por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Selfie

                J. Flávio Vieira


                               Todo verão, amigos,  --não se enganem não !—lá se vem uma moda nova. Tivemos uma infinidade delas que se alternaram na mesma regularidade das estações. Já vieram:  o Walkman, o Celular, a máquina digital, o smartphone que, de alguma maneira, terminou por fundir muitas outras funções. Com ele, chegou uma das mungangas mais incríveis desses tempos : os selfies. O cabra bate selfie com o defunto no cemitério;  ensanguentado no acidente que acabou de sofrer; com a namorada na cama depois do venha-ver. E, mais que tudo! Manda imediatamente para as redes sociais, pois já não existe vida possível fora da virtualidade. Sem se mostrar para os outros, não é possível sobreviver.  Cada uma dessas invenções trazem, consigo, a ideia de ascensão social. Não ter no verão uma dessas estrovengas , remete, imediatamente, o sujeito  para a base da pirâmide e , de lá, não dá para ver o sol e nem se deleitar com a sombra. Claro que, em pouco, as feiras populares, fervilhantes vão se apropriando dessas modas , com produtos alternativos, para que o povaréu não fique na pior e possa também, de esguelha, bicorar um pouco desse paraíso de consumo. Quando a classe privilegiada descobre que o filho da empregada já possui a última novidade, a moda , imediatamente, é sustada e se inventa outra.  O ciclo, como um moto-contínuo,  se vai repetindo. 
                         A moca desse verão, por incrível que possa parecer,  é o tal do “Pau de Selfie”.  Talvez o leitor já tenha visto este penduricalho por aí. O sujeito usa um suporte para agarrar o Smartphone , dando uma certa distância, e facilitando o enquadramento, ao abrir mais o ângulo da selfie a ser tirada. As praias, os pontos turísticos se encheram destes “paus”, nestas férias, dava para se fazer uma apresentação de “Maneiro-pau”, se Mestre Cirilo topasse a brincadeira. Imaginem a dificuldade de carregar um trambolho desses, nas viagens, junto com uma infinidade de outras quinquilharias. Na Chapada Diamantina, um dos mais bonitos espetáculos , o pôr-do-sol visto do Morro do Pai-Inácio. Lá se postam inúmeros turistas , cada qual com o seu pau-de-selfie ( felizes, impávidos e orgulhosos com o novo aparelho), filmando o espetáculo e  privando-se, assim,  de assistir a ele. Vale mais o registro e, principalmente, a possibilidade de mostrar aos outros o vídeo, depois. A beleza do crepúsculo não interessa, degustá-lo, calmamente, nem pensar ! Nada de beber o Champanhe ! Vamos é mostrar aos amigos o rótulo do Moet-Chandon ! Freud diria, quem sabe, observando o brilho incandescente nos olhos dos pausistas,  que o pau-de-selfie, é um símbolo fálico, imprimindo aos seus proprietários um poder viril avassalador e inusitado.
                        Dizem os pausistas, justificando a aquisição, que a importância do  pau-de-selfie seria se bater a foto sem precisar incomodar ninguém. Se se refletir um pouco, veremos que a própria Selfie vai além do simples narcisismo. Há , por trás do retrato tirada por mim mesmo, uma certa dose de individualismo: eu sou eu e não preciso de ninguém! O pau de Selfie é, apenas, um aperfeiçoamento dessa arrumação. Houve um tempo, em que, nas viagens, as pessoas , solicitamente, pediam para os companheiros baterem suas fotos e retribuíam o favor, tirando a de outras pessoas e outros casais. Quantas amizades não começaram nestes simples contatos? Quantas paqueras não se encetaram, motivadas pelas fotografias que se iam alternando ? Se se reparar bem, esse individualismo tem sido um dos sintomas mais fortes dos tempos em que vivemos. As pessoas fogem dos relacionamentos como  o satanás da água benta. Amizades já não se fazem entre companheiros de trabalhos ou colegas de classe, até, porque, já não são colegas, mas concorrentes. As pessoas preferem, cada vez mais, os encontros ocasionais às relações mais sólidas. Casais já não querem filhos sob o pretexto que dá muito trabalho, atrapalha a vida pessoal e , economicamente, é um investimento muito desfavorável.
                                    As cidades, assim, parecem ter uma população muito grande, mas , na verdade, têm encolhido dia após dia, vêm se tornando desertas, simplesmente porque cada um dos seus habitantes deixou de viver na megalópole e passou a habitar no seu próprio mundo. Os habitantes de São Paulo cabem numa selfie.  Claro que existe uma praça gigantesca onde periodicamente muitos se encontram : as Redes Sociais. Essa encontro asséptico, no entanto, evita o toque, o olho-no-olho, o beijo, o abraço e, talvez, por isso mesmo, tenha se tornado tão importante e desejado. Dá a falsa impressão de que não estamos sós no mundo, que temos mais de dois mil amigos que nos curtem  e que, assim, a solidão não nos baterá à porta.

                                   O problema é que as grandes questões do planeta precisam cada vez mais do diálogo, da dissolução de diferenças seculares entre os homens, da conversa, da compreensão e da visão holística. Nosso barco está à deriva e cada um dos tripulantes mete a cabeça no buraco, como avestruz, acreditando que o iceberg que está logo à frente não lhe diz respeito. Antes do impacto final estarão todos no convés , com seus pau-de-selfie para registrar o fabuloso naufrágio do  Titanic.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Uma aura permanente sobre a Índia - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eram muitas as Índias. Com múltiplas influências culturais. Ao sul e ao norte. A leste e oeste. Afinal aquele grande enclave no território asiático é um subcontinente. Que ao chocar-se com a Ásia, elevou o Himalaia, que formou gelo, as montanhas sofreram erosão e fizeram uma grande e fértil planície, ainda mais beneficiada pelos rios que descem das montanhas.

O Brahmaputra e o Ganges, são a vida do que é hoje a Índia. Que é uma criação nacional do colonialismo Inglês. Poucos sabemos que a enorme cidade de Calcutá foi fundada pelos ingleses ali onde já havia alguma aglomeração, canais de rios navegáveis e atividade econômica agropecuária bem desenvolvida.

As instituições ocidentais, de natureza do Estado Nacional, terminaram dando cabo das antigas organizações políticas da Índia, fazendo dela um todo. Multicultural. Múltiplas línguas. Múltiplas crenças, inclusive e com muito peso o islamismo.

Agora onde se vá pela Índia há uma aura permanente, pois ainda recente, do Mahatma Gandhi. Que foi o fundador do moderno Estado Nacional indiano. Que não foi um só, surgido por algum dom especial. Ele é parte de um movimento de renascimento do hinduísmo, fazendo frente ao futuro ocidentalizado do povo indiano. Criando uma ponte entre aquele passado milenar e o presente ubíquo.

Assim como Florença foi do Renascimento Europeu, Calcutá foi do Renascimento Indiano ou Bengali. Figuras como Gandhi, o escritor Bankim Chandra Chatterjee, Rabindranath Tagore, o multicientista Jagadish Chandra Bose, o grande físico da mecânica quântica Satyendra Nath Bose (a partícula Bose é em sua homenagem), Upendranath Brahmachari, Meghnad Saha, o músico Ravi Shankar.

No tumulto incrível das ruas de Delhi, um parque se aproxima. Um lindo, imenso e silencioso parque. Se estende às margens do rio Yamuna, aquele mesmo que espelha a belíssima construção do Taj Mahal na cidade de Agra. É um parque da memória das grandes figuras da modernidade indiana.

Especialmente do Mahatma Gandhi. E não junte o local ao corpo sepultado. Nem mesmo as cinzas. Que como cinzas se dispersam no espaço. Mas o local onde foi cremado o Mahatma Gandhi e daí em diante muitas outras figuras do mundo indiano.

Assim Ravi Shankar, o rei do Sitar, compôs um poema musical, quase um cantochão para a aura permanente de Gandhi.


E por New Delhi se deparar com o monumento feito à flor nacional da Índia: o Lótus. Assim esta construção, de um belíssimo formato e ousada arquitetura ao som de uma música de Rabindranath Tagore.

Era um momento de garoa. Uma garoa fina. Como uma tênue lembrança. Daquelas violentas moções que afogam aqueles que não têm respiração aquática.


Era uma garoa fina no Templo do Lótus.

O Lótus fechado em botão: infinitas possibilidades.

A flor do Lótus aberta: a criação do universo.

Shasrapatram, o lótus de mil pétalas; Shatapatram o lótus de cem pétalas, Amborohan o lótus que brota da água e  kamalan o lótus que decora a água.

A água lodosa onde nasce o lótus é o apego e os desejos carnais, a flor de lótus, imaculada, em busca da luz, é elevação espiritual.

A raiz na lama,
O caule na água,
A flor no sol.  

Representação de oito pétalas é a orientação no espaço, harmonia cósmica.

Representação de mil pétalas é esclarecimento, perfeição, totalidade.

Lótus azul – sabedoria
Lótus vermelho – amor, compaixão
Lótus branco – pureza mental
Lótus rosa – esclarecimento, Buda.

Os ideais dos atributos feminino: elegância, beleza, perfeição, pureza e graça.


LÓTUS – a única flor que se poder oferecer aos deuses ainda em botão. 

A Índia é um corpo milenar navegando rapidamente as águas tormentosas da globalização. 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

NEPAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

O Nepal. Uma cunha entre dois continentes: a China e a Índia. Por isso mesmo se desenvolveu como a rota entre um e outro. Um comércio que lhes deu vantagens e criou uma civilização.

Que era o cadinho de muitos povos, especialmente as macros culturas indo-gangética e chinesa, entre elas o budismo tibetano. Além do mais é pelo e no Nepal que nascem os grandes rios que descem pela planície indiana. É ao mesmo tempo fonte e dispersor das águas que fizeram a fartura indiana.

É uma faixa de terras de pequenas e médias montanhas que se antecipam às elevações do Himalaia. Insuperável como cadeia de montanhas. Os Andes e o Alpes lhes prestam vassalagem em termos de altura.  

Olhem esta imagem do Himalaia e do interior do Nepal ao som de uma música Dimphu.


As partes mais altas do Himalaia se encontram no Nepal. Por isso a palavra Nepal parece originar-se de Nepaly que em sânscrito significaria “ao pé das montanhas. Assim é que os povos com maior desenvolvimento em escalar e sobreviver nas grandes altitudes são originários da tribo dos Sherpas.

As tribos mais antigas do Nepal, os Kirat já estavam lá há mais de 2.500 anos. Depois vieram migrações do sul: indo-arianos, dravidianos, gente do sul da índia e do Sri Lanka. Do norte vieram tibetanos e chineses.

Rota de comércio e múltipla formação étnica, deram ao Nepal uma música muito rica. Com instrumentos próprios e bons músicos. Além da associação constante com a dança. Os principais gênero são os Dohori (que se caracteriza por danças e vozes masculinas alternadas por vozes femininas num longo diálogo), tem a Deuda e Aadhunik geet.

Mas existem muitas músicas étnicas por via dos grupos que para lá migraram. A Dohori, por exemplo é da etnia Kirat. Além destes gêneros existem músicas devocionais originárias da índia e da pérsia muçulmana, além da música moderna que se desenvolveu em torno do cinema.

Enquanto imagens dos quarteirões tradicionais que ficavam em volta dos palácios (tais quarteirões chamados Durbar) vão passando, ouviremos um belíssima canção Dohori:



Andar pelo interior do Nepal é circular por subidas e descidas, curvas contínuas, atravessando vales de rios do degelo do Himalaia. Viajar pelo Nepal é encontrar casas no fundo dos vales e plantadas nas encostas. É olhar para as encostas e vê-las cortadas em curva de nível para o plantio do arroz.


Vejam estas imagens da Colina de Suayambhu que tem um peso muito especial na mitologia da formação de Katmandu. Uma mitologia de origem indiana com seus deuses que criaram a colina, e como um deles demorou para cortar os cabelos, nasceram os macacos que são relíquias e vivem soltos na colina. 

Aliás é sempre importante não esquecer que Buda nasceu no norte da Índia, já próximo do Nepal e que sua formação religiosa é Hindu. Devem estar acompanhando as imagens com outra música Dohori.


Nestas imagens chega-se até a fronteira do Nepal com a China, ali onde um dia foi o território independente do Tibete. Os veículos são parados constantemente nas estradas e sua carga examinada. Há intenso comércio na fronteira. Caminhões se acumulam para entrar na China.

As mulheres fazem o comércio formiguinha (igual àquele entre o Brasil e o Paraguai) através da ponte que separa Kodari da vizinha cidade chinesa de Zagmuzhen.

O ser humano é muito igual. O mundo é de um relevo variado e surpreendente. Quando somamos nossos corações aos outros povos, o mundo também é surpreendentemente belo, igual e diferente. 



À ESPERA DE UM TEMPORAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

Considerando o horário de verão: são 18 horas e 32 minutos no Rio de Janeiro. A cidade entocou-se dentro de casa (digo apartamento, abrigo, hotel etc.). Desde as 14 horas que os trabalhadores foram liberados para retornarem aos seus domicílios em segurança.

Digo. Liberado, às vezes, para enfrentar a insegurança de suas moradias. Neste momento há um tempo fechado. Sem qualquer sinal de trovões, relâmpagos e outros componentes do anúncio que se tornou espera.

Espera que chegue um temporal. Inundando tudo. Derrubando barreira. Travando o fluxo da cidade. Formando correntezas. Alagados. Transbordando lagoas, levadas, riachos e rios.

Na espera um silêncio de automóveis. Seria a hora do rush. As ruas principais ainda têm volume, mas muito esvaziadas. Assim como o tempo que se antecipa a jogos da seleção brasileira no período da tarde quando todo mundo era liberado mais cedo.

