por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

CRIANÇA SÍRIA PERDIDA NO DESERTO É SALVA PELA ONU - José do Vale Pinheiro Feitosa

Na mesma linha da postagem anterior. A CNN divulgou uma história com dois ingredientes hollywoodiano - drama e tragédia: uma criança sozinha andando no deserto. Havia se perdido da família. Eram sírios em fuga pelo deserto da Jordânia. Salvo por uma equipe do Alto Comissariado da ONU e registrado por repórteres e fotógrafos, ele carregava uma bolsa com umas migalhas para comer e uma garrafa para matar a sede.

A notícia virou o mundo. A jornalista Hala Gorani publicou a história no Tweet e despertou a emoção dos leitores. Foi este o trabalho pela informação?

Não!

Não passava de uma farsa. A criança não estava sozinha, acompanhava um grupo de pessoas em fuga, incluindo os familiares do garoto que caminhava alguns passos à frente dele. Um fotógrafo que seguia à frente tirou uma foto do grupo e ao ampliá-la quem estava lá? O menino que teria sido encontrado sozinho na solidão do imenso deserto. 

Estes americanos são mesmo a moral suja imperial. Financiam a desgraça e ainda tiram proveito econômico até da notícia dos efeitos causados por eles. 

Manchete encontrada em orgia no submundo - José do Vale Pinheiro Feitosa

A chamada da postagem é apenas um jogo para evidenciar os enorme papel que os títulos, chamadas ou manchetes têm para atrair o leitor. E como uma mensagem cifrada, cheia de símbolos, a manchete por vezes é a primeira impressão sobre a notícia senão a única. 

A manchete dos jornais é resultado da hierarquização da notícia (informação). O destaque mostra a importância do fato. Isso foi tão marcante que se expandiu por todos as mídias. Rádio, Televisão, Internet etc.

Acontece que jornais e os sites são ligados a empresas que prestam serviços e vendem ou apoiam opiniões. E é aí que a hierarquia toma a feição da manipulação, da armação e das campanhas de natureza política.

Agora mesmo nas manifestações da Venezuela aconteceu uma enorme leva de manipulações nos sites da internet. Fotos que eram tidas como sendo das manifestações na verdade eram imagens de manifestações, conflitos e vítimas acontecidas em outros países e muito antes.  

Empresas do mercado de mídias chegaram a reproduzir tais fotos, como por exemplo a CNN. Mas a novidade é que usando a internet como fonte da falsidade, também rapidamente é a fonte do desmascaramento. Foi o que aconteceu.

Acirrando-se posições os consumidores dos meios de comunicação precisam ficar atentos para as tais “hierarquizações”. Só para se observar um exemplo que está em curso desde o início da manhã de hoje.

Desemprego sobe em janeiro e fica em 4,8%, aponta IBGE. SITE GLOBO.COM
Desemprego fica em 4,8%, menor taxa em 11 anos. Site Brasil247 simpático ao governo.
Meia hora após Globo.com refaz a manchete: Desemprego registra menor taxa para janeiro desde de 2003, diz IBGE.

Isso tudo em razão da pesquisa mensal que faz o IBGE sobre o emprego no Brasil. Acabou de sair o relatório e o que acontece é que passado o mês dos empregos temporário (dezembro com as festas de finais de ano) o desemprego sempre aumenta quando se comparam os dois meses (janeiro com dezembro pois o indicador do IBGE, sendo mensal, é bem dinâmico).


É tanto que mais vagas foram cortados no setor do comércio seguida de educação, saúde e administração pública. De fato, em onze anos este indicador de janeiro foi o menor, a taxa de pessoas empregadas cresceu em relação a janeiro de 2013 assim como o rendimento real habitual do empregado. 

O pouco que se planta alimenta a filharada. - José do Vale Pinheiro Feitosa

Lá o pouco que se planta
Alimenta a filharada
O pouco com Deus é muito
O muito com Deus é nada

A cada nota musical a espuma azul cobre mais a sujeira que baixou do mundo. Novamente o refrão: Lá o pouco que se planta.

Não é a África. É a mama África. É o Rio de Janeiro destilando o seu código genético. Alimenta a filharada.

- Olha aí! Eu vou dar um tempo. Sair uns dez dias. São férias mesmo. Não vou ficar mofando em casa. São dez dias.

A esponja pinga água e esfrega a espuma azul sobre o metal. Botas longas. Roupa padronizada com símbolos e tudo. Alto e esguio como um Watusi. Um Etiopiano da nascente do Nilo Azul. O pouco com Deus é muito.

- Vou lá em Itacuruçá. Com sete contos vou lá naquele parque e passo o dia inteiro. Vou dar uma olhadela naquela ilha lá. Ela tá lá. Eu vou. Vou e volto por quinze contos.

Vai da traseira à dianteira esfregando a espuma azul. Gira volta pelo outro lado. Vidros. Limpadores levantados. Espelhos. Porta. Rodas. O muito com Deus é nada.

- De chumbada e molinete? Eu gosto com a chumbada amarrada na barra e a gente em cima do barco.

- Aí. Eu fiz muito isso lá em Macaé. Ali naquele lugar perto da Base da Petrobrás. Comprei uma chumbada legal. Uns camarãozinho no maior caô. Deu legal.

As mãos molhadas apertam o botão que liga a bomba do esquiço de água.

- E este interruptor não é um perigo? Vocês todos molhados.

- De vez em quando vem um choquezinho básico.

O jato de água vai retirando a espuma azul misturada ao cinza da sujeira. E recomeça. Lá o pouco que se planta. Alimenta a filharada.

- É um samba de partido alto?

- Zeca Pagodinho na parada. O Zeca pagodinho é daquele jeito mesmo. Eu já cruzei com ele. Lá no posto de gasolina que eu trabalhei na Barra. Ele chegou perto de mim, disse que eu esperasse que ia me dar alguma coisa, meteu a mão no bolso e tirou umas notas toda amassada. Ele é assim mesmo. Não tem farsa.

- É sincero.

- Autêntico. Outro dia um amigo deu carona para ele ir lá naquele Pet Shopping que fica ali no Recreio. O Zeca pediu carona e o amigo: mas Zeca é tu mesmo! Vá lá meu irmão, toca esse bicho para frente que tá um calor danado.


- Não tem farsa. Pega o carro aí, dá uma volta e põe ali na frente para eu enxugar. 

Sujeito Pacato. Cantada por Zeca Pagodinho. Composição Serginho Meriti e Claudinho Guimarães.

AMEI CONHECER FfERNANDO TORDO...


Vale a pena escutar como se fosse pela primeira vez...


Carnaval da Saudade - 2014


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A Rama de Jerimum na Grota do Riacho do Meio - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nas nove horas o sol já funga como o sopro da fornalha. O chão desta terra nordestina é o espelho da luz. Espelha tanta energia que arde como a trempe do fogão a lenha.

- Vó?

- Ôi meu fiii! – a cada sílaba os tufos de fumaça falava com a paisagem levando a mensagem do cachimbo.

- Eu tô cum vontade de ir lá na grota perto do riacho do mei e apanhar uns jerimuns caboclo que esperei dar no ponto.

- Vá meu fii! Vá! Dá tempo....

- Eu vou trazer todos eles. Tô com um vontade danada de comer jerimum.

- Traga meu fii! Traga eu vô cuzinha eles e nós come.

- Come Vó! Vô ino.

Se eu tivesse tempo ia mostrando todos os fragmentos que o mundo implantou dentro de mim. Mas são tantos fragmentos que nem sei de onde tirar. E quanto mais tiro mais os bichos aparecem. Assim como ouvir, pela primeira vez Nat King Cole, naqueles tempos que somavam as melodias de volta da gente, as mais ali, as acolá e até lá das lonjuras que nenhuma pisada conseguiria chegar. 

Nat King Cole canta Mona Lisa feita para a trilha sonora de um filme da Paramount, composta por Ray Evans e Jay Livingston

Uma voz que se inveja matasse, eu já estava morto desde os idos dos anos sessenta do século XX. Ele também morreu em 15 de fevereiro de 1965. Uma vingança do tamanho da minha inveja: um câncer venceu sua garganta e a teia se espalhou pela voz e por toda a vida.

Pretend gravada por Nat King Cole em 1952, composta por Lew Douglas, Cliff Parman e Frank Levere

Uma voz que honraria qualquer cultura. Qualquer família de bem. Mas Nat King Cole foi uma vítima contínua da discriminação racial. No Alabama, na cidade de Birminghan, ele foi derrubado no palco enquanto cantava Little Girl. Eram membros da North Alabama White Citizens.

Little Girl - com letra do próprio Nat King Cole

 No tempo em que a Máfia mandava em Cuba junto com o ditador Fulgencio Batista, ele foi cantar, mas proibido de hospedar-se no Hotel Continental porque era negro. Comprou uma casa num subúrbio de Los Angeles, onde moravam brancos e de lá foi expulso.

Ay Cosita Linda - do disco em que Nat King Cole cantava em Espanhol a música foi composta por Pacho Galan, músico colombiano

Nat King Cole mora na grota do Riacho do Meio e de vez em quando vou apanhar um jerimum por lá. 

Além de descer até os povos de fala hispânica, Nat King Cole esteve entre nós, foi primeira página e alvo de reportagens da Revista O Cruzeiro. Até o presidente o recebeu.  
QUANDO É CONSIDERADO LEGÍTIMO DERRUBAR UM GOVERNO DEMOCRATICAMENTE ELEITO? 

EM WASHINGTON A RESPOSTA SEMPRE FOI SIMPLES: QUANDO O GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DIZ QUE É.   


Mark Weisbrot – The Guardian

Vá para Cuba! Vá para a Coreia do Norte! Vá limpar banheiros! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Resolvo falar de um ícone da canção portuguesa. Chama-se Fernando Tordo, tem 65 anos, viveu parte de sua vida sob a ditadura salazarista e outra na democracia. Sonhou um Portugal melhor para os filhos e os netos.


Vencedor de prêmios de festivais da RTP, Fernando foi gravado pela nata da canção portuguesa pós-ditadura como Dulce Pontes, Carlos do Carmo, Mariza, Carminho, Simone de Oliveira e muitos mais. Fernando fez belíssimas canções com o poeta José Carlos Ary dos Santos tais como Tourada, Estrela da Tarde, Lisboa Menina e Moça, O amigo que eu Canto e mais esta Balada para os nossos filhos, que poderemos ouvir abaixo na própria voz do compositor.


Um Portugal melhor para os filhos e netos, Fernando Tordo viu sair pelo ralo com a crise que abala a Europa e Portugal em especial. Nos último ano vivia de uma aposentadoria de um pouco mais de duzentos euros (R$ 659,78) e, segundo seu filho o escritor João Tordo recebia uma pequena aposentadoria da Sociedade Portuguesa de Autores que dava para pagar a gasolina com a qual ia de cidade em cidade cantando suas músicas, ora com casa cheia, noutra mais ou menos e noutras vazias.
Fernando Tordo pegou uma avião e veio morar em Recife. Não conhecia bem o Brasil e o Brasil não conhece sua música admite o próprio filho escritor (que ele cita na música acima) numa carta que escreveu e publicou no jornal “Público” de Portugal. Mas veio e antes despediu-se no Facebook dos amigos e admiradores que ainda tem.

Fazendo as contas Fernando veio tentar uma nova e desconhecida vida aos 65 anos de vida.

No Face recebeu carinho e muitas pedradas no estilo que estamos lendo em revistas como Veja, a extrema insensibilidade humana tal qual aquela Australiana que disse que não iria se sujar ao se referir a uma manicure negra num salão de beleza de Brasília ou a tal Rachel do SBT apoiando a tortura de um menino de rua.

Para ilustrar estes tempos e intolerância anti-humana que é gerada nas redes sociais vou colar o próprio texto que se encontra na carta feita pelo João Tordo:

“Outros, contudo, mandaram-no para Cuba. Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar WC's e cozinhas? Usufruir da reforma dourada? Agarrar um "tacho" proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal euros.

Esse tipo de discurso Fascista tem muito da intolerância a reinar a cabeça de muita gente. Por falar nisso um estudo americano recente feito numa amostragem bem calculada demonstrou que os ignorante desconhecem que o são e têm maior tendência para a arrogância. Claro que o ódio todo se deve às declarações de Fernando antes de embarcar de Lisboa ao Recife.

