por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 26 de março de 2014

Aniversaria no dia 28 de março, nossa amiga Rosineide Esmeraldo!

Rosineide  com as filhas Renata( noiva) e Fernanda


“Pra que encarar a vida de frente, se a poesia está no verso?”
Numa alternância natural vivemos o sonho na realidade.
É legítimo celebrar a vida. Fazer festa é reunir os afins.Explosão de emoções. È partilhar alegrias.
Rosineide é uma estrela em nossas vidas. Fascina com a doçura de  um sorriso.
Quando a conheci, no final dos anos 50, ela brilhava num trono de rainha. Rainha da festa de Nossa Senhora da Penha.
No início da década de sessenta este conhecimento tornou-se próximo. Adolescentes, nos tornamos colegas e amigas de classe.
Magicamente aquela menina linda, tornou-se a “miss”, entre as garotas da nossa geração e a musa dos garotos. E como se não  bastasse tanta beleza, encantava com sua voz  melodiosa, além de humor insuperável, quando imitava personagens do nosso convívio social ou afetivo.
Desde o exame de admissão ao ginásio, quando conquistou o primeiro lugar, destacou-se como uma das melhores alunas do Colégio São João Bosco.
Fomos participantes de uma turma inesquecível, sob a orientação de mestres especiais. Naquele ambiente sagrado, fadamos os nossos destinos.
Lembro com ternura a figura de Dona Maria Alice, sua mãe, que nos recebia na Rua Duque de Caxias com as melhores guloseimas, e os olhos atentos de uma mãe vigilante.
Para o nosso deleite, naquela casa, ouvíamos todos os lançamentos musicais- espelhos da época!
Ali estudávamos, aprendíamos a dançar, trocávamos confidências sobre os nossos primeiro interesses sentimentais.
Depois da partida de Dona Maria Alice, a rua ficou sem o seu rouxinol, e a nossa sala de aula, mais triste.
Rosineide mudou-se com o pai e irmãos para Fortaleza. Na época já conhecia o Dr. Ribamar, que veio depois a tornar-se seu esposo por 35 anos, até que a morte os separou. Aquela união foi abençoada com quatro filhos (dois casais), belos, e queridos como a mãe. Estava conquistada a sua completude maternal.
O tempo transforma a realidade, mas as amizades verdadeiras permanecem intactas!
Os caminhos se bifurcam ao encontro do futuro, mas o futuro promove reencontros. Neste novo século, resgatamos  junto à maioria dos colegas, a mesma  alegria e confiança conquistadas no passado, que parece ontem.
Rosinede continua deslumbrante e insaciável em termos de vida. Passear é o seu verbo preferido.Na verdade ela corre para o abraço da família e dos amigos.
Parabéns, amiga querida! Você merece todos os tragos de felicidade, eternidade afora.


"Escárnio"... é pouco - José Nilton Mariano Saraiva

Condenado pelo STF a 3 anos, 1 mês e 10 dias de prisão, por esterilização cirúrgica irregular de mulheres, o deputado federal Asdrubal Bentes (PMDB-PA), acaba de ser beneficiado por decisão do juiz Nelson Ferreira Júnior, da Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas do Distrito Federal-DF; é que, em razão da pena original ser inferior a quatro anos, torna-se possível reverte-la para “prisão domiciliar”, como foi feito.

Agora, aqui pra nós, verdadeiro escárnio (ou prova inconteste da falência ou desatualização da nossa jurássica legislação penal) é o interstício (período de tempo) em que tal prisão ocorrerá: V.Excia não poderá ausentar-se de casa (é vero, senhores, acreditem) entre as 21 horas de um dia, às 05 horas da manhã do dia seguinte (ou seja, exatamente no momento em que todo ser humano se recolhe naturalmente para um justo descanso após um dia de labuta, o nosso nobre parlamentar também o fará, só que na condição de “preso”). Temos, então, um preso que cumprirá seu castigo ou pagará sua pena... dormindo em berço esplendido. E tudo de acordo com a lei.

Sugestão ao nobre Deputado: V.Excia bem que poderia, numa forma de mostrar “colaboração” para com a Justiça, “esticar” o próprio castigo, diariamente, levantado-se apenas algumas horas depois (ato contínuo, informando às autoridades competentes).   
      

Quem sabe, de repente tal ato será considerado “boa vontade” e a pena diminuída...   

domingo, 23 de março de 2014

O outro Brasil que vem aí - Gilberto Freire*

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil vem das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez de cores das três raças
terão as cores das profissões e das regiões.
As mulheres desse Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variantemente tropicais.
Todo brasileiro poderá assim dizer: é assim que eu quero o Brasil, todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
ânimo para viver pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores
  [ europeus e norte-americanos a serviço do Brasil]
mãos sem anéis (que anéis não deixam o homem criar nem trabalhar)
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternas de todas as cores
mãos desiguais que trabalhem por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus,
mãos Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiros cozinhando
de vaqueiros tirando leite das vacas chamadas comadres dos homens.
Mão brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.

* O outro Brasil que vem aí. Gilberto Freire, 1926.
Publicado no Livro Talvez Poesia, Rio de Janeiro, José Olympio
Transcrito de Casa Grande e Senzala: Edição comemorativa dos 80 anos, com apresentação de Fernando Henrique Cardoso, Global, São Paulo, 2013 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Lições de Bom Humor - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Com o infarte sofrido por Renato Aragão, nossas preces para que ele se recupere e volte a espalhar o bom humor dos trapalhões. O mundo precisa de alegria, no momento em que tantas noticias alarmantes são dadas com veemência pelos meios de comunicação. Aliás, eles se alimentam da desgraça. Quanto mais desastres, melhor, mais audiência, mais números de jornais e revistas serão vendidos. Então vamos lavar nossa alma com um pouco de bom humor. 

Relembrando o saudoso personagem Zacarias de "Os Trapalhões", adentrando numa loja de material de construção e pedindo ao balconista:
- Eu quero 1.000 torneiras.
- Puxa, Zacarias, você está construindo? - Quis saber o vendedor.
- Não, venho do médico e ele disse que eu tenho miopia!

Mas um dos maiores humoristas cearenses foi o famoso Quintino Cunha. Nascido em Itapagé - CE, além de humorista nato  e poeta, foi também advogado criminalista. Seu filho Plautus Cunha registrou em livro várias histórias engraçadas do espírito de humorista do cotidiano de seu pai:

*Quintino quando criança encontrava-se em Baturité. Ao vê-lo, um padre pediu que lhe ensinasse onde ficava o correio:
 - Dobre na primeira rua à direta, depois entre à esquerda e chegará numa praça onde encontrará um prédio bem grande. É lá! - E o padre admirado com a esperteza do garoto, ofereceu-se para lhe ensinar o catecismo.
- Para que? -  Indagou Quintino
-  Para lhe ensinar o caminho do céu! - E prontamente Quintino respondeu:
-  O senhor não sabe nem o caminho do correio...!

* Na campanha política de Nilo Peçanha para presidente e J.J. Seabra para vice-presidente, Quintino ironizava:
- "O Brasil está despedaçado: precisa um Nilo, ainda que depois Seabra"
* Num tribunal de júri, seu opositor afirmou:
- "Eu estou montado na lei".
 - "Pois é muito imprudência montar num animal que não conhece!"
* Certa vez caminhava pelas ruas de uma cidade do sul do Ceará ao lado de um sacerdote muito querido pela população, quando um romeiro se aproximou e deu ao padre uma nota de 10 mil reis, que ele colocou em um dos bolsos. Logo mais à frente um pedinte estendeu a mão para o padre e ele deu uma moeda. E comentou com Quintino:
- Está vendo como é: aqui o dinheiro entra por um bolso e sai pelo outro. - Afirmou o padre.
- E já sai trocado! - Emendou Quintino.

