por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 24 de março de 2012

Nota de pesar.


Chega o dia,em que as nossas mães  começam a viaja sem a nossa companhia... É a lei natural da vida.
Maria Ninete Pinheiro Teles Vieira,despediu-se da vida terrena, deixando  a sua família construída, mas eternamente saudosa.

Somos contigo, amigo Zé Flávio!

Minha Tia High Tech e o Pterossauro Chinês - José do Vale Pinheiro Feitosa

Tia Rosinha acabou de ligar-me. Logo imaginei que estivesse “brincando” com a nova mania das tias: o smartphone. Acharam o máximo levarem a internet para onde forem. Mesmo no banho de sol no açude podem ler os jornais, buscar receitas no Google ou mandar alguma mensagem para um sobrinho.

Era o que pensava com o telefonema de tia Rosinha, inclusive pelo entusiasmo com o qual me deu a benção do dia. Eu fiquei muito curioso com a alegria e não precisei esperar muito: era assunto das ciências, uma descoberta fundamental. Algo tão espetacular que ela se engasgava na argumentação e não me oferecia pistas do que realmente se tratava.

- Titia! O que é mesmo que a ciência descobriu?

- O Guidaco venator!

- O quê? Titia!

- Tem três metros de uma ponta a outra das asas. É grande demais meu filho. É quase do tamanho do quarto do Oratório.

- Titia e que pássaro medonho é esse? – Sendo bicho de asas para ser admirável pelos três metros de asa só podia ser um pássaro, avião é que não seria.

- É demais meu filho! E a fotografia dele é de bicho ruim. Tem uma crista maior do que de um galo de raça, um bico prá mais de metro, feio e meio curvo. E se não bastante a ruindade das fuças do bicho, na boca dele tem uns dentes enormes. Dizem que os bichos sobram quando ele fecha o bico. Os dentões ficam entrelaçados por fora da boca do danado.

- Ave Maria titia! Se este bicho voar por aí a senhora tem que reforçar o galinheiro. Cuidado com os burregos e com os bezerrinhos! – Fiz a primeira gracinha que me veio.

- Não meu fiii! O bicho é de outro tempo. Não dá mais ovo nos dias de hoje não. Ele viveu há muito tempo. Ainda naquele tempo daqueles bichos gigantes...como é mesmo o nome deles?....aqueles que dizem ser da pré-história!

- Dinossauro?

- Isso! E tu sabe o que significa Guidaco venator? – Tia Rosinha quase soletrava a palavra enquanto emitia as sílabas numa exagerada solenidade.

- Não tenho nem idéia!

- Quer dizer: o espírito mau do dragão caçador.

- É mesmo?! - Falei com espanto para absorver o entusiasmo de tia Rosinha.

- É meu filho. Eu achei o máximo.

- Muito bem minha tia um bom dia para.... – Achei que ela ia encerrar o assunto e já me despendia quando ela me atalhou.

- E tem a coisa mais importante de tudo isso meu filho!

- É titia?

- É! O bicho viveu na China. Lá no outro lado do mundo...

- ????? – eu não sabia o quê dizer sem compreender qual a importância do fato para tia Rosinha.

- Pois é meu filho! Lá do outro lado do mundo. Na China!

- Esses chineses minha tia só faltavam exportar isso para nós! – Tentei uma gracinha para compensar o que me parecia o exagero dela.

- E precisa? Os da China são iguaiszinhos àqueles encontrados aqui no Crato. O Guidaco, meu filho – a titia tinha intimidade total com a paleontologia – é pterossauro muito semelhante ao Ludodactylus sibbicki – a pronúncia da tia eu não garanto, mas o tom dela deu ao bicho os ares de muita importância - encontrado na formação Crato da bacia sedimentar do Araripe.

Essas minhas tias não são apenas High Tech: elas são geniais. Absorvem o texto que lêem com uma integridade de fazer inveja até em aluno de pós-graduação.

- Olhe o Crato se irmanando com China titia! – Levei a aproximação dos espécimes na gozação.

- Meu fiii! Eu vou dizer uma coisa! Tem mistério nesta história, viu? Por que é que tem aqui no Crato e depois precisa correr mais do que uma banda do mundo para surgir animais parecidos? Por que é que o bicho não deu na África e nem nas Europa. Só deu aqui e lá do outro lado do mundo. Isso é muito mistério viu?

Aí compreendi todo o entusiasmo da ligação de tia Rosinha. Este paradoxo da ciência tinha sido compreendido por ela.

- Por isso meu filho eu vou rezar muito mais pelo Crato. Esta terra tem mistério que se perde nas lonjuras e assunto que se esqueceu nas dobras do tempo. Vou rezar viu?

- Titia um beijo na senhora – a alegria de tia Rosinha se transmitira para mim – Reze muito minha tia, pois quem sabe o povo escolhe um bom prefeito nas próximas eleições!

sexta-feira, 23 de março de 2012

O TUCANO




O TUCANO


O tucano ergue o longo bico adunco
entre as árvores ralas na canícula:
ausculta o tempo com sanguínea verve
e dispersa o calor com sua astúcia.

O tucano transpira pelo bico
como se fosse um radiador. Controla
a sensibilidade do seu corpo
nos dias quentes e nas noites frias.

O tucano colore o azul do dia,
as campinas, as árvores e as águas.
Os pássaros se calam quando o tucano
filtra a luz e o mormaço do verão.

Agita e grita a cor de galho em galho.
Com o suor do corpo no seu bico,
o voo inquieto do tucano enfeita
o verde da paisagem do poema.



Esta foi a última foto de um tucano que eu tirei. Em S. Bento do Sapucaí, SP,
perto da Cachoeira dos Amores, na semana passada.
A foto não corresponde ao poema, escrito uns dois anos antes.
In “Livro dos bichos”, Prêmio Jorge de Lima 2011, da U. B. E. RJ (a publicar).


                       

Chico Anísio - José do Vale Pinheiro Feitosa


Rancho da Praça XI - João Roberto Kelly e Chico Anísio com Dalva de Oliveira

Por que o humor e a tristeza tão distantes entre si como as estrelas do sol têm uma igualdade que normalmente não suspeitamos? A lua não é o contrário do sol, assim como a tristeza não é do humor. A lua, como a terra são pedaços de estrelas iluminadas, assim como o humor e as tristezas são pedaços do viver.

Mas não é a veneração da morte. Ao contrário é a extensão deste ato de bem viver, bem rir e bem chorar. Chico Anísio nos fez rir de nós mesmos igualando os atos típicos a insignificâncias que uma vez desfeitas tornam a paisagem mais ampla.

Os livros de Chico, as pinturas, as músicas, os roteiros e suas encenações expõem o engano e ele, no entanto, não venceu o engano. Experimentou todos eles. Não alinhavou perfeições, mostrou e viveu o imperfeito ato de exagerar em vícios e atos que superavam o desgaste para em seguir viver um amor eterno. Até que nestes últimos minutos de 23 de março de 2012 jurava que aquela era o amor mulher de sua vida.

Os maraguapenses, os cearenses têm uma dívida imensa com este homem que saiu daqui ainda criança. Aquela família foi-se, mas cultivou o seu território de um modo tão intenso que todos os cearenses se orgulham de igualmente pertencerem a essa nação.

A criatividade e a ousadia deste gênio da raça nos deixam uma lição para não se esquecer. Não queiramos nos igualar ao que ele foi. Isso é insuperável. Portanto não basta ser cearense, é preciso muito esforço para sermos engraçados.

E nós cearenses poderíamos, no entanto, guardar uma lição permanente do mestre: a sutileza. A sutileza comove muito mais do que certa grossura e humilhação que se pretende como humor. O humor nos reflete, nos opõe, mas nos constrói ao invés de destruir. Embora possa destruir certos atos e situações.


Baiano e os Novos Caetanos - Urubu tá com raiva do Boi - Chico Anísio e Arnaud Rodrigues

MEU ADEUS A UM CHICO EM MUITOS - por Ulisses Germano

UM CHICO EM MUITOS

Chico Anísio foi embora
Para nunca mais voltar
O Brasil agora chora
O humor foi descansar
De ver tanta palhaçada
Da política engraçada
Que ele soube imitar

Ele era um em muitos
Personagens bem reais
Que ainda estão vivinhos
Com seus trejeitos banais
Do Maluf ao Zé Sarney
O escracho era a lei
Que já não existe mais!

Ulisses Germano
                                                                            Crato-CE

A Felicidade de Tudo Perder - José do Vale Pinheiro Feitosa

Alguém sempre sabe, inclusive nós, que as coisas as perdemos quando outras dão o tom da suficiência. Quando as trilhas caminham sobre nós, os bares nos bebem e as praças nos namoram, então a casa e os carros, e claro suas chaves, se perdem.

E quando a madrugada fria no rouba a bexiga, o quarto se dilui nos campos de grilos a cantar, as touceiras vertem todas as águas que nos excedem, as chaves do banheiro se perdem. E para sempre se vão sugadas pela imensa, incomensurável dimensão de estrelas que, num passo de mágica, transfere a fantasia dos sonhos para os sonhos de uma universal fantasia.

