por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 9 de agosto de 2015

Meu pai, um artista cratense!- por socorro moreira




Cratense, filho de Alfredo Moreira Maia e Ana Amélia Ferreira de Menezes , nasceu no dia 28 de fevereiro de 1924.Faleceu no dia 21 de outubro de 1987, aos 64 anos, exatamente na idade em que estou prestes a completar (eu, sua filha mais velha).
Ainda criança, de pouca idade, revelou seu potencial para as artes plásticas. Minha avó dizia-me que, quando começou a desenhar, o fazia em pé, num tamborete para alcançar a mesa. Autodidata ,desenhava letreiros, telas a óleo, cartazes em nanquim, fotos -pinturas( sua primeira experiência profissional, na cidade de Missão-Velha), além de grande habilidade como criador e
artesão. Não havia nada que o meu pai não fizesse com um pequeno canivete, pistola, solda, lápis e pincel.
Depois de 8 anos de namoro, molhados com músicas, desenhos, e gentilezas, conquistou minha mãe (Maria Valdenòra Nunes Moreira), em definitivo. Era o ano de 1950.
Ele- o artista, o cantor, o homem de habilidades mil.
Ela- a professora e filha de Maria.
Ele pisciano e ela capricorniana. Uma sinastria interessante, talvez até um pouco complementar, mas totalmente oposta.
Convivência de 45 anos, entre festas e missas, até que a morte os separou.
Tiveram 10 filhos, entre os quais seis  vingaram, e ainda vivem (cinco mulheres e um homem)- Cinco Marias e um Alfredo.
Fui a primeira das marias, nascida em 1951.Fui filha única por muito pouco tempo
Talvez por lembrar o nascimento de todos os meus irmãos, não brinquei de bonecas, nem participei muito dos folguedos da época. Estava centrada nas músicas, nos livros, e nos lançamentos de  todos os filmes.
Enquanto os gostos do meu pai me davam um prazer imenso, o cotidiano da minha mãe era doutrinário: rezas, estudo e gastronomia. Meu pai era exigente, e só comia o que a minha mãe fazia.
Ela até gostava de dizer:"a gente conquista o homem é pelo estômago".Conversa, Dona Valda, a gente conquista um homem é sendo paciente , e se fazendo de burra!( Na verdade a conquista  é bilateral- são disposições para dar e recebr, o tempo todo!)
Eu e meus irmãos acabamos muito misturados, nem sempre equilibradamente.
Amanhã é domingo. Para mim um dia como qualquer outro, além de pequenas e grandes recordações.
Nasci na Rua José Carvalho, mas aos 3 anos nos mudamos para a Rua Pedro II.
Dia de domingo, a radiola não parava um só instante. Ele ficava quase a manhã inteira de pijama, brincando comigo e duas irmãs mais novas (Zélia e Verônica). Minha mãe fazendo quitutes especiais, e uma Brahma de Recife, na geladeira a querosene, querendo ficar gelada.
Era um pouco anarquista na essência, mas ao mesmo tempo tinha suas paixões políticas. Participava das campanhas que elegiam representantes da nossa cidade. A gente também se empolgava ,tanto com o Vasco, como com os candidatos da  extinta UDN.
Tinha uma grande 'corriola' de amigos verdadeiros, fiéis.... Eu sentia orgulho de ser filha de Moreirinha. Mas sentia frustação por ter alma de artista, sem habilidades. Neste caso, o sangue da minha mãe me conduzia por outros caminhos, e revelaram-me outras tendências, nunca, entretanto, bem desenvolvidas. Fazer o que?
Com pistola, martelinhos e tintas ele nos sustentava.Com o produto do trabalho que lhe sobrava , ele bem vivia!
Morreu jovem demais, justo por viver sem limitações. Era intenso!
Durante décadas fez cartazes para o Cine Cassino, em troca de permanentes  para toda família. A gente só precisava batalhar pelos bombons Piper, zorro e chicletes Adams. Se a censura não me permitia ver todos os filmes, eu lia “Cinelândia” e pedia-lhe que me contasse alguns enredos. Também lia seus livros de bolso- todos!
Éramos apaixonados por Moreirinha. Lembro que Verônica, ainda criança, um dia perguntou para minha mãe: ” mamãe aonde você encontrou esse homem tão lindo? ” E minha mãe respondeu-lhe: “passeando na praça de Cristo Rei. Olhando a fonte luminosa da Samaritana. Como conseguia negar-lhe água? Ela me presenteava com laços de fitas e margaridas  para os cabelos,e desenhos de céu estrelado.
Não consigo passar um dia, sem lembranças do meu pai. Das viagens pelo Brasil, que juntos fizemos; dos desenhos nas toalhas da mesa; das gargalhadas, nas madrugadas, quando jogávamos "carapu" ( paciência a dois) ou mesmo o buraco;das músicas que ele ouvia , cantava, ou  assobiava, 24 h por dia. Uma bagagem artística- amorosa, infinita!
Obrigada meu pai! 
- Natureza boêmia, amou sua família, seus amigos, e a sua cidade: O CRATO!


Compartilho esse texto com meus irmãos: Catarina Moreira, Verônica Moreira, Teresa Moreira, Zélia Moreira e Alfredo Moreira . Incluo genros,nora,netos(as),bisnetos(as), suas irmãs, sobrinhas(os), primos(as) e amigos (notadamente, todos aqueles que o conheceram, e ainda recordam sua vida singular, no Planeta Terra).


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2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Socorro e a natureza de nosso ser. Ser no mundo. Entre a mortalidade, como medida do tempo e a permanência como o difuso da prisão do tempo pela memória, porém, pelos cantos dos olhos vendo algo além do campo visual. É esta lateralidade da visão que nos desperta em futuro, em desejo de ir mais adiante, com a necessidade de um senso de conquista e humildade. Ter o prazer do domínio do conhecimento e a desconfiança de que este pode se encontrar sob a influência de circunstâncias, interesses pessoais e sociais, e, com alguma frequência, uma doutrina que nos limita por querer tudo conduzir num caminho. O caminho é uma bela e útil simbologia, mas não deixa de ser um foco onde nos esquecemos de toda a extensa floresta que lhe margeia. Enfim, amar o vivido para amar ainda mais as vivências e a potência daquilo a viver.

socorro moreira disse...

"Amar ainda mais a potência daquilo a viver!"

Se não sei o dia certo, vivo o hoje com o entusiasmo de uma criança vadia, e o idesalismo de uma cidadã, que insiste em ser madura.
Sempre fica muito em mim de tuydo que vc escreve.
Obrigada pela tua amizade.Você tem o meu carinho.