por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 7 de maio de 2011

Memória da terra, de José Carlos Mendes Brandão- Por João Nicodemos





José Carlos Mendes Brandão - Foto: Sônia Brandão


Meu ofício preferido é fazer versos, embora goste de tantas outras atividades. Procuro ser objetivo e econômico com as palavras, quando escritas. Não me sinto capacitado para resenhar ou comentar o trabalho dos poetas. Mas não pude me conter diante do Memória da Terra do poeta Brandão. Livro de grande força emotiva onde o leitor pode viajar e se deleitar com imagens que nos remetem a uma nostalgia do paraíso, à infância da Terra e à natureza em estado puro. O olhar do poeta faz parte da paisagem telúrica e torna possível sentir o frescor da aurora dos tempos. Seus versos, construídos em refinada arquitetura, parecem surgir sem esforço, de alguma memória que também compartilhamos – como se fossem nossa própria memória. Bebemos da água do riacho e voamos com a garça desenhando a paisagem.
Na Terra do poeta “há domingos tão belos que até os cachimbos florescem” e a água, no silêncio do lago, vem morar em meus olhos...
Os poemas se apresentam vestidos de sonetos, com seus dois quartetos e dois tercetos, o que nos dá a medida da atenção que o poeta dedica à estética visual, à dança das palavras no branco do papel. O ritmo, porém, descumpre a métrica dos versos e surpreende numa polirritmia exuberante.
No terceto final de “Anoitecer”, nos indaga:

“Um pássaro num sino tange as nuvens.
De onde vêm, para onde vão
As crianças rindo na estrada?”

Que dizer das rimas? Enquanto fenômeno sonoro, fonético, simplesmente se ausentam dos versos dando lugar à supremacia da imagem que, em superposições cadenciadas vêm tangendo nossa memória e emoção. Confessa o poeta: “fui milagrado de garça no poente” numa invenção poética digna dos grandes. Do fazer poético, diz no poema Quietude que “o poeta escreve com estrelas, pedras e pássaros” e complementa numa conversa pessoal que “escreve poemas porque vai morrer”. Desconhece, talvez, que a Beleza não morre; mora no eterno.

“Sou a novilha lambendo a minha cara,
Sou o cavalo alazão galopando
Com um galo cantando nas ancas” (SANGUE E SONHO).

Depois de ler Memória da Terra, apreciando cada poema como quem saboreia um precioso néctar, reli alguns versos ao correr dos olhos pelas páginas. Percebi com alegre surpresa que os versos de Brandão, embora componham poemas coesos, têm vida própria e se constituem, muitos deles, poemas completos de um só verso. Posso dizer também que o livro todo seja um só poema, de inefável beleza. Assim como descreve no poema TEAR: “A sombra é pouca para tanta luz”.
Talvez todos sintamos um profundo desejo de perenidade, se não de eternidade e, movidos por isto decalcamos nossa vida nas paredes das cavernas cibernéticas em que habitamos. Brandão é mestre nesta arte e nos demonstra em seus livros e publicações virtuais nos blogs que administra.


Sobre o autor:

José Carlos Mendes Brandão é autor de sete livros de poesia: O Emparedado, 1975; Exílio, 1983; Presença da Morte, 1991; Poemas de Amor, 1999; O Silêncio de Deus, 2009; Memória da Terra, 2010, e O Sangue da Terra, 2010. É detentor de vários prêmios literários, como o “José Ermírio de Moraes”, para melhor obra publicada no ano (1983-1984); V Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, por Presença da Morte (1991); Prêmio Brasília de Literatura, por Sol no Umbigo, inédito (1991); Prêmio Nacional de Literatura “Cidade de Belo Horizonte”, por Deus no Prego, romance inédito (2000); Prêmio Nacional de Literatura “Cassiano Nunes”, da Universidade de Brasília (2010); Prêmio Nacional de Literatura “Gerardo Mello Mourão”, do Ideal Clube, Fortaleza, CE (2010). Blog: http://poesiacronica.blogspot.com/ E-mail: jcmbrandão@gmail.com


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João Nicodemos é músico e poeta... principalmente poeta... busca a poesia, com instrumentos musicais, não musicais, pincéis e telas, xilogravura, objetos, sons e idéias, gestos... inclusive com papel e lápis também...






Um comentário:

José Carlos Brandão disse...

O Nico esqueceu o link do Cronópios (onde saiu esse texto): http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=5013

Abração.