por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 25 de outubro de 2011

um duende apaixonado

Os teus sonhos são meus
pois todas as noites
sou eu que rego
desde cedinho
teu dia

fico à cabeceira
cantando aos teus ouvidos
entrançando meus dedos
aos teus cachos

e ao teu limiar suspiro
conheço o princípio
da felicidade

pois sou eu quem cuida
desde nosso primeiro encontro
das coisas simples da tua vida -

trocar lâmpadas,
descer a escada com o lixo
e aos sábados comprar pão.

O que seria de mim
sem a tua presença
decerto um louco

um mendigo
um falastrão

mas graças ao meu bom pai e meu deus
tu existes todos os dias de manhã
quando dou mais vida
às tuas plantinhas

até planto outras flores [escondido]
e te faço aquela surpresa
logo que o perfume
chega ao teu nariz.

O que seria da tua varanda
sem o dom das minhas mãos.

Então nunca esqueças
que os teus sonhos
são meus

desde quando teu paizinho e tua mainha
brincavam na primavera e te concebiam.

Não aceito distância.
Não aceito morte.

Jamais aceitarei viver sozinho
e dormir tarde distante do teu corpo.

O teu corpo é meu
e tu sabes que sou capaz
de enfrentar todos os brutamontes
do ufc e todas as gangues de skinhead.

O que seria de mim sem as tuas unhas e o teu esmalte
certamente um eremita de olhos vermelhos e distraído.

Então já sabes,
não fujas dos meus versos
pois cada sílada que acorda

gosta e adora
quando estás por perto
rindo ou caladinha

mas bem perto
onde possam meus cílios
tocar tua alma e fazer cócegas.

Não aceito outro encanto.
Não aceito outra vida.

Se um dia partires
parto em seguida
meu coração
em mil
tiras.

Junto tudo na mesa
e deixo para que vejam.

Para que vejam
como brilha
meu amor

ou minha
loucura.

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Outro dia alguém num blog da região comentou sobre uma certa autoreferência no artista. Algo narcísico sem entendi bem o comentário. Não concordei com a opinião, embora não tenha manifestado a discordância. Os poemas desta safra do Sávio tem sido uma constante fala do seu ego, da sua individualidade e não tem uma essência narcísica como bem demonstra este poema. Quem se compreende no outro não se mira no espelho, examina o contrário de si e a este contrário serve.

socorro moreira disse...

Poema de Sávio é sempre esperado, e sempre surpreende !
Abs, poeta !