus alunos, em todos os tempos.



Nenhum comentário: