por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 7 de agosto de 2015



NUNCA VIRAM COISAS A GRANEL.

Uma reta asfaltada, motor turbinado, mais de 160 quilômetros e as margens da via são apenas um turvo passar de algo que se admite sejam vegetais. E foram horas nestas retas de correr tempo e reduzir paisagens.

E na margem da estrada tanta vida há.

Ele, um fruto exuberante da raça humana. O cheiro dos sertões, o ímpeto de vergar o impossível, a aceitação do inevitável e o romper cercas que tentam nos reter.  

Ela, o mais suave pé no chão, um rosto de exprimir divindades, cabelos de explodir sensualidade, uma voz suave e protetora como a rendilhar minutos e tecer longos tapetes do amanhecer.

Um cão que caça, olha, parece revelar toda a complexidade dos seres vivos. E quando nada se pensa, ele é certo que acontecimentos não são pontos finais, apenas o ruído articulado pelos suspiros da vida.

E aos trancos e esborrachadas, a 160 quilômetros por hora, os desta classe seguem. Saem de quatro paredes, sem olhar as margens, diretamente para outras quatro paredes. E ali tramarão enriquecer ainda mais.

E como zumbis da pós-modernidade, com seus polegares loucamente digitando, a cabeça dobrada sobre o tronco, eles correm pelas redes sociais sem olhar as margens.

Não têm o gosto dos lábios dela ou dele e nem o olhar adivinhado de um cão. São apenas margem.
Marginais dos novos tempos. 

Nunca ouviram falar na Estrada de Canindé.


Pois é, pra quê? 

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