por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

OSWALDO SANTIAGO- por Norma Hauer



Foi no dia 29 de agosto de 1976 que OSWALDO SANTIAGO passou a ser uma grande saudade por tudo que ele deixou como poeta, como compositor e como constante defensor dos direitos autorais, tendo sido um dos fundadores da UBC (União Brasileira de Compositores)

OSWALDO SANTIAGO nasceu em Recife e lá começou sua vida de poeta, lançando, em 1923, seu poema "No Reino Azul das Estrelas" e em 1924 um livro defendendo a Amazônia (já naquele tempo) com o nome de "Gritos do Meu Silêncio".

Ainda em 1923, Vicente Celestino lá se apresentou com sua Cia e a revista "Mademoiselle Cinema", na qual Oswaldo Santiago tomou parte, assim como na revista (impressa) "Lua Nova".

Fez parceria com Nelson Ferreira, um compositor e pianista muito apreciado , por seus frevos, em todo o Brasil. Com Nelson, Oswaldo Santiago escreveu "Melodia do Amor", gravado por Alda Verona.

Mas foi com o "Hino a João Pessoa", em parceria com Eduardo Souto e gravado por Francisco Alves que Oswaldo Santiago ficou conhecido fora de Pernambuco.
No mesmo ano dessa gravação (1930) Oswaldo Santiago veio para o Rio, quando aqui desabrochava o período de Getúlio Vargas e a política estava enfervescendo.

O "Hino a João Pessoa" era uma homenagem póstuma que os autores fizeram a João Pessoa, assassinado, por motivos políticos e amorosos, em sua Paraíba, que nessa época não era "muié macho, sim senhô", mas já pesava na balança nacional.

HINO A JOÃO PESSOA

"Lá no norte um herói altaneiro´
Que da Pátria o amor conquistou.
Foi um lindo farol, que ligeiro,
Acendeu e depois se apagou.

João Pessoa, João Pessoa
Bravo filho do sertão.
Toda a Pátria espera ainda
A sua ressurreição.

João Pessoa, João Pessoa
O seu vulto varonil
Vibra ainda, vibra ainda ...
No coração do Brasil.

Paraíba, oh rincão pequenino
Como grande esse homem te fez.
Hoje em ti cabe todo o destino
Todo orgulho da nossa altivez.

Como um cedro que tomba na mata
Por um raio que em cheio o feriu.
Assim ele, ante a fúria insensata,
De um feroz inimigo caiu.

Depois do sucesso do "Hino a João Pessoa", Oswaldo Santiago enturmou-se com os compositores que aqui labutavam nos anos 30.

Com Benedito Lacerda compôs o samba "Querido Adão", sucesso carnavalesco de Carmen Miranda; para as festas juninas, compôs a primeira música que Dalva de Oliveira gravou sem a formação do "Trio de Ouro": "Pedro, Antônio e João"; com Gastão Lamounier criou um "jingle" para um produto para os cabelos, de nome "Juventude Alexandre". Era um "jingle" tão bonito que Sílvio Caldas o gravou comercialmente.
Chamou-se

HÁ UM SEGREDO EM TEUS CABELOS

Em teus cabelos de seda,
Que perfume, que aroma sutil.
No sonho pela alameda,
Bailam flores, num baile gentil.
Há um segredo cantando
Trescalando uma essência de flor.
Onde vibram, ardejos, desejos...
Silenciosos eflúvios de amor.

O locutor entrava nos anúncios, dizendo, mais ou menos assim: "esse perfume, ela conseguiu usando a Juventude Alexandre"...devia "quebrar" o "clima" do ouvinte.

Foi quando se juntou a Paulo Barbosa, que Oswaldo Santiago teve seus maiores sucessos, quase todos na voz belíssima de CARLOS GALHARDO.
O primeiro foi "Cortina de Veludo", que foi também o primeiro sucesso de Galhardo como cantor romântico.

Depois vieram "Viena do Meu Coração";"Madame Pompadour";"Italiana";"Salambô";
"Lenda Árabe";"Tapete Persa" (este Galhardo lançou, mas não gravou);"Canções de Toda Gente";"Rua Escura";"Um Beijo em Cada Dedo"(estas duas últimas foram gravadas inicialmente, por Moacyr Buenno Rocha) "Torre de Marfim"; "Baile de Sombras"....

Oswaldo Santiago compôs, ainda, para Carlos Galhardo, com José Maria de Abreu, "Noite sem Luar"; "Poeira Dourada" e "Junto de Ti Estou no Céu"; com Georges Moran, "Meu Sonho é Só Meu"; "Perfume de Mulher Bonita" e "Linda Butterfly"; com Nelson Ferreira os frevos "Peixe-Boi" e "Sorri, Pierrô"; com Eriberto Muraro "Roleta da Vida"...
Ainda Oswaldo Santiago fez versões de "Eles se Amaram no Rio" e "Boa Noite".

Carlos Galhardo deve muito do sucesso de sua carreira a Oswaldo Santiago.

Foram tantas as composições de Oswaldo Santiago gravadas por Galhardo, que nem sei como citar as interpretadas por outros cantores, como Dircinha Batista em "Tirolesa"; "Jóia Falsa", com Gastão Formenti; 'Eu Não Posso Ver Mulher", gravação de Francisco Alves; "Lig, Lig, Lé", gravado por Castro Barbosa; "O Caçador de Esmeraldas", gravado por Dalva de Oliveira ou "Tudo Cabe num Beijo", gravado por Manoel Reis.

LIG-LIG-LÉ fez, recentemente, parte de uma novela da Rede Globo

"Lá vem o Seu China na ponta do pé
Lig, lig, lig, lig lé
Dez "tões", vinte passos, banana e café
Lig, lig, lig, lig, lé

Chinês, come somente uma vez por mês,
Não vai mais a Shangai buscar a Butterfly.
Aquii com a morena fez a sua fé
Lig, Lig, lig, lé"

Essa é mais uma composição em que os autores misturavam "alhos com bugalhos" ou seja, colocavam o Japão e a China como se fossem a mesma coisa.

Daí misturar Shangai (capital da China) com Butterfly (Madame Butterfly, personagem japonesa da ópera do mesmo nome),

Oswaldo Santiago deixou de compor no final dos anos 60 para se dedicar à UBC, chegando a ser "mestre" no assunto de direito autoral, sem ser formado em Direito.

E foi assim que faleceu na tarde de 29 de agosto de 1976, aos 74 anos, pois nascera em 26 de maio de 1902.

Norma

Nenhum comentário: