por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 10 de março de 2012

O Príncipe Harry vai à Lapa? - José do Vale Pinheiro Feitosa

Você já foi à Lapa? A velha Lapa Boêmia virou um daqueles bares de Guerra nas Estrelas: cheio de espécimes completamente diferentes. Nas noites de sexta e sábado longos trechos do bairro são fechados para carros e as tribos se multiplicam. Não precisa nem tomar todas, fumar um baseado ou outro estímulo qualquer: o barato corre solto em cada trecho das suas ruas.

Não precisa nem gastar uma grana em algum bar da moda, que, aliás, não se sabe mais qual é: são tantos, um atrás do outro, todos cheios. Basta circular pelas ruas, a Mem de Sá, sob os Arcos, dar uma volta pela Lavradio até o trecho do Rio Scenarium e seu bares musicais, pegar a Gomes Freire e encontrar alguns templo do velho samba, subir pela Riachuelo e as redondezas incluindo a rua do Resende, a esquina do Bar da Quengas ou pegar bares avulsos.

Se você tomar a Joaquim Silva vai ficar tonto do quanto a moçada mais jovem se multiplica em sons e estilos. Agora compreendi o frisson dos paredões do Ceará com tantas coisas diferentes, embora estronde aquele forró eletrônico repetitivo. Cada bar um estilo, os vendedores nas calçadas com seus “paredinhos”, a vender coisas lícitas estranhas e correndo por baixo um amplo e generalizado “ilícito”. É espetacular: tribos do mundo todo, uma mistura de línguas e aqueles tipos vestidos nalgum lugar dos passados anos 60 e 70 e mais outras coisas adaptadas para os tempos atuais.

A Joaquim Silva é a síntese do mundo e o Rio de Janeiro, sem que pudéssemos perceber, foi se transformando nisso. O próprio crescimento econômico, com a forte cultura nacional brasileira, faz do Rio novamente a cena das tribos mundiais. Em Nova York, Paris, Roma, São Francisco e nem em São Paulo se encontrará um bairro inteiro como este do momento na Lapa. Juro a vocês que tive a sensação da Piazza di Spagna em Roma ao chegar no pico das 23 horas à escadaria de Selarón. O povo fica sentado nos batentes da escadaria até bem mais alto do que fica na Piazza di Spagna. E vai dos estilos largados às mães com seus filhos pequenos.

Aí o Morrisey (Steven Patrick Morrisey, ex-The Smiths), que estava cantando ontem na Fundição Progresso alertou os brasileiros para a chegada do Príncipe Harry: “Como vocês sabem o Príncipe Harry está na cidade. Ele veio pegar o dinheiro de vocês. Por favor, não o dêem para ele.” Na rua uma mocinha perguntou ao amigo como era o nome todo do netinho da vovó: ele é o Henrique de Gales e foi registrado como Henry Charles Albert David.

Babaca. Alguém tombando numa esquina falava no príncipe: todo limpinho, com pose de faz de conta que dança o Reggae. Foi tomar umas num bar da Vieira Souto, a imprensa chegou e o afetadinho com cara de não gostei se refugiou no bar. O bar vai ganhar uma nota com o mito mesmo ausente daqui por diante.

Aí o Jornal Nacional, por uma “coincidência” impressionante- esta Globo é incrível na manipulação de corações e mentes – faz uma “entrevista exclusiva” com David Cameron para dizer o quê aos brasileiros? A Libra está protegida do Euro; temos interesses no Brasil e as Malvinas são da Inglaterra. Aí o helicóptero das organizações gastará toda a gasolina do mundo para acompanhar o carrinho lindinho do principezinho a vender a velha Albion como um outdoor ambulante. Quem sabe ele não vai, igual ao pai, tremer as pernas diante de uma passista de Escola de Samba?

Se for à Lapa, eu gostaria que o Morrisey estivesse de passagem por lá.

2 comentários:

socorro moreira disse...

A verdade é nua e crua!
Parabéns!
Mas eu tô pensando na Lapa Boêmia...

Ângela Lôbo disse...

Excelente texto!