por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Boas Festas de Assis Valente - José do Vale Pinheiro Feitosa


Existe algo mais esperançoso do que uma festa que comemora o nascimento? Provavelmente existam de mais alegria, mais explosão de sentimentos. Mas a festa do nascimento é a festa da permanência, da renovação, do futuro.

De qualquer modo é uma festa para cima. Não sei por qual motivo festas para cima, e por isso mesmo têm músicas específicas delas, costumam trazer certo clima imerso no geral de uma nostalgia até mesmo de certa tristeza.

Existem marcinhas de carnaval que são verdadeiro adeus, mais comemoram a quarta feira de cinzas do que a evolução momesca. Um dos aspectos mais incidentes nestas marcinhas era a fugacidade do encontro, aquele amor de dia de carnaval e que depois sumia no ruído da galeria.

As músicas de Natal, além de comemorativas, são inerentemente melancólicas. Evocam passado remoto, um mundo que já não existe mais. Mesmo que o objeto revele em os presentes, há um bucolismo de desamparo, naqueles telhados cobertos de neve e a chaminé isolada na noite fria, a pulsar a fumaça da solidão humana.

De todas as músicas de natal a que mais me toca em nostalgia é a Boas Festas de Assis Valente. E isso foi um sentimento que nasceu da música mesmo, nada teve com a história do fim trágico desse grande compositor de Senhor do Bonfim na Bahia.

Boas Festas, cantado na voz de Carlos Galhardo, mas o Orlando Silva a gravou, além de inúmeros outros cantores, inclusive uma bela e moderna interpretação de Maria Bethânia. Na voz de Carlos Gargalho a música se espalhava pelas rádios do Crato nos desvãos da minha querida Batateira.

Longe da cidade, mas perto da vida. A música tem um peso do irrealizado, da impossível felicidade que não veio pelas mãos de Papai Noel.

Depois quando num momento especial da família, Maria Gisélia Pinheiro Feitosa já não andava pela calçada da frente da casa, esta música virou uma dor maior que sua nostalgia.

Mas não resta dúvida que a tristeza já estava nesta canção antes mesmo deste vazio de mãe.

Nenhum comentário: