por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 9 de junho de 2011

Teus olhos castanhos - José do Vale Pinheiro Feitosa

Na metade da década de 60 aconteceu uma febre inusitada no Brasil. Dou-me por conta de ter sido nacional sem muita certeza, mas com certeza no Crato ferveu. Tratava-se da canção portuguesa e, especialmente, de Francisco José. De quem os cantores das casas de fado de Lisboa lembram, até hoje, com carinho como um simples entre eles.

O natural das escolhas poderia cair sobre "Só nós dois", tantas vezes repetidas: é que sabemos. O quanto nos queremos bem, uma alegria de eu e tu e do alto das encostas para o atlântico dizer: como é bom gostar de alguém.

Pois ainda assim, com a leva de migrantes a defender o pão nas ruas de França, migrando com os meios que podiam, naqueles idos até mesmo fazer, sem alternativas, os 1200 quilômetros à pé. E aí melhorar de vida, a família educar-se e uma das filhas se tornar vendedora de uma loja de perfumes, na Rue Saint Honoré, tendo como clientes os brasileiros e com a melhora de vida comprar uma casa no Algarve. Como francesa de classe média passar as férias onde o pai jamais poderia.
O Chico José cantou Lisboa não sejas francesa, tu és portuguesa, tu és só prá nós. Naqueles tempos as frases musicais de Portugal, com os olhares vigilantes do conservadorismo salazarista, as guitarras tocavam baixinho. Mas não adiantou, veio a revolução dos cravos e Portugal fez-se União Européia. Agora se encolhe ante os dentes de sabre da crise que antes o unira ao domínio da Europa.

Agora que Portugal sofre as dores da Europa inquieta, retorno ao princípio dos anos quando não eram assim. Era Portugal um exportador de filhos para os mercados que os empregassem, inclusive o Brasil. De qualquer modo tive uma esperança.

Teus olhos castanhos davam destaque aos olhos castanhos leais e aquela menina jamais me foi.



Um comentário:

socorro moreira disse...

A cotação dos olhos claros era bem alta !
Esta música foi consolo para todos de olhos castanhos. Assegurava lealdade.
Ouvindo-a senti saudades de um tempo "que nunca me foi".
Amei o texto, do Vale!