O velho Frazão,lá do Belmonte, observou espantado o pilão( o pluviômetro do matuto) transbordando no terreiro, de manhãzinha e concluiu: “ --A chuva foi de lascar, dessas de fazer Noé se benzer em cruz!” Sensação não muito diferente teve o seu Neco Moreno ali nas proximidades do Palmeiral, fitando o estrondo da água rio abaixo: --A chuva foi de fazer cururu gritar “Maria Valei-me!” em cabeça de estaca. O certo é que , sexta-feira passada, boa parte dos cratenses teve a clara certeza de que a Pedra da Batateira tinha, por fim, explodido. As ruas viraram córregos, as casas lagos, o comércio cratense passou a ser submarino. Até os defuntos, no cemitério local, despertaram do descanso eterno, e alguns saíram surfando no topo da onda. Enquanto isso, os cratenses meio abismados, computavam as perdas e os rastros da destruição. Enquanto alguns outros, insensíveis à tragédia, saqueavam casas e lojas com o mesmo apetite dos corvos e urubus.
O que havia despertado tanta fúria no sempre cordato e quietinho rio Grangeiro? Ele que, aparentemente, agüentara sempre resignado a invasão seguida das suas margens; a opressão do seu leito por canais ; a transformação das suas águas translúcidas num esgoto pútrido; o desmatamento criminoso da sua mata ciliar. O que havia despertado a fúria do gigante há tanto tempo adormecido?
Como dizia Brecht : “Criticamos a Violência do Rio e esquecemos a violência das margens que o oprimem”. Aos poucos, à medida que as águas foram baixando, a população começou a digerir a hecatombe. Alguns puseram a culpa em fenômenos naturais episódicos; outros no aquecimento global ; alguns viram até a mão de Deus amparando os cratenses em meio à enxurrada. Como se uma força superior, brincando de fazer tragediazinha, preparasse a calamidade e, depois, se pusesse a proteger os munícipes, meio arrependida. Esta semana, a prefeitura de Crato apresentou a primeira avaliação do prejuízo público, na brincadeirinha celeste, excluídas, claro, as enormes perdas particulares : quase 90 milhões. Quem paga o pato ?
Antes de quebrar os porquinhos e reiniciar a reconstrução é bom pensar nas causas da calamidade que era previsível e anunciada. Anos e anos de impermeabilização do solo por asfaltos, loteamentos sem autorização, desmatamento nas nascentes, ocupação desordenada nas encostas apenas montavam o cenário para a tragédia que seria encenada e mais : em muitos e muitos atos. O Canal do rio já se fazia uma agressão à natureza nos anos 50 quando não existiam bairros populosos como o Pimenta, o Sossego, o Grangeiro, o Lameiro. Desde então a cidade explodiu populacionalmente, na mesma velocidade com que destruía seus recursos naturais da encosta da serra em nome do progresso. Agora que pensamos em começar os reparos é preciso, mais que nunca, discutir amplamente com a população o problema, buscar embasamentos técnico e ambiental e mais: começar ,ainda que tardiamente, a tratar com mão de ferro os abusos e desvios. Simploriamente remendar os estragos feitos, sem mexer nas profundas estruturas que os causaram é como tentar fechar com areia a boca do vulcão em plena erupção.
O Rio Grangeiro , na sexta-feira passada, apenas executou uma promissória há muitos e muitos anos vencida. Existem ainda milhares outras esperando a oportunidade de cobrança, com juros e correção monetária. A violência das suas águas é bem menor que a violência reiterada a que vem se submetendo por muitos e muitos anos.
O que havia despertado tanta fúria no sempre cordato e quietinho rio Grangeiro? Ele que, aparentemente, agüentara sempre resignado a invasão seguida das suas margens; a opressão do seu leito por canais ; a transformação das suas águas translúcidas num esgoto pútrido; o desmatamento criminoso da sua mata ciliar. O que havia despertado a fúria do gigante há tanto tempo adormecido?
Como dizia Brecht : “Criticamos a Violência do Rio e esquecemos a violência das margens que o oprimem”. Aos poucos, à medida que as águas foram baixando, a população começou a digerir a hecatombe. Alguns puseram a culpa em fenômenos naturais episódicos; outros no aquecimento global ; alguns viram até a mão de Deus amparando os cratenses em meio à enxurrada. Como se uma força superior, brincando de fazer tragediazinha, preparasse a calamidade e, depois, se pusesse a proteger os munícipes, meio arrependida. Esta semana, a prefeitura de Crato apresentou a primeira avaliação do prejuízo público, na brincadeirinha celeste, excluídas, claro, as enormes perdas particulares : quase 90 milhões. Quem paga o pato ?
Antes de quebrar os porquinhos e reiniciar a reconstrução é bom pensar nas causas da calamidade que era previsível e anunciada. Anos e anos de impermeabilização do solo por asfaltos, loteamentos sem autorização, desmatamento nas nascentes, ocupação desordenada nas encostas apenas montavam o cenário para a tragédia que seria encenada e mais : em muitos e muitos atos. O Canal do rio já se fazia uma agressão à natureza nos anos 50 quando não existiam bairros populosos como o Pimenta, o Sossego, o Grangeiro, o Lameiro. Desde então a cidade explodiu populacionalmente, na mesma velocidade com que destruía seus recursos naturais da encosta da serra em nome do progresso. Agora que pensamos em começar os reparos é preciso, mais que nunca, discutir amplamente com a população o problema, buscar embasamentos técnico e ambiental e mais: começar ,ainda que tardiamente, a tratar com mão de ferro os abusos e desvios. Simploriamente remendar os estragos feitos, sem mexer nas profundas estruturas que os causaram é como tentar fechar com areia a boca do vulcão em plena erupção.
O Rio Grangeiro , na sexta-feira passada, apenas executou uma promissória há muitos e muitos anos vencida. Existem ainda milhares outras esperando a oportunidade de cobrança, com juros e correção monetária. A violência das suas águas é bem menor que a violência reiterada a que vem se submetendo por muitos e muitos anos.
J. Flávio Vieira
3 comentários:
História bem contada, fica registrada.
Falou pela boca do povo, Doutor !
Aparentemente as coisas parecem voltar ao normal, mas o prejuízo contado/estimado é assustador.
Foi um sinal de alerta. Acordou todos os medos ... E da próxima vez? Queira Deus que nada aconteça.( Natureza)Que ela seja respeitada pra exercer sua função maior : Vida !( lembrei uma música de Abidoral)
E a vida está em todos os reinos: mineral, vegetal e animal. Entendo a fúria das águas.
E, mudando de conversa , vibrei com a sua postagem.
Por favor não esqueça que nesse cantinho virtual esperamos por você !
Não matei as saudades, mas fiquei feliz !
Abraços.
Legal o novo blog , as coisas parecem mais azuis.. Abraço!
Oi, Zé !
Estamos na paz !
Contamos com todos os seus próximos escritos.
Grande abraço, querido !
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