A espera do previsto. Lá pelos lados da Pedra da Gávea e Morro dos Dois Irmãos, as nuvens se avolumam. Quando porções anuviadas intensamente plúmbeas começarem a se desgarrar do volume principal, chegou a hora desta gente bronzeada encontrar-se com o vaticínio.

Mas se a previsão furar? Não vier temporal? Apenas aquelas tempestades corriqueiras de verão? O que se há de dizer do serviço de meteorologia? Infelizmente diante de tantas mensurações, de tantos modelos matemáticos, como se justificar ao distinto público tamanho efeito adventício.

Eis que à ciência da previsão, segura e precisa, teria chegado ao estágio em que as imprevisões agora previstas, por outro lado passaram a sofre os males da omissão. O imprevisto, o não acontecido do que fora previsto. E retornamos à dúvida da imprevisão.


Mas não nos enganemos. Nós que vivemos nesta terra. A espera continua até muito depois do que pensamos. Vejamos o anoitecer e seus mistérios não contabilizados. Ali onde o contabilizado também perde ou ganha valor.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

ATÉ ISSO ??? – José Nilton Mariano Saraiva

Até prova em contrário (e tal prova não existe), a sede da Universidade Regional do Cariri (URCA) se localiza na cidade do Crato-CE, onde além dos diversos cursos ministrados se acha estabelecida a sua Reitoria.

Dentre as diversas faculdades vinculadas à URCA, a Faculdade de Direito tem se destacado sobremaneira, o que pode ser constatado quando da realização do Exame Anual da OAB, quando os alunos oriundos daquela salamanca têm obtido significado numero de aprovação.

O que não dá pra entender é que, quando da divulgação pela imprensa nacional da relação dos alunos aprovados no tal Exame Anual da OAB, no espaço dedicado ao Estado do Ceará os alunos da Faculdade de Direito do Crato sejam listados como aprovados e oriundos de Juazeiro do Norte, sem que se mencione nem de leve tenham eles cursado e sido aprovados na Faculdade de Direito da cidade do Crato.

Qual a razão para esse “desvio de finalidade” ou autentico “estelionato educacional” ??? Por qual razão descredenciar quem realmente faz (a cidade do Crato), em beneplácito de quem não tem nenhum crédito na questão (Juazeiro do Norte) ??? Não seria o caso das autoridades cratenses (políticos, associações de classe, clubes de serviços e tal) se  dirigirem formalmente à OAB, “exigindo” explicações ???  Como continuar aceitando tal tipo de humilhação ??? Qual a razão de tanta passividade e subserviência ??? 

   

You´ll Never Know - José do Vale Pinheiro Feitosa

Comece assim, no tempo e no espaço. No tempo de muitas páginas no calendário. No espaço remoto onde a maior das vozes era aquela que ecoava, como se nas nuvens, pelas cornetas de um serviço de alto falantes.

Os anos agora, são outros, com outra cultura, novos valores, conexões numa malha inteiramente nova. O prazer, o vício da moda, o desprezo e estranhamento do passado. Mesmo naquele tempo de muitos calendários o preconceito com o que não era da “classe”, social, de idade, de “tribo”, de turma, estava presente. Entre esclarecidos revolucionários, alienados das bandinhas de guitarra ou senhores e senhoras de roupas cheirosas.

Apenas por ser daquele espaço remoto, ser brega, se enternecer com música brega, pensar em alguém pela música brega, era uma ponte entre o tempo e o espaço. Uma ponte anacrônica, pois o tempo do povo brasileiro sempre foi mais lento do que o da classe média e da elite.

Os nomes daquelas melodias de Waldick Soriano, Orlando Dias, Lindomar Castilho, Carlos Alberto, José Augusto, Agnaldo Timóteo (este mais palatável à classe média), Núbia Lafayette, Rosemary, Silvinho, Wando, Antonio Marcos é uma lista muito mais longa que estas páginas. As melodias vinham de versões, de compositores dos bares e cabarés da periferia das cidades.

E foi assim que uma música, brega de extravasar pelo sangradouro, fez sucesso, inclusive nos programas de auditório da televisão. Era um sucesso de Antonio Marcos. Escutem só:


 Eu vou ter sempre você - Antonio Marcos - com uma montagem do youtube bem ao estilo.

Todo o arranjo e letra são de descer um copo após o outro na mesa do bar. De sob o poste apagado, encostado nele, na escuridão da rua, lembrar que ela nunca saberá o quanto a fumaça do cigarro evola-se por ela, enquanto o estoque de tabaco se queima em brasa.

Ela sentada na janela secreta daquele quarto noturno, com o radinho de pilha no colo, ouvirá a canção que desfia sua alma e lança os fios flutuantes por sobre as flores do jardim. Fios que flutuam alto e distante a até enovelar-se na forma dela no coração daquele amor.  

Algo mais brega? Esta intensidade ameaçada pela perda. Pela incompreensão. Por alguém que jamais saberá? É isso mesmo, não é?

Errado.

Os gringos, que têm a batuta na mão de fazer o “dictatus” do que é e não é in. Hão de dizer que não. Acontece que toda a melopeia de Antonio Marcos ganhou um Oscar de melhor canção de 1943 pelo filme “Hello Frisco, Hello”. Certo que era o tempo da guerra. Que a perda, a distância e a separação eram quase que a regra. Mas ganhou o Oscar, viu gente bem sabida!

E sim. Tem mais. Os compositores são grandes nomes da música americana sofisticada, gente que fez música para orquestras do tipo Glenn Miller, gente que compôs coisas do tipo Chatanooga Choo Choo ou que compôs para Frank Sinatra, Dean Martin, Nat King Cole, Barbra Streisand e por aí vai. Falo dos compositores, especialmente para o cinema, Harry Warren e Mack Gordon.

Agora escutem a gravação do filme com Alice Faye em Hello, Frisco, Hello:

You´ll Never Know - Alice Faye - cena do filme Hello Frisco, Hello.
  
Agora uma tradução mais na base da letra americana, diferente daquela que Antonio Marcos fez:   

Querida, eu sou tão triste sem você
Penso em você nos longos dias da vida
Quando me perguntar se eu estou sozinho
Então, eu só tenho isso a dizer:

Você nunca saberá o quanto sinto tua falta
Você nunca saberá o quanto me importo
Mesmo se tentasse, não poderia esconder meu amor por ti
Você deve lembrar, eu não disse assim
Um milhão ou mais vezes?

Você foi embora e meu coração foi contigo
Eu falo o teu nome em todas as minhas orações
Se há alguma outra maneira de provar que eu te amo
Eu juro que eu não sei como
Você nunca saberá se agora ainda não sabe.

Você nunca saberá o quanto eu sinto tua falta
Você nunca saberá o quanto eu me importo
Você disse adeus; no céu as estrelas se recusam a brilhar
Vai por mim: não é divertido estar sozinho
Com luar e memórias,

Não que os nascidos dos anos 90 para cá não estranhem qualquer canção dos idos dos anos 30, 40 e 50. Aliás esta meninada por falta de algo maior na melodia (não nos intérpretes pois eles têm os deles de agora) não deixam de ouvir e se admirar dos Beatles. A velhice dos anos 60 continua sendo o mais revolucionário que conhecem.

