por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 30 de março de 2011

Onde estão as nossas grades?

Imagem/Internet
Um Texto escrito por Cícero Braz...


ONDE ESTÃO AS NOSSAS GRADES?

Hoje, comecinho da tarde, como sói acontece toda semana, fui visitar um grande amigo meu, de longo tempo, que está tolhido de sua liberdade há dois meses em função do algo que cometeu e, se não fosse grave, essa situação não estaria desenhada. Não tecerei comentários sobre o que aconteceu, pois a literatura de cunho policialesco ainda não é meu forte. O outro lado da moeda, do humano, do ser, atrai-me com fervor. Em função de meu grau de amizade, minha proximidade com esse amigo, perguntas vêem-me à exaustão, muitas vezes trazendo em seu bojo uma possível condenação. Claro, qualquer pessoa tem o direito de ter sua opinião sobre qualquer assunto, mas, ao emitir juízo de valor, muitas vezes se incorre em erro. Como disse há pouco, não tenho o pendor das crônicas policiais, portanto, considero, com naturalidade, as questões que me são dirigidas. Falava sobre minha visita de hoje à tarde. Hoje, a dimensão do conceito de liberdade aflorou-me tão fortemente e de forma tão violenta a ponto de uní-lo ao da prisão. Ali entre nós dois, a nos separar, uma meia parede e uns ferros, formando uma grade. Ali, entre nós dois, dois sorrisos com significados distintos: o meu, com o alívio da liberdade, o dele com a esperança de reavê-la. Dois mundos diferentes, mas, por mais paradoxal que se lhes pareça, dois conceitos estritamente iguais. Como poderia ser dessa forma? O mundo estava ao meu lado,ali, a dois passos, ou alguns degraus abaixo. Bastavam meus passos para desfrutá-lo da forma que melhor me aprouvesse. O dele, vários passos para trás e a pequenez de uma cela, dividida com outros, com certeza, não iguais a ele. Estarei eu, também, emitindo juízo de valores? hão de me perguntar vocês. Por que posso afirmar isso se cada um tem sua história para contar, se cada um tem sua inocência para provar? Comecei a percorrer as minhas grades de reflexão. Onde estão minhas jaulas, minhas feras, que guardo? Onde não estarão as deles? Libertas, muito embora presas? Falou-me o meu amigo: “quantas vezes eu estava em casa, sem nada a fazer e não preenchi meu tempo com uma visita a um tio que julgara indiferente à minha pessoa e hoje vejo que não é bem assim”? “ por que não li um livro, que hoje, quando recebo, divido com os outros a alegria de lê-lo? Livro, visita, alegria, tudo isso é liberdade, ainda que por trás das grades. Estarei eu solto, com o mundo e todo o tempo desse mundo a meu favor, lendo um livro? Visitando alguém a quem faz tempo que não vejo? De novo, vejo-me entre grades, estando livre. Livre para tudo, inclusive para perder minha liberdade por atos infantis, mas que têm sua mensuração ante a sociedade. Será que é preciso que nos enjaulemos, mesmo que de forma virtual, para que aprendamos a sentir o verdadeiro sabor da liberdade? Infelizmente, parece que sim e isso o meu amigo externou com seu olhar vago, trazendo, em seu bojo, o brilho da esperança e a certeza de que valorizará cada minuto de sua liberdade, revertendo em prol de quem de si está próximo minutos ociosos de sua vida, pois, pelo que depreendi, os exemplos por trás daquelas grades apenas lhe fortaleceram os ideais de justiça e valorização da liberdade. Fui-me embora, trazendo nos meus olhos o brilho de esperança que captei nos olhos de meu amigo. Senti uma sensação de que eu estava preso aos meus conceitos, ao meu mundo restrito, às minhas grades, das quais não me desvencilhei por medo, preconceito, indiferença. Grades que me aprisionam aqui fora e que, felizmente, não carecem de um tribunal para me libertar, a não ser eu mesmo. Por outro lado, lá deixei um amigo livre, porque valorizando o conceito de liberdade, mas ela prescinde de um julgamento. Lá deixei um amigo desnudo de preconceitos e sabendo sorver o travor do erro. Lá, deixei um ser humano sem grades, solto, com olhos perscrutadores, visando a uma felicidade maior.


Cícero Braz de Almeida

"Fui-me embora, trazendo nos meus olhos o brilho de esperança que captei nos olhos de meu amigo."


Retirei apenas essa frase para não ter que transcrever todo o texto. Apenas essa frase por exprimir um dos mais puros dos sentimentos e a mais pura reflexão e compreensão sobre a vida, liberdade e sobre ESPERANÇA. Foi a expressão mais doce e a sensação de liberdade mais forte que no momento pude sentir.Cada palavra e cada frase do texto são de uma beleza que comove e nos move a reflexões profundas. Pude está diante dos nossos fracassos, inseguranças, dos nossos encontros e desencontros, dos nossos conflitos e ansiedades, das nossas fragilidades... Braz, você hoje me deixou calada e pensativa por vários momentos.

Amigo... Fiquei emocionada!


Mara

21/01/2011

4 comentários:

Liduina Belchior disse...

Mara,

Sinto que você possui um coração lindo,
uma sensibilidade singular, que ama bem,
é iluminada; e o mais importante: passa isso para todos nós. Fico feliz por você existir e fazer parte da familia Azul Sonhado.

Abraços carinhosos: Lidu.

socorro moreira disse...

Mara,

Traga o Cícero pra nossa roda, mulher !
Vc como administradora do Azul Sonhado tem esse poder.

Ele é demais!!

Mara Thiers disse...

Ownnnn Lidu... Diante das suas palavras, o quê dizer? Eu é que agradeço por ter cruzado com vocês nesse cantinho azul[mesmo que virtualmente]. Está por aqui, significa alegria no coração. Vocês é que são maravilhosos e acolhedores.
Agradeço as suas doces palavras. Obrigada bela Liduzinhaaaa...

Mara Thiers disse...

Ei Lidu, hoje é o dia da mentira, mas não é mentira nããããooo!!! kkkkkkkkkkkkkkkkk...
Bjus!

Socorro... O home já está na roda, né? Gostei da acolhida...
Bjus!