por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Roteiro lúbrico-licencioso dos logradouros cratenses

 J. Flávio Vieira

                                              Quem , por acaso, se detenha em fazer um catálogo dos  muitos logradouros de uma cidade há, certamente, que se deparar com múltiplos métodos de batismo. Por um lado, existe aquele  batistério oficial que vai , pouco a pouco, denominando as mais diversas localidades com nomes , a mor parte da vezes, totalmente apartados da história local. Quebram a doce tradição popular e sapecam epítetos homenageando os poderes político e econômico da cidade. Assim, aqui em Crato,  a Rua da Pedra Lavrada se transformou em Pedro II; a Rua das Laranjeiras em José Carvalho; a Rua Grande em João Pessoa; a Rua do Fogo em Senador Pompeu; a Rua das Flores em Dom Quintino; o Sítio Quebra em Vila São Francisco. Por outro lado, persiste um movimento de contra reforma, de base bem popular,  buscando, desesperadamente, manter as denominações tradicionais e, mais, tentando,  de forma organizada e brejeira,   alcunhar os novos bairros que vão, inevitavelmente, surgindo, impulsionados pelo progresso e aumento da população.  O “Sertãozinho”, as “Malvinas”, a “Vila Caveirinha”, a “Vila Guilherme”,  aqui em Crato , são exemplo de novos lugarejos batizados , mais recentemente, pela doce língua do nosso povo. Em pouco, certamente, a Câmara Municipal ( que se atém basicamente em dar títulos de cidadão e nome de ruas) no afã de puxar o saco de algum poderoso , lavrará leis  empurrando, goela abaixo, novas denominações ,  divorciadas , totalmente, da história local.

                                   Talvez, como uma reação normal, a estes abusos, o povo simples  cratense, untado da mais pura irreverência,  tenha, paralelamente, criado um “Roteiro Lúbrico –Licencioso dos Logradouros Cratenses”. No fundo,  ele percebe que, se desviando para o jocoso, o lascivo, o sensual, o codinome ganha alma e energia novas e dificulta, sensivelmente, a troca , a reclassificação. Convido meus leitores  junto comigo, a fazer, agora, um Tour por esse Crato mais erótico e libidinoso. Afivelem os cintos e as braguilhas !
                                   Comecemos a nossa viagem pela “Vila dos Priquitos”, já reclassificada, pelos locais de “Vila do Bom Nome” e bota bom nome, nisso! Fica o paraíso  logo acima da Caixa D´água e, por incrível que pareça, próxima a “Vila da Bunda Lavada” , a “Vila do Cu Aberto” e a do “Peito Vazando”.  Todas estas  têm uma vizinhança mais que adequada à lascívia : “A Vila do Pau em Pé” . Para controlar possíveis e previsíveis libações, estrategicamente, nas proximidades, foi que  se localizou, com muita propriedade:   “O Carrapato”. 
                                   Atrás do Colégio Diocesano, lembram os cratenses, existe o “Rabo da Gata”. Anos atrás, uma madama da cidade, foi perguntada, em Fortaleza onde morava. Querendo mostrar sua nobiliarquia caririense informou que residia num bangalô na Rua Nélson Alencar. Como o interlocutor não lembrasse bem onde era o local, pois saíra do Crato há muitos anos, ela, de peito inflado de silicone e empáfia, explicou :
                                   --- Moro logo ali,  numa mansão, embaixo do “Rabo da Gata” !
                                   Descendo  das Guaribas, pelo  “Campo Alegre”,   existe o “Pelado” que felizmente fica muito distante do “Cipó dos Tomás” que é lá perto da Ponta da Serra .  O “Cipó dos Tomás”, graças a Deus, fica também bem longe do “Fundão”  e também distante do “Pelado” , se fronteiriços poderiam trazer graves questões legais e morais.  
                                   Por outro lado, na saída de Crato, lembram os mais velhos, se situa “O Pau do Guarda” que, estrategicamente , logo abaixo, como era de se esperar,  se limita com “O Saquinho” .  Por incrível que possa parecer, logo atrás do “Pau do Guarda” tem a Rua Ana Triste, o que fez, um dos nossos filósofos cotidianos a estranhar tal vizinhança e o sobrenome sorumbático da nossa Ana. Com todo respeito ao nosso Tristão Gonçalves, o nosso herói confederado,  o filósofo concluiu pensativo :
                                   --- Logo perto do “Pau do Guarda”? Ora ! Essa Ana só é triste porque quer...

Crato, 17/08/15
                                    

  

domingo, 16 de agosto de 2015

A COLEIRA FROUXA DOS CÃES DA RUA

As manifestações foram menores. Mas pessoas circularam com bandeiras do país e vestidas de verde e amarelo. No meio delas a voz que se amplificou foi a organizada para hostilizar o governo e para pregar um coquetel corretamente identificado com o sabor do ódio. (Colheu-se imagem de duas senhoras da terceira idade com uma delas portando um cartaz com os seguintes dizeres: “Por que não mataram todos em 1964?”

Nos dias anteriores a grande mídia, empresários e lideranças da elite defenderam o mandato de Dilma. Imediatamente surgiu uma fórmula: Renan no Senado para se contrapor a Cunha na Câmara dos Deputados.

E, claro, uma agenda.

A agenda que interessa às vozes dos dias anteriores. Vozes poderosas: apoiadas no Ciclone mundial da globalização financeira; na forte ideologia liberal; no domínio da Justiça e agora do Legislativo. Nada revolucionário ou reformista à margem destas vozes poderá ocorrer.

Lá na lógica vocal, pois no rés-do-chão a realidade não é bem assim.

No momento algumas imagens do passado parecem voltar: a morte de Getúlio, o Golpe de 64, a primazia da violência de classe por meio das instituições do Estado, o cão da rua de coleira frouxa, a unanimidade de algum tribunal (o TCU?), as tentativas de acordão malsucedidas (Collor tentando fazer um ministério de notáveis), as fraquejadas públicas do PT (tipo fazer Lula Ministro para não ir para a cadeia).

Isso sem contar a enorme marca de batom na cueca da corrupção. Agora seletiva, apenas do PT, mas a lambança é ampla, geral e irrestrita.

Enquanto se cantam loas pelas vozes neodemocráticas há uma sensação fluida, que se infiltra pelas brechas, quando na verdade o Governo Dilma teria sido capturado. Faça o que as vozes recomendam e o café-da-manhã no Alvorada será duradouro até a data sucessória.