 “Ainda tenho muita coisa para fazer, muita música para escrever, muita canção para cantar, muita gente para conhecer, portanto é muito provável que aproveite estes últimos anos da minha vida porque não os quero consumir aqui, eu não quero. Não aceito esta gente, não aceito o que estão a fazer ao meu país” refere. “Não votei neles, não estou para ser governado por este bando de incompetentes”.
“O que é natural é que faça como foi aconselhado a muitos jovens mas também poderiam ter aconselhado a mim. Tenho 65 anos, quero-me ir embora, mas sem drama nenhum. Passou a ser insultuoso ao fim de 50 anos de carreira ter de procurar trabalho desta maneira, ter que viver quase precariamente. Não quero, não muito obrigado, vou-me embora. Mas satisfeito!” 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

DECIFRA-ME OU EU TE DEVORO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Desde a Rio 92 que o mundo fala em desenvolvimento sustentável. Nas atuais eleições o Programa do Candidato Eduardo Campos será feito a partir de Diretrizes com acentuada visão da Sustentabilidade. É tanto que na introdução do documento está dito: “construir as bases para um ciclo duradouro de desenvolvimento sustentável, com ampla participação de todos os atores na promoção do progresso socialmente justo, ambientalmente sustentável e libertador das potencialidades criativas da humanidade.”

Um programa de governo com estas características se contraditará com as diretrizes de negócio de muitas empresas que surfam na obsolescência programa, especialmente a de equipamentos eletroeletrônicos. Pesquisa do Instituto Market Analysis junto com o Instituto de Defesa do Consumidor demonstra uma ação deliberada da indústria tanto para programar a obsolescência quanto para psicologicamente motivar o consumidor a aceitar tal desperdício.

Acontece que esta prática de negócio é altamente danosa ao meio ambiente tanto como geradora de lixo tóxico quanto pelo consumo de recursos naturais. E tem muito mais abaixo desta motivação. Isso mexe no próprio “espírito criativo” do capitalismo e com a aceitação desse modelo iníquo de desenvolvimento que hoje avassala inclusive o desenvolvimento do países da América Latina.

A pesquisa demonstra claramente o quanto a prática de negócio é indutora de alienação social e se compõe como na essência do atual modelo de progresso capitalista, orientado por um núcleo concentrado de empresas, a maioria das quais são bancos. O mundo se move como uma boiada tangida pela ganância do lucro rápido. E este lucro é subtraído da natureza finita e da desgraça de bilhões de pessoas.

Os consumidores brasileiros já estão num estágio de alienação tal que consideram a obsolescência como algo natural e descartam equipamentos que ainda funcionam por modelos que nem sempre são tão inovadores. O essencial é que a troca é feita por motivos da moda e pela incorporação de novas funções, num processo que mexe com a estabilidade emocional das pessoas que busca, na troca, uma mudança de status simbólico. 

Os consumidores não se ligam no dano ambiental e não consideram as perdas econômicas, sociais e culturais com as constantes trocas que subtraem alternativas de vida com tais perdas. É tanto que na pesquisa fica claro que eles percebem o jogo da indústria que impõem a obsolescência, têm consciência que a vida útil ideal poderia ser superior à real.

Os consumidores não apenas sabem que são enganados mas aceitam este jogo. Aí vem o grau de alienação que é certamente psicologicamente manipulada pela propaganda e marketing em suas várias modalidades incluindo as manifestações culturais com um rasgado merchandising. Isso já é conhecido com o cigarro e com as bebidas.

Fábian Echegaray no blog Livre Pensar conclui sua análise sobre esta pesquisa assim: “Uma sociedade com clientes vorazmente abraçando o descarte de produtos quando ainda estão funcionando, fabricantes que programam vida útil encurtada nos aparelhos que produzem, agências de publicidade faturando com o pavor à obsolescência psicológica dos consumidores e governos omissos aos efeitos de semelhantes práticas só podem nos colocar na contramão da sustentabilidade.”  


A diretriz de um desenvolvimento sustentável é mais que economia verde, é algo além do modelo de negócio do atual estágio do capitalismo globalizado. É este o enfrentamento que o PSB e a Frente vão encontrar no seu caminhar político. E tal enfrentamento é preciso ser feito com a união dos brasileiros, inclusive para vencer as barreiras da alienação consumista. Não é fácil, mas necessário.

Colaboração de Eurípedes Reis- Texto de Martha Medeiros

Para que serve uma relação? - Martha Medeiros

"Lendo a entrevista que o médico e escritor Drauzio Varela deu para a revista Marie Claire, encontrei a definição mais simples e exata sobre o sentido de mantermos uma relação: "uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil".

Vou dar continuidade a esta afirmação porque o assunto é bom e merece ser desenvolvido.

Algumas pessoas mantém relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça.

Todos fadados à frustração.

Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.

Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo.

Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.

Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.

Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois."

Nós e os Outros - José do Vale Pinheiro Feitosa

O significado das regras, normas e da ética entre os seres humanos é relativo à dinâmica de suas classes, das etnias e da cultura. É impossível uma norma absoluta mesmo as mais gerais que protegem a vida não o são. Por exemplo, a clássica das tábuas de Moisés: "não matarás." Protege a vida, mas sempre foram relativizadas com a legítima defesa, com as guerras de proteção territorial e religiosa. 

O texto abaixo acompanhado da belíssima melodia O Moldava do compositor checo Bedrich Smetana relativiza duas categorias muito comuns nas parábolas que ainda circulam nos tempos atuais. São o guerreiro e o monge. A força, o ímpeto e a ousadia versus a sabedoria, a prudência e a paciência. Onde estas coisas relativizam-se? É quando a virtudes e defeitos de cada uma trocam de sinal entre si.

   

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

UMA ARMA DE DESTRUIÇÃO EM MASSA - José do Vale Pinheiro Feitosa

John Kerry vai à Indonésia e diz que o Aquecimento Global é uma arma de destruição em massa. Importante salientar: John Kerry não emite opiniões pessoais. Ele representa os Estados Unidos da América (EUA).

Mas aí ficamos todos sem entender bem o que acontece. Quem não se recorda das posições políticas dos EUA em relação ao Protocolo de Kyoto (2005) que era uma tentativa de reduzir as emissões de carbono? E as posições americanas na Conferência do Clima em Copenhague (2009)?

Se você não recorda, os EUA sabotaram literalmente estas duas grandes tentativas de uma política mundial para o clima. E agora prometem uma “bomba atômica” sobre o resto da humanidade? Esse angu tem caroço. E dos grandes.

Se temos que enfrentar um grande problema temos que atacar primeiro a dimensão de maior impacto. Por isso as emissões teriam que se reduzir mais drasticamente em quem mais polui: EUA, União Europeia, China e por aí vai. Até quiseram botar culpa nas queimadas da Amazônia e inclusive nas pastagens bovinas, mas isso não tem igual relevância.

A análise do momento atual da história é que há uma crise geral do sistema capitalista composta por um conjunto de várias crises diferentes e de natureza global (não é apenas de alguns países): não é apenas econômica e nem financeira, ela é uma crise da relação com a natureza, do sistema alimentar, de energia, climático e por aí vai. Enfim é uma crise global que envolve o equilíbrio entre o metabolismo da humanidade e o metabolismo geral da natureza.

Os EUA têm enorme poder de condução sobre as demais nações, mas continuam a ter os graves problemas de sua origem. Mesmo quando dão a mão para ajudar alguém sempre intentam as vantagens próprias. Eles formaram a cultura do individualismo que se expressa em todas as suas instituições e em suas políticas mundiais (em sua cultura).

Os EUA antes de tudo. E não caiamos na arapuca de achar que os pobres são individualistas só porque querem sobreviver. Salvar a própria pele. Estamos falando do individualismo qualificado, aquele que passa bem, gera desgraça e exploração e continua na corrida para acumular sempre.

A arma de destruição em massa pode se encontrar no crescimento da China, num rearranjo da economia asiática, mais coordenada entre si e menos dirigida pelo ocidente. Quando se diz que o próximo milênio é aquele do Pacífico, aponta-se um norte para o futuro e é a este futuro que teme os EUA, embora tenha uma grande costa para esse oceano.  

Estamos assistindo à grande hiena no seu grito risonho para mastigar a carcaça das vítimas. A crise atual não apenas teve seu núcleo irradiador em Wall Street como é lá que o modelo do capitalismo vitorioso e hegemônico foi forjado e implementado. Quando tudo, afinal, virou mercadoria, não restou mais nenhum espaço comum para que a humanidade criasse a civilização do equilíbrio.

A esse processo que alguns chamam o espírito selvagem do capitalismo é sempre predatório, numa volúpia de ganhos e mais ganhos, numa desregulamentação geral ao mesmo tempo que cria um privilégio absurdo e regulamentado para uma elite extremamente rica e poderosa. É o que se chama de capitalismo de modelo Anglo-Saxão.


Se formos contar mortes nesse processo, as biografias dos líderes mais sanguinários ou dos regimes que mais mataram, não chegam nem aos pés do que continuamente acontece por violência com mortes e danos irreversíveis aos seres humanos. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Pensamentos, Palavras e Obras - José do Vale Pinheiro Feitosa

Na religião católica existe o pecado por pensamento, palavra e obra. O pecado, nesta religião, é irmão do perdão ou da remissão tão bem exaltada na oração, quando se diz crer na remissão dos pecados. Haverá um julgamento divino mas a generosidade do pai implica no perdão.