E essa mania de achar tudo o tempo todo, remontando esquecimentos e perdas como o dia que perde as estrelas e, no entanto, elas nunca se perderam de lá. Basta que a suprema sombra da terra revele que ali havia estrelas e apenas o claro do sol perdera todo aquele infinito de igualdades a ele.

Mas padecemos do evoluir: desenvolver-se, modificar-se e mover-se. Padecer é aquilo ao qual aquele sucedeu para continuamente ser sucedido por outros. E a senilidade com a pretensão de ser o estático de uma medida de tempo esquece as pernas que ainda teimam em caminhar.

E se meus olhos enxergam a profundidade da externalidade na qual estou mergulhado, então que as lentes se percam na testa ou em outro canto qualquer. Mas quando lentes se impuserem entre meus olhos e o mundo com o fito de uma suposta nitidez, ainda assim verei tanto quanto os bebês, as avós e bisavós.

As portas não fazem parte do invólucro que as paredes de uma casa criam. Na verdade elas são a corrupção da fechadura, a abertura ao invés da chave. Uma abertura tão intensa que a espiritualidade não se diz aquilo que se separa da matéria, ao contrário, aquilo tão intensamente uno com a matéria cujas diferenças nunca existiram ou existirão. É que a espiritualidade é a natureza da matéria em seu movimento.

E apenas se podem compreender as diferenças quando a espiritualidade não se encontra nos céus, mas aqui, nestas contradições, nos calores e frios, no abrasador do sol e nas sombras desta copa vegetal. Apenas aí o coração se expõe como um botão em flor.

E o que dizer do dinheiro? Ele é para os realistas a mediação de todas as relações humanas. A forma como se trocam bens e serviços entre todos. Mas na raiz ele não passa de uma conta, daquele latim vulgar chamado dinarius que é apenas a tradução para dezenas. E convenhamos as dezenas não dizem mais que uma medida.

E as medidas as perdemos, mas não as estrelas que lá estão mesmo com o brilho de uma delas a diariamente nos “cegar”.

O Papa em Cuba ou Cuba no Papa - José do Vale Pinheiro Feitosa

Numa semana em que se noticia a visita do Papa a Cuba, más notícias correram no esgoto que enlameia o comportamento de agentes da Igreja. A pedofilia continua o mais recorrente, mas a velha questão da lavanderia financeira do vaticano mantém a tônica. Novas leis italianas dariam “conta” do problema. No entanto a notícia que mais chocou foi a de que nos anos 50 jovens entre 11 e 18 foram castrados na Holanda, em hospitais católicos, em razão de terem se envolvido em pedofilia com religiosos.

E agora um breve jogo. A visita de Dilma a Cuba despertou um furor contra Cuba em nossa mídia e novamente a famosa “blogueira cubana” virou manchete em nosso noticiário. Aí um repórter levantou o perfil da moça na rede e descobriu falcatruas de todos os tipos, de financiamentos absurdos a simulação, através de empresas “especializadas”, a forjar número de visitantes no perfil dela.

Não tenho lido muito os blogs da direita brasileira e ou de alguns setores reacionários da Igreja Católica, mas imagino o quanto a visita deve alentar o desejo de crítica ao regime cubano e estimular a cantilena ideológica. Aliás, por incrível que pareça, com todas as contradições na Santa Madre Igreja, Joseph Ratzinger, um alemão linha dura que comanda a santidade declarou: (a ideologia marxista) “não responde mais à realidade.”

O problema de afirmações dessa natureza é que a frase também se encaixa numa milenar instituição dirigida por um papa que teima em não enxergar (ou dialogar) a realidade. Em todo mundo as massas desprotegidas buscam abrigo em todo tipo de espiritualidade, que mais e mais se afasta de sua finalidade, à proporção em que se deteriora a vida material das pessoas. O papa Ratzinger, por mais desconforto que tenhamos em afirmar isso, não se diferencia do pastor vendedor de martelo de quebrar a infelicidade popular e nem dos bispos universais se digladiando por dinheiro.

Não devo cair na pelúcia da linguagem da chancelaria, mas Bruno Rodríguez, chanceler de Cuba tem mais senso de realidade do que seu visitante. Questionado pela imprensa sobre a “gentil” frase de Ratzinger, Rodríguez respondeu: “Respeitamos todas as opiniões. Escutaremos com respeito a Sua Santidade.” Em seguida recordou que o sistema cubano atual “tem suas idéias desenvolvidas em mais de um século de história” e um acervo popular amplo que, segundo ele, “está também aberto” a modificações e “em constante desenvolvimento.”

É possível que o governo cubano venha a sofrer enormes conseqüências pela abertura da economia para pequenos negócios, derrubando anos e anos de seu próprio dogmatismo. Agora uma coisa não se pode negar: o governo abriu um ímpeto de progresso material em certos grupos da população que poderá levar a novos estágios em seu desenvolvimento.

Cuba continua a ser uma questão chave no mundo globalizado e ainda polarizado pelo Império Americano. Assim como os analistas econômicos só enxergam e defendem as grandes corporações adquirindo os pequenos negócios, não deixa de ser ideologia querer negar que uma ilha possa não querer ser mais um estado americano como pretende Porto Rico.

Neste ponto tendo a ter mais simpatia democrática por quem enxerga a diversidade dos povos do que este totalitarismo monárquico do império sustentado por uma espiritualidade (religiosidade) a respaldar o poder terreno oligárquico. E tome picareta na televisão a vender salvação.

Samba da bênção para Chico Anysio do Brasil

por Vera Barbosa

Chico Alves...
Chico Mendes...
Chico Sciense...
Chico Xavier...
Chico Anysio.


Fim de espetáculo. O Brasil está de luto.

Mais um querido Chico se vai e, com ele, boa parte da alegria dos brasileiros, sobretudo dos menos favorecidos e simples, a quem ele alcançava sem precisar de esforço e de cujas mazelas falava com sabedoria.

Apesar de todo o conhecimento que possuía e do sucesso que alcançou, sobretudo na televisão, Chico soube atingir todos os públicos, sem distinção de classe.

As centenas de facetas desse genial caricaturista fazem parte da história do humor brasileiro e da vida cotidiana. Sua crítica contundente questionou e influenciou comportamentos e atitudes - e a falta delas.

Creio que seja sina dos Chicos essa capacidade de exteriorizar os sentimentos da gente de maneira tão especial e de, alguma forma, amenizar o sofrimento das pessoas, seja com música, humor ou oração. Bem, o bom samba é uma forma de oração, disse o poeta. A piada e a alegria também.

Os personagens de Chico Anysio atravessaram gerações e marcaram todas elas com inteligência e inquestionável competência.

Dever cumprido, Chico, pode partir em paz.

Abram-se as cortinas do céu!

Hugo Linard e orquestra! - 14 de abril de 2012, no Crato Tênis Clube





Confirmadas as participações especiais de Hildelito Parente, Leninha Sobreira, Ranier, Marcelo Randemarck, além do corpo da orquestra (métálicos, cordas, teclados, percussão e vocais: Leninha Linard, Peixoto e Álvaro).

Estamos  motivados com a grande receptividade  dos amantes da boa música, inclusive da comunidade de Juazeiro do Norte.


Ainda restam mesas. Sejam antecipados!
Manteremos reservas até o dia 04.04.2012.

A agonia de perder uma chave- socorro moreira


Alguém sabe?
Zélia, quem sabe?!
Eu também sei.
E não é só a chave da casa, do carro, da porta do banheiro... É a mania de perder tudo o tempo inteiro. Dessa mania, padeço!
Acho que está associada à senilidade... Ou não?
É característica de pessoas esquecidas?
Sou plugada em tanto coisa ao mesmo tempo, que é difícil dar conta de tê-las em meu poder.
Stella diria que é padrão virginiano se organizar pra não se perder... Mas procurar os óculos com ele plantados na testa é coisa de bisavó.
Ah, como eu queria que todas as portas e janelas fossem destrancadas, e desabassem num mundo de pessoas desligadas.
-Que não enxergassem a materialidade.
Acho que no plano espiritual não pagaremos seguros de vida, nem de carro. A moeda é o desejo, a boa intenção.
Pra compensar escancaro meu coração. Gosto de muitos, cada qual do seu jeito com meu jeito.
Santo Antônio nos proteja de perder algum dinheiro!