Apenas para que sejamos mais informados sobre a carreira desta canção: ela foi gravada entre outros por Frank Sinatra (no seu primeiro disco solo), foi gravada por Barbra Streisand (quando tinha apenas 13 anos e sua primeira gravação), foi gravada por Harry James e Rosemary Clooney, por Shirley Bassey, Dorys Day, Sandi Patty, Jim Reeves, Trini Lopez (já coroão), por Al Hirt (aquele trompetista do filme Candelabro Italiano) e muitas outras pessoas. Inclusive uma surpreendente Ralna English. A versão de Ralna é bem ao estilo e sem contar seus olhos castanhos esverdeados enfeitiçando os acordes com aquele rosto bem talhado. 

You´ll Never Know - Ralna English


Mas voltando a então. Naquele tempo tudo era brega, mas suspeito que era porque pertencia ao nicho popular e ninguém sabia que era um grande sucesso do cinema. Claro que para a geração Rock and Roll, geração Bossa Nova e até mesmo do MPB mais experimental, toda a geração de grandes compositores e intérpretes já estava ultrapassa. Eram novos tempo. Mas aquela divisão de classe, no mesmo velho estilo, era apenas isso: divisão de classe. 

E para finalizar, que tal Waldick Soriano dizendo que gostaria de ser compositor da canção:


Eu vou ter sempre você - Waldick Soriano

Sim. Os Platters fizeram outra canção com o mesmo título, que é totalmente diferente. É fácil achar no youtube.






 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

On the Avenue - quarto capítulo - José do Vale Pinheiro Feitosa

Conte aí. On the Avenue, filme musical de 1937. Os Estados Unidos da América estavam no centro da recessão. Os ricos eram o móvel do sofrimento dos desempregados e, ao mesmo tempo, os especuladores de Wall Street os grandes responsáveis por dramáticas histórias.

Então o que acontece após Mimi Carraway e sua família serem alvos do esquete, especialmente mais agressivo, cuja suposição era responsabilidade de Gary Blake? E considere que tudo isso aconteceu após um idílio amoroso, no banco mais procurado pelos namorados do Central Park. Aquele banco onde se via a lua melhor.

Mimi Carraway arquiteta a vingança e revela a sua intenção, sem dizer como, para a tia. Enquanto isso no escritório do produtor principal do show corre um nervosismo consequente. Os produtores agora sabem que podem ser processados pela família Carraway. Podem perder tudo e este fora o melhor show da produtora. O advogado da produtora chega e aumenta mais ainda a angústia da ameaça iminente.

A porta do escritório se abre e a secretária entra nervosa. Avisa ao chefe que Mimi Carraway está entrando. E ela entra com a energia de quem pode tudo. Ele, mesmo sem que ela pergunte, diz que não os pode processá-los. Ela diz que sim e que pode arrancar até o último centavo. Eles sabem que sim. Começam a falar sobre acordos.

Ela diz que não tem acordo e o que vai fazer é comprar o show. Imediatamente passam à composição do preço, o cheque é assinado, os chefes saem e o restante da produção fica trabalhando para Mimi. Que imediatamente começa a tomar providências.

Manda contratar trezentas pessoas entre o povo, recebendo ingressos para o show. Telefona a todas as colunas de jornais para que cheguem ao show pois haverá novidade. Convoca os Ritz Brothers ao escritório. Toma mais algumas providências subentendidas e parte para a noitada especial. Especial para os produtores pois nenhuma alteração do show foi anunciada aos atores (a não ser aos Ritz Brothers).

O show começa com Mona Merrick (Alice Faye) cantando Slumming on Park Avenue. Prestem atenção ao molho no canto de Mona e à coreografia. Ela toda é uma gozação aos ricos. Especialmente acompanhem a sequência em que Alice Faye dá uns passos de dança todos desengonçados, sem estilo de classe e mais à frente estes mesmos passos se tornam um belíssimo movimento.

Slumning on the Park Avenue - Alice Faye

Vamos lá favelizar, tome-se uma favelização
Vamos favelizar na Park Avenue.

Vamos nos esconder atrás de óculos extravagantes
E fazer caretas quando um membro das altas rodas passar.
Vamos cheirando o caminho onde eles andam
Farejando tudo que eles fazem.

Vamos adiante, eles fazem isso, por que não podemos também?
Vamos favelizar, nariz pedindo carona na Park Avenue

Vamos cheirando onde eles estão habitando
Farejando tudo do jeito que eles fazem

Vamos lá, eles fazem isso, por que não podemos fazê-lo também?
Vamos favelizar, nariz empinado na Park Avenue.

Como aconteceu com todas as músicas de On the Avenue, a Slumming on Park Avenue também foi gravada por muita gente. Em vários ritmos: fox-trott, swing, um tom mais jazzístico.
Escute esta versão em fox-trot com Ray Noble and his Orchestra.

Slumming on Park Avenue - Ray Noble and His Orchestra

Agora uma versão swing:

Slumming on Park Avenue - Charlie and His Orchestra 

E por último esta versão de Pegy Lee e do ator americano Jeff Chandler, uma surpresa ao cantar, sempre fazendo papel de homem durão, como cowboy, militar na segunda guerra, embora tenha feito comédias também.

Slumming on The Park Avenue - Pegy Lee e Jeff Chandler 

Então, retornando ao roteiro do filme musical On the Avenue. Agora entra a primeira maldade de Mimi Carraway com Gary Blake. Assim que Mona Merrick sai do palco, os Ritz Brothers fazem uma versão debochada do Slumming on Park Avenue. Acompanhem.


Slumming on the Park Avenue - Performance Ritz Brothers

O clima de mudança no show está construído. Gary Blake entra numa paisagem parecida com os alpes europeus, com uma linda mulher e canta para ela aquela mesma canção que cantou no Central Park para Mimi Carraway (You´re Laughing at Me e até no título da canção já tem ironia). Gary todo embevecido em seu número quando a atriz começa a demonstrar ares de preocupação.

Quando Gary olha para a plateia, parte substantiva está deixando o teatro (aqueles trezentos contratados por Mimi). O clima vai ficando pesado para a performance de Gary e ele vai se perdendo. O clima vai ficando pesado para a performance de Gary e ele vai se perdendo. A câmara foca Mimi Carraway com seu assistente, acompanhando espetáculo no balcão e o que se vê são olhares tristes e arrependidos. Afinal tudo é encerrado, grosseiramente, com a entrada dos Ritz Brothers fazendo uma tremenda gozação com a música russa Olhos Negros.


You Laughing at Me - Dick Powell e Slumming on The Parke Avenue - Ritz Brothers

No dia seguinte Mimi Carraway se encontra no escritório da produtora quando entra Gary Blake, empurra a cadeira de Mimi, abre a gaveta da mesa do escritório, retira o seu contrato e o rasga. Criou-se, então, a ruptura final do amor entre os dois. Cada um para o seu lado. Nos jornais a grande notícia: Mimi Carraway irá se casar com o explorador.

