por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

BBB em Matozinho


Ciço de Quinô , dono da “Amplificadora Titela de Siriema” , em Matozinho, voltou da capital com a novidade. Tinha ido resolver algumas pendências e comprar alto-falantes novos para uma ampliação da rede da “Titela” e tinha assistido, por lá, a alguns programas de televisão , em busca de novas tendências no mercado de comunicações. Pois bem, chegou ansioso para lançar a novidade, temendo que algum forasteiro se antecipasse. Na volta, ainda na sopa de Duzentos, veio toda viagem matutando, pensando em como adaptar a sensação do momento, nas ainda precárias condições de mídia de Matozinho. E nem espalhou muito a conversa, com medo da concorrência. Podia dar bode! Pois bem, caro leitor, como os fatos aqui narrados aconteceram em tempo pretérito, Ciço, com certeza, não se sentirá prejudicado que aqui os contemos. Pois vamos lá ! O certo é que, na Capital, ele assistira ao BBB e ficara impressionado. Um magote de homem e mulher trancafiado numa casa, fazendo a maior putaria e o povo todo brechando? Onde já se viu isso, meu senhor ? E logo ele, que fora viciado em espiar as meninas tomando banho no Açude do Calango! Até que um pai mais vigilante acabara por tirar-lhe aquela mania feia , sob força de cipó de mufumbo no lombo ! E a gora tudo era permitido? Aquilo só podia dar dinheiro e audiência !
Chegado na Vila, encetou os preparativos para empreitada. Primeiro resolveu trocar o nome do Programa. Quem diabos lá sabia o que era bigue broda ? Depois de muito pensar, trocou por BBM : “Boa Brecha em Matozinho”. A outra grande questão disse respeito à escolha da casa. Ainda andou sondando pelas ruas principais da cidade, mas quando explicava a que se devia endereçar, todo mundo roía a corda. Aquela esculhambação terminaria por trazer problemas com o Padre Arcelino e a beataria da cidade: o pároco era mais ortodoxo que embalagem de sabonete Life Boy. Queimados os imóveis mais centrais, De Quinô viu-se diante da única possibilidade de manter de pé o negócio --- sem nenhum trocadilho--- na Rua do Caneco Amassado: a zona de baixo meretrício de Matozinho. Procurou uma Boate já em decadência -- a um dia famosa “ Paraíso do Prazer” ---e negociou com a cafetina local : D. Teodulina. Conversa vai, conversa vem e terminou-se acertando um aluguel em conta, por um mês. A partir daí, Ciço começou a procurar o financiamento imprescindível para o empreendimento, coisa complicada numa cidade pequena como aquela. O certo é que alguns comerciantes locais contribuíram sorrateiramente e o prefeito Sinderval Bandeira que tinha uma gambiarra nas redondezas, soltou verba, por baixo do pano, contando com a cumplicidade e o silêncio do boquirroto e midiático Ciço. Procedeu-se, então , às últimas providências: pintura da casa com cal, aposição de vários canos de PVC ao redor das inúmeras dependências para facilitar o brechamento oficial e pago por quem assim o interessasse. O preço da espiada variava dependendo da localização do cano : os da sala e do corredor eram mais baratos, os dos quartos bem mais caros e os dos banheiros, vip´s , eram caríssimos comparando-se com o PIB da Vila. “De Quinô” instalou ainda uma extensão da Amplificadora defronte à casa, com o fito de divulgar os acontecimentos indoor aos quatro cantos da vila. A partir daí começou a divulgação do evento e as regras. Seriam escolhidos três homens e três mulheres que ficariam enclausurados na Casa por um mês, teriam comida e bebida farta. A cada semana os brechadores votariam escolhendo a saída de um e , na última semana, apenas um seria escolhido para sair da casa entre os dois restantes. O vencedor tinha vultoso prêmio garantido : Dois meses de cana e tira-gosto grátis no Bar de Godô, dois meses de PF´s grátis no Café de D. Rirri , um ano de trânsito free na “Paraíso do Prazer” e ainda uma imagem do “ Menino de Jesus de Praga”.
O passo último foi a escolha dos convidados ao confinamento. Escreveram-se muitos desocupados e muitas quengas juramentadas, de maneira que deu um certo trabalho a escolha. Terminaram escolhidos : Jojó Fubuia, o pau-d´água da Vila, que se animou com a possibilidade de cana grátis; Judite Batata em Areia, uma das mais folotes mulheres dama de Matozinho; “Tião Terra de Cemitério” , um tarado contumaz de Bertioga; Juju Tira-Tira , tradicional dançarina do “Riso da Noite”; Zazá Assovio de Soim , um sujeitinho afeminado e que trabalhava na Rua do Caneco Amassado, como uma espécie de office-boy de rapariga; e, finalmente, Zuleika 44, a mais tradicional mulher-homem da redondeza, uma verdadeira máquina de triturar casamentos.
No dia da inauguração da Casa, foi feriado em Matozinho , com direito a discurso do Prefeito e presidente da Câmara. A Banda Cabaçal tocou como se fosse Festa da Padroeira Santa Genoveva. Confinados os participantes, Ciço manteve a platéia acesa durante os primeiros dias , com a “Titela de Siriema” berrando no meio da rua sem parar. A venda de ingressos angariou total sucesso. Passada a primeira semana, no entanto, em meio à clausura e à brecharia generalizada, começaram a aparecer os primeiros problemas. Jojó Fubuia sofreu uma surra homérica, quando tentou assediar Zuleika44, abrindo-se grande controvérsia se teria conseguido um intento até então inédito na Vila, apesar da pisa. Tião Terra de Cemitério apaixonou-se desesperadamente por Zazá Assovio de Soim que resistiu às investidas do garanhão com unhas e dentes, sabe-se lá como. Zazá protagonizou o mais grave crime cometido na Casa, quando, à noite, sob a sombra bruxuleante da lamparina diz-se que se aproveitou de Judite Batata em Areia , que ,de pileque , aparentemente desmaiara e , ciente que embriagadas essas coisas não têm dono, apropriou-se das terras devolutas de Judite. Zazá terminou expulso após a denúncia posterior de Batata em Areia que entrou com um processo de estupro e desfloramento contra Assovio de Soim. Tendo sido esse o primeiro caso jurídico de estupro e meximento de quenga já registrado no Fórum de Matozinho. Juju Tira-Tira comportou-se como pode, embora haja denúncias que madrugadinha, tinha umas escapadelas para a Amplificadora de Ciço, onde aparentemente amplificava também alguns atributos anatômicos do nosso midiático guru. Terminou eleita vencedora do primeiro BBM da vila pelos brechadores , possivelmente por conta da sua capacidade inédita de mostrar-se que , inclusive, já estava bem visível no seu sobrenome.
Ciço de Quinô encheu as burras de dinheiro , anda mais serelepe que caçote em dia de chuva. Já anunciou, com estardalhaço, o BBM 2. O velho Sinfrônio Arnaud já anunciou, publicamente, que não participará e o fez com justificativa bastante cabível:
--- Meus filhos, vou nada ! Eu num tenho virilha pra fuxico , não ! E quem tem cu tem medo !

J. Flávio Vieira