Felicidade e(m) fim !- socorro moreira

-Você é materialista!
Núbia tomou foi um susto...!
Lutou a vida toda pelo equilíbrio das finanças, justo por gastar à toa com livros, alimentação, viagens, e outras coisinhas mais, que tornam a vida prazerosa ou no mínimo suportável.
Não capitalizou, pagou impostos, mais-valia, plano se saúde, afora alguns danos e prejuízos.
Continua fazendo contas, e a contabilidade, sempre pendente, continua lhe tirando o juízo, embora venha melhorando o tino para administrar a própria vida. Supressão é a solução!
Viver com os gastos, na ponta do lápis é o mais estressante de todos os trabalhos.Ninguém logra paciência,iluminação contando o dinheiro, e preocupado com a sobrevivência.
Buda, Cristo, São Francisco e outros terráqueos santificados pelo desapego e amor à humanidade entregaram o que tinham e viviam daquilo que não tinham pelo êxtase da santidade.Ficaram seguidores, a exemplo!
Num estágio comum e humano apertamos os cintos e encontramos a simplicidade.Simplicidade é dignidade! Neste patamar, encontra-se uma minoria.
Núbia trabalhou pra ficar de pernas pro ar, e não ficou. O ócio é estafante, insuportável. A cabeça não para; o sono é salvo- contudo para outra realidade.
Muita gente sofre do mal da ansiedade.. Esta vilã nos conduz aos excessos... Vícios, compulsões de naturezas diversas: trabalho, tabaco, e outras drogas... Como comer, por exemplo.
A gente vive o processo da liberação/desprendimento, paradoxalmente, escravos da sobrevivência.
-Morremos na praia, quase sempre!
Se antes brigávamos pelas horas extras, outras horas nos eram impostas. Quando muito ficávamos com férias no verão, em busca da cor moreno-desbotável. Queríamos o “frisson”, overdose-vida!
Hoje, por que não desligamos a internet, TV; excluímos carros da garagem, e paramos de consumir os enlatados?
-Porque não!
Existem as construções de vida.
O preço do consumo ou da simplicidade é a morte. A busca incessante é a “felicidade”.
Por que não somos andarilhos aspirando sombra e água fresca e um pedaço de pão?
-Porque não!?
Trabalhamos para pagar o essencial e o supérfluo. Alguns pra juntar o que não vai gastar.
Núbia tinha pão com manteiga, cama com travesseiros, e umas mudas de roupas apresentáveis.
No imaterial, o bem comum é o ideal.Respeito ao próximo se não puder amá-lo.
É pra matar o tempo?
-O tempo nos mata!

quinta-feira, 22 de março de 2012

A Danação do Trabalho - José do Vale Pinheiro Feitosa

Pesquisadores brasileiros escreveram uma tese transformada em livro chamada: A Danação do Trabalho – Organização do Trabalho e Sofrimento Psíquico de João Ferreira e Silvia Jardim. A pesquisa levantava o sofrimento psíquico decorrente da exploração do trabalho.

Nesta semana fomos informados pela mídia sobre as mortes de operários por excesso de trabalho em Taiwan. A acumulação de renda decorrente do capital financeiro e do processo produtivo mundial, controlado por multinacionais, tem reduzido a renda do trabalhador, levando a este a retornar aos primórdios do capitalismo industrial com cargas horárias ultrapassando 12 horas em atividade.

A sobre exploração do trabalho, que passa por um esgotamento físico simultâneo a um sofrimento psíquico, pode ser captada nos indicadores de saúde física e mental, pelas relações sociais e políticas e também pelo simples contar do tempo de cada um.

Na prática as novas formas de trabalho são “vendas” do tempo de vida das pessoas para o detentor de capital. E o mais curioso é que embora o capitalista leve em conta que todo ser vivo tem o instinto da sobrevivência e, portanto tem um potencial de horas a lhe oferecer, a verdade é que o tempo não existe a priori.

Para que o trabalhador possa “vender” seu tempo em forma de “salário” para um comprador capitalista, ele precisa viver o tempo, ou seja, respirar, comer e beber. A partir deste instante de tempo existido, o próximo passo é ter história, memória e conhecimento.
Eis aí a razão pela qual não se pode ter a certeza do capitalista de que tudo continuará sempre assim. Isso não é natural, o movimento da história pode apresentar novas formas de articular o tempo entre as pessoas. Mas por enquanto o capitalismo só tem ampliado a exploração de trabalhadores formais ou informais. Agora mesmo surgiu uma pesquisa o IPEA a mostrar o que todos já sabíamos por vivermos o dia-a-dia.

As modernas tecnologias de computador com rede digital e telefonia celular estão ampliando ainda mais a exploração de trabalhadores. As pessoas estão trabalhando mais e sem ganharem horas extras. Elas são chamadas fora do trabalho por telefones celulares, mensagens de texto e computadores ligados à rede para resolverem problemas e continuarem trabalhando além do expediente acertado com o empregador.

As estatísticas de acidentes no trânsito provocados por usos de aparelhos de comunicação enquanto se dirige, deve levar em consideração esta modalidade de exploração do trabalho. O trabalhador ou gerente está stand-by o tempo todo.