Agora a mídia nacional pegou o chicote e o brande contra a sociedade desde a sua vitória espetacular do mensalão quando se utilizou a teoria do domínio do fato para culpar pessoas. Partiu para acionar o domínio do fato até em quem solta foguetes. Claro que com uma razão objetiva: este foguete matou um dos seus.

O Professor Nilo Batista, titular de Direito Penal da Universidade do Estado da Guanabara, ex-Secretário de Segurança Pública, Vice-Governador e Governador do Estado do Rio, escreveu um artigo no blog do Professor Clécio Lemos, expondo a fragilidade da imputação por crime doloso, do delegado de polícia, feita aos rapazes envolvidos com o episódio do rojão que levou à morte o cinegrafista da Rede Bandeirante.

Por mais que se revolte com esta morte gratuita, de um trabalhador na sua tarefa de ganhar a vida, é preciso ir para a obra que é onde o direito e o mundo real funciona. Pensamentos apenas são pecados porque a religião vai até a intimidade das pessoas e preceitua normas e regras em benefício do que considera a pureza do espírito.

O pensamento e as palavras podem expressar desejos (se bem que palavras podem implicar em punição legal) mas a ação, ao querer fazer, a obra é onde o direito pode efetivamente funcionar. Nilo Batista argumenta “nas dificuldades de imputar objetivamente ao manifestante que acendeu e lançou ao solo o rojão o resultado morte do cinegrafista”.

Ele aponta inúmeras fragilidades: rojões não são armas, são licitamente comercializados, o seu uso em festas públicas é lícito, o seu trajeto é errático e flexuoso, não tem mira certa, o rojão foi aceso no chão, não visava a cabeça e foi lançado contra policiais protegidos que revidavam com armas de controle que podem ser letais. E Nilo termina que talvez seja esta a primeira vez de se imputar um homicídio doloso provocado por um rojão.

Com isso ele aponta que para imputação do dolo é preciso determinar a causação adequada e cita Spinoza para melhor definir os conceitos: “chamo de causa adequada aquela cujo efeito pode ser percebido clara e distintamente por ela mesma; chamo de causa inadequada ou parcial, por outro lado, aquela cujo efeito não pode ser compreendido por ela só”. Por isso, levanta Nilo, se o delegado tentasse uma reconstituição do ocorrido, iria verificar que o disparo do rojão não teria um curso causal dominável pelo autor.

E Nilo Batista vai além, não se restringe a expor a fragilidade da imputação da polícia judiciária, ele aponta para uma campanha midiática perigosa e que agride o Estado Democrático de Direito. E termina seu artigo com estas palavras: “O domínio do fato, que fez as delícias de muita gente no “caso mensalão”, pode ser agora um artefato teórico perigoso, se lançado ao caso do momento. Até quando as forças políticas progressistas não se darão conta dos perigos que a hipertrofia do sistema penal traz para a democracia? O sistema penal, Presidenta, também pratica, e massivamente, seus malfeitos.

Agora tem muita gente que cultiva a boa prática cristã e que termina embarcando na punição como solução principal. 

Marcelino Pão e Vinho - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Necessitando preparar uma documentação, procurei a um  cartório para os necessários registros. Fui atendido com muita distinção por um funcionário bastante eficiente e eficaz, que trazia no crachá o nome Marcelino. Lembrei-me do filme e perguntei a ele se o nome era uma homenagem ao filme "Marcelino pão e vinho". Ele apenas sorriu e disse ser o nome do seu avô. Senti-me bastante envelhecido ao pensar que o avô daquele jovem poderia ter a minha idade...
   
Aqueles que foram crianças nos anos de 1955 a 1956 devem lembrar do filme "Marcelino Pão e Vinho" com um pequeno ator chamado Pablito Calvo. Foi um sucesso tão grande, que a história do pequeno órfão abandonado na portaria de um convento de 12 frades  virou até álbum de figurinha. Foi o meu primeiro e único álbum de figurinhas, pois depois dele não tive mais paciência de continuar com  outros. Comprava os envelopes com as figurinhas e depois de certo tempo, as figurinhas contidas nos novos envelopes eram em sua maioria repetidas. A muito custo e com ajuda de colegas que me orientaram a permutar tais figuras repetidas, consegui  preencher o meu álbum com a história do filme completa. Não deixava de ler as noticias nos jornais e na revista "O Cruzeiro" sobre o filme.

