por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

RODA DE HISTÓRIAS COM BISAFLOR

Na sexta feira passada Bisaflor participou de uma animada roda de contação de histórias, ao redor de uma fogueira. A noite estava clara e amena, noite de lua cheia. Foi por isso que Bisaflor trouxe para a roda uma lenda dos nossos antigos índios sobre a origem da lua cheia, narrada pela escritora Terezinha Éboli. Essa história é tão boa que você não consegue parar de ler ou de ouvir até o fim.


A LENDA DA LUA CHEIA

Depois que noite e dia ficaram separados, o céu noturno era uma festa de luzes. Primeiro foram as estrelas que se espalharam por toda parte, umas soltas outras grupadas, de diversas cores e tamanhos diferentes, todas tremulando pregadas no escuro firmamento.
Quando a lua apareceu depois, crescendo até ficar bem redonda, sozinha no céu ou embalada nas nuvens, espalhou uma claridade azulada que, no escuro, ajudava a ver as coisas e nos igarapés, lagoas ou no grande rio fazia tremer as águas com as redes de prata que atirava. Na mata, pequenos habitantes desconhecidos apareciam, ora ao luar ora na sombra. Assim, os povos da floresta perceberam novas formas, novos sons, outros movimentos, outras vozes quando a lua iluminava a noite e, então, agradecidos a chamaram de Jaci.
E também perceberam que, em noite de lua cheia, algumas pessoas ficavam diferentes, de cabeça virada, um mistério insolúvel, porque ninguém sabia explicá-lo. Por que isso acontecia? – perguntavam sem encontrar a resposta.
Até que uma velha índia, de tribo longínqua, contou que, antes de ser lua, ela era uma cabeça de homem cortada do pescoço de um índio vencido em luta por um outro que era mais forte. Os companheiros correram e amarraram a cabeça com embira, mas a cabeça escapou e saiu rolando atrás deles, enquanto iam chamar o resto da tribo. Assustados atiraram-se no rio e nadaram até a outra margem. A cabeça veio atrás deles de bubuia, isto é, boiando ao sabor da corrente, até chegar bem pertinho.
Apavorados, subiram num pé de bacupari e se esconderam lá em cima, bem quietinhos, para ver se a cabeça passava em frente, rolando e segura. Qual nada! A cabeça ficou embaixo da árvore e olhava para cima pedindo que lhe jogassem os frutos. Os índios sacudiram os galhos e os frutos caíram, espalhando-se pelo chão; a cabeça rolou atrás deles e comeu todos. Então, os índios atiraram os frutos para bem longe, porque queriam se livrar da cabeça e, enquanto ela rolava atrás dos frutos, eles conseguiram fugir.
Quando a cabeça voltou, já não encontrou ninguém na árvore, mas não desistiu e continuou a rolar pelo caminho. Os índios perceberam que a cabeça vinha de novo atrás deles, correram apavorados para a aldeia e avisaram todos para que fechassem bem as suas casas. Ficou tudo fechado na aldeia. E, por trás das frestas de palha, todos espiavam a cabeça que chegava rolando...A cabeça então gritou:
- Me deixem entrar!
Silêncio. A cabeça pensou, pensou e gritou:
- Se eu fosse água, vocês me beberiam; se eu fosse terra, vocês pisariam em cima de mim; se fosse uma oca, morariam em mim; se fosse anta, me matariam e me comeriam. Se fosse mandioca, fariam bijus; se fosse o sol, se esquentariam no meu calor; se fosse chuva, fariam o capim crescer e os bichos me comeriam. Mas como sou inútil, só uma cabeça sem corpo, não sirvo para nada.
Aí a cabeça pensou mais forte e disse:
- Já sei! Vou ser lua. Me deixem entrar! Preciso de muita embira para poder chegar ao céu.
Alguém, que ninguém viu, atirou para a cabeça dois pedaços de pau com bastante embira enrolada e ela, dizendo adeus, desenrolando o fio, foi subindo... subindo...
Todos puseram os olhos fora das janelas para ver o que se passava com a cabeça e viram que estava subindo devagarinho em direção do céu, enquanto a embira ia se desenrolando do graveto onde estava como um novelo. Os homens saíram todos de suas ocas e um deles perguntou:
- Será que a cabeça chega mesmo ao céu?
Ninguém falou, Ninguém se moveu. Só os olhos iam seguindo a cabeça em sua viagem para o céu.
Ela ia subindo e cada e cada vez ficava mais distante da Terra. Umas nuvens grossas a cobriram. Os homens ficaram preocupados, eles queriam ver o que ia acontecer. Mas ela atravessou as nuvens e continuou subindo, subindo... e agora estava bem no meio do céu.
A noite chegou, mas os índios continuavam parados, olhando. Então, aconteceu: a cabeça foi clareando, clareando e, de repente, ficou toda luminosa. Ela, finalmente, tinha virado lua!
Os homens ficaram espantados, mas começaram a dançar e a cantar, toda a tribo festejando a cabeça que tinha conseguido virar lua.
E é por isso, conta a velha índia, que as pessoas ficam de cabeça virada quando é noite de lua cheia.
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Esta história é dedicada às crianças: Isabela, Miguel, Bianca, Sofia, Gabriel, Vitória, Raul, Maria Alice, Stéphanie e Bruna.

3 comentários:

socorro moreira disse...

Só faltou a turma da maior idade que adora tbém histórias da Bisaflor !
Bom acordar, no mundo do faz-de-conta , e gozar das suas oferendas por instantes !

Que linda, a nossa contadora de histórias !
Ela faz acordar o som das cirandas!

Anônimo disse...

Stela,

Gabriel, Vitória e Raul, meus lindos netinhos me disseram que adoraram a história. Tenho certeza que as outras crianças também gostaram.

Um abraço da vovó coruja.

Magali

Liduina Belchior disse...

Stela,

Vou ler para Stéphanie. E o melhor de tudo: falarei para ela que a contadora de histórias é amiga da vovó. (Risos).

Bjos, querida escritora: Liduina.