A pesquisa do IPEA apontou que 45,4% dos trabalhadores têm dificuldades de se desligar do trabalho mesmo após o encerramento do expediente. Isso acontece em razão de atividades extraordinárias, atividades por internet e celular e para aprender coisas técnicas do próprio trabalho.

O Paranaporã de Menhã


Os matozenses eram conhecidos, em toda biboca desse mundão de meu Deus, por serem gabões de não mais se ver. Vilazinha perdida lá onde o vento faz a curva, lugar onde se vendia Coca-Cola em dose e onde urubu comia bagaço, o povo, no entanto, respirava ares de grande metrópole. Esta gabolice vinha , talvez, da comparação inevitável com as vilazinhas próximas : Bertioga e Serrinha do Nicodemos, estas bem mais raquíticas e pobres. Um matozense contemplava o leito invariavelmente seco do Paranaporã, com o orgulho de quem visse o Sena, o Tâmisa ou o Danúbio. E foi pela comparação inevitável que “Totonho da Rabeca” , compôs , em homenagem à sua terra natal, o chorinho “Paranaporã de Menhã”, certamente no pensamento de embotar o “Danúbio Azul” de Strauss. A musiquinha, fácil de assoviar, pegou rápido e terminou por se consagrar como o tema de Matozinho, uma espécie de “Cidade Maravilhosa” da catinga.

Terá sido, certamente, esta empáfia que levou o prefeito Sinderval Bandeira, depois de folhear alguns velhos almanaques Capivarol, a construir, uma réplica da Torre Eiffel, logo na entrada da cidade. Dizia que seria o cartão postal de Matozinho e apôs o nome de Torre da Bandeira, sob pretexto de que ali, no topo, estaria eternamente hasteado o panteão municipal da Vila. Na verdade, era uma tentativa de , sorrateiramente, imprimir seu nome na obra, fugindo de perseguições de adversários e da Justiça Eleitoral. Rapidamente o povo, com a sabedoria que lhe é peculiar, batizou a obra de “Torre da Bandalheira”.

Na Comemoração dos 200 Anos da Revolução Francesa, foram arrebanhados vários artistas populares com fins de participar das festividades na França. Em Matozinho a lembrança caiu , imediatamente, em “Totonho da Rabeca” que terminou sendo convocado e partiu para as estranjas com a digna missão de representar Matozinho. Uns dez dias depois, Totonho estava de volta da sua viagem diplomática. Voltou importante, falando meio engrolado. Só aprumou quando , no Bar do Giba, resolveu agradecer ,à francesa, um elogio e ao pronunciar o “Merci, Beaucoup!” , Francelino Catavento tomou aquilo como palavrão – “Vá tomar aonde, seu filho duma égua? Repita !” -- e sentou-lhe o braço no escutador de novela do artista. Depois disso, Totonho desistiu, definitivamente, dos galicismos. Ao narrar sua experiência em terras estrangeiras, nosso rabequeiro não conseguia conter o bairrismo epidêmico de Matozinho :

--- Paris é até bonitinha ! Um pouco maior que Matozinho! Mas dos franceses, eu não gostei, não ! Ou povo invejoso das mulestas dos cachorros! Pois vocês acreditam que os miseráveis construíram uma Torre lá também, igualzinha à de Bandalheira ? Pode ser um desaforo desses?

Há uns dois meses, Sinderval entrou na Câmara com um projeto muito mais mirabolante. Resolveu reconstruir em Matozinho as “Torres Gêmeas”, cada uma com sete andares. Uma delas abrigaria a Prefeitura Municipal e a outra a Câmara de Vereadores. Na justificativa, Sinderval lembrava que aquilo era uma homenagem que prestavam à cidade co-irmã de Nova York, além de ser um ato contra o Terrorismo Internacional. A Vila embebeu-se de uma euforia quase que incontida. Sinderval já vislumbrava uma re-eleição saltando da cartola com a nova iniciativa. Não teria maiores dificuldades em ver aprovado o projeto já que tinha ampla maioria na Câmara e a idéia se tornara a notícia mais badalada nas praças, botecos e boticas nas últimas semanas. Qual não foi sua surpresa quando vieram avisá-lo da derrota fragorosa da proposta na última reunião da Câmara. Sinderval procurou, irado, o presidente em exercício “Lulu da Vêmaguete”, seu correligionário ferrenho, cobrando explicações sobre a traição que sofrera. Aquilo se consubstanciava num verdadeiro cataclisma político para o Partido. Vêmaguete , meio atarantado, tentou justificar o ocorrido:

--- Seu prefeito, todo mundo queria a construção e o projeto do senhor, no início, estava certo de ser aprovado por unanimidade. Foi aí que Gerebaldo Mobral, nosso Secretário, nos alertou do perigo. “Se a gente construir essas Torres, meus amigos, fiquem certos de uma coisa. Esses doidos do Afeganistão vem para cá e vão jogar os aviões deles em cima das torres, ora se vão ! Não fizeram do mesmo jeitinho até em Nova York? Se ao menos acertassem só na Torre de Sinderval, ainda vá lá ! Mas vou logo alertando, cambada ! quem avisa amigo é : Vai ser caco de vereador prá todo lado, viu?

J. Flávio Vieira

Pérola da MPB !


Desacato- por José do Vale P.Feitosa




Inofensivo aquele Antonio Carlos
Que falava aos corações apaixonados
De costas para as sombras torturadas.

Que nem sequer se incomodou
E pedindo ao Jocafi rimas doces.
Deixa estar eu vou entregar você.

Quem destratou a agonia em dores
Não fui eu, e fui tratando de esquecer.
Leve as manchetes com você.

Inofensivo aquele horror
Que nem sequer pegou
Os desaparecidos ensanguentados

Não adianta me envolver,
Nas sentenças dos torturadores,
A anistia rimará com agonia.

E vá tratando de esquecer
Um a um vai morrer.
Igualmente as garras ensanguentadas.

DESACATO - José do Vale Pinheiro Feitosa

quarta-feira, 21 de março de 2012

Nota!




75% das mesas estão vendidas  e/ou reservadas.
A música de Hugo, o glamour  do povo caririense , a participação especial de alguns artistas , o toque especial de Sérgio Cardoso, garantem o sucesso!

Podem apostar!
Façam a sua reserva:
35232867
35234305
88089685

Mazé Sales – Uma palavra viva do Caldeirão




Uma escritora que não se limita. Mazé tem contribuido para o resgate da história regional atraves da literatura. Fiha de remanescente do Caldeirão e autora do livro Auto do Caldeirão - dos calheiros da santa cruz do deserto e do Beato José Lourenço ela afirma que: “Tudo o que minha mãe falava sobre o Caldeirão está ali, contado em forma de teatro. Ela contava que havia abundância de tudo, muita fartura. Tudo era de todos.



Alexandre Lucas – Quem é Mazé Sales?



Mazé Sales - Uma menina da roça que se tornou professora na cidade. Encantou-se com o teatro do Grupo Construção 10 ( anos 70) e gostava de ler. Tomava livros emprestado e os devolvia antes do prazo para ter direito a outros empréstimos. Meus colegas de escola colaboravam comigo trazendo-me cópias de poemas que eu decorava e declamava em algumas ocasiões. Escrevia poemas para os namorados das minhas colegas, a pedido destas. Para isto eu precisava saber como eram eles. Gostava também de escrever diários. Sou também atriz. Passei por alguns grupos de teatro amador como o William Shakespeare, do extinto GMAXO , o ANTA e atualmente estou no LIVREMENTE. Faço Donana na peça Dentro da Noite Escura de Emanuel Nogueira e direção de Jean Nogueira, meu ex-aluno.Tenho também umas pequenas participações em alguns filmes: Padre Cícero ( anos 70), Caminho das Nuvens, O Cinematógrafo Hereje de Jeferson Albuquerque (2011), um conto de Zé Flávio Vieirra.


Alexandre Lucas – Como ocorreu seus primeiros contatos com a literatura?


Mazé Sales - "A Flor e as Fontes" de Vicente de Carvalho foi um poema que me emocionou bastante na minha infância. Ai como eu sofria com o sofrimento da flor! Então, fiz um poeminha para minha mãe. Enquanto escrevia os diários ia também fazendo versos. Minha infância foi recheada por literatura de cordel. Dobrava versos na tipografia São Francisco, antiga Lira Nordestina, e Dona Ana Silva me presenteava com muitos cordéis que eu lia em casa para a família.


Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória:


Mazé Sales - Escrevi vários cadernos de "matérias" de poesias e algumas peças de teatro. Fui à gráfica e vi que não era pra mim. O custo era alto. Como me disse o dono de uma gráfica: "Publicar livros fica pra quem é rico e vaidoso". Fiquei muito triste. Então, resolvi selecionar somente uns cinco poemas que cabia no meu orçamento e assim nasceu Banquete dos Deuses, em 1997. É como dar a luz ao filho desejado.


