por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O estouro do Açude de Orós, segundo José Almino (reminiscências)- Por: Maria Amélia Castro




O açude de Orós está localizado no município do mesmo nome no Estado do Ceará. Foi projetado e concluído pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), com a finalidade de irrigar a região.

A cidade de Orós fica a 133 Km do nosso Crato. Quando a obra do Açude estava ainda para ser completada, houve uma grande temporada de chuvas e, em consequência, o rio Jaguaribe encheu bastante, transbordando e provocando o arrombamento da parede da barragem, causou um desastre sem precedentes na região: pessoas ficaram desabrigadas, aconteceu o abandono de casas, roças, e rebanhos inteiros foram perdidos. Esse acidente marcou todo o Ceará, de um povo já sofrido com secas e pobreza.

O açude ficou pronto e foi inaugurado com muita festa, mas nos anos seguintes em todo inverno mais forte o medo tomava conta de todos.

Na época, o único veiculo de comunicação era o rádio. Instrumento "mágico", maravilhoso, na nossa casa ele merecia um lugar de destaque: ficava na sala de jantar , perto da tomada, sobre uma mesa coberta com uma toalha de crochê. Ouvíamos violas e violeiros na Rádio Educadora, ao final da tarde. Ouvíamos, ainda, a Rádio Araripe e até a BBC de Londres. Ouvíamos, embevidas, as novelas “O Direito de Nascer”e uma certa novela cubana. Lembro-me que Maria Helena engravidou sem casar, virou mãe solteira e o pai dela, revoltado, não aceitou o neto. Mamãe Dolores, então, fugiu com a criança. Era um grande espetáculo tudo aquilo, a ansiedade para que o outro dia chegasse logo para ouvirmos o desenrolar da trama.

Aldinha, a querida tia, tinha uma coleção de escritos, da novela "O direito de nascer". Mas ninguém podia ler, não era literatura para a nossa idade, mas no rádio podíamos ouvir. Vá entender essas coisas.

O nosso rádio equivale, hoje, a uma TV de plasma de 29 polegadas, era o sonho de consumo de muita gente.

Nesse dia, no Crato, chovia muito e a iminência do Açude de Orós quebrar novamente era grande. As chuvas de inverno estavam fortes no estado inteiro. Era só em que se falava. Zé Almino, meu querido irmão, muito astucioso, brincalhão (só quem conhece a peça sabe de quem estou falando), passou pela cozinha de nossa casa em Crato e falou alto, "o Açude de Orós está pra quebrar, liguem o rádio”. E assim foi feito. Telina, que trabalhava em casa, me pediu pra ligar logo o rádio. A chuva estava grossa e ininterrupta. Havia uma interferência grande no som do rádio, quase nada se podia ouvir. Zé Almino volta, informando que tal zoada era o "barulho do açude quebrando". Rezamos muito, Regina, a outra secretária, chorou com muita pena do povo. Veio vovó , entrou pela porta da cozinha e viu o choro desesperado. Perguntou o que era tudo aquilo e nós respondemos sobre a razão do nosso desespero. Quase que minha vozinha entra no clima também. Quando Zé Almino viu que vovó estava chegando, falou alto: "brincadeira delas, vó, elas estão achando que o chiado do radio é da água em Orós.

Maria Amélia Castro

2 comentários:

Stela disse...

Muito boa essa história, Mélia.Pode ir puxando pela memória que sei que vai sair mais coisa boa e aí você conta pra gente.
Abraços
stela

Heladio disse...

Parabéns Amélia
Voc~e tem o mesmo dom que Orson Wells ( guerra dos mundos ). Até procurei um bote para escapar...
Abraços
Heladio