por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A solidão da dor - Emerson Monteiro


É isto, sim, invés de tratar do tema a dor da solidão, tocar um pouco neste tema, a solidão da dor. Naquele momento em que se acha face a face com a solidão de verdade, livre das contradições e dos conceitos. Portas e janelas fechadas ainda que ao sol do meio dia. Quando nem adiante gemer, muito menos chorar... E a dor dói de consumir por forte que se seja. Ali, na beira de nós mesmos, esses grandes desconhecidos, no limiar do Eterno, enquanto a dor dói de não ter tamanho. Onde uivam lobos e choram homens, mulheres e meninos. Sem idade, a dor traz o perdão, reduz a nada e atiça o peito das resistências, num desafio esplendoroso... Doloroso, quero dizer.

Isso de quando as vaidades caem de joelhos e querem entrar de buraco adentro, na fronteira da inexistência. Pouco ou muito importa o tamanho da herança, e a dor dói de não ter juízo que aguente... Irmã dor, qual dizia Francisco de Assis, nas suas longas viagens espirituais.

Os laços com tradição e experiências anteriores somem no abismo infinito onde, soberana, a dor dói... Pássaros cantam pelos quintais em festa; o vento sopra nas árvores; ressurge bonito o Sol; a Lua, linda, desfila no céu... Times jogam na televisão do domingo de tarde... Tocam sinos nas igrejas... E dói a dor com fome feroz de paciência a roer o coração dos humanos.

Meu Deus, como estreita o caminho e tudo de repente nos abandona quando dói a dor e o sofrimento pede passagem na avenida, encostas das florestas escuras do desassossego.

Pedir a quem tem para oferecer. Pedir sempre, que ninguém sabe quando a dor chega trazendo consigo o custo das impiedades desse solo dourado. Surgirá silenciosa no instante certo, mãe e mestra, amiga da plena glória, no tempo da colheita nos calendários que nos abandonarão.

Ah, amigo, quando a dor mostra seu rosto, na vitrine daquela solidão, não há bom, não há melhor... Viva, pois, de saber que maiores são os poderes da certeza, e junto deles manda, senhora, a dor que nos prepara o dia de invadir o leito da saudade na paz dos mistérios em constante movimento.

2 comentários:

Joaonicodemos disse...

Caro Émerson,
Este é um tema sério...
quem sente ou sentiu , sabe...
quem não sabe, saberá.

Fiz este poema há alguns anos,
diante da dor:
1. MARTELO. Martelo

Falo da dor com presença e propriedade
Da dor que dói, da que espeta e da que arde
Falo da dor que alimenta esta saudade
Falo da dor que te abandona e que me invade

Dor de espinho cravando fundo a carne
Dor de osso ainda vivo e triturado
Dor de quando, ainda moço e já bem tarde
Vi mistérios de esfinge desvendados

Dor de pedras que atingem passarinhos
Dor de aborto quando o morto era esperado
Dor do dia que o filhote deixa o ninho
Dor de peixe que nadando é afogado.

Dor de morte escondida no segredo
Do sangue que pulsa contaminado
Dor do encontro do martelo com o dedo
Dor de membro putrefeito e amputado

Dor que infere sobre a singularidade
Do vivente que, por estar vivo, dói
Dor que rompe que corrempe que corroe
Dor que grita, dor que dói na eternidade

Falo da dor com presença e propriedade
Dor que dói dor que espeta dor que arde
Da dor que grita dor que dói na eternidade
De dor eu falo com presença e propriedade.

Emerson Monteiro disse...

Nicodemos,

Quanta realidade reunida e concatenada em forma de belos versos; poema verdadeiro.

Abraço.