por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 20 de março de 2011

Dia de domingo (tudo vai ficar por conta da emoção)

por Vera Barbosa


Sábado à noite, e decidi ficar em casa. Está frio, convidativo. Tomei um banho quente, vesti meu pijama, fiz um chazinho e vim para o computador por volta das 19 horas. Pouco depois, o bairro ficou sem energia elétrica, e minha única opção foi ouvir rádio. Sintonizei a Alpha FM no celular.  Estou acomodando (para não incomodar ninguém) os sentimentos, então, nada melhor que ouvir o próprio silêncio e divagar em canções tranquilas.

Entre tantos pensamentos vãos e descompromissados, viajei no porquê de eu preferir o sábado ao domingo. Dentre outras reflexões, lembrei-me de ter nascido num domingo à tarde, mais precisamente às 13h45, o que, provavelmente, deixa tal dia tão preguiçoso para mim. Afinal, domingo é dia de estar em família, esperando a famosa macarronada (ou aquela saladinha no caso de, como eu, você estar de dieta). É dia manso, morno, bom para quem está namorando ou estudando para uma longa semana de provas. Salvo raras exceções, os dois dias que o antecedem são bem mais movimentados e interessantes, ao menos, para a maioria.

Observe a fisionomia das pessoas numa sexta-feira à tarde/noite. É dia de happy hour, descontração, hora de esquecer o paletó e a gravata e todas as preocupações profissionais. É o anúncio do tão aguardado fim de semana, que promete um bate-papo em boa companhia, namoro no cinema ou sob o edredom, o futebol com os amigos, a baladinha com a galera, um churrasco no fundo do quintal. Na sexta-feira, as pessoas se reúnem para uma cervejinha e degustam seus prazeres em mesinhas nas calçadas. Entre um aperitivo e outro, elas discutem todos os problemas do planeta e encontram soluções para todos eles! Salve a democracia, a tolerância, a diversidade. Numa sexta à noite, não há lugar para combatentes, apenas para quem está a fim de relaxar. A palavra de ordem é alto-astral.

Sábado é dia de soltar os bichos e sacudir! Todo mundo quer estar bonito e atrair os olhares de todos que estão à sua volta. Você escolhe o melhor vestido, a camisa mais irada, modela os cabelos, pinta olhos e lábios, analisa cada perfume. É dia de ser fashion no seu estilo próprio, dançar, ousar, conhecer uma nova paquera, liberar suas mais íntimas fantasias ou, apenas, ficar bem consigo mesmo(a). No sábado à noite, tudo pode acontecer! Até porque sabe-se haver o dia seguinte para descansar e curar a ressaca ou, simplesmente, o cansaço semanal. É o momento de se permitir, extravasar, transgredir (sem agredir), se divertir e experimentar. É possível ser excêntrico, exótico, emo, dark, gótico!  E tudo de uma forma bem natural, sem rótulos. O único limite é o respeito à individualidade.

Domingo bom, para mim, é na cama: ver um filme, ouvir música, ler um bom livro ou uma de minhas revistas prediletas. Raramente, fico inspirada para sair de casa, embora aconteça algumas vezes. Gosto de sair à tarde, para ver a rua, tomar um sorvete... ou para ir à Livraria Cultura admirar meus mais adorados objetos de desejo enquanto tomo um café expresso. Um cineminha também pode me excitar, confesso, mas vencer a inércia domingueira é o grande desafio. Acordar cedo nem pensar! Só se for para ver algum evento esportivo muito aguardado. Porque domingo tem cara de preguiça e aconhego, tons e sons de quietude. Sobretudo, quando está chovendo e a gente está apaixonada. Porém, tudo muda se eu estiver na praia. Ali, tiro os pés do freio! Saio para caminhar, chutar água do mar, pegar umas conchinhas e uma cor enquanto espero o pôr do sol, que sempre me fascina.

Quando a noite cai, o encanto termina. É o silêncio que precede a segunda-feira, e tudo se transforma. Uma certa melancolia invade as casas, as pessoas entristecem. Hora de preparar a cama, escolher a roupa do dia seguinte, pensar naquela reunião com os superiores, fornecedores ou clientes; separar o material, reler a cola para a prova matinal, que será assustadora, e programar o despertador. Quando entra a trilha do Fantástico, então, todo mundo sabe que o fim de semana acabou, e o ciclo tenso recomeça. É hora de a irreverência dar lugar às responsabilidades.  Não gosto de domingo. Será que, se ele fosse no meio da semana, seria diferente?

2 comentários:

socorro moreira disse...

Menina,
Que saudades!
Texto noticiador de vida e sentimentos. Rotina de uma mulher com ampla e intensa sensibilidade.

Stela disse...

Viajei nesse relato. Até pra Livraria Cultura gosto de ir nos domingos à tardinha.

Adoro o domingo, afinal é o dia astrológico regido pelo Sol, que significa alegria, entre coisas.

Abraços solares pra você, Vera.
stela