No restaurante frequentado pelos artistas da Broadway, Mona Merrick, sozinha numa mesa, janta. Nisso olha para a porta e vê um Gary Blake, abatido, perdido sem saber bem o que fazer, mas procurando a companhia de alguém. Descobre Mona e se dirige até a mesa. Chega tentando fazer ares alegre, mas logo em seguida entra em depressão.

Para tentar mostrar o que não está sentido, desperta e pede um champanhe para os dois. Mona fica observando aquela triste cena. Logo que o dono do restaurante se afasta, Gary volta ao seu ar perdido, partido pequenos pedaços de breadsticks que acompanha o couvert. Mona olha aquela tristeza e diz: eu sempre soube que você não era um bom ator. Agora tenho certeza.

No dia seguinte, Mimi Carraway, com ar de enfado e sem vontade de prosseguir se prepara para a cerimônia do seu casamento que será na própria mansão. O noivo, com seu ar esnobe, diz para os amigos que gostaria que a lua de mel fosse no polo norte. Faz tipo para quem o rodeia. Mimi, se deita na cama e pede uma taça de champanhe. Atrapalha quem lhe arruma, mas não liga.

Nisso Mona Merrick invade seu quarto e ambas ficam face a face. Mimi desafia Mona a dizer o que viera fazer ali. Mona diz que fará algo que não gostaria. Revela que a piora do esquete foi tudo armado por ela, sem o conhecimento de Gary. Mimi pergunta a razão disso tudo. Mona responde: o que uma mulher não faz por amor. Mimi, então, angustiada percebe o seu erro. Mona vai embora.

Começa a cerimônia. O explorador entra rodeado pelos amigos e desfila entre os convidados. Em seguida vem Mimi com seu pai ao som da marcha nupcial. O ar de Mimi é de total inconformismo. Olha para os lados e para trás, parece querer fugir. Em seguida, a cena troca para a tia de Mimi, numa sala contígua à de cerimônia, com uma orquestra de Jazz. Dirige os músicos de Jazz e recomenda que toquem bem alto. Então eles tocam abafando a marcha nupcial.

Fica uma perplexidade no salão. O pai de Mimi se descuida e ela foge da cerimônia. Ele vai atrás. A tia abre uma porta e o pai entra. Em seguida ela fecha o irmão por fora e o deixa com os enormes cães de Mimi que os rasgam todo. Quando, finalmente, saí, todo rasgado, Mimi já havia fugido.

Entra no carro para a fuga. Logo em seguida Gary Blake, fantasiado como o pai dela, também senta-se ao lado. Ela pergunta para onde vão. E ele responde: para prefeitura casar-se. Mimi o reconhece e o romance se confirma.

Como é um romance com um tom de crítica. Leve, até mesmo doce e conciliador de classes, o filme termina com todo mundo comemorando o casamento no vagão de trem transformado em restaurante. Mimi e Gary Blake brincando com o dono do restaurante, a tia com seu professor de trapézio, os Ritz Brothers e Mona com o pai de Mimi. É a cena do famoso:


THE END


Célia - O amor de Flaviano Callou!

Fiquei triste  com a partida repentina  da esposa do meu amigo Flaviano Callou. Ele faz parte do grupo de músicos que toca aos domingos, na garagem da Rua Pedro II.
Às vezes pedia-lhe para tocar e cantar a valsa Célia, de Augusto Calheiros, que o meu pai tanto gostava, e são raros os músicos que a conhecem. Claro que ele a conhecia!
Como a maioria das valsas , ela tem um toque de nostalgia. Um sentimento  presente, nestes dias de luto.
Que a música nos salve das dores das perdas e nos faça reencontrar forças  pra , apesar da saudade, voltar a sorrir.
 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

On the Avenue - terceiro capítulo - José do Vale Pinheiro Feitosa

Filme musical On the Avenue, de 1937, com músicas de Irving Berlin. Segundo o enredo do filme em continuação: o ator Gary Blake termina a noite memorável junto à milionária Mimi Carraway diante da mansão da família dela, com os dois cochilando, abraçados, na pequena carruagem nova iorquina. São acordados pelo cocheiro que nesta altura recebe como pagamento o casaco de inverno do ator e a gorjeta de um cachecol elegantíssimo.

Gary e Mimi estão apaixonados. No dia seguinte a sala e a biblioteca da mansão estão cheias de buquês de flores. Cada qual maior que o outro e com cartões apaixonados de Gary Blake. A distância entre os dois é insuportável e eles desejam que o tempo, até o reencontro, seja subtraído. Gary numa exaltação do amor, promete a Mimi que modificará o esquete com a família dela. A direção do teatro não aceitou a exclusão inteira, mas ele não deixará nada que seja ofensivo à dignidade familiar.

Promessa feita. Gary Blake, com mãos à obra, segue modificando o esquete. Onde ele faz isso? Dentro do salão do teatro. Rodeado de atores, produtores, roteiristas, ele se senta à mesa, com uma garrafa de coca-cola do lado, um pacote de batatas, concentrado, modificando o texto. Ao lado, junto ao pianista que a acompanha, Mona Merrick, a atriz que contracena com Gary, que é apaixonada por ele, canta uma canção de amor.

A canção é esta: This Year´s Kisses:

This Year´s Kisses - Alice Faye

Este ano a safra de beijos
Não parece tão doce para mim
Este ano a colheita é de perdas
São beijos de segunda mão.

Este ano um novo romance
Não parece ter uma chance
Mesmo ajudada pela lua cheia no alto
Este ano a safra de beijos não é para mim
Por que eu ainda sou roupa do ano passado.

Esta canção superou, como outras do filme, a sua trilha sonora e foi gravada por um número grande de cantoras e até por Benny Godman que segue abaixo:

This Year´s Kisses - Benny Goodman e Margaret McCrae

E, também, por Billie Holiday, agora num ritmo bem compassado e pronunciando as palavras com muita clareza:

This Year´s Kisses - Billie Holiday

Após terminar a sua canção, Mona Merrick (Alice Faye), se volta para Gary na sua tarefa concentrada de “amenizar” o esquete com a família e a própria Mimi. Mona expressa seu rosto de ciúme ao saber o que Gary faz. Os produtores se queixam que a esquete é o principal sucesso do espetáculo. Gary faz uma argumentação pouco sustentada, um tanto, "é assim que tem de ser".

A família de Mimi, agora com a tia dela de companhia, vem ao espetáculo. De cara Gary que imita o pai da Mimi, já não entra puxando um barquinho de brinquedo como da outra vez. Em seguida seria a entrada do personagem de Mimi, encenado por Mona, não deveria entrar mais com os cães como da noite anterior. Mas aí é que vem a traição e Mona entra com uma vara de porcos descendo o cenário do que seria a escada da mansão.

Mimi indignada. A família toda se retira. A esquete ficou muito mais ofensiva. Vão para o carro. Gary desesperado, surpreso com as “pioras” introduzidas por Mona, ainda tenta chegar à família mas eles já estão saindo e Mimi se recusa a olhar para ele.

