"...a linguagem realiza, quebrando o silêncio,
o que o silêncio desejava e não conseguia"
Merleau-Ponty
A música está presente na liturgia diária de nossas vidas. O Chorinho na Garagem da rua Pedro II aqui no Crato é a prova visível e inconteste do poder terapêutico da Música. Os músicos que compõe o Chorinho na Garagem possuem a idade de um menino que cresceu sem se aperceber da própria idade. Afinal, o presente do aqui e agora é igual para todas as idades! Explico.
Stravinsk (1882-1971) afirmava de forma enigmática que "a música expressa a si mesma". É muito simples, o próprio Stravinsk explica mais detalhadamente quando argumenta que "a música é o único domínio no qual o homem realiza o presente". O mesmo mestre nos ensinou que quando a gente canta ou toca um instrumento músical, saimos de nossa "natureza imperfeita destinada a sofrer o escoamento do tempo - de suas categorias de passado e futuro - "sem jamais poder tornar real, portanto estável, a do presente". A música é um fenômeno que põe ordem nas coisas, uma ordem entre o homem e o tempo. Ela se realiza no PRESENTE! Quando a gente canta ou toca na entoação e no rítmo cadenciado de um andamento, a ordem é estabelecida e o presente se faz presente nos timbres e ritmos que pincelam a paisagem sonora. Portanto, de onde vem o força da música e seu extraordinário poder sobre os indivíduos e as massas? Mário de Andrade cita duas coisas essenciais sobre a "poder excepcional da música em relação as demais artes: a força contundente do seu ritmo, e da indestinação intelectual do seu som". Tocar não custa nada, mas vale por tudo! pois devolve de presente o presente do nosso aqui e agora permanente! O Big Bang é uma mentira, mais uma mitologia científica. Prefiro acreditar no Big Sound zappiano: no começo era o som. Então alguém começou a solfejar a música das esferas e estabelceu uma construção. "FEITA A CONSTRUÇÃO, ATINGIDA A ORDEM, TUDO ESTÁ DITO".
"BATUQUE É UM PRIVILÉGIO
NINGUÉM APRENDE SAMBA NO COLÉGIO"
NINGUÉM APRENDE SAMBA NO COLÉGIO"
Noel Rosa e Vadico
2 comentários:
texto de "feitio" perfeito.
podemos rezá-lo ou cantá-lo!
Belo texto. Bela argumentação.
Stravinsy estava certo.
Sinto a eternidade no presente, quando toco.
e quando não toco, adoeço...
(saudade da eternidade)
o assunto pede mais espaço... então
falaremos nisso mais tarde.
abração!
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