por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 4 de outubro de 2011

Desconstrução -Emerson Monteiro


PARA SOCORRO MOREIRA

Compor a cena usando recursos que existem aqui por perto, independentes de atender ao melhor das exigências. Nenhum pomo dourado e qualquer reino infinito de satisfação pessoal. Quando o astral implica em reduzir a alegria comum de tudo, reajo ao desgosto investido no papel de herói matemático das jornadas individuais. Domino pensamentos agarrados nos remendos da parede e, no teto, misturados nas teias de aranha, restos de poeira que dançam flutuantes nas poucas réstias de sol projetadas na tela desses momentos.

Daí, ligo o som para ouvir canções que lembram episódios espalhados no caco do passado, que, úteis, repõem saudades no canto certo. Busco trabalhar as coisas imediatas. No tampo da mesa, o chão da calma, porém fervilhando o peito dessas contrariedades antigas, erros de portas e ressacas arrependidas, abertas em cicatrizes rasgadas. Qual quem quer rever o roteiro do filme desde o começo, consertar os pratos na lata de lixo, apenas seguir adiante e permitir somar outras existências no agora sólido sobram das bênçãos de final de tarde na igreja matriz.

Vem, então, desejo forte de felicidade, ainda que queira enganchar o disco na vitrola, torcer as trilhas dos instrumentos e arrastar a voz do cantor já meio rouco de cantar antigas baladas. Uma fome espaçosa do absoluto no entanto bate o coração ao ritmo dos passos.

Manhãs cinza trazem as condições de mexer, dando margem aos dramas das águas esquecidas. Vêm e vão ondas nas mesmas praias...

Trabalhar, usufruir, andar, qualquer verbo que aumente o amor de sofrer menos no tanto certo, no aprender lições de vida. Poesias de palavras soltas que vagam as estradas, meros utensílios domésticos lavados todo dia – frutos doces de sonhos e gozos abandonados.

Escrever tudo isso acontece no rosto das pessoas que desfilam pelo pescoço abaixo e escorrem até as entranhas, olhos acesos de falas silenciosas, sussurros nas almas distantes; festas e movimentos; recolher os elementos soltos das matas e reconstruir o painel do firmamento.

Alguns contam as receitas da calma. Prosseguir nas pequenas coisas em volta. Levar o barco sob controle. Manter o carro na pista a qualquer custo de solidão. Aquela imagem de Roberto Carlos nas curvas da estrada de Santos. Olhar em frente. Valer o anseio de chegar a bom termo. Jamais abandonar o jogo e, ao término, somar os alentos de satisfação que alimentam os felizes desta hora eterna.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Que maravilha!
Vou reler todos os parágrafos, enquanto escuto Yves Montand!


Abraços, querido!