Alexandre Lucas – Você é filha de Maria de Lourdes Andrade Sales uma remanescente da Comunidade do Caldeirão . Quais as memórias que sua mãe contava dessa comunidade?



Mazé Sales - Tudo o que minha mãe falava sobre o Caldeirão está ali, contado em forma de teatro. Ela contava que havia abundância de tudo, muita fartura. Tudo era de todos. O que me impressiona é saber que havia no sítio Caldeirão muitas fruteiras: bananeiras, laranjeiras, etc. E hoje, você chega lá e pensa que era fruto da imaginação das pessoas. Que naquele lugar não poderia produzir nada. Mas, voltando à realidade da época: havia uma comunidade, sob a liderança do Beato José Lourenço cujo lema era trabalho, disciplina e oração, então, podiam tirar leite das pedras e transformar um deserto em um pomar.


Alexandre Lucas – Você publicou o Auto do Caldeirão - dos calheiros da santa cruz do deserto e do Beato José Lourenço ( Teatro). Como foi essa experiência?


Mazé Sales - Tal como Padre Cícero: Filho do Crato, Pai do Juazeiro foi direcionado aos alunos com os quais eu trabalhava e como os colegas pediam fotocópias, resolvi publicá-los. Era como se estivesse prestando uma homenagem póstuma a todos os mortos no massacre do Caldeirão, bem como aos que sobreviveram e tiveram que calar como se nada tivesse acontecido. Ou falaram baixinho e eu fui juntando os sussuros e os medos e fiz deles uma teia onde a aranha conta a sua história.


Alexandre Lucas – Você escreveu outra peça de teatro em 1999: Padre Cícero: Filho do Crato Pai do Juazeiro. Essa obra levanta que discusão?

Mazé Sales - A prosposta era tão somente didática: contar a história de Juazeiro que se confunde com a do Padre Cícero para meus alunos de Educação Artística do Colégio Salesiano, na época. Revendo o texto, vejo que questionamos coisas que hoje são realidades: os romeiros visitarem também o Crato, Faculdades para Juazeiro, etc.


Alexandre Lucas – Como você define a sua poética?


Mazé Sales - Dizem que definir é limitar. Eu acho que não definir é não saber. E agora? Minha poética é tão minha que não encontra ressonância em nada, a não ser em mim mesma, sem ser original. Talvez em Manuel Bandeira eu tenha me inspirado, mas a minha leitura foi de cordel. Nunca conseguir fazer um soneto nem um cordel porque ambos tem que ser perfeitos. E a imperfeição é um traço forte no que faço, às vezes sem querer. E ainda acho belo, como toda mãe coruja.


Alexandre Lucas – Como você ver a relação entre arte e política?


Mazé Sales - Se "a vida imita a arte e a arte imita a vida" a política deveria administrar a vida em sociedade refletindo sobre as necessidades do povo, visto que os bens são do povo e a estes devem servir e os administradores são colocados pelo povo para cumprir com sua missão de bem administrar e não apenas para o bem estar dos políticos. Proporcionando bem estar a todos, visto que num país rico não poderia haver pobreza. E a arte critica, por mais comportada que seja, essa realidade. A arte é (o) a porta voz da sociedade.


Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Mazé Sales - Como somos produto do meio e sobre o meio atuamos, acredito que meu trabalho, mesmo pouco e pequeno, tenha contribuido para o esclarecimento, do ponto de vista didático, de acontecimentos da história regional ou para simples deleite para quem gosta de ler.



Alexandre Lucas – Quais seus proximos trabalhos?



Mazé Sales - Há quase dois anos está quase pronto: Santidade e Loucura à Beira do Rio Salgadinho. Aguardem! Estou também tentando escrever um infanto-juvenil com acontecimentos fantásticos baseado na Física Quântica. Ai! Será? Porque paranormal não é. Vamos ver! "Quem viver verá!" Quando eu me aposentar vou ter mais tempo para escrever. Será? Obrigada.

Desejo- José do Vale P.Feitosa




Pinga,fura,pula, escorre
Chupa.Engole uma poça,
Canto de nidação.

A geração dos desejos,
O levante das satisfações,
O furor dos suspiros realizados.
E nem acabam já são desejados
Em tempestades de fantasias,
Com a armadura da busca.

E pinga, fura,escorre,
Migra na contracorrente,
Mergulha na intensidade.

Engole o destino preponente,
Digere os detalhes materiais,
Chupa tudo que parece aquilo.

Uma poça úmida de desejos,
A implantação que funde,
O separável para mais outra.

Implantar a semente que deseja
Outro encontro de espremer espaço,
O momento de agitar suspiros.