por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Poussières D´Étoile - José do Vale Pinheiro Feitosa

O vídeo abaixo mostra um ensaio fotográfico de Ludovic Florent e chama-se Poussière d´étoile que pode ser traduzido como "Poeiras das Estrelas". 

Ludovic é um jovem fotógrafo, nascido em 1976 na histórica cidade francesa de Dunquerque. Ele trabalha muito com fotografia de estúdio, com técnicas de claro e escuro e objetando o corpo em estado puro, envolvendo emoção e uma sedução espontânea e natural. Eis o que já diz este jovem sobre o seu trabalho: "Em nossa sociedade em mudança, o meu trabalho fotográfico é guiado por um olhar humanista, trazendo para o primeiro plano a beleza natural do corpo, livre para expressar sua graça e personalidade. Atrás de cada envelope carnal se esconde uma alma que é sensível e evidente e é isso que tento capturar em cada uma das minhas fotos."

Uma das coisas mais intensas que existe em arte é quando duas manifestações artísticas se somam. Nesse caso a coreografia da dança e fotografia. É um resultado muito intenso. Sugiro que ampliem o tamanho da imagem na tela para que melhor aproveitem a fotografia. 

Mesmo reconhecendo que as fotos são de direito reservado, mas uma vez que lançadas na internet tive a ousadia de trazê-la aqui. Ela exclusivamente e maravilhosamente um trabalho de Ludovic Florent. Este belo ensaio. Liguem o botão assistam à adição de mais duas manifestações: a música e a palavra.



Jojó & Juju



J. Flávio Vieira

                               Jojó Fubuia  se tornara, a custa de muito desvelo e dedicação, o pau d´água mais famoso de Matozinho. E olhe que isso não era qualquer conquistazinha, não ! A concorrência não lhe dava trégua. O “Bar do Giba “ vivia atulhado  de pretensos  candidatos ao cargo , sem falar nos sítios da redondeza da cidade, onde o primeiro comércio a ser instalado  era sempre uma bodega, com sua cenografia típica : o balcão , os copos com fundo de lente de aumento, a bandeja de tira-gosto com siriguela ou caju e o garajau, logo atrás, apinhado com os litros de aguardente a granel.  No frontispício,  um pequeno quadro retangular avisando a sempre adiada venda a prazo :
                        --“Fiado só amanhã!”
                        Nem é preciso adiantar que este pequeno comércio se transformava  numa verdadeira academia formadora de concorrentes futuros do nosso Fubuia. Até porque, Jojó nunca fora pinguço com tempo integral e dedicação exclusiva. Era diarista sim, nas horas vagas, quando escapava, por fim, da barraquinha de venda de quebra-queixo e mariola que mantinha num dos lados da Praça da Matriz.
                                   A fama do nosso Fubuia não vinha apenas  da ingesta quase industrial das  canas fabricadas nos engenhos da região. Passara a fazer parte da paisagem normal de Matozinho. Virou figura ícone da cidade, principalmente por suas tiradas desconcertantes, suas irreverência e picardia. Mexer com nosso  cachaceiro,  quando do alumbramento etílico, comparava-se a cutucar marimbondo de chapéu ou inxu magro: meio caminho para a ferroada inevitável.  As histórias envolvendo o mesmo personagem contavam-se  às centenas nas cercanias da Serra da Jurumenha  e certamente foram elas que trouxeram fama  ao nosso Fubuia.
                                   Numa Missa de domingo o Padre Norzinger , vulgo Nó Cego, com a germânica rigidez que lhe era peculiar,  lançava  as suas ameaças terríveis para quem não seguisse ipsis literis o texto evangélico debulhado na homilia.  Com seu português engrolado , como se tivesse sofrido uma congestão, prometia as sempre temidas labaredas do inferno para os pecadores mais recalcitrantes. E quem, ali, não queria ir para o céu?  Quem? --Inquiria ele .
                        --Levante-se quem aqui quiser ir para o céu! -- Solicitou , teatralmente, Nó Cego, do alto do seu discurso tenebroso.
                        Todos os fiéis, imediatamente, se levantaram das cadeiras. A única exceção foi Jojó.  Com o barulho das chinelas, no levanta-levanta da platéia, acordou do cochilo,  no último banco da igreja.  Ainda andava anestesiado pela ressaca do porre do sábado.  Nó Cego divisou-o imediatamente, como única exceção à salvação proposta,  há poucos minutos e inquiriu-o , veementemente:
                        --- Tinha que serrr assim, nér seu Jojórr,  ! Sórr o Senhorr, alma perdida não querr a salvaçon ! Quando morrerr o senhorr não querr ir para o céu, non ?
                        Jojó, apesar da língua pastosa , não se enrolou:
                        --- Ah ! Quando morrer , eu quero ! É que o senhor perguntou, assim de repente,   quem queria ir para o céu e eu pensei que vossimicê  tava organizando a excursão era pra agorinha mesmo!
                        Tantas e tantas histórias engalonavam o book do nosso deodato que é sempre difícil, para um simples cronista de Matozinho, escolher as melhores  e mais palpitantes. Permitam-me, pois, exercer essa temível função, sujeitando-me às línguas mais ferinas da vila.  Pois aí vai o acontecido com D. Isaurina , uma das almas mais carolas e recatadas de Matozinho.
                         Isaurina sempre fora católica praticante, dessas de não perder missa sob qualquer pretexto. Não bastasse isso, envolvia-se ainda com a administração da paróquia, estando sempre à frente da Festa de Santa Genoveva, onde organizava os cordões vermelho e azul , os leilões, as quermesses. Além de tudo, enfrentava de punho serrado a Pastoral do Dízimo. Casara-se, há mais de vinte anos, com Juvenal dos Rosários , comerciante de produtos religiosos como velas, terços, santos e , claro, rosários. Os dois tornaram-se a sombra do Padre Arcelino. Pois a história se passa num fatídico domingo, quando, cedinho, Isaurina se dirigia à igreja para encetar os preparativos da missa das sete horas. Coroa meio passada, já tendo perdido as esperanças de um dia ser mãe, engravidara com mais de quarenta anos, o que considerava uma graça divina. O barrigão empinara e aí vinha ela, já remando, por volta do sétimo mês. Eis-que , nossa romeira, topa com Fubuia, capotado no meio da rua, usando o meio fio como travesseiro. Perto do templo, em pleno dia santo, nossa beata achou aquilo uma afronta e resolveu dar uma descascada no pinguço. Cutucou-o, com a ponta da sombria que levava na mão, por diversas vezes, até que Jojó, incomodado, abriu aqueles olhos de peixe morto para ela. Isaurina passou-lhe o carão:
                        --- Mas como é que pode, seu Jojó ! Tenha vergonha nessa cara! Capotado de frente à Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo ! Já sei,já sei !  Isso só pode ter sido é cana e muita !
                        Fubuia, com o mundo ainda ciclando seus movimentos de rotação e translação, tentou olhar, deitado , para a cara da sua interlocutora. A barriga de Isaurina quase que não lhe permitia observar  quem era a mandona, dona do mundo que ali estava a lhe dar aulas de boa conduta cristã. Quando , por fim, defrontou-se com a face quase que santificada de   Isaurina , sobressaindo-se com dificuldade da montanha da barriga prenhe, não resistiu :
                        --- E tu, santinha ! E esse buchão desse tamanho, não tem vergonha , não ? Já sei, viu ? Isso só pode ter sido é rrrrolaaa e muita !
                        Isaurina saiu que o rabo era um rei !
                        A mais clássica história do nosso cachaceiro --- e acho que aí, sim, há  unanimidade --- aconteceu no templo do nosso Jojó : O Bar do Giba.  Consta que Juventino lá entrou por mero hábito. Fora, por muitos e muitos anos, da turminha do quequéu. Tornara-se um dos grandes concorrentes do nosso Fubuia  nas artes garrafais. Claro que a concorrência não era tão fácil :  ora, nosso Jojó, era irmão de um outro grande copo : o Jeová da Palhoça. O mano de Fubuia tinha uma pequena palhoça, próximo ao Açude do Sabugo, onde vendia bebidas e as entornava com igual voracidade. Nos meses de inverno, a Palhoça  tornava-se o point mais badalado dos deodatos de Matozinho.
                        Pois bem, Juventino , acompanhado de tão má companhia, terminou  doente  e foi orientado por Janjão da Botica a abandonar o vício, pois   já estava aumentando a barriga e afinando os braços e as pernas: deve ser barriga d´água, vaticinou o boticário, meio caminho andado para a terra de pé-junto ! Juju , então, virou crente. Mesmo assim, não perdeu o costume de andar no Bar do Giba, afinal fora ali que fizera amigos e não agüentava Bíblia, oração e louvor, toda hora, não ! Naquele dia, quando Jojó o viu entrar, gritou imediatamente para  Giba:
                        --- Grande Juju ! Lasque aí uma lapada pra mim e outra para meu amigo , Giba ! Eu faço questão de pagar !
                        Enquanto Giba remexia os copos, Juventino, calmamente, explicou que não estava bebendo mais , parara de vez. Fubuia, com olhos esbugalhados, não compreendeu aquele aparente loucura :
                        --- Tá louco, Juju ? Você não tem mais idade para fazer uma besteira dessas , não ! Tantos anos bebendo e aprendendo e , de repente, parar  tudo ? Tu quer é lascar esse fígado, é , Juju ?
                        Juventino, então, disse que agora era evangélico, aceitara Jesus, tangera Satanás e não bebia mais nada. Só água ! E, enfático, fechou questão :
                        --- Agora, Jojó, eu sou crente, meu amigo. Sou Testemunha de Jeová !
                        Fubuia, então, rápido como Bill The Kid, apresentou sua inquestionável defesa das lindes etílicas:
                        --- Que besteira é essa, Juju ? Só Testemunha de Jeová ? Eu mesmo sou irmão de Jeová e bebo pra peste !  O próprio Jeová , pode ir conferir lá na Palhoça, bebe mais do que nós dois juntos ! E tu é apenas Testemunha dele ! E garanto que não foi nem intimado ainda prá audiência !  Nãoooo!

O IMPÉRIO E O PORTO DE MARIEL - por José Almino Pinheiro


Por volta do ano zero, afora centenas de reinos, principados e cidades estados, só existiam de fato. No mundo conhecido dos europeus, dois grandes impérios: o de Roma e a China. A última potência de peso a ser conquistada pelos romanos foi o Egito. O General Otaviano, futuro Imperador Augusto, teve a honra histórica de dar o golpe de misericórdia no grande reino dos faraós. Império que então completaria cerca de 3500 anos.  Não foi uma luta frontal. Para os egípcios com seu grande e inabalável império, capazes de repelir, até então, todos os agressores, os romanos eram apenas mais um dependente de sua organizada agricultura e de matérias primas em geral.

O Egito, protegido pelos desertos, que repelia invasões, controlava praticamente todo o comércio do mediterrâneo e do oriente médio. Mantinha entrepostos comerciais ao longo das costas do mediterrâneo. As grandes ilhas de Chipre e Creta eram suas colônias, algumas das bases de apoio para o intenso comércio marítimo.

Os romanos sabiam que, naquele momento, belicamente não podiam enfrentar os egípcios. Portanto, era preciso desenvolver uma política de conquista de longo prazo. E assim fizeram. Como potência militar, aos poucos foram conquistando, saqueando, destruindo ou anexando reinos vizinhos e no que sobrava, depois da limpeza política de regra, introduziram entre outras, a novidade de conceder cidadania romana aos novos conquistados, respeitando seus costumes e religiões. Muitos dos agora novos cidadãos obtinham todos os direitos e deveres romanos e podiam atingir altos cargos na administração. Com esse arranjo jurídico diminuíam as revoltas e movimentos de independência, já que todos eram cidadãos romanos. Organizada a administração, trataram de minar e conquistar as possessões egípcias mais fracas e distantes, que do ponto de vista dos faraós, não compensava enviar tropas para defendê-las, davam preferência a algum arranjo diplomático ou financeiro.
Por algum tempo os romanos respeitavam os acordos, mas logo, a despeito de qualquer pretexto, iniciavam novos avanços. Apesar de algumas passagens obscuras tais como os suicídios do General Marco Antônio e da própria Faraó Cleópatra VII, sabemos como terminou o grande império de 3500 anos.

Os romanos, com paciência e determinação, com a política de, como diz o matuto, “comer pelas beiradas” conquistaram o mais rico império da época. Muito semelhante com o que os chineses estão fazendo atualmente: como formiguinhas se instalando e influenciando economicamente onde for possível.

É preciso lembrar que, brevemente entrará em serviço a ampliação do canal do Panamá, possibilitando navegação de grande porte e consequente aumento de mercadorias. A China é hoje o maior parceiro econômico do Brasil. Será que o Porto de Mariel, em Cuba, não faz parte dessa estratégia?    

 

UM PONTO DE APOIO QUE MOVA O MUNDO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Vamos tocar um assunto diferente. Aquela história do “dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo.” Ou seja, dê-me uma fonte de energia limpa e interminável que moverei a sociedade humana. Quer dizer: o centro da discussão sobre o futuro é a geração de energia.

A questão é tão importante que não se pode usar a noção de investimento em moeda para se obter o retorno. Em energia a equação é: a energia gasta para gerar outra energia deve ser muito inferior à gerada. Por exemplo: partindo de uma energia limpa como a eólica ou termo solar a pergunta é quanto de energia se gasta para montar as usinas e as placas solares. O retorno é em energia.

Outra questão fundamental é a chamada ignição. Ou seja, criar um processo tal que a partir do momento em que ele é posto para funcionar esta função se sustente com a própria energia gerada no processo. Mesmo a eólica e termo solar precisa de ignições que nesse caso pode ser o sistema como um todo e a partir das fontes iniciais de energia os ventos ou a luz solar.

Aí retornamos ao início. Uma fonte de energia limpa e interminável. Já existe um horizonte teórico para tal. Chama-se fusão nuclear. Ao contrário da fissão que é a atual energia nuclear, perigosa e geradora de um lixo terrível, na fusão este processo é infinitamente mais limpo e o combustível mais variável e praticamente inesgotável.

Acontece que a revista Nature acaba de publicar os resultados de experimento de cientistas americanos no qual pela primeira vez a energia usada para gerar a fusão foi menor do que a energia liberada (acréscimo entre 41 e 55%). Mesmo assim ainda se necessita fazer um longo caminho: aproveitar mais energia no processo, pois no experimento apenas uma parcela ínfima da energia usada foi absorvida pelo combustível (aplicou-se 1,9 milhão de joules e a energia absorvida foi entre 9 mil e 12 mil joules).

Nesse estágio ainda não é possível fazer-se a esperada ignição. Ou seja, manter o processo regular de geração de energia. O processo não se sustenta. Mas os próprios cientistas sabem que iniciaram um caminho que parece ser alentador.

A consequência é uma sociedade inteiramente modificada a partir de um ponto central que é a energia. Com energia pode-se imaginar um salto qualitativo no avanço da ciência, na transformações de materiais, inovação tecnológica e manutenção de sistemas de vida mesmo em situações mais adversas.


Um energia com essa característica muda todas as forças produtivas, inclusive no sentido de processo menos agressivos à natureza e geradores de mais paz, solidariedade e igualdade entre as pessoas. Seria como o Alfaiate de Ulm (veja postagem de ontem) que imaginou o voo e não soube voar, mas antecipou o que ocorreria.    

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Meu Unicórnio Azul - José do Vale Pinheiro Feitosa


Qual a razão para Cuba ser tão realçada na história do século XX e ainda hoje no século XXI? Uma ilha, com 110 mil quilômetros quadrados, portanto menor que o território do Ceará (quase 149 mil). A principal é política, com sua revolução, o protagonismo internacional a influenciar muitas sociedades e o enfrentamento do maior império desses séculos. 

Outra é a cultura do povo cubano. Cuba foi a fonte dos principais ritmos latino-americanos. A poesia e música cubana é superior. Aliás, nas Américas, música com dimensão universal aconteceram mesmo na Argentina com o Tango, no Brasil com a Bossa Nova (e outros ritmos), nos Estados Unidos com o Jazz (Blues etc.) e Cuba.

Esta música do pequeno filmete chama-se Unicórnio Azul, composta e aqui tocada e cantada por Silvio Rodriguez um dos maiores compositores cubanos da revolução para cá. 

Isso é para os pássaros. O homem nunca voará - José do Vale Pinheiro Feitosa

Aos “bispos” da nossa era que dizem: a solidariedade, os valores comuns, a igualdade entre todos nunca será possível. Isso é para os sonhadores. O homem nunca abandonará sua individualidade e a superioridade de uns frente aos outros. Aos “bispos enclausurados” ofereço este trecho de um poema de Bertold Brecht chamado “O Alfaiate de Ulm” que certamente alguém lerá num voo entre um lugar e outro deste velho planeta.

“Bispo, eu posso voar!”,
disse o alfaiate ao bispo.
“Veja, vou tentar!”
Muniu-se de duas abas,
aparentadas a um par de asas,
e galgou o enorme telhado da igreja.

O bispo seguiu seu caminho:
“É uma mentira deslavada!
Isso é para os pássaros.
O homem nunca voará”,
Disse do alfaiata o bispo.

“O alfaiate faleceu”,
contaram ao bispo as pessoas.
“O par de assas se desprendeu!
O alfaiate se estatelou
no duro chão da praça”.

“Mandem tocar os sinos,
foi uma mentira deslavada!
Isso é para os pássaros.
O homem nunca voará”,

disse o bispo às pessoas. 

O escritor caririense, Geraldo Ananias Pinheiro, convida!




Perdoa se um dia tentei te esquecer - José do Vale Pinheiro Feitosa


A música "querida", aqui com Moacir Franco foi composta pelo músico americano Bob Russel e o cantor Bobby Goldsboro fez sucesso com ela. Se é verdade que as ondas de rádio se perdem no espaço e fazem uma viagem ao cosmo, por certo as ondas da Rádio Araripe e da Educadora levam esta canção como se nunca o tempo entre o Crato e aqui tivesse acontecido. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ednaldo Queiroz é filho de Bodocó-Pe


E mídia não discutiu e nem fez editorial com a morte de Gleisi Nana

Completando a postagem abaixo faço uma colagem de uma postagem do Paulo Nogueira no seu Blog Diário do Centro do Mundo. Ele fala de uma atora de teatro, jovem que morreu num incêndio suspeito de ter sido criminoso. Ela se chamava Gleisi Nana e o Paulo cita esse trecho de poema feito por ela durante a sua militância nas manifestações de junho de 2013. 

Quando respiramos bomba de gás falta o ar como pétalas estranguladas.
O cheiro abafado é o desabafo sufocado, engasgado nas entranhas.
A pele arde e rasga por tudo aquilo que nos massacra e nos devora.”


As coisas ficaram realmente dramáticas para ela no dia 5 de outubro. Foi quando ela leu uma mensagem de um sargento da PM que dizia o seguinte: “Mais uma vagabunda, maconheira e anarquista que apoia a desordem no Rio. Quer falar mal da polícia fala na cara, sua piranha. Na net é mole.”

Disse ela no Facebook: “Foi um choque. Já não bastasse todo o gás de bombas que respirei, todas as corridas fugindo de balas que tive que dar, todas as ameaças de agressão, toda a tensão nos atos … agora o terrorismo pessoal.”

Ela fez sua opção.

“Escolhi não me calar. Uma frase é muito forte em minha mente. ‘Se você cala diante de situações de injustiça, escolhe o lado do opressor’.”

O jornal O Dia deu uma matéria sobre a ameaça, e Gleise pediu a seus amigos que compartilhassem, “por favor!!!”.

Dias depois, o incêndio, e no final de novembro a morte não cantada, não chorada, não investigada – e no entanto tão previsível.

Amigos continuam a deixar mensagens em seu Facebook. Muitas vezes são imagens lindas de flores, e palavras de amor e saudade.

Uma amiga postou uma poesia de Gleise:

O tempo põe-se tarde,
escurece.
Todavia o latejar apetece

Mas a cotovia não transborda seu cântico.
Amo.

E tal andorinha desgarro,
me aventuro,
sigo outros rumos.

E somente no fim digo:
Agora durmo.”

O FOGO PEGA NO MONTURO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando os sinais de incêndio se manifestam todos se apavoram. Sabem do poder destrutivo do fogo. Mesmo que este incêndio aconteça na palha seca da cana, imagina-se que se alastre muito além do desejado e engolfe o verde da vida.

Mas a verdade é que onde houver material comburente acumulado os incêndios se manifestam como uma necessidade. Assim como acontece nas revoltas e revoluções que marcam continuamente a história humana.

A velha história do rei nu. Aquele autoritário que queria a melhor roupa e que foi enganado pelo alfaiate e ninguém, entre seus pares, conseguiu ver a nudez do rei, só quando uma criança gritou na multidão. Assim as revoltas e revoluções acontecem.

Mas não é no acaso do tempo. É onde a substância comburente do sofrimento humano se acumula e quando ela ou vislumbra uma melhor possibilidade ou já não suporta mais a vida que lhe dão como eterna até a morte.

A Baixada Fluminense, assim como a minha querida Batateira aí no Crato e tantos outros bairros de Juazeiro acumulam história comburente. As páginas policiais e a notícia dramática dos crimes mostram contínuos focos de incêndio. E não adianta esconder seu rosto por indignação, aquele mesmo que você despreza por bandido, perfurado pelas balas da polícia, tem por trás uma mãe, um pai, um filho, um neto de carne e osso. E a tragédia não é apenas o corpo mas todos os outros que fazem parte desse estoque comburente.

Compreendam que não é por acaso que o suspeito de ter lançado o rojão que matou o cinegrafista da rede Bandeirantes, seja jovem e more na Baixada Fluminense. E olhe que este suspeito, por mais adjetivos negativos lhes apliquem, é um estágio superior na violência. Já vai além do que as violências de gangues e torcidas organizadas. Ele brigava pelo sofrimento permanente do povo da Baixada se transportando entre o centro do Rio onde as oportunidades de trabalho estão e suas casas, sem ar condicionado, sem água e faltando luz.

Sabem do recente apagão? O órgão controlador ligou para a companhia de eletricidade aqui do Rio de Janeiro e disse: corta aí um milhão de ligações senão o apagão será nacional. Qual o critério de corte? Os bairros populares, o povão da Baixada Fluminense incluído.

Os principais reservatórios que alimentam a região metropolitana ficam na beira da serra do Mar, em Caxias, Nova Iguaçu e outros municípios onde exatamente acontece racionamento de água neste verão atípico. No resto as bicas jorram.


A radicalidade e a violência das manifestações dizem muito do acúmulo social de sofrimentos. Pode ser usado para medidas autoritárias, para ampliar a democracia, para atrasar e para avançar. Não pode é ser uma mera façanha moralista e alienada do mundo real em que estamos. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O MAMBO SINISTRO DO TRASPORTE COLETIVO NO BRASIL E SUAS REVOLTAS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Uma das fontes mais frequente de revoltas populares nas cidades se constitui no transporte coletivo. Ou chamado transporte público por ser uma concessão pública.

As opções feitas no país privilegiando ônibus em detrimento de trens e metrôs estão na raiz destas revoltas. Ruas engarrafadas, ônibus precários, apinhados de passageiros no mais alto grau das temperaturas tropicais e deslocamentos a poucos quilômetros por hora, um trabalhador pode passar até seis horas do seu dia neste sistema.

Aí vem as tarifas. Quem mais longe vive, mas caro paga. São tarifas controladas por organizações de donos de empresas, com tendência a cartelizar, que financiam campanhas políticas e depois são beneficiados por quem faz e quem cumpre as leis.

A revolta da vacina, contra a vacinação antivariólica aqui no Rio de Janeiro, no ano de 1904, lá se vão 110 anos, teve como centro o ataque aos bondes de então. Na época das eleições do Plano Cruzado, quando o PMDB foi contemplado pelo maior calote eleitoral, aqui no Rio de Janeiro elegeu-se Moreira Franco em disputa com o professor Darcy Ribeiro que pertencia ao partido de Brizola.

Dias após a vitória, um juiz aloprado ajuizou o aumento das passagens. No dia seguinte houve uma revolta popular incendiando ônibus no centro da cidade, passeatas e tudo foi espontâneo. Na época a própria polícia procurava as organizações sociais e políticas para que esta tentassem organizar a revolta.

Portanto o que aconteceu aqui na quinta feira não foi mais um ato de black blocs e nem uma revolta provocativa. O que aconteceu foi uma revolta contra uma política de transporte de massa que só piora com a especulação imobiliária e com a realocação espacial no emprego, levando as oportunidades para longe de onde vivem os trabalhadores.

O assunto é grave e o prefeito do Rio de Janeiro acaba de contribuir ao dar um aumento não dado em outras capitais, como, por exemplo, São Paulo. E na quinta foi isso que ocorreu. Mais uma vez a intervenção da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi desastrosa.

Jogou a torto e direito bombas de efeito moral, lacrimogênio, entre outros artefatos que levam ao desespero aos transeuntes que apinham as ruas da cidade no horário de rush. Estamos falando num dos territórios do Rio mais conhecidos da sua história como local das lutas políticas (a Proclamação da República, o último comício de Jango etc.) e um dos principais centros de distribuição de passageiros que é a Central do Brasil.

E com a morte cerebral do cinegrafista da Bandeirantes, o resultado trágico desse procedimento de segurança pública fecha a conta em duas mortes. Um trabalhador de rua, desesperado pelas bombas da polícia militar, em correria pelas ruas foi atropelado por um ônibus e faleceu em consequência.

Hoje o país de cima a baixo vai pensar com dó sobre o cinegrafistas e seus familiares, cumprindo seu trabalho e não vai falar do trabalhador fazendo exatamente a mesma coisa. Aponta os dedos para as manifestações, mas vai deixar de comentar a única ação mais relevante por ser de escala maior e que deveria ter propósitos melhor que é aquela das forças de segurança.

Neste calor, more numa periferia urbana, sinta o desrespeito dos transporte urbanos, com motorista e trocadores desempenhando os interesses privados e não os coletivos, passando marcha, acelerando e freando como se tivessem ódio do que fazem. Sinta na pele o que jamais sentirá no ar condicionado do seu veículo que ocupa um espaço na rua muitas vezes maior que você enquanto apenas é o único que ele transporta.


E para adoçar a piada dos revoltadas que são criminalizados ofereço esta velha música do compositor baiano Gordurinha. 


AQUECIMENTO GLOBAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando saiu o primeiro relatório mundial sobre o aquecimento global estabeleceu-se um debate intenso entre prós e contras. A verdade é que as mudanças climáticas são lentas mas podem acontecer, naturalmente, mudanças intensas que simulam uma espécie de era, mas logo terminam. No século XVI aconteceu uma mini glaciação na Europa que provocou uma onda de fome.

De qualquer modo diante do calor abrasador aqui no Sudeste e Sul, quem sua e sofre os incômodos somados a uma baixa umidade do ar, tem a sensação de final dos tempos. Como o Sudeste é o chamado Triângulo das Bermudas eleitoral um apagão faz um festejo geral nas fileiras da oposição. 

Então retorna ao início do texto. Eu queria dizer que diante da emoção do relatório mundial sobre o aquecimento global pairava uma grande emoção então, naquela época fiz este texto que agora ofereço a todos. Inclusive você por aí que soube estão com as benfazejas chuvas de época. Aqui é uma sequidão de dar dó. 


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Obrigado Socorro - José do Vale Pinheiro Feitosa

Socorro deu-me um presente com a minha gênese. 

A minha origem se encontra no passado, mas por origem ser, é este eterno retorno, embora compreenda a evolução da história. Agora avô, uma fase de maturação do ser pai, eis que me encontro filho. E não digo por desprotegido, ao relento das tempestades. 

A publicação da Socorro deu-me um calor de corpo, um sopro de compreensão, um olhar afirmativo da eternidade. Espero que para a história da cidade possamos repetir muitas vezes, em cada um de nós, esta linhagem do acontecer neste vale e nesta horizontal montanha. Esta Araripe dos Cariris.   

sábado, 8 de fevereiro de 2014

"Verve bandida" - José Nilton Mariano Saraiva

Escorregadio e esperto, esse, sim, é bandido até a raiz da medula. Tanto é fato que, antevendo que seria pego no julgamento do tal “mensalão” (nunca comprovado e que teve detenções arbitrárias, sim), o senhor Henrique Pizzolato tratou de se armar de tudo que era previsível, a fim de escapar, antes que fosse detido. E aí sua verve bandida aflorou com toda a pujança e maledicência: valeu-se de um documento de um irmão morto já há mais de trinta anos para assumir sua identidade (já há cinco anos) e providenciar outros documentos que lhe permitissem fugir do país e instalar-se na Itália, já que possuidor de dupla cidadania. Assim, devido à sua cidadania italiana, estaria em relativa segurança naquele país, uma vez que o país europeu não extradita seus nacionais.

Acusado de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, Pizzolato foi apenado a 12 anos e 7 meses de prisão em regime fechado, mais uma multa de R$ 1,3 milhão. E, muito embora a Polícia Federal tenha conseguido incluir o seu nome na chamada “difusão vermelha da Interpol”, deixando-o na lista internacional de criminosos procurados, o senhor Pizzolato só será preso se conseguirem flagrá-lo num ouro país, como recentemente ocorreu com o também bandido Alberto Cacciola (que houvera fugido do Brasil, se instalado na Itália, mas, ao sair para se divertir em Mônaco, foi preso e recambiado ao Brasil).

Pergunta: se foi condenado num julgamento atípico (sem provas, mas por simples deduções) teria o senhor Henrique Pizzolato agido corretamente, ao não esperar por tempo ruim ??? Ou corretos estão seus colegas de malfeitos que, por confiarem na Justiça, acabaram na cadeia ???  


Mas... e o ministro Gilmar Mendes, acusado por um dos seus pares (ministro Joaquim Barbosa) de desfigurar o conceito do judiciário brasileiro, já não deveria ter sido enquadrado em alguma lei por conta das suas fanfarronices (lembremo-nos que, sem maiores justificativas, concedeu habeas-corpus duas vezes num mesmo dia a fim de beneficiar o marginal Daniel Dantas). 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

E a "Globo" roeu a corda - José Nilton Mariano Saraiva


No “Jornal Nacional” (07.02.14), apesar do longo tempo dedicado ao assunto, não houve o pedido de desculpas veiculado no “Jornal Hoje” (da mesma data). Houve a admissão, sim, que o repórter da Globo News se enganara, mas, ficou só nisso. Desculpas que é bom, nada. Vamos ver se a mídia ou redes sociais (Internet) repercutem a mudança (duas versões, da mesma emissora, para um mesmo problema).

****************************

Abaixo, nota (de hoje) extraída do site do Jornal Hoje:

“Ontem, no Jornal das Dez, da Globonews, o repórter Bernardo Menezes, que trabalhava na cobertura da manifestação, disse que um dos artefatos jogados pela polícia estourou perto do cinegrafista. Hoje, o repórter viu as imagens da TV russa e o depoimento do fotógrafo, que garante ter testemunhado toda a sequência do ataque. Diante dessas novas informações, Bernardo Menezes reconhece que o ferimento foi causado por um rojão - e não por uma bomba de efeito moral.

(tá faltando o pedido de desculpas, feito de viva voz pela apresentadora Sandra Annenberg, no Jornal Hoje, e sequer citado pelo Bonner, no Jornal Nacional).

Pijama de Bolinha



Há duas fases na existência em que o tempo  nos brinda com  a licença poética do despojamento. Na juventude nem precisamos nos preocupar com as regras sociais, com os ditames opressivos da moda, com a ditadura da etiqueta.  A criança faz xixi na rua e, banhada de inocência, faz brilhar os olhos de quem passa. O adolescente aparece chique e fúlgido vestindo apenas o short  jeans, a camisa de malha meio desbotada e o tênis. É que o desabrochar da rosa juvenil  traz consigo seus próprios encantos. A orquídea que brota no deserto ou em meio aos seixos  aparece mágica e encantadora aos nossos olhos, mais hipnótica que a que brolha no jardim, talvez pela  antítese ao se  contrapor  à sequidão agreste da paisagem. É assim que se fazem engraçados os arrufos infantis, a pueril percepção enviesada do mundo e até mesmo a contestação aparentemente irritante dos jovens, quando se deparam com os caminhos previamente traçados pelas gerações que lhes antecederam. Talvez, por isso tudo, lhes seja dado esse salvo conduto. O dourado da vida já lhes banha de alegria, de esperança e felicidade, qualquer acessório , qualquer adereço transforma-se, imediatamente, em supérfluo.
                        A  idade madura , a outra extremidade da corda, nos vai proporcionando, pouco a pouco, também essa imunidade. Aos poucos, também, nos vamos livrando das amarras da etiqueta social. O paletó já pode voltar ao guarda roupas; o  cromo alemão ganha sua merecida aposentadoria no  sapateiro ; o linguajar técnico deve ser substituído , dia após dia, pelo doce dialeto da rua e pelo palavrão. Itens essenciais voltam ao nosso convívio diário : o boné que põe um teto na pouca telha; a chinela que alforria os pés das galés do sapato; a bermuda que expõe sem remorsos as varizes e seus afluentes  e a brancura das canelas órfãs de sol. O confortável pijama de bolinha é indumentária que  não precisa ter manias de vampiro : já pode resistir aos raios do sol. Já não nos interessa os rígidos ditames da moda: a bermuda listrada pode muito bem combinar com o tênis e a meia social,  hirta subindo canela acima.  As auroras e os crepúsculos retornam, finalmente,  fazendo parte da nossa paisagem habitual. A lua volta a existir e, por incrível que possa parecer, tem fases , como toda bela mulher que se preza. O carro perde sua importância e só então se percebe o quanto do belo panorama ao nosso redor  ele nos roubou com sua velocidade e seu azáfama.  Fechando um ciclo, percebendo-se a flor que se vai murchando e tendendo a despetalar-se,  descobrimos que a vida pode ser mais simples, mais escorreita e que muito pouco das inomináveis amarras que a sociedade nos impingiu tem sentido e valeu a pena.  Nossa dourada juventude foi depenada pelo liquidificador da vida e, agora,  desnudos , enxergamos nossa nudez já sem a vergonha do pecado original.
                        Podemos, assim, empreender a viagem de volta:  o xixi embeberá novamente as fraldas;  o anda-já substituirá o automóvel;  o leite aparecerá de novo como alimento essencial e os amigos e familiares mais próximos se tornarão estranhos e distantes como já foram um dia. A palavra, pouco a pouco, sumirá da nossa língua trôpega e, finalmente, alcançaremos o ápice do despojamento. Um dia , por fim, contradizendo toda experiência que nos trouxe a maturidade, nos enfiarão o paletó em desuso e o cromo alemão já deportado, a mesma fantasia do baile passado, do ensaio para o nada e , hoje,  novamente , adereços mais que propícios para o carnaval dos vermes e a unção do pó. 

J. Flávio Vieira