Só que as vozes dos dias anteriores bem gostariam do pódio eterno. Mas todos somos humanos. Cheios de ódios (como os porta vozes da rua), de amores, mas fatalmente ávidos por amanhãs. Somos fazedores de tempo.

Fazedores de tempo se aliam. Se juntam. Se movem, comovem e removem. Todos os fazedores de tempo conhecem suas potências e a realidade onde estas se exercem. E a realidade existe igual àquele efeito da energia gravitacional que lança uma nave sem energia própria ao limite do sistema solar.

As vozes não têm o pódio da história. O mérito de alguns só acontecerá enquanto não houver este amplo e distributivo demérito. Portanto nem esta ideia “luminar” do mérito se sustenta.

E o acordão de governabilidade continuará na corda bamba, mesmo com o cão de rua de coleira frouxa. Como sabemos outros cães poderão soltar-se de suas coleiras e também tomarem as ruas.


Afinal porque pagar tantos juros do governo se o dinheiro dos benefícios gerais não dá nem para uma tapioca com café?   

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A MANIFESTAÇÃO DA DISSOCIAÇÃO COGNITIVA

Leon Festinger, estudando psicologia social, nos livros When Prophecy Fails de 1956 e no livro A Theory of Congnitive Dissonance de 1957, analisou um fenômeno humano que contempla as ideias formadas com as contradições postas diante delas.

O fenômeno chamado de Dissonância Cognitiva foi bem explicado por J. Gager (especialmente nas religiões) conforme citação de Raza Aslan no seu livro Zelota. Diz Gager: “sob certas condições, uma comunidade religiosa cujas crenças fundamentais são contraditas pelos acontecimentos do mundo não necessariamente entra em colapso e se dissolve. Em vez disso, pode realizar a atividade missionária zelosa como uma resposta ao seu sentido de dissonância cognitiva, ou seja, uma condição de angústia e dúvida decorrente da não confirmação de uma crença importante”.

Diante da realidade que nega suas crenças, passam a realizar práticas coletivas e públicas que tentam negar a própria realidade em reforço de suas assertivas anteriores. Leon Festinger esclarece este mecanismo da psicologia social.

Diz Festinger: “A presença da dissonância dá origem a pressões para reduzir ou eliminar a dissonância. A intensidade da pressão para reduzir a dissonância é uma função da magnitude da dissonância. Para pegar um dado fundamental do século XX.

Quem acompanhou o “discurso” do Partido Comunista Brasileiro a respeito da União Soviética, especialmente no calor da Guerra Fria, sabe o quanto ele sofria uma Dissonância Cognitiva. E isso esticou tanto que as lutas entre “Revisionistas” e “não Revisionista”, Eurocomunistas e tantos debates mais redundou numa dissociação de fato a ponto de partes importantes aderirem a outra margem ideológica.

Quando leio, ouço ou alguém me diz sobre certos diagnósticos da realidade brasileira, percebo uma enorme Dissonância Cognitiva em certas pessoas ou grupos que concordam com certas visões. Muita gente pensa o país em termos sociais, de saúde, educação, desenvolvimento, urbanidade e outras característica fundamentais com dados de uma realidade que não existe mais.

Acontece que os dados são conhecidos até porque as informações passaram a ser mais detalhadas, completas e com maior divulgação que permitem acesso amplo. Mas como diz Vinícius: “você que olha e não vê”....e mais à frente “você vai ter que aprender”.

Hoje, quando no balanço de uma crise política e econômica, setores se radicalizaram e vieram para as ruas, quando sectários de extrema direita em pleno surto de dissonância cognitiva, se exaltam, no meio de tanta gente que deseja manifestar sua insatisfação política, este é um fenômeno de psicologia social bastante presente. Não são textos nas redes sociais que mudarão isso, mas certamente exaltam a grande conquista humana que foi a cognição.

Conhecer. Esta a grande marcha nas ruas. 
ONEROSOS “TATUZÕES” – José Nilton Mariano Saraiva

Quando o “agente público” se dispõe a contratar, a peso de ouro, uma grande construtora para a realização de obras estruturais de porte (hidroelétricas, rodoviasusinas, ferroviasmetrôs e por aí vai)implícita e explicitamente se pactua a responsabilidade da contratada em prover não só os recursos humanos especializados, mas, principalmente, todo o equipamento pesado e necessário para a consecução do planejado. É assim (ou deveria ser) em todo lugar do mundo (aqui ou na China): construtoras de nome e porte são proprietárias e-ou tratam de alugar toda a parafernália a ser usada em tais projetos.

Só que, no Estado do Ceará, quando da gestão dos megalomaníacos irmãos Ferreira Gomes, a coisa não funciona bem assim. E a prova da irresponsabilidade nos é dada agora, quando tomamos conhecimento da herança maldita deixada pelo ex-governador Cid Ferreira Gomes para o seu afilhado político e sucessor Camilo Santana: o “rico” Estado do Ceará – é vero, senhores, acreditem -  “torrou” incríveis e exorbitantes R$ 135.000.000,00 (cento e trinta e cinco milhões de reais) com a compra de dois “tatuzões”, maquinário que será utilizado (teoricamente) na construção da linha leste do metrô de Fortaleza.

Há que se levar em contaa fim que tenhamos condição de imaginar a dimensão da verdadeira “insanidade” perpetrada pelo então governador do Estado, que, à época, além do “preço galático” de tão sofisticado equipamento, estranhamente “pequenos-grandes” detalhes foram “esquecidos” ou desconsiderados, a saber:

01) para manobrar-operacionalizar tais equipamentos, obrigatoriamente serão necessários dezenas de “técnicos especializados” e, conseqüentemente, hiper bem remunerados, onerando sobremaneira o já combalido orçamento estadual (comenta-se, inclusive, que no mercado interno não existe disponível tal profissional, tornando-se necessário buscá-los lá fora);  

02)  até a “vovozinha de Taubaté (a milhares de quilômetros daqui)  sabe que, na atualidade, o Estado do Ceará não tem a mínima condição de suprir a energia elétrica (e até a própria “voltagem”) a ser usada para acionar referidas máquinas, o que, em termos práticos, significa que o tal maquinário simplesmente não poderá sequer ser “ligado na tomada”; e, finalmente,

03) e se algum dia, num futuro distante, tal equipamento tiver condição de ser utilizado, mesmo que por breve período, é perfeitamente factível questionar qual a destinação que lhe será dada “a posteriori”, na perspectiva de que Fortaleza não terá tão cedo condição (econômico-financeira) de comportar-construir linhas de metrô a torto e a direito.  

