por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Patrício Teixeira e Paulo Roberto - por Norma Hauer



Um nome que ficou esquecido, mas que fez muito por nossa música, principalmente por modinhas e sambas.
Como não falei nele em sua data natalícia, venho lembrá-lo no dia em que se completam 37 anos de seu falecimento, ocorrido em 9 de outubro de 1972.

Foi pouco antes de sua morte que o conheci, no Programa Sala de Visita, que o radialista Raul Maramaldo apresentava na Rádio Rio de Janeiro. Ele estava esquecido até de seus fãs, quando compareceu naquele programa, relembrando parte de sua vida artística.
Começou a gravar em 1926, cantando, de Freire Júnior a modinha “Tudo por Um Beijo” e de Catullo, a canção “Magnólia”.e a embolada “Bambo Bambu”.

No ano seguinte gravou a modinha “Casinha Pequenina” que foi buscar no “fundo do baú” trazendo ao nosso conhecimento, essa música tão bonita. Depois de Patrício Teixeira essa modinha passou a ser “badalada” por vários cantores.
Nem Paulo Tapajós nem Almirante conseguiram encontrar o nome do autor de “Casinha Pequenina”, considerada de “domínio público”.
Dentre os discos da discoteca de meu pai, que conheci bem criança, destacava-se “Casinha Pequenina”, que meu pai apreciava muito e sempre colocava o velho 78 rotações, na velha vitrola “de corda” que havia em nossa casa. Assim, fui tomando conhecimento de nossa música popular.
Em 1928 gravou seu primeiro samba, “Pé de Mulher”, com Pixinguinha e os “Oito Batutas”.
Em 1933, Patrício Teixeira gravou com Carmen Miranda “Perdi Minha Mascote”.
Em 1937 dois grandes sucessos:”Sabiá Laranjeira” e “Não Tenho Lágrimas”. Este samba correu mundo,sendo gravado por Nat “King” Cole”.
Outros sucessos foram “Gavião Calçudo”, de Pixinguinha e “Desengano”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira.
Foi tão importante sua passagem pela Rádio Mayrink Veiga que Lamartine Babo, em seu cateretê “As Cinco Estações” (uma referência às emissoras de rádio da época) na estrofe sobre a Mayrink, cantou:
“Sou a Mayrink popular e conhecida
Toda gente fica louca, sou querida até no hospício
.E quando chega a sexta-feira em Dona Clara,
Sai até tapa na cara,
Só por causa do Patrício.”...

Dois sambas que fizeram grande sucesso, da autoria de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira foram: ”Porteiro, Suba e Veja” e a resposta “O Porteiro Subiu”.

Muito se poderia falar da importância de Patrício Teixeira em nossa radiofonia , mas fica este lembrete para que fique bem marcada essa importância.
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PAULO ROBERTO= GENTE QUE BRILHA
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No início do século XX havia, no município de Ponte Nova (interior de Minas Gerais) uma vila de nome Saúde. Foi ali que no dia 10 de outubro de 1903 veio ao mundo alguém que recebeu o nome de José Marques, mas ficou conhecido no meio radiofônico como PAULO ROBERTO.

Deixando seu município natal, veio para o Rio de Janeiro, onde estudou Medicina, tornando-se um médico obstetra. Parece que já estava escrito: ele nasceu em Saúde e se transformou em um grande médico ajudando centenas de crianças a nascer.

Mas...
Mas não foi como médico que ficou famoso. Dividindo-se entre a Medicina e a radiofonia se tornou um dos grandes vultos do tempo áureo do rádio com o nome de PAULO ROBERTO. Como radialista formou, ao lado de Almirante e de Paulo Tapajós,o trio que mais fez em prol de nosso rádio e sua história.

A primeira vez que ouvi Paulo Roberto foi na Rádio Tupi, apresentando as "Serestas de Sílvio Caldas", onde , com pequenos resumos, falava das melodias que seriam cantadas por Sílvio. Sílvio Caldas era imprevisível e desaparecia indo garimpar em algum lugar do Brasil..Antes de viajar, porém, passou para o disco uma das obras-primas de Paulo Roberto:"Cigana", cuja última estrofe dizia:

".. e dei-te as mãos, e nossas mãos tremeram,
Teus olhos nos meus olhos se perderam.
Eu fiquei mudo e não disseste nada.
Então sorriste e eu te chamei querida,
Unimos nossas vidas, numa vida.
E desfez-se o mistério do teu porte.
Mas não perdeste o teu poder divino,
Nas minhas mãos não leste o meu destino,
Porque está em tuas mãos a minha sorte. "

Seu veio de compositor ainda o fez autor de uma bela canção chamada "Minha
Serenata" e de "Vagalumeando".

Deixando a Tupi, Paulo Roberto levou seu talento para a Rádio Nacional e passou a
ser conhecido em todo o Brasil com seus inteligentes e originais programas.
Na RádioNacional lançou "Nada Além de Dois Minutos"; "Gente que Brilha"; "Obrigado Doutor' (que originou um filme com o mesmo nome);"Honra ao Mérito"; "Bandeiras da Liberdade" e, por último, "Lira de Xopotó", trazendo as bandas do interior para que fossem ouvidas e conhecidas em todo o Brasil.

Mas chegamos a 1964 e Paulo Roberto, como muitos outros que fizeram a Rádio Nacional ser a maior emissora da América do Sul, foi "dedurado" como comunista , devido a seu trabalho como médico e suas idéias por uma justiça social atendendo a centenas de gestantes pobres.

A Rádio Nacional deixou de ter talentos, para ter medíocres. A Rádio Mayrink Veiga, na mesma ocasião, foi "cassada" e morreu. A Nacional , como era, também morreu e hoje tenta renascer de suas cinzas.

Afastado do rádio, PAULO ROBERTO deu sua colaboração para a televisão, lançando sua "Câmera Indiscreta", muito superior às "pegadinhas " de hoje.

Como radialista, ele parou quando foi desligado da antiga PRE-8, mas como médico foi importante para o término das obras do Hospital de Clínicas 4º Centenário, que se encontravam paralisadas desde o temporal de 1966, que quase arrasou com Santa Teresa.

Hoje, aquele hospital maravilhoso, no qual acreditei quando era ainda mato e me tornei uma de suas sócias fundadoras, hoje está abandonado, prestes a ser transformado em uma tapera. O que é pena. Era um ótimo hospítal.

Antes de completar 70 anos, PAULO ROBERTO faleceu em 1973, deixando um grande vácuo nos corações de todos que o admiraram.

Foi fazer serenata junto aos que partiram antes dele. Assim:

"Nas noites de serenata,
A minha voz se desata,
Surgindo da multidão..."
Norma Hauer

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