Gary é chamado de volta ao espetáculo e então vai ao palco para uma performance com esta belíssima canção “I´ve Got My Love to Keep me Warm”. Olhem só como a canção tem um swing todo especial. Aqui Gary repete os clássicos passos dos anos 20 e 30 na coreografia americana. Olhem Gary cobrando Mona pelo que ela fez. 



A neve está nevando,
O vento está ventando
Mas posso resistir à tempestade!
Que me importa o quanto ela pode esfriar?
Eu tenho o meu amor para me manter aquecido.

Não me lembro de um dezembro pior
Basta ver esses pingentes de gelo!
O que me importam pingentes de gelo?
Eu tenho o meu amor para me manter aquecido.

Retiro meu sobretudo, puxo minhas luvas
Eu não preciso de sobretudo, estou queimando de amor!
Meu coração está pegando fogo, a chama aumenta
Então eu vou resistir à tempestade!
Que me importa o quanto ela pode esfriar?
Eu tenho o meu amor para me manter aquecido.

(Instrumental)

Retiro meu sobretudo, puxo minhas luvas
Eu não preciso de sobretudo, estou queimando de amor!
Meu coração está pegando fogo, a chama aumenta
Então eu vou resistir à tempestade!
Que me importa o quanto ela pode esfriar?
Eu tenho o meu amor para me manter aquecido. 

Como depois, Roberto e Erasmo Carlos vão lembrar de se aquecer, só que mandando o resto para o inferno.

Got My Love To Keep me Warm, fez um grande sucesso e muita gente pelo mundo a gravou. Desde Frank Sinatra, passando por Dean Martin, passando por Rosemary Clooney, Kay Starr, Billie Holiday, Ella Fitzgerald e chegando ao roqueiro inglês Rod Stewart.

Vamos escolher esta versão de Les Brown and his Orchestar, com um arranjo dançante, aquela coisa do ritmo da dança que tantos se criaram, como Charleston e tantos outros. Este é o grande ritmo do período entre a grande guerra e o imediato pós. 

I´ve Got My Love to Keep me Warm - Les Browm and His Orchetar.

Esta versão de Ella Fitzgerald que tem um arranjo clássico do jazz das grandes orquestras.

I´ve Got My Love to Keep me Warm - Ella Fitzgerald


E mais esta de Kay Starr - noutro ritmo, noutro molho do jazz, com a cantora brincando com as frases musicais. Quase improvisando como os instrumentos no jazz. 


Não perca. Aqui nesta tela. Amanhã. O último capítulo de On the Avenue. 

Canções de amor

Canção do Nosso Amor

Ah! toda canção de amor
Me faz lembrar o nosso amor
Nosso amor
Toda vez uma canção me faz lembrar
Toda vez uma canção me lembra de você
Me lembra dos seus olhos
Lindos como a luz
Brilhantes como estrelas
Alegres de felicidade
Olha, meu amor, eu só me lembro de você
De você
Ah! toda canção de amor
Me faz lembrar o nosso amor
Nosso amor
Nosso amor que já merece uma canção
Nosso amor que eu prometi
Um dia lhe daria
Com letra dessa vida
Fazer a melodia
A linda melodia
Canção do nosso amor










Eu sou sensível às canções de amor

A beleza de expressão é sorvida como um elixir de vida

A frase mais ansiada é sem dúvidas ...Eu te amo!

Isso provoca um sorriso que parece riso

Porque é bom demais pra ser verdade

Só pode ser ilusão

Ou fruto da imaginação

Os sentimentos nascem de um olhar ou de um nada

Quando não se desgastam

Permanecem inalterados como o azul do céu

Quando as nuvens estão afastadas
]socorro moreira



sábado, 31 de janeiro de 2015

On The Avenue - segundo capítulo - José do Vale Pinheiro Feitosa

On the Avenue, filme musical de 1937. A clássica forma do folhetim popular que tão rapidamente cola na autoimagem das pessoas. Especialmente aquelas que nasceram do século dezenove em diante. Com a ideia de que é possível a ascensão social. Um pobre charmoso, geralmente homem, que se torna atração romântica irresistível de uma “pobre menina rica”. A herdeira milionária, a decência orgulhosa do jovem pobretão e temos a fusão “ética” entre trabalho e capital. O amor, nesta ficção, seria o intermediário entre tudo. Capaz de apagar as diferenças de classe.

Na verdade, para apimentar a narrativa, constrói-se o clássico triângulo amoroso envolvendo o jovem e promissor ator (Gary Blake, interpretado por Dick Powell) com a garota mais rica do mundo (Mimi Carraway, interpretada pro Madeleine Carrol) e a companheira de show de Gary Blake (Mona Merrick, interpretado por Alice Faye).

Gary Blake é incensado por toda a imprensa com tendo construído a peça musical ápice de sua carreira. Acontece que na peça, formada por vários esquetes, tem um deles que é uma sátira à família de Mimi Carraway, milionários que vivem na Park Avenue em Nova York.

Na estreia do espetáculo a família vai assisti-lo. Diante da gozação com os exageros de riqueza da família, o pai, a filha (Mimi) e mais o seu noivo, um “explorador” de locais inacessíveis que vivia desta fama, resolvem abandonar o teatro, indignados, com as cenas.

Mimi Carraway termina indo até os camarins e abre o verbo de indignação com Gary Blake que se defende dizendo que ela é uma figura pública e que tudo que faz sai nos jornais. Ela termina por se irritar e dá duas tapas na cara do ator. Ele a expulsa do camarim dizendo que era a pessoa mais sem esportiva do planeta.

Esta frase é fatal. Naquela altura, milionários americanos, tinham que ser modernos e ter abertura para o mundo em transformação. Não ter esportiva era um horror. Além do mais o advogado da família diz que era impossível processar o show pelas piadas com ela. Mimi Carraway termina por se convencer que tem de demonstrar a Gary Blake que tem esportiva ao contrário do que ele diz.

Logo após a discussão com Mimi Carraway, Gary Blake volta ao palco e canta esta belíssima canção de Irving Berlin, intitulada “The Girl on the Police Gazette. Preste atenção para o desenvolvimento do arranjo e o coro que o acompanha na barbearia. É um típico arranjo daquela época, com a polifonia e baixos em resposta. O grupo que acompanha Dick Powell nesta canção era conhecido como Barbershop quartet.  

The Girl on the Police Gazette - Dick Powell

Alguns companheiros vêm suas garotas amadas em um sonho
Alguns companheiros vêm suas garotas amadas em um córrego ondulante
Eu vi a garota que não posso esquecer
Na capa da police gazette
Se eu pudesse encontrá-la, a vida teria pêssegos com creme

Oh, minha busca da garota na police gazette nunca cessará
Por causa desta linda jovem morena
Enfeitando a police gazette.

E, acima do meu manto há uma página do police gazette.
Com a bela jovem morena
Enfeitando a police gazette.

