por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 6 de fevereiro de 2011

Beira do Rio - Por Geraldo Lemos


Estou sentado à beira do Canal. Muita sujeira, grande poluição. Nada, nada d’ água, Nenhuma atração.

Meninos brincando, não os vejo. O cheirinho de enchente, também não sinto. Como fomos felizes e não sabíamos.

Recordo-me do nosso Rio das Piabas.

Pedras grandes que serviam de molduras para as moças tirarem retratos e pularmos, nos dias de enchentes.

Tudo começava com o cheiro forte que somente nossas enchentes o tinham. Depois, a característica zoada das águas que penetrava em nossos corações, pelos ouvidos. A meninada traçava seu plano de fuga, enquanto os pais calculavam os perigos.

Recordo-me de papai, com lanterna em mãos, nos mostrando a água barrenta entrando em nosso quintal. Sua fúria era tão grande que levava as bananeiras e outras plantas ali existentes. No entanto, era a Nossa Enchente; a oportunidade de banhos, às escondidas.

Cedinho, acordávamos, para olhar sua destruição que ia da ponte das piabas ao canavial do Brigadeiro. Às vezes, alagava a Rua da Pedra Lavrada, Mons. Esmeraldo e Praça de S. Vicente.

Quantos barcos de papel navegavam, nas sarjetas! Quantos tripulantes (besourinhos) os carregavam. Nós éramos verdadeiros meninos, sem malícia e brinquedos de avançada tecnologia.

Após a enchente; surgiam os poços para banhos: Poço dos Homens (só tomavam banhos adultos), Poço das mulheres (todas de vestidos ou maiôs longos); mas sempre havia garotos olhando-as, maliciosamente, entre o arvoredo. Poço do Ingá. Galhos altos e o tradicional pulo, com o fruto, na boca. Poço da Barreira. Quase morri afogado. O melhor que existia era o salto dos trilhos da ponte de S. José. Era uma grande aventura. Todos fugiam de casa para o banho. Calção não havia. Deixávamos as roupas escondidas nas margens do rio. Quantas vezes os colegas não as escondiam?Que sufoco para encontrá-las! No entanto, nossa cadela Night, pretinha como o próprio nome o diz, garantia a segurança das nossas, minha, de Emídio, de Anchieta e outros amigos que nos pediam a custódia das suas.

De repente, surgiam o cabo Quintino, soldado Morais ou detetive Norberto ou Cabral, Soldados Joaquim Preto e Zé da Escan. Todos corriam, ouvindo as vozes enérgicas: ”vou dizer a seu pai”.

Não havia lixo hospitalar. Mergulhávamos e saíamos com esparadrapo vindo do esgoto do hospital, pregado na testa; ninguém ficava doente.

Já divaguei muito. O tempo passou, mas, ainda guardo, na memória, o que este canal nos roubou.

Moradores da rua da Palha e do Pernambuquim,os que moravam após a Ponte Nova, corriam atrás de seus pertences, levados pela enxurrada.Lá estava Vicente Pirulito; Engraça “Tapioqueira”;João e Vicência Bantim, Luís da Livraria;Pedro Seleiro e outros,.comandando o tradicional resgate .

Recordo-me do ”Judas”, feito por Zé Bastos, na Ladeira dos Tamanqueiros. Fazia-se a quinta; roubavam galinhas dos poleiros, na véspera, para tira-gosto, os caretas desfilavam, nas ruas pedindo ajuda para a festa. A queima era no Domingo de Aleluia. Era tudo bonito, sem droga, só pinga. A primeira parada era em frente ao Palácio do Bispo, com a bênção de D.Francisco, após ouvir o violão de Seu Luís da Livraria. Como tínhamos medo do Careta com o seu chicote!

Para coroar minhas eternas recordações do Famoso Rio das Piabas, convido-os a assistir, nas suas areias lavadas e firmes, a estreia do Circo do Javém, apresentador, trapezista, malabarista e palhaço, que encerrava o espetáculo com a célebre frase: ”Por favor, venham, amanhã, se não eu morro de fome.”

Quem quisesse assistir o espetáculo, gratuitamente, só precisava acompanhá-lo, de pernas de pau, quase da altura das casas, e ser carimbado, no braço/(eu, Emídio e Anchieta, preferíamos,nas costas, para nossas irmãs não verem) e mostrá-lo, na portaria do Circo.

Ele gritava: ”O palhaço o que é?” Nós: É ladrão de mulher.

-“Oi, arrocha

-Arrocha.

Geraldo Lemos

Julho/2009


Um comentário:

socorro moreira disse...

Que lembranças queridas, Geraldo !
Vc é amigo sempre presente , nas nossas lembranças. O que nos acontece, incluímos vc, nos sentimentos.
Precisa escrever mais, e sempre !
Um grande abraço!