por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Por Mara Thiers



VIOLÃO DESAFINADO


Lembro de outrora.
E uma música ao fundo chega suave e toca os meus ouvidos. Aquela música que embalou tantos e tantos sonhos.
Há tempos que o vejo ali, encostado. Pego o violão e mexo em suas cordas. Cordas de um violão antigo e desafinado. O mesmo violão e as mesmas cordas de antes.
Procuro o tom certo, tento alinhar todas as notas musicais, sem muito sucesso.
O tom continua fraco, minguado.
As notas continuam desiguais e totalmente desalinhadas; talvez, o instrumento esteja carcomido pela ação do tempo. Hoje, calado, solitário e triste, ali está. O som dantes melodioso perdeu-se desde ontem. Perdeu-se no tempo. Desde a época das longas serenatas, onde o som sempre tão afinado e melodioso invadia as ruas num relampejo estridente, cintilando estrelas.
A sua música acalentava e encantava. E o dia sempre amanhecia terno; e as noites sempre cheias de vida. O Sol surgia tímido; às vezes, forte. A noite adentrava exuberante no seu tom lilás trazendo o cheiro das flores. A Lua, encabulada, muitas vezes se achava encoberta pelas nuvens, mas, brilhante, ressurgia. Sempre!
Hoje, a música esquecida está. Os sons embaralhados e desarmônicos continuam.
Esse longo tempo encostado deixou-o acabrunhado e resumido a esquecidas notas musicais. A uma limitada e velha música que se foi com o tempo...
Recostei o corpo numa cadeira e adormeci. Acordei no meio da noite com um som melodioso... Parecia-me próximo. Levantei ainda fatigada do mau jeito e, com muito esforço, acendi a luz; e, de súbito, vejo um pássaro à minha janela. Fiquei alguns segundos estática e com o coração aos pulos! O cantarolar que eu ouvia vinha mesmo daquele pássaro brilhante, que mais parecia uma Fênix. Era pura luz! Eu fiquei fascinada! Ele voava lentamente e emitia um som harmonioso e tocante. Eu ouvia placidamente o seu coração. Eu podia sentir a sua respiração, de tão próximo. Parecia querer me puxar até aquele violão. Pedia insistentemente. E era verdade, ele queria. Dei dois passos, e o que pude sentir jamais sentirei. As cordas, antes frias e desordenadas, passaram a cantarolar o mais belo dos hinos. Uma das mais belas canções! Eu podia ouvir uma mistura de sons que penetrava profundamente o meu peito. Fora a mais bela emoção! Era a esperança renovada! Foi um momento único e indescritível.
Novamente, jamais sentirei! 

Do livro "No Azul Sonhado"




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