Momento agradabilíssimo!
Participação especial dos músicos Nicodemos e Abidoral Jamacaru.
Agradecemos o apoio promorcional do Sesc. Agradecemos a alegria do evento, com presenças queridas.
Parabéns, Ulisses e Bastinha. Foi tudo muito lindo!
José de Arimatéa dos Santos |
Recentemente o “Jornal do Cariri” publicou artigo assinado pelo Técnico Judiciário Jailson Matos Nobre sob o tema : “ Até quando temos que suportar o descaso com a Saúde ?” . Nele Jailson desabafa problema vivido por ele mesmo, naqueles dias, quando necessitou atendimento médico por conta de uma suposta virose. As queixas do articulista não são novidade no noticiário cotidiano: somam-se a inúmeras outras , Brasil afora, no que tange ao caos onipresente da Atenção Hospitalar no país. E vejam que Matos Nobre é usuário de Plano de Saúde e mesmo assim sentiu-se desprezado quando buscou assistência médico-hospitalar. Imaginem aí a leva de mais de 160.000.000 de brasileiros que dependem única e exclusivamente do nosso Sistema Único de Saúde ! Mesmo assim, pagando um dispendioso Plano, o nosso técnico judiciário peregrinou por vários hospitais da região, sempre abarrotados de pacientes nos ambulatórios, com filas imensas e consulta médica, a seu ver, superficial e morosa.
Solidarizamo-nos com a aflição do Jailson. Não é preciso ser sequer técnico para entender a fragilidade do atendimento emergencial no Brasil. Isso é simplesmente revoltante e injustificável. Há, no entanto, um outro ponto no artigo que se repete reiteradamente nas outras denúncias vistas no dia a dia . A culpa recaí facilmente sobre o médico que , a seu ver, fez um juramento na formatura e que o está descumprindo seguidamente . Além de tudo,no final, Jailson enfaticamente volta suas baterias novamente para a classe médica, ipsis literis : “os sem vergonhas se apoderam do dinheiro público e fazem o que bem querem, sem que nada aconteça”.
Como médico, sei perfeitamente que para se tratar uma moléstia qualquer é imprescindível um diagnóstico etiológico correto e preciso. Pois bem, acredito que Matos Nobre foi perfeito na descrição dos sintomas e sinais da patologia, mas falho no fechamento do diagnóstico causal. Estando na ponta do Sistema , somos o alvo mais próximo e visível aos petardos da população revoltada. “O médico não atendeu, o médico demorou demais, o médico só pensa em dinheiro e por aí vai... Somos apenas um elo da imensa corrente, caro Jailson, e o seu link mais frágil. Não representamos o carrasco que superficialmente aparentamos ; bem ao contrário: estamos indo para o cadafalso junto com aqueles que se pensa iremos executar. Seria como condenar um Técnico Judiciário pela sentença imposta ao réu, ou a um juiz pela morosidade da justiça, esquecendo que por trás existe toda a máquina emperrada da justiça brasileira.
Para que se entenda: o SUS, criado há mais de vinte anos, se propôs desde o início a dar saúde integral e de qualidade para todos os brasileiros, indistintamente. Esquecemos, porém, que este é um país capitalista e não se pode socializar apenas a saúde, sem socializar, igualmente, o Supermercado. O resultado é que desde então o SUS é sub-financiado, inclusive, recentemente, o Congresso se negou a aprovar a Emenda 29 original que daria um melhor aporte de subsídios ao Sistema. Investimos apenas R$ 2,00 ( menos que o preço de um picolé) por dia para cada habitante e os Planos de Saúde , no Brasil, gastam mais de 60% das verbas destinadas ao setor, para dar cobertura a apenas a 40 milhões de usuários. Essa equação não fecha. O resultado é fácil de se observar : consultas pagas a pouco mais de dois reais, cirurgia de ponte de safena pagando ao cirurgião oitenta reais; o último concurso público para médico no Ceará apresentava proposta salarial de pouco mais de um salário para vinte horas semanais. A escassez de recursos prejudicou principalmente a rede hospitalar procurada pelo denunciante que teve mais de dois mil serviços fechados no país, nos últimos anos. Os Planos e Seguros de Saúde , por sua vez, têm pago valores por consulta e procedimentos bem abaixo do mínimo preconizado pelas entidades médicas.