O ator principal que representava o menino Marcelino veio ao Brasil, mais precisamente ao Rio de Janeiro, para o lançamento do filme. Fiquei admirado quando soube pela revista "O Cruzeiro" que o lançamento do filme teve de ser adiado por um dia, pois o pequeno astro Pablito Calvo, "o Marcelino", havia se "empanzinado" por haver comido uma grande quantidade de bananas. Lembro-me que fiquei admirado por ele ter gostado tanto assim de bananas e alguém me explicou que na Espanha, o país do "Marcelino", não havia bananas. Lá, naquela época, banana era como se fosse maçã aqui para nós.

Quase um ano depois, o filme passou aqui no Crato no Cine Moderno. Alguém lembra que o Crato possuía quatro salas de cinemas? Pois é pura verdade, acreditem! Que pena!

Assistindo ao filme, fiquei com muito medo quando o pequeno Marcelino entrou numa sala escura, cujo acesso lhe era proibido pelos frades. Ao vê-lo conversar com Jesus pregado numa cruz, fiquei com muito medo, pois naquela época era moda nos fazerem medo de almas.

Como o tempo passou tão rapidamente... Todos nós crescemos, construímos nossas vidas, assim também como Pablito Calvo, o pequeno Marcelino, do qual a grande imprensa brasileira  se esqueceu, assim como esqueceram de Joselito e Marisol, outros atores mirim que a Espanha nos brindou nos idos tempos da nossa infância. Pablito Calvo se formou em engenharia e conforme a imprensa brasileira noticiou, faleceu em 011 de fevereiro de 200 aos 54 anos de idade de um derrame cerebral.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

sábado, 15 de fevereiro de 2014

"MAO", o mau - José Nilton Mariano Saraiva

Durante longos 10 anos, a chinesa Jung Chang e seu marido Jon Holliday se deram à estimulante e trabalhosa tarefa de debruçar-se sobre os arquivos disponíveis no Oriente e Ocidente, objetivando desnudá-lo por inteiro; entrevistaram centenas de pessoas (dentre as quais muitos dos principais atores envolvidos intimamente com a personagem principal, tais quais Henry Kissinger, George Bush, Imelda Marcos, Lech Valesa, Richad Nixon e até o Dalai Lama); viajaram de Norte a Sul, Leste a Oeste à busca de algum dado novo que eventualmente pudesse ter escapado; e, alfim, nos presentearam com a mais completa e caudalosa biografia do líder chinês Mao Tse-tung.

E o que emerge das páginas de “Mao-A História Desconhecida” (Companhia das Letras, 954 páginas) é tão grandioso quanto impressionante, ao nos apresentar em toda a sua crueza, sordidez e pujança um homem obcecado pelo poder e disposto a vender a própria alma a fim de atingir os objetivos colimados, independentemente dos métodos a serem usados; nem que para tanto isso implicasse em deixar a ética de lado, relegar a questão moral às calendas ou esquecer da existência de algo que se chamasse ideologia; em seu juízo de valor, valia até trair aqueles que lhe dedicavam fidelidade canina.  

Megalomaníaco e disposto a ser líder em uma China que comandaria o mundo (“...precisamos controlar a Terra”) optou por transformá-la numa superpotência militar, porquanto  “...o poder vem do cano de uma arma de fogo”. Para tanto, aliou-se ao então líder soviético Joseph Stálin a fim de, paulatinamente, construir o arsenal bélico necessário a tanto. Só que, como não dispunha de recursos necessários para adquiri-lo, obrigou os chineses a jornadas extenuantes e absurdas na agricultura, a fim de produzir os grãos necessários ao pagamento das armas russas. Firmou-se então a parceria: da Rússia armas e tecnologia para a China; em sentido inverso, toda a produção de grãos era destinada à vizinha União Soviética; enquanto isso, os próprios chineses passavam fome e sob um frio siberiano tinham que se valer de raízes de árvores e até lixo para debelarem a fome (e ai de alguém que fosse pego escondendo algo).

No mais, há relatos impressionantes sobre a verdadeira natureza da Longa Marcha, nos anos 30; sobre a ajuda decisiva da União Soviética ao Partido Comunista Chinês; sobre a invasão japonesa durante a Segunda Guerra Mundial; sobre a epidemia de fome que varreu a China matando mais de 70 milhões de chineses (que eram proibidos de comer, embora existisse comida, sim senhor); sobre a Revolução Cultural, que estimulou a prática da denúncia e instaurou o terror entre a população, e por aí vai.    

Algumas particularidades: foi Mao quem sugeriu ao líder alemão Walter Ulbricht a construção do Muro de Berlim; Mao raramente escovava os dentes, tanto que nos últimos anos sua dentadura era de uma negritude só; hidrófobo, passou 27 anos sem tomar banho (preferia que lhe passassem uma toalha molhada no corpo); lá pras tantas, sem nenhum escrúpulo obrigou o amador exercito chinês a se envolver em confrontos suicidas, porquanto “... se metade da população chinesa morrer, não fará a menor falta”; traiu seus principais colaboradores, chegando a proibir o tratamento de um câncer terminal para Chou Em Lay, sua eminência parda, porquanto este não poderia viver mais que ele: foi um marido por demais infiel e um pai omisso, que não se preocupava nem um pouco com os filhos; gostava do luxo e da comodidade.

Enfim, se você tinha Hitler como a personificação da “besta fera”, um monstro horripilante em razão do que aprontou na II Guerra Mundial, ao conhecer em detalhes a vida de Mao constatará que o austríaco-alemão foi um iniciante, mero aprendiz, vulgar amador ante ele: traição, tortura, fuzilamentos, sadismo, frieza, crueldade, terror e tudo que você possa imaginar de ruim vigoraram na China naquele tempo.


Num ponto a convergência é indiscutível e unanime: sob Mao, o povo chinês não apenas comeu o pão que o diabo amassou; o povo chinês conviveu diuturnamente com o próprio Lúcifer (os detalhes de certas mortes são horripilantes). 

Agendem!

Sesc Apresenta: Estacionamento da Música com João Bosco Voz e violão.
Dia 27 de Março as 20:00h.
Ingressos:
Comerciário: 2kg de alimentos.
Usuário: R$ 10,00 + 2kg de alimentos.
Unidade SESC Juazeiro.

Poeira de estrelas?


A flor do Mandacaru, na noite de ontem ...



foto de Rogério
 

Emerson,Rogério e Geraldo Ananias- foto de Ricardo Saraiva




Ela nasce apenas uma vez por ano, e só vive por uma noite...( segundo o sábio amigo e artista, Abidoral Jamacaru)
Ontem estavam desabrochadas, e lindas!

(Parte externa do ICC, na noite de lançamento do livro, " A força de um Mistério, do escritor Geraldo Ananias Pinheiro.
O livro foi dedicado em memória do saudoso mestre Dr.Raimundo de Oliveira Borges, e nos promete prazeirosa leitura..

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Poussières D´Étoile - José do Vale Pinheiro Feitosa

O vídeo abaixo mostra um ensaio fotográfico de Ludovic Florent e chama-se Poussière d´étoile que pode ser traduzido como "Poeiras das Estrelas". 

Ludovic é um jovem fotógrafo, nascido em 1976 na histórica cidade francesa de Dunquerque. Ele trabalha muito com fotografia de estúdio, com técnicas de claro e escuro e objetando o corpo em estado puro, envolvendo emoção e uma sedução espontânea e natural. Eis o que já diz este jovem sobre o seu trabalho: "Em nossa sociedade em mudança, o meu trabalho fotográfico é guiado por um olhar humanista, trazendo para o primeiro plano a beleza natural do corpo, livre para expressar sua graça e personalidade. Atrás de cada envelope carnal se esconde uma alma que é sensível e evidente e é isso que tento capturar em cada uma das minhas fotos."

Uma das coisas mais intensas que existe em arte é quando duas manifestações artísticas se somam. Nesse caso a coreografia da dança e fotografia. É um resultado muito intenso. Sugiro que ampliem o tamanho da imagem na tela para que melhor aproveitem a fotografia. 

Mesmo reconhecendo que as fotos são de direito reservado, mas uma vez que lançadas na internet tive a ousadia de trazê-la aqui. Ela exclusivamente e maravilhosamente um trabalho de Ludovic Florent. Este belo ensaio. Liguem o botão assistam à adição de mais duas manifestações: a música e a palavra.