Alfim, embora saibamos seja o senhor Cid Ferreira Gomes graduado em Engenharia Civil (embora nunca tenha projetado ou sequer erguido uma banal choupana de taipa), é perfeitamente admissível deduzirmos tenha o então “gestor” Cid Ferreira Gomes, ante tão esdrúxula decisão e gasto, incorrido e praticado grave ato de “improbidade administrativa”, porquanto comprovadamente perdulário no uso do dinheiro público, já que desconsiderando a “inoportunidade” e “desnecessidade” de importar equipamento tão sofisticado e de uso temporal, num Estado onde recorrente e persistentemente grassa a fome e a sede.

Assim, face à deficitária (ou inexistente) relação “custo-benefício” implícita em sua aquisição, os onerosos e inoperantes “tatuzões” do Cid Gomes tenderão a se tornar, ao longo do tempo, símbolos frios, imóveis, silentes, desgastados e emblemáticos do descaso e desrespeito para com a sociedade e à seriedade.

Na realidade, verdadeiros monumentos à insensatez e ao descaso. 


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

LUTAR PELO DIREITO À SAÚDE

Na 3ª Conferência Nacional de Saúde tinha-se as condições socioeconômicas como determinantes da saúde pública. A construção de estratégia de Povo, Nação e Estado. Pela política que pudesse enfrentar contradições (obstáculos) e as lutas de classe que sustentam tais condições.

Nos anos 50, a partir dos países centrais, um novo fenômeno aconteceu, com a veloz e onerosa incorporação tecnológica à saúde. Após o chamado Complexo Industrial Militar capturando o financiamento estatal (da sociedade), o mesmo modelo de financiamento aconteceu com o Complexo Industrial da Saúde.

A natureza destes complexos é sua sofisticação estratégica agindo psicologicamente sobre o Povo (marketing amplo), o Projeto de Nação (divisão de classe e bem de serviço) e capturando o Estado (onerando estruturas operativas e procedimentos).

Sistema Único de Saúde tem a ver com o princípio da universalização, mas guarda uma datação que foi a junção do antigo Ministério da Saúde com o INAMPS. Ao mesmo tempo a privatização da atenção nas empresas, evoluindo para a Medicina de Grupo e depois para o modelo de Planos de Saúde. Já começamos 1988 com a porta para a ruptura do direito social de acesso universal.

O que resultou disso? Uma forte captura do Estado e uma divisão ideológica na Saúde Pública, onde as forças indutoras se encontram no Complexo Industrial da Saúde. Isso levou a um encaminhamento de “negócios” e “modelos de negócios” que perpassa todo o aparelho formador (graduação, pós-graduação, residências, etc.), congressos e sociedades de especialistas e profissionais; as agências reguladoras (ANVISA e ANS) e o setor de compras do SUS e de incorporação de tecnologia (Fundos de Saúde, Conselhos e Conferências).

A Agenda do Senado para o Governo Dilma, com leveza de manchetes na Rede Globo, é a persistência e a garantia que o modelo vigente não sofrerá interferência da sociedade e tampouco do Estado. Este é o debate desta especificidade no financiamento da saúde.  


Falta, especialmente vindo da academia e dos partidos políticos, um debate que unifique toda a luta da Saúde Pública, compreenda os mecanismos de ação dos agentes do Complexo, que supere estas contradições e retorne ao princípio do primado da sociedade sobre a particularidade de interesses meramente financeiros. Que o avanço tecnológico seja mais redistributivo em sentido amplo, inclusive na distribuição de seus lucros e com a mudança nos “modelos de negócio”. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015



Parábola.

Neste amálgama de tantas contradições,
Quando alguém enuncia uma parábola:

Onde se encontram as virtudes e os senões?
Os frutos que alimentam e os que envenenam?

E os machados que juntos às raízes ameaçam?
As árvores conforme os vaticínios de Deus,
Serão lenhadas e outras frutificarão na nova era.

E quando a parábola se anunciou logo os ímpios,
Correm a buscar aqueles que julgavam maus frutos.

A disparar balas sobre os corpos negros dos haitianos,
A lanhar as carnes vivas do transformista crucificado,
Levantando os malfeitos dos seus vizinhos petistas,
Buscando as falcatruas das mulheres que abortam,
Lançando a primeira pedra nos desejos carnais das mulheres,
Linchando os gatunos agarrados com o celular subtraído,
Levando para o mais profundo porão os delinquentes infantis,
Levantando o dedo acusador para tudo aquilo que, afinal, gera frutos.

A parábola dos frutos bons e maus desperta a fúria insana dos coletores,
Ao invés de aproximar, assemelhar, pode antecipar a confusão existente,
Incapaz de transformar o espírito despreparado para sua compreensão.

Ainda mais quando aquele que enunciou a parábola diz:

Aos ricos: “O que tem duas túnicas deve compartilhar com quem não tem nenhuma, aquele que tiver alimento deve fazer o mesmo”.

Aos coletores de impostos: “Não cobrai nada além daquilo que foi estabelecido para vós cobrardes”.

Para os soldados: “Não intimidai, não chantageai e contentai-vos com vossos salários”.


E há dois mil anos, como agora, o anunciante de tais ideias teve a cabeça cortada. Mas seu algoz, amedrontado, teve o castigo de ser exilado do seu povo. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

 O caminho é uma bela e útil simbologia, mas não deixa de ser um foco onde nos esquecemos de toda a extensa floresta que lhe margeia. Enfim, amar o vivido para amar ainda mais as vivências e a potência daquilo a viver.

José do Vale Pinheiro Feitosa
O homem é feroz. O homem é bicho feroz. O homem é capaz de tudo. O homem destrói outro ser humano.

É! O homem é feroz.

O homem não tem medo de nada não.

Deus tem poder e nós não temos poder. Deus é quem nos dá o poder. Nós não temos poder.

Nós temos coragem. Nós somos corajosos.

O poder sabe o que é que é. O poder a gente carrega dentro de si. A gente tem a certeza que Deus comanda nós.

A certeza é o poder”.
Raimundo Castro do Santos – o pescador Mundinho de Paracuru.

Algumas pessoas têm confiado o poder político supremo a monarquias, outros a oligarquia, outros ainda às massas. Nosso legislador, no entanto, não foi atraído por nenhuma dessas formas de política, mas deu a sua constituição sob a forma que – se uma expressão forçada for permitida – pode ser chamada de ‘teocracia’, colocando toda a soberania e autoridade nas mãos de Deus”.

Historiador Judeu Flávio Josefo.

Todo o debate brasileiro nos tempos atuais concentra-se no poder.

Naturalmente o poder do Estado, que no nosso caso é democrático e de direito. Basta apenas que compreendamos a nossa luz: democrático e de direito. Tudo que destas duas instituições (não são meros conceitos, são termos decompostos em definições e normas) se lhes aprouver, cabe na luta política legítima.

Todo aquele que se insurge contra a democracia e os direitos ali consignados são passíveis de defesa constitucional.

Mesmo que venha com as palavras bíblicas, as tábuas da moralidade, o código penal ou qualquer tempestade mental das quais surgem palavras amargas que mesmo lançadas ao vento, jamais clareiam a tormenta.


Gritos, xingamentos e palavrões apenas geram mais confusão e outras palavras amargas. 

domingo, 9 de agosto de 2015

VALE A PENA LER DE NOVO

DOM, 09/08/2015 - 10:29
, 09/08/2015 - 10:29
Uma crônica de 2006, para o dia dos pais
Antes dos 13 anos, declarei guerra a meu pai. Eu passara para o terceiro ano do ginásio, mudou o irmão Marista titular da classe, e tive a oportunidade de tirar o primeiro lugar, algo que não conseguira nos dois anos anteriores.Fui para casa de boletim na mala e peito estufado, e o velho nem ligou. À noite, no encontro de pais e alunos no Marista, um pai chegou perto de nós, saudou o meu feito e indagou se manteria a colocação. Seu Oscar respondeu irritado: "Problema dele". Anos depois, Chafik, seu melhor amigo, me contou que ele não se conformara com minha decisão de, aos 12 anos, me tornar jornalista, e não seu sucessor na Farmácia Central.
Desde aquela noite de 1963 um muro ergueu-se entre nós. No mês seguinte caí para 7º da classe, no terceiro mês para 15º, do quarto mês em diante fui o último para o todo e sempre. Puni o seu Oscar a cada prova mal feita, a cada gazeta engendrada, a cada rebelião contra os irmãos. Mas nos momentos cruciais, consegui o seu apoio, especialmente no dia em que o reitor Lino Teódulo foi à minha casa com acusações falsas, em represália à minha militância estudantil. Disse-lhe na cara que ele estava mentindo, e meu pai me apoiou.
Nem isso quebrou as nossas barreiras. Eu chegava em casa antes de meu pai chegar, refugiava-me na tia Rosita na hora do jantar, depois, quando ele descia de novo para fechar a farmácia corria para casa, para dormir antes que ele voltasse de vez. Mas de manhã bebia cada som que ele emitia, cada gesto de ansiedade, andando para lá e para cá no corredor de casa, os gemidos de quem carrega os fardos do mundo. E me punia por não poder ajudá-lo.
Ao longo da vida, guardei em frascos de cristal os poucos momentos de emoção que consegui compartilhar com ele, como o garimpeiro que procura a pepita na bateia. Registrei seu choro na morte da tia Marta, as lágrimas na missa de sétimo dia do vô Issa, seu sogro, a última ida a Poços de Caldas, para ser comunicado da morte de seu melhor amigo, e seu olhar quando divisou a cidade ao longe. Mais tarde, acompanhei seu silêncio quando tia Rosita morreu. Não contamos nada para ele, e ele nunca mais perguntou dela, para não ouvir a resposta que temia.
E me lembrei para sempre do dia em que o critiquei na casa do vô Issa por ter comprado um bilhete de loteria enquanto estávamos acampados por lá, procurando casa para alugar em São Paulo. Ele saiu para a rua, fui atrás e pedi a Deus as palavras que me permitissem explicar o que sentia. Abracei-o, aquele homem alto, chorando, e falei, falei e falei, disse-lhe que ele continuava o centro da família e que minha preocupação era apenas para que não demonstrasse desespero indo atrás de miragens. E só serenei quando ele se acalmou e me olhou com olhar de pai agradecido.
O segundo derrame chegou doze anos depois do primeiro. Só depois de morto e enterrado comecei minha longa caminhada atrás de meu pai. Passei a buscá-lo em cada contemporâneo, em cada amigo. Com as velhas senhoras de Poços descobri o galanteador, com os fregueses mais humildes da farmácia, uma generosidade que nunca pressenti.
Com os amigos, a pessoa aberta e alegre que submergiu com a crise da farmácia, mas que continuou sendo o mais gentil dos poçoscaldenses.
E quanto mais o buscava passava a descobrir o inverso, a busca que ele fazia de mim. Diariamente meu pai levava minhas irmãs ao Colégio São Domingos, e, na volta, pegava um amigo meu para almoçar e saber notícias minhas de São Paulo. Antonio Cândido me falou do orgulho com que ele relatava minhas primeiras reportagens. O padre Trajano me contava das notas que levava ao "Diário de Poços" relatando cada vitória em festival, em concurso literário. E minha mãe me contou que, no auge da minha crise de adolescência, ela perdeu a fé no meu futuro, e ele acreditou.
Às vezes sinto o travo da última conversa que não houve, dos beijos que não lhe dei. Mas em algumas noites o sinto ao meu lado, daquele modo silencioso com que ficava com a tia Rosita, sem nada falar, porque palavras eram desnecessárias. Apenas me olhando com aquele olhar de quem finalmente se fez entender.