Eu a amo e vou parar
Na minha barbearia favorita
Só para ter um outro olhar
Da garota que eu ainda não conheci
(Coro):
E meu desejo vai aumentar com a garota da police gazette
Por causa da linda jovem morena
Enfeitando a police gazette.

Por causa da linda jovem morena
Enfeitando a police gazette.
(coro feminino) E, acima do meu manto há uma página da police gazette.
Com a bela jovem morena
Enfeitando a police gazette.

Eu a amo e vou parar
Na minha barbearia favorita
Só para ter um outro olhar
Da garota que eu ainda não conheci

Eis a bela jovem morena
Enfeitando a police gazette.

Deus.
Oh! És Linda.
O que gostaria?
Eu gostaria de uma foto sua?
Certo!
Obrigado.
Obrigado!
Jesus! Teria outra com calça e meia?
(E recebe um tapa na cara).

E, acima do meu manto há uma página da police gazette.
Com a bela jovem morena
Enfeitando a police gazette.

Então encontramos Gary Blake cercado de amigos se arrumando no camarim quando entra um estafeta dizendo que a jovem Mimi Carraway o convida para jantar. Ele responde: por que não? E, então, veste-se no melhor estilo, com jaquetão e cartola, e sai para o encontro. Na saída encontra-se com Mona Merrick que o convidaria para jantar. Ele todo satisfeito, entra na limusine de Mimi Carraway e Mona, com ar amargurado, os observa saírem.

Mimi Carraway e Gary Blake têm uma noite e tanto. Dançam em salões nobres. Vão ao parque de diversões e ele se surpreende com uma garota que acerta muito bem no tiro ao alvo. Passam por um daqueles restaurantes montados num vagão de trem. Já não têm mais dinheiro e pagam dois cafés e alguns sonhos com a cartola de Gary. Finalmente continuam de carruagem e chegam ao Central Park.

Ali descem da carruagem e dançam ao som do rádio da carruagem. Em seguida sentar-se num determinado banco, segundo o cocheiro, o preferido pelos namorados por ter a melhor visão da lua. Neste momento Gary Blake olha apaixonado para Mimi Carraway e começa a cantar uma linda canção.

Escutem You´re Laughing at Me.

You´re Laughing at Me. - Dick Powell

Eu te amo, como é fácil de ver
Mas eu tenho que disfarçar e adivinhar
Como você se sente sobre mim

Você escuta as palavras que pronuncio
Mas eu sinto que você me escuta
Com a face de iludir,
Você está rindo de mim.

Eu não posso ser sentimental
Por que você está rindo de mim eu sei
Eu quero ser romântico, mas não tenho uma chance
Você tem um senso de humor
E o humor é a morte para o romance

Você está rindo de mim
Por que você acha que é engraçado
Quando eu digo que eu te amo tanto?

Você tem me atormentado e tenho tudo no mar
Por enquanto eu vou chorar por você
Você está rindo de mim

Você tem me atormentado e tenho tudo no mar
Por enquanto eu vou chorar por você
Você está rindo de mim

Rindo de mim, rindo de mim

 Agora escutem a mesma música "You´re Laughing at me" com os Fats Waller.




E agora com Ella Fitzgerald, numa ótima gravação. 


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Foto de Evandro Peixoto


Adoramos o show de Wagner Tiso e Tunai!

socorro,fabiana e rosângelalegenda
Foto de Evandro Peixoto

Plas ruas da cidade- uma música de Paulo Cesar Pinheiro






2015- reflexão nr 5

 

Algo morreu dentro de mim. Algo começou a acontecer, e eu ainda não sei lidar com esta nova página.

Não dá para brincar com a vida. Ela é um jogo e o jogador. Somos a bola.

Confio na capacidade humana de se adaptar a novas realidades. O otimismo ou inocência traz qualquer sentimento de alegria, ou desafio.... Vamos voltar a brincar de ser feliz, sem muitas ilusões, e mais consciência.

As perdas diárias sangram como picadas de insetos. Algumas se transformam em chaga, mas a cicatrização é decidida pelo tempo, e o tempo é nosso aliado.

Estou tocando a vida...Quem me dera saber tocar violão!
 
socorro moreira



 


O SESC Crato apresentou na noite de ontem Wagner Tiso e Tunai.Parecia um sonho...Acho que foi mentira!



Musicais da Broadway - José do Vale Pinheiro Feitosa

"Nada vem do nada." Um processo de acumulação é o que é a cultura. O desenvolvimento da música por séculos, especialmente na Europa. Daí evoluiu o canto. Que juntando orquestra e voz e coro se fez ópera. Que se derivou para o  Folies Bergère, Vaudeville e chegou aos musicais.

Que tem suas fases. As fases da história, dos momentos sociais e econômicos, que se traduz em cultura e comportamentos. Por convenção se diz que os musicais tiveram sua fase de ouro. É verdade. Quando o gênero explora ao máximo seus componentes: história, composição, voz, orquestração, coreografia e cenários no palco.

A época de ouro dos musicais aconteceu entre os anos 30 e final dos 40. E um dos filmes clássicos de musicais foi On the Avenue. De 1937. Direção de Roy del Ruth (dirigiu mais 40 filmes, a maioria musicais e de personagens populares do EUA), com Dick Powell, Madeleine Carroll e Alice Faye (participou em muitos musicais, inclusive com Carmem Miranda de quem foi amiga).

Agora a composição das canções de On the Avenue é do grande Irving Berlin. Nascido na Sibéria, fez carreira musical nos EUA. Tinha um talento especial para a música, embora nunca tenha aprendido a ler partitura. Compôs mais de três mil canções. Era um dos únicos a compor música e letra. Compôs 17 trilhas sonoras para filmes e 21 trilhas para musicais da Broadway.

A lista de composições conhecidas de Irving Berlin é imensa de modo que para dar significado a quem ele era musicalmente, citamos a conhecidíssima Cheek to Cheek. Mas vamos ficar com as músicas de Irving Berlin para o filme On the Avenue.

Escutem só esta abertura. É a clássica abertura da ópera, quando todas melodias eram tocadas pela orquestra da performance. Assim foi em On the Avenue que trata de um clássico romance entre rico e pobre (melhor dizendo entre rico e classe média). Um namoro entre a Broadway e famosa Park Avenue dos milionários, onde fica, por exemplo, o famoso hotel Waldorf Astoria.

On the avenue - abertura

Agora a primeira música do musical: He Ain´t Got Rhythm, cantada por Alice Faye e performance dos Ritz Brothers (grupo de comediantes filhos de judeus austríacos que fez performances em musicais e filmes). Observem o quanto Alice Faye tem um swing especial enquanto canta e dança e especialmente observem a performance dos Ritz Brothers, especialmente no final dele. Tem um momento que a coreografia consegue um efeito fantástico: as mulheres dançam de cócoras e os três irmãos bem esticados, causando neles um efeito elástico  genial.

He Ain´t Got Rhythm

Agora uma tradução rápida da letra uma vez que não há legenda para as melodias no filme. 