Os médicos que o atenderam , nos diversos serviços, estavam , segundo suas próprias informações, com um número imenso de pacientes em igual situação, para serem atendidos. Estafados, sobrecarregados, fazendo uma Medicina de guerra, talvez, por isso mesmo, esses profissionais não tenham podido se deter melhor nas suas queixas. São sacerdotes sim, trabalhando após uma formação de mais de doze anos, por salários irrisórios, em péssimas condições de trabalho, a maior parte das vezes sem qualquer vínculo empregatício; sem terem tempo , nem disposição para se dedicar à família e à atualização de conhecimentos. E mais, caro Jailson, exigem deles não mais sacerdócio, mas santidade. É tanto que o grosso da população brasileira já percebeu isso e pesquisa de 2010 ( feita pelo Grupo alemão GFK) apresentava índice de confiabilidade dos médicos de 87%; bem acima, inclusive, dos profissionais da sua área : juízes 67% e advogados 57 % .
Concordamos, plenamente, com a famigerada frase com que você perorou seu artigo: “Os sem vergonhas se apoderam do dinheiro público e fazem o que bem querem, sem que nada aconteça”. Só que, caro Jailson, estes desavergonhados não estão dentro dos hospitais , nem se vestem de branco. Eles estão em outros gabinetes, ganham muito bem e têm a cumplicidade da maior parte do povo deste país. Não se cura a rabugem do cachorro , envenenando o veterinário. Se você pretende ajudar a pôr fim ao descaso da saúde, amigo, é preciso antes identificar o germe para poder usar o antibiótico específico.
J. Flávio Vieira
—O asno hoje só serve para causar acidentes na estrada — diz o secretário-adjunto de Agricultura do Rio Grande do Norte, José Simplício Holanda.
Em matéria publicada no site O Globo – Economia, princípios de março de 2012, agora são os chineses, os quais já abatem 1,5 milhões de burros ao ano, e quererem importar 300 mil jegues brasileiros para alimentar a população daquele país descomunal. Voltou à tona assunto de tempos recentes, quando eram os japoneses que dizimavam o jumento e seu abandono nos círculos ambientais dos automóveis predadores. Os animais vadios não ofereceriam mais razão segurança às estradas e crise fatal os submetia a sofrimentos e desesperança.
De novo a imagem de Padre Antônio Vieira, o escritor cearense que advogou a espécie que ajudara sobremaneira o desenvolvimento do Sertão nordestino, carregando barro, tijolos, telhas, propiciou a construção de açudes, barreiros, estradas, indiferentes ao açoite e aos achincalhes com que lhe retribuíam a paciência e o trabalho profícuo.
As justificativas infelizes argumentam que ele, manso dos pecados ocidentais, nada possui no sangue que o engrandeça e credencie como filhote da biologia latino-americana, porquanto viera nas caravelas das conquistas, exterminadoras de índios e extrativas das riquezas originais.
Tudo indicava que chegaria o sonhado aposento dos muares, que saiam vagando pelas mangas e estradas, jogados ao léu da sorte, desocupados, comendo o que achassem e alheios aos vôos da tecnologia dos asfaltos.
Quem alimentou os avanços dos outros virou só entulho. E de quebra pôs em risco a segurança dos usuários de transportes, em razão da velocidade das máquinas e do abandono a que foi relegado após o ostracismo em que caiu...
De história modesta e sem graça, ainda que detidos para averiguações, os jegues terminam sua longa jornada, que começou no Oriente suntuoso, de jeito melancólico.
De certeza, dos campos em que passeia na eternidade, Padre Vieira se indigna perante este crime da sobrevivência chinesa contra o jumento, o qual incluiu com amor na família dos humanos. Antes, se levantou com tamanho furor na sua defesa que conseguiu suspender o morticínio da sanha perversa dos matadouros. Agora, há pouca chance de outros defensores tão dedicados produzirem resultados equivalentes.
Essa espécie dócil, servidora, inofensiva, torna-se, desse modo, símbolo da mesma ingratidão que sofreu o operário fiel da gleba, pau para toda obra e pretexto das soluções apetitosas na boca feudal dos fartos coronéis de barriga cheia.