Meu pai, um artista cratense!- por socorro moreira




Cratense, filho de Alfredo Moreira Maia e Ana Amélia Ferreira de Menezes , nasceu no dia 28 de fevereiro de 1924.Faleceu no dia 21 de outubro de 1987, aos 64 anos, exatamente na idade em que estou prestes a completar (eu, sua filha mais velha).
Ainda criança, de pouca idade, revelou seu potencial para as artes plásticas. Minha avó dizia-me que, quando começou a desenhar, o fazia em pé, num tamborete para alcançar a mesa. Autodidata ,desenhava letreiros, telas a óleo, cartazes em nanquim, fotos -pinturas( sua primeira experiência profissional, na cidade de Missão-Velha), além de grande habilidade como criador e
artesão. Não havia nada que o meu pai não fizesse com um pequeno canivete, pistola, solda, lápis e pincel.
Depois de 8 anos de namoro, molhados com músicas, desenhos, e gentilezas, conquistou minha mãe (Maria Valdenòra Nunes Moreira), em definitivo. Era o ano de 1950.
Ele- o artista, o cantor, o homem de habilidades mil.
Ela- a professora e filha de Maria.
Ele pisciano e ela capricorniana. Uma sinastria interessante, talvez até um pouco complementar, mas totalmente oposta.
Convivência de 45 anos, entre festas e missas, até que a morte os separou.
Tiveram 10 filhos, entre os quais seis  vingaram, e ainda vivem (cinco mulheres e um homem)- Cinco Marias e um Alfredo.
Fui a primeira das marias, nascida em 1951.Fui filha única por muito pouco tempo
Talvez por lembrar o nascimento de todos os meus irmãos, não brinquei de bonecas, nem participei muito dos folguedos da época. Estava centrada nas músicas, nos livros, e nos lançamentos de  todos os filmes.
Enquanto os gostos do meu pai me davam um prazer imenso, o cotidiano da minha mãe era doutrinário: rezas, estudo e gastronomia. Meu pai era exigente, e só comia o que a minha mãe fazia.
Ela até gostava de dizer:"a gente conquista o homem é pelo estômago".Conversa, Dona Valda, a gente conquista um homem é sendo paciente , e se fazendo de burra!( Na verdade a conquista  é bilateral- são disposições para dar e recebr, o tempo todo!)
Eu e meus irmãos acabamos muito misturados, nem sempre equilibradamente.
Amanhã é domingo. Para mim um dia como qualquer outro, além de pequenas e grandes recordações.
Nasci na Rua José Carvalho, mas aos 3 anos nos mudamos para a Rua Pedro II.
Dia de domingo, a radiola não parava um só instante. Ele ficava quase a manhã inteira de pijama, brincando comigo e duas irmãs mais novas (Zélia e Verônica). Minha mãe fazendo quitutes especiais, e uma Brahma de Recife, na geladeira a querosene, querendo ficar gelada.
Era um pouco anarquista na essência, mas ao mesmo tempo tinha suas paixões políticas. Participava das campanhas que elegiam representantes da nossa cidade. A gente também se empolgava ,tanto com o Vasco, como com os candidatos da  extinta UDN.
Tinha uma grande 'corriola' de amigos verdadeiros, fiéis.... Eu sentia orgulho de ser filha de Moreirinha. Mas sentia frustação por ter alma de artista, sem habilidades. Neste caso, o sangue da minha mãe me conduzia por outros caminhos, e revelaram-me outras tendências, nunca, entretanto, bem desenvolvidas. Fazer o que?
Com pistola, martelinhos e tintas ele nos sustentava.Com o produto do trabalho que lhe sobrava , ele bem vivia!
Morreu jovem demais, justo por viver sem limitações. Era intenso!
Durante décadas fez cartazes para o Cine Cassino, em troca de permanentes  para toda família. A gente só precisava batalhar pelos bombons Piper, zorro e chicletes Adams. Se a censura não me permitia ver todos os filmes, eu lia “Cinelândia” e pedia-lhe que me contasse alguns enredos. Também lia seus livros de bolso- todos!
Éramos apaixonados por Moreirinha. Lembro que Verônica, ainda criança, um dia perguntou para minha mãe: ” mamãe aonde você encontrou esse homem tão lindo? ” E minha mãe respondeu-lhe: “passeando na praça de Cristo Rei. Olhando a fonte luminosa da Samaritana. Como conseguia negar-lhe água? Ela me presenteava com laços de fitas e margaridas  para os cabelos,e desenhos de céu estrelado.
Não consigo passar um dia, sem lembranças do meu pai. Das viagens pelo Brasil, que juntos fizemos; dos desenhos nas toalhas da mesa; das gargalhadas, nas madrugadas, quando jogávamos "carapu" ( paciência a dois) ou mesmo o buraco;das músicas que ele ouvia , cantava, ou  assobiava, 24 h por dia. Uma bagagem artística- amorosa, infinita!
Obrigada meu pai! 
- Natureza boêmia, amou sua família, seus amigos, e a sua cidade: O CRATO!


Compartilho esse texto com meus irmãos: Catarina Moreira, Verônica Moreira, Teresa Moreira, Zélia Moreira e Alfredo Moreira . Incluo genros,nora,netos(as),bisnetos(as), suas irmãs, sobrinhas(os), primos(as) e amigos (notadamente, todos aqueles que o conheceram, e ainda recordam sua vida singular, no Planeta Terra).


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sábado, 8 de agosto de 2015

A POLÍTICA É O MÉTODO DO AMANHECER

E quando se temia o fim da política, ela se encontra viva. A política como a organização social para realizar conquistas e defendê-las.

Bater panelas é a defesa das conquistas da classe média tradicional, junto com a sensação de que paga impostos (de renda) e não tem o retorno em saúde, segurança e educação (tudo sai direto dos seus bolsos) e ao mesmo tempo o seu medo de que a chegada de mais gente no seu nicho, piorará as suas conquistas e afastará a possibilidade do “conforto” de quem lá chegou.

Ficar em silêncio, enquanto o PT faz um programa político, é lutar por mais conquistas e defender as que já conseguiram. Por enquanto é uma divergência de classe (não bem luta, pois são classes que apenas têm relação empregador e empregado em alguns serviços domésticos), mais na frente podem ter algo em comum.

A política é a capacidade de construir alianças para superar dificuldades num mundo assimétrico economicamente e socialmente. Por isso ela sempre guarda a representatividade simbólica da luta. Existem contrários a enfrentar-se, mas ao largo e ao fim acontece uma síntese que tem o mesmo teor dos teoremas: é verdade se forem dadas as tais condições.

O Brasil, despertado de alguns anos de atoleiro, vive o rugir que ensurdece alguns espíritos, mas deixam claras mensagens que indicam seu caminhar. Antes de seguir adiante vamos à base da saída do atoleiro: o movimento democrático pelo fim da ditadura; a superação que conquistas apenas seriam possíveis em modelos autoritários, o reconhecimento que a base popular era a sustentabilidade no tempo e espaço, que era preciso definir instituições, poderes e ordens que atendessem ao bem estar-geral.

A Constituição de 1988, define claramente as ordens de modo complementar, de tal maneira que na ordem econômica e na ordem social o primado é o trabalho e o objetivo o bem o estar geral, a dignidade da pessoa humana e a autonomia nacional. A política será feita por este caminho.