O que você está estudando?
[1ª Co-Ed:]
psicologia
[Alice Faye:]
E você, querida?
[2 Co-Ed:]
filosofia
[Alice Faye:]
Bem, não leve isso muito a sério, porque
Eu sei que um professor de grande renome
[Co-Eds:]
Sim?
[Alice Faye:]
E ele é o homem mais solitário na cidade
[Co-Eds:]
Realmente?
[Alice Faye:]
Ele é tão inteligente quanto um homem pode ser
Mas ele nunca tem companhia;
[Co-Eds:]
Por que ele é o homem mais solitário na cidade? Hein?
[Alice Faye:]
Ele não tem ritmo.
[Co-Eds:]
Oh!
[Alice Faye:]
Toda noite, ele se senta na casa sozinho
Porque ele não tem ritmo
[Co-Eds:]
Muito ruim!
[Alice Faye:]
Toda noite ele fica lá e usa uma carranca
Ele atraiu alguma atenção
Quando encontrou a quarta dimensão
Mas ele não tem ritmo, por isso que ninguém com ele se importa
[Todas]: O homem mais solitário na cidade
[Alice Faye:]
Um homem todo voltado para si
Curvando-se em seus livros
[Co-Eds:]
Ele faria!
[Alice Faye:]
Sua esposa e família
[Todas]: Dando-lhe olhares de reprovação
[Alice Faye:]
Porque ele não liga
Quando os chamam, é chamá-lo no vazio
No mês de janeiro
Ele compilou um dicionário
Mas ele não tem ritmo, e ninguém com ele se importa
O homem mais solitário na cidade
[Todas]: Ele é solitário, ele é solitário
E ele é todo voltado para si
O homem mais solitário na cidade
[O Professor:]
Eu sei de todos os planetas no céu
Eu os medi inteiramente a olho nu
Eu vi tudo em Marte
Eu sei tudo sobre estrelas cadentes
Mas ainda assim eu sou um cara muito infeliz
Eu me pergunto por quê?
[Professores:]
Você não tem ritmo!
[O Professor:]
Sou capaz de ler as folhas de chá no meu copo
[Professores:]
Mas você não tem ritmo!
[O Professor:]
E descobri exatamente quão alto é até
[Professores:]
Mas você não tem ritmo!
[O Professor:]
Eu descobri, uma vez enquanto sóbrio,
Para onde as moscas voam em Outubro
Por causa desta descoberta sobre as moscas
Eu tenho o prêmio Nobel
[Professores:]
Mas você não pode fazer o Charleston
E você não sabe como fazer o Bottom Blasck, o novo ritmo
[O Professor:]
Céu, eu vejo o céu
Através do meu telescópio, enquanto admiro o pico mais alto do Mount Wilson
Vou explicar tudo em latim ou em grego
[Professores:]
Mas você não está tão quente ao dançar de rosto colado
[O Professor:]
Eu já dominava relatividade
[Professores:]
Mas quando tem festa
[O Professor:]
Eles nunca vão pensar em me perguntar
[Co-Eds:]
Você não quer saber por quê?
[Professores:]
Porque você não sabe como fazer a rumba
Essa é a razão pela qual você é um cara solitário
[O Professor:]
Ah, o amor!
Venus é linda esta noite e por isso é Jupiter
[Professores:]
Skipping de Júpiter de planeta para planeta
[O Professor:]
Jumping Jupiter!
[Professores e Co-Eds:]
Mas você não poderia ser mais estúpido
"Ritmo Porque você não tem
[O Professor:]
Por que, eu descobri ar líquido
[Professores:]
Mas você não tem ritmo
[O Professor:]
E eu tenho uma cura para a queda de cabelo
[Professores:]
Mas você não pode ficar quente
[O Professor:]
O Quê?
[Professores e Co-Eds:]
Não, você não pode ficar quente
[O Professor:]
O Quê?
Eu sou um cientista a ponta dos meus dedos
[Professores:]
Mas você não pode fazer nada com os quadris
[Co-Eds:]
E essa é a coisa que perde
[O Professor:]
Você quer dizer isso?
[Professores e Co-Eds:]
Sim! Ele tem isso! Ele tem isso!
Ele tem isso! Ele tem isso!

O homem tem ritmo!

Só para acompanhar esta música fora do musical:



E mais esta 


"HONORÁVEIS LADRÕES" - José Nilton Mariano Saraiva

A priori, há que se entender, independentemente da grita dos radicais e sectários de plantão, que ninguém pode governar sozinho, ninguém tem a capacidade de gerir uma média ou mega-estrutura sem que delegue poderes (os manuais de Administração ensinam isso), ninguém pode deixar de acreditar e confiar que as pessoas que lhe são indicadas são honestas, e mais, que estão imbuídas dos mesmos propósitos de seriedade no trato da coisa pública.

Deus e o Diabo, tendo por testemunha o povo brasileiro, sabem que os principais atores desse monumental esquema criminoso que tomou de assalto a Petrobras são muitos dos “políticos-mafiosos” com assento no Congresso Nacional, com os quais o Presidente da República, de boa fé, teve que aliar-se a fim de exercer a tal “governabilidade”. 

Assim, se gente desonesta foi posta em postos-chave da Petrobras, por “políticos-mafiosos”, com o específico fim de “meter a mão” (sem que o Presidente da República soubesse, evidentemente), agora que o esquema foi descoberto cabe a Justiça ir à caça desses marginais, denunciá-los à sociedade, exigir que paguem pela pilantragem efetuada.

 E aí, uma instituição em galopante, acentuado e corrosivo processo de perda de credibilidade, por conta de um sem número de decisões questionáveis – o Supremo Tribunal Federal - terá a ímpar e grande chance de redimir-se, de mostrar que os tempos são outros.

É que, como esses “políticos-mafiosos” são protegidos pelo tal “foro privilegiado” que lhes privilegia serem julgados pelos ministros-desembargadores do Supremo Tribunal Federal, a expectativa reinante é de que Suas Excelências resolvam atender aos anseios da sociedade,  disponibilizando os nomes  e crimes perpetrados por todos aqueles envolvidos no esquema monstruoso que abalou a nação.

É uma oportunidade única de “carimbar” como ladrões do erário todos aqueles que resolveram fazer da política uma atividade-bandida, porquanto abrirá espaço para que sejam obrigados a devolver tudo o que foi surrupiado  durante anos, além de enjaulá-los e bani-los da vida pública, ad eternum.

A promessa, feita lá atrás, foi de que em Fevereiro de 2015 começaria o julgamento dessa cambada de “políticos-mafiosos”. E, embora os mortais-comuns imaginem suas identidades, nada como a imprescindível “chancela” do Supremo Tribunal Federal para confirmar a lista dos “honoráveis ladrões”. 

Até porque, na perspectiva de se deixar envolver por abomináveis acordos e conveniências outras, livrando a cara dos mafiosos, estará o Supremo Tribunal Federal cavando a própria sepultura e firmando o respectivo  atestado de óbito.
 
Portanto, tá chegando a hora. Que os membros do  Supremo Tribunal Federal não nos decepcionem e tratem de honrar a magistratura.