por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 4 de março de 2011

Vistas da serra...- foto de Pachelly Jamacaru




"Igual estas manhãs em busca de Abril
quando as paineiras se abrem em flores rosa,
um rosa claro quase solferino,
quase todas as folhas desaparecem,
toda planta se encontra grávida,
sem a mesmice da fotosíntese,
eis o momento dela ser outras,
tantas paineiras que o relevo,
se torne a cor de suas flores."

(José do Vale Pinheiro Feitosa)



Coqueiro Velho

Hoje eu vi... Sem poda, sem vida nova.
Lembrei a canção que o Orlando e o Nelson gravaram. Uni-me ao compositor, e percebi a dor das folhas secas, abatidas pelo vento, envergadas por falta de viço e de vida.
Apenas lá... Ainda lá, esperando ser cortadas.
É como uma rosa seca, escondida nos livros do passado. .. Perdeu o cheiro, mas sabe contar histórias.
É como amores fenecidos, ainda misturados , a tantas coisas vivas.
Amores findos merecem o respeito de ser reintegrados ao útero de uma terra viva.
Que tudo se transforme em pó: as velhas palmeiras, pessoas, coisas... Que possam estrumar novos sentimentos, recriar-se!
Doeram-me aquelas palmas acanhadas e secas, sem o carinho e a dança do vento. Combinam com o final do dia, entre a rosa e a grafite.
A natureza na ausência do sol enluta-se... A lua, eterna viúva, numa fase de alegria, chega com o seu bando... Bando que pisca , faísca, e assumem seus postos, na festa da boemia.
Choram as flores, seus orvalhos... Nuvens também se dispersam ou se condensam, quando finda o dia.
O tempo esfria. Troco meu costume, e na flanela me aconchego, como num corpo do amante.

Hoje é dia de São José. A procissão de velas não se apaga na chuva... Nem a fé cristã!
Corpos secos, roupas brancas, marfim... Como os velhos coqueiros, que agora vejo... Vestidos no terreiro, com a roupa do fim!

(socorro moreira)

Janela da serra

Noite de chuva. Estou perto dos coqueiros e das carnaúbas. Chove no telhado, sinfonia divina!Clarões esclarecendo, e iluminando um momento mágico. Sinto medo, destarte!
Lembro a minha mãe. Ela falava-me das tempestades e trovoadas, na fazenda do Seu pai, nas brenhas do Piauí.
Árvores altas atraem raios, dizia-me! E eu aconchegava-me naquele colo, me enredava nos lençóis com cheiro de alfazema misturado com xixi.
Rezávamos no mental para o nosso anjo de guarda.... Oração que aprendêramos no primeiro balbuciar de palavras.
Minha avó acendia velas e candeeiros, murmurava o rosário da Conceição, e cobria com panos de seda, os espelhos da casa. Eu perguntava-lhe de forma velada, mas corajosa:
As torres da Igreja teem pára-raios?
Mas, e no mato ?
Quem protege o caipira de morrer esturricado?
-Quem morre assim, morre pretim... Só a alma fica branca !

Volto para o dia de hoje.
Chove, e o medo foi embora.
Só tenho medo das loucuras que o meu coração sente, mas sei controlá-las , mesmo remotamente.
A paixão é cega, e descabela.
Deixa carecas, homens e mulheres.
O enamoramento é alfa, beta, Romeo...

Eu sei que és vivo. Isso me deixa perto.
Eu sei que és lotado. Isso me deixa calma.
Boto um sorriso bem vestido, e penduro nos meus lábios...
Nada falso!
Sorriso de gente apaixonado é enrubescido da melhor de todas as verdades, mesmo com fórum de ilusão.

A chuva agora é mansa. Estou terna de noite linda. Estou cheia de amor bem-estar.
E a natureza celebra comigo, a vida!
Na madrugada estarei em teus sonhos. Por favor, durma logo... Quero entrar sem barulho , pela janela da serra.
Voando como um colibri voa, e pousa, cobrando a pira do enlace.
Quando se fartam , trazem no bico o mel da flor ; trazem nas penas o cheiro do amor.
Cheiro de mato , malva, alecrim...

Preciso incensar a vida ...
O amor sempre chega, nas horas mais imprevistas!
Espero você, nas abertas janelas da serra. 

(socorro moreira)

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