Não vamos perder o norte das coisas de dedo em riste para os outros. Isso é a farsa de Aécio que briga com Alckmin, que briga com Serra, que briga com Dilma, que briga com Temer, que briga com Eduardo Cunha, que briga com Lula numa barafunda de individualidades oportunistas, nada atinentes à real situação da política no Brasil.   

Luta democrática e popular por uma sociedade de universal bem-estar. Considerando, é claro, que existe muita gente que não acredita em acessos universais e apenas crer no valor de mercado (seu mérito).


Mas como o mercado substituiu a família neste mundo de hoje, ainda é possível que eu diga que a minha família é menos perversa que a tua sem que precisemos trocar palavrões para nos entender. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

"ÓDIO" E "INSENSATEZ": PERIGOSA COMBINAÇÃO - José Nilton Mariano Saraiva

Mercê da generosa remuneração oferecida, da possibilidade de traficar influência, da garantia de uma aposentadoria precoce e polpuda e de mais um mundo de facilidades no dia a dia, não há como contestar que - no Brasil – lamentavelmente o ingresso na atividade político-partidária transformou-se numa espécie de rentável e atrativo “investimento”, verdadeiro “meio-de-vida” sem fazer força, assegurador de um futuro risonho e promissor (e tal juízo de valor não exclui nenhuma das atuais legendas, embora, evidentemente, sem contemplar todos os seus integrantes).

Eis a razão do “enxame” de candidatos que, mesmo antes de adentrar a arena política, visa apenas e tão somente “se fazer”, mesmo e apesar do total desconhecimento da nobreza do conceito grego sobre o que venha a ser “política” (com “P” maiúsculo), daí a pouca ou nenhuma importância – ou seria “conveniente ignorância” - sobre ética, interesse público, bem estar coletivo, priorização do social, dedicação a uma causa maior e por aí vai.

Como resultado, temos o surgimento no seio do nosso parlamento federal, de “bancadas” às mais diversificadas e específicas, cada uma puxando com avidez a sardinha para a sua brasa: bancada da bola, dos evangélicos, da bala, dos latifundiários, dos banqueiros, dos empresários e tantas outras (quanto ao povo, que lá os colocaram, que “se exploda”, como diria Chico Anísio).

Como em toda regra há as exceções de praxe, evidentemente que também aqui existem aqueles que objetivam servir ao próximo, conseguir melhorias para o país, priorizar o social e melhorar a vida dos menos favorecidos, conforme nos mostraram na “prática-executiva” Lula da Silva e Dilma Rousseff, ao excluir o Brasil do mapa mundial da fome, ao catapultar da pobreza absoluta milhões e milhões de compatriotas e ao fazer o país crescer e desenvolver-se.

A encimada e simplória reflexão objetiva lançar um olhar sobre o atual e difícil momento pelo qual atravessa a nação, quando, a uma “crise econômica” (e o Brasil não é uma ilha) séria e merecedora de cuidados (mas, perfeitamente superável), as dezenas de “pilantras-políticos” com assento no Congresso Nacional irresponsavelmente e sem qualquer compromisso com a seriedade, resolvem tentar criar, por picuinha, interesses contrariados ou mera pirraça, uma “crise política” que pode ter repercussões inimagináveis ou desaguar no caos absoluto (a última, lembremo-nos, nos custou 21 longos e angustiantes anos, sob o tacão de uma ditadura militar braba).

Fato é que, juridicamente (o único meio legal disponível), o “impeachment” de uma presidenta democraticamente eleita pelo povo é algo anômalo e impraticável, simplesmente por não existir um fato determinado que o justifique (conforme já anunciado por causídicos de escol). Há que prevalecer, pois, a legitimidade do voto popular.

Assim, querer desfraldar tal bandeira (detonar a presidenta) escudando-se na corrupção desenfreada praticada por meia-dúzia de bandidos no âmbito da Petrobras (sem que haja qualquer resquício de participação da mandatária maior da nação) ou até por esta ter adotado métodos de política econômica de uso recorrente pelos seus antecessores (uma espécie de contabilização específica de determinadas transações, de pronto e imediatamente rotuladas pejorativamente de “pedaladas fiscais”) trata-se de algo inaceitável e que cheira ao mais abjeto golpismo.

Principalmente em se sabendo que nas duas casas legislativas federais (Câmara e Senado) não só existem dezenas e dezenas (a maioria) de “picaretas” que foram beneficiados com propinas e doações às mais diversas (inclusive oriundas do esquema Petrobras) assim como pelo fato de que tais denúncias envolvem os respectivos presidentes (Eduardo Cunha e Renan Calheiros), teoricamente metidos até o pescoço em tenebrosas transações.

A constatação a que podemos chegar é que, por não se conformarem de terem sido derrotados nas quatro últimas eleições presidenciais, e por não aceitarem um modo de fazer política resultante na ascensão dos menos favorecidos, os líderes oposicionistas ao atual governo se acham movidos pelo ódio, tomados pela insensatez, incensados pela truculência, possuídos pelo revanchismo, daí o pouco caso demonstrado com os destinos do país (a ordem é mesmo tentar inviabilizar o governo a qualquer custo, tocar fogo no país e solapar as leis, independentemente do que seja a essência de um “regime democrático”).

Agora, o inacreditável nisso tudo é ver o líder da oposição no Senado, Cássio Cunha Lima (que recentemente teve o mandato cassado por abuso do poder econômico e corrupção), o Aécio Neves (que teve o “privilégio” de receber de uma das empreiteiras envolvidas no Lava Jato uma generosa doação), o José Agripino Maia (beneficiário de um milhão de reais em operações do Detran, em Natal, além de outras “mutretas” em estatais federais) e um Fernando Henrique Cardoso (que comprou votos para ser reeleito, usou das mesmas “pedaladas fiscais” e torrou o patrimônio nacional através de privatizações fajutas) posarem agora de “paladinos da  moralidade e da justiça”.


É dose, senhores, é dose.    


NUNCA VIRAM COISAS A GRANEL.

Uma reta asfaltada, motor turbinado, mais de 160 quilômetros e as margens da via são apenas um turvo passar de algo que se admite sejam vegetais. E foram horas nestas retas de correr tempo e reduzir paisagens.

E na margem da estrada tanta vida há.

Ele, um fruto exuberante da raça humana. O cheiro dos sertões, o ímpeto de vergar o impossível, a aceitação do inevitável e o romper cercas que tentam nos reter.  

Ela, o mais suave pé no chão, um rosto de exprimir divindades, cabelos de explodir sensualidade, uma voz suave e protetora como a rendilhar minutos e tecer longos tapetes do amanhecer.

Um cão que caça, olha, parece revelar toda a complexidade dos seres vivos. E quando nada se pensa, ele é certo que acontecimentos não são pontos finais, apenas o ruído articulado pelos suspiros da vida.

E aos trancos e esborrachadas, a 160 quilômetros por hora, os desta classe seguem. Saem de quatro paredes, sem olhar as margens, diretamente para outras quatro paredes. E ali tramarão enriquecer ainda mais.

E como zumbis da pós-modernidade, com seus polegares loucamente digitando, a cabeça dobrada sobre o tronco, eles correm pelas redes sociais sem olhar as margens.

Não têm o gosto dos lábios dela ou dele e nem o olhar adivinhado de um cão. São apenas margem.
Marginais dos novos tempos. 

Nunca ouviram falar na Estrada de Canindé.


Pois é, pra quê? 

palestra PONDÉ - "POR QUE CONTRA UM MUNDO MELHOR?"


quinta-feira, 6 de agosto de 2015


Esta manhã, há setenta anos, em Hiroshima.

E pensei, setenta anos,
E os netos do Enola Gay ainda riem da vida!

E ouvi o distante barulho dos motores,
Entre as nuvens com seus alados rancores.

E pensei em Vinícius,
Silabando o apocalipse de uma única bomba.
.
São setenta anos de ameaças,
A nuvem radioativa, esquelética, neoplásica.

O carimbo na calçada,
De corpos reduzidos a manchas nos batentes.

E daquela gente,
Arrancando a pele como fatias de papelão.

Do lento despertar,
Naquela manhã rotineira antes do fim.

Foi há setenta anos,
Não espere as dores, foram deles.

Não espere o desespero, foram eles.

Não espere o desencontro, eles se perderam.

Não cite a esperança, eles já não sabem as palavras.

Apenas a nuvem radioativa,
Assassina, controversa, daquela manhã em Hiroshima.

Chegou sobre Hiroshima,
O anjo negro na altura de nove mil metros de covardia.

Como se acende um cigarro,
Às oito horas e nove minutos Paul Tibbets armou a bomba.

No ponto de oito horas e quinze minutos,
A bomba lançada levou quarenta e quarto segundos em silêncio.

Na altura de quinhentos e oito metros,
Liberou todos os castigos sobre Hiroshima.

Onde o experimento,
Deu esperanças de mais sobrevoo da morte a Nagasaki

Eles sabiam o resultado de Hiroshima,
E não pararam.

Continuaram.

Jamais pararam.


Fogo-fátuo

                                                                                                                     

                                                                                                                               J. Flávio Vieira

Elpídio , depois de tanto desprezo, resolveu abandonar de vez a Expocrato. É que nos últimos anos foi se sentindo, pouco a pouco, relegado a um terceiro plano. Percebeu-se, por fim, como uma mosca dentro do Centro Cirúrgico.  Certo que nunca fora chegado à Pecuária e aos mistérios da Agricultura, encantava-se, no entanto, com aquela muvuca de sempre: a possibilidade de encontrar velhos amigos, a música , o filhóis , o paraíso que ali carrega  o nome enganoso de Inferninho, a paquera . Sem falar no Whisky que o transformava, facilmente, numa mistura de Leonardo de Caprio e Bill Gates.  De repente, teve a sensação de que chegara em Marte. Música ruim, cerveja quente e cara , estacionamento a preço de Avenida Paulista. Os próprios companheiros dos velhos tempos começaram a rarear, tangidos, possivelmente, pelos mesmos fantasmas que agora o atormentavam. As pretensas e prováveis paqueras já não tinham idade para aguentar Wesley Safadão  gritando no ouvido , ou sertanejos se derramando em lágrimas . E as  novas gerações estavam numa outra dimensão, não se interessariam , nunca, por um goiabão da sua marca, sexy ( mas aquele tipo de Sexy à Genário)  com cheiro de Brilhantina Glostora e perfume da Avon.  Não tinha mais o que fazer na Expocrato.
                                   Este ano, no entanto, uma novidade balançou suas estruturas. Soube da vinda do “Rei – Roberto Carlos”.  Voltaram, como por encanto, as longas costeletas à Elvis, a calça Boca-de-Sino, o medalhão no pescoço e o cabelo  black-power. Roberto escrevera a trilha sonora da sua juventude, cada música o transportava, imediatamente, para uma sensação única : o cheiro de jasmim  da menina de pastinha, a lombra do primeiro baseado, o gosto do beijo roubado no portão...  Além de tudo, com certeza, toda aquela geração estaria reunida no show do “Rei”.
                                   Elpídio quebrou, então, a jura que fizera dois anos atrás: “Nunca mais pisarei  na porcaria dessa Exposição!” . Comprou, ainda relutante, o Ingresso Ouro e se preparou, ansiosamente,  para  os “Detalhes tão pequenos”. E foram muitas e muitas “Emoções”... Música a música foi como se projetassem , caleidoscopicamente, fragmentos da sua vida. A plateia , educada e atenta, compunha-se de  incontáveis companheiros dos velhos tempos. Todos ávidos em apreender, junto a cada canção, estilhaços felizes da existência que se foram partindo ao longo do caminho. Elpídio percebeu em todos a mesma dupla sensação: a hipnose com  o brilho baço de momentos e sentimentos afogados  em meio às cinzas e a angústia disfarçada de não mais ser possível refazer o cristal que se esfacelou. Era como se todos estivessem ofuscados com o brilho de uma chama , sem perceber que era um  mero  fogo fátuo.
                                   Elpídio , então,  voltou o corpo para a outra extremidade da estrada. Parecia escura e tenebrosa, mas era sua única possibilidade de seguir em frente. Poderia permanecer postado em meio ao caminho apenas contemplando , saudoso, o fogo fátuo: mero esboço da ardente fogueira  de outrora. Despiu-se, calmamente, jogou longe os chinelos e partiu nu , na vereda desconhecida ,  aproveitando a fosca luz que vinha de trás,  pra não sei onde, pra até quando, pra quem sabe um dia...   


Crato, 06/08/15

A "DESMORALIZAÇÂO" da "ÓIA" (Revista VEJA)


Senhor Presidente, Senhoras Senadoras, Senhores Senadores,

Eu vim aqui relatar um episódio que aconteceu nos últimos dias. Tive uma amostra, embora essa não tenha sido a primeira, do que há de pior no jornalismo, que se manifesta quando alguns profissionais pensam que detêm a exclusividade da informação e da verdade. Este pensamento arrogante, aliado ao mau-caratismo e movido por interesses escusos, pode ter efeitos devastadores na vida de qualquer cidadão, especialmente, quando praticado por um grande veículo de comunicação.

Há duas semanas, os jornalistas Leslei Leitão e Thiago Prado – da revista Veja – me procuraram alegando ter em mãos o extrato de uma conta minha no Banco BSI, na Suíça, com o saldo de 7 milhões e meio de reais. Fui enfático ao responder. Disse que não tinha a conta mencionada e nenhuma relação com aquele banco, consequentemente, o extrato não poderia existir. Mas eles insistiram na veracidade do documento. Eu, então, ironizei: se o dinheiro for meu, eu vou buscar.

Mesmo diante da minha negativa, os jornalistas não tiveram a prudência de investigar e apurar com afinco a veracidade do documento. Eles resolveram publicar uma matéria mentirosa e difamatória, baseados unicamente num documento falso, sem nenhuma comprovação, intitulada: “O Mar não está para peixe!”

A publicação rapidamente se espalhou, foi reproduzida por inúmeros jornais no Brasil e no mundo. Recebi milhares de questionamentos – não pela origem do dinheiro, porque graças a Deus, tenho uma condição financeira confortável fruto do meu trabalho fora da política – mas pelo fato da quantia não ter sido declarada à Receita Federal. Diante da grande repercussão e do meu compromisso público com milhões de brasileiros, peguei um avião e viajei até a Suíça pra passar a limpo a história, obviamente, pagando todas as despesas do meu bolso.

Naquele país, constitui dois advogados em Genebra, onde cheguei acompanhado por minha ex-mulher Isabella, hoje amiga, que é fluente em francês e pode auxiliar com o idioma. Nessa reunião os representantes do BSI confirmaram que o extrato é falso e que eu não tenho nenhum vínculo com a instituição financeira, muito menos uma conta. Imediatamente comuniquei a todos, por minhas redes sociais, a veracidade dos fatos.

Hoje recebi do banco suíço BSI a confirmação definitiva de que o extrato da suposta conta bancária – com o saldo de R$ 7 milhões e meio de reais – em meu nome, é falso. Com essa constatação de grave delito penal, o banco também me comunicou que fez uma queixa penal no Ministério Público de Genebra para que eles possam apurar o crime.

Paralelo a isso, o Ministério Público Federal do Brasil também emitiu uma certidão comprovando que não há no órgão nenhuma apuração dessa suposta conta bancária mantida por mim na Suíça. Desmentindo, mais uma vez, a revista Veja.

Diante destes fatos, volto aqui a questionar os métodos de reportagem da revista. O jornalismo, quando exercido com responsabilidade e profissionalismo, é um dos mais importantes pilares da nossa democracia. Mas não podemos aceitar que crimes sejam cometidos, disfarçados de jornalismo.

Eu sou uma pessoa pública e graças a Deus tenho os recursos para me defender. Mas muita gente não tem. Esse tipo de irresponsabilidade não pode passar em branco. Estou processando a revista Veja e os jornalistas que escreveram a matéria, cobrando uma indenização por danos morais no valor de dez vezes o que eles disseram que eu tinha na Suíça.

Serei sempre a favor da liberdade de expressão, mas, neste caso, se trata de um fato criminoso, e por isso, eles terão que esclarecer à justiça brasileira e suíça quem falsificou esse extrato.

Ser vítima de injustiça é muito ruim, mas, por outro lado, isso serviu para mostrar a falta de ética da Veja, uma revista sem credibilidade, que já sofreu diversos processos e, mesmo assim, não deixa de fazer publicações sem provas. O que ficou bem claro, pela repercussão do assunto, é que as pessoas não consomem mais mentiras sem reagir.

Aos que estão me vigiando, peço que continuem o trabalho. Porque estou servidor público e devo satisfação aos cariocas e brasileiros. Como bem disse Thomas Jefferson: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. E eu prezo muito pela minha.

Diferente do que disse a revista Veja, o mar sempre esteve, está e continuará para peixe.

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QUI, 06/08/2015 - 09:52
ATUALIZADO EM 06/08/2015 - 09:52
O banco suíço BSI entrou com pedido de queixa penal no Ministério Público de Genebra

Jornal GGN - Na noite desta quarta-feira (05), a Veja publicou uma nota pedindo desculpas ao senador Romário "por ter publicado um documento falso como sendo verdadeiro". A ação ocorreu após o banco suíço BSI emitir em nota a falsidade do extrato utilizado pela revista para afirmar, em reportagem, que o parlamentar teria R$ 7,5 milhões. O banco ainda entrou com uma queixa penal no Ministério Público de Genebra.

"Esse pedido de desculpas não veio antes porque até a tarde desta quarta-feira ainda pairavam perguntas sem respostas sobre a real natureza do extrato, de cuja genuinidade VEJA não tinha razões para suspeitar. A nota do BSI dissipou todas as questões a respeito do extrato. Ele é falso", disse a nota do site da revista.

A Veja insistiu que continuará investigando a legalidade do extrato, "revisando passo a passo o processo" que, segundo eles, não teve "nenhuma má fé" e que a publicação do documento falso como verdadeiro é um "evento singular que nos entristece".

Após a publicação da revista há duas semanas, Romário decidiu viajar até Genebra para verificar as informações. O senador descobriu que os documentos eram falsos. Uma carta do BSI desta quarta-feira (05) comprova: "nós estabelecemos como certo que este extrato bancário é falso e que o Sr. Romário de Souza Faria não é o titular desta conta em nosso banco na Suíça", diz a correspondência endereçada aos advogados contratados por Romário em Genebra. 

O banco disse, ainda, que abriu uma "queixa penal na Procuradoria Geral de Genebra no dia 4 de agosto de 2015", contra "um desconhecido", podendo "estabelecer com certeza que o extrato da conta é falso e que o sr. Romário de Souza Faria não é, portanto, titular de dita conta em nosso banco na Suíça" ao procurador responsável. A instituição financeira considera que os atos "constituem diversos delitos penais graves, em especial a falsificação de documentos"