Para finalizar, uma que me contaram há alguns anos, cuja autoria eu não sei, mas me passaram como sendo do Barão de Itararé, um humorista que fez muito sucesso no inicio do século XX.
* Um deputado discursava na câmara, quando um outro o aparteou:
- "Me parece que o assunto não é bem assim..." 
- " O Senhor está assassinando o português, não se deve começar um período  com o pronome à frente do verso." - Ensinou o deputado que discursava.
- "E como é o certo? - Quis saber humildemente o deputado que errou.
- O senhor deveria dizer, parece-me."
- Como é o nome de vossa excelência?
- Teixeira Coelho! - Respondeu o orador
- Desculpe, mas o senhor também está errado, deveria dizer: "Cheira-te Coelho!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Nota: Parte das citações atribuídas a Quintino Cunha foram por mim adaptadas de um texto de autoria de Dagmar Chaves, publicado na Revista Itaytera, N° 37 edição de 1993, páginas 180 e 181. As demais do livro de Plautus Cunha lido por mim há mais de 50 anos.

sábado, 15 de março de 2014

AMIZADE - (MARCOS VALLE / MAURICIO MAESTRO)

Amizade é dom que não se aprende, não
Bate de repente, quando a gente estende a mão
Bem maior que o amor
Muito mais que a paixão
Vem do fundo do coração
Amizade nasce por qualquer razão
Quando a gente vê já pode ser irmão
Tanto faz, qualquer cor,
Toda fé ou nação
Tudo bem, tudo tem perdão
Nessa vida breve há quem só carregue
Rancor e desilusão
É via de regra pra quem se apega
A um amor que durou demais
Mas que busca abrigo num peito amigo
Nas horas da solidão
Pode estar bem certo que um peito aberto
É onde se encontra a paz
Amizade é flor que não machuca a mão
Não carrega espinhos
Só beleza em seu botão
É assim sempre foi
Para sempre será
É sem fim nunca vai mudar
É assim sempre foi
Para sempre será
É sem fim, sempre vai durar

Fonte: CD Amizade, Boca Livre (2013)


Para todos amigos de ontem, hoje e sempre

Aloísio

quinta-feira, 13 de março de 2014

"Constrangimento" - José Nilton Mariano Saraiva

Pronto, agora tá sacramentado, não tem mais jeito. Patrícia Sabóia (ex-esposa do senhor Ciro Gomes) foi oficialmente designada pelo cunhado-governador (Cid Gomes) conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Ceará. Mesmo não tendo a qualificação devida e necessária (passa longe, mas muito longe disso) chegou lá. E muito embora a indicação haja sido chancelada pela Assembléia Legislativa do Estado, dúvidas inexistem de que o cunhado-governador e o ex-marido tenham tido papel determinante ao longo de todo o processo, influindo decisivamente pra que os (sofríveis) Deputados Estaduais aliados votassem favoravelmente a matéria.

Em assim sendo, como a função é vitalícia, o senhor Ciro Gomes não precisa se preocupar mais com o futuro da família, nem em ter que pagar pensão algum dia: “ad eternum”, está assegurado à improdutiva Patrícia Sabóia (relação “custo X benefício” durante sua trajetória política) um “salariozinho” nada desprezível de cerca de R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais) mensais, a preços de hoje. É mais um (dentre tantos) escândalo do Governo Cid Gomes, que vive mergulhado nos esgotos da vida já há um bom tempo.

Agora, o estranho nisso tudo é que a mídia do Ceará nada questiona e nada denuncia, vestindo-se de um silencio sepulcral e constrangedor, como se não fosse sua obrigação procurar esclarecer à população fatos duvidosos. Por qual razão, por exemplo, não publicar o nome dos Deputados Estaduais que votaram a favor de tamanha excrescência ??? Ou, ainda, pelo menos lembrar ao distinto público que a nova conselheira ficou conhecida em todo o mundo em razão de um fato deveras desabonador, quando, na condição de Senadora da República, durante um vôo internacional Brasil-Itália, literalmente obrigou o calejado e experiente piloto a solicitar, lá de cima, que a polícia italiana, cá embaixo, a detivesse para averiguação no momento do pouso (o que foi feito), em razão de ter-se portado de forma inconveniente e não recomendável, dentro do avião, juntamente com uma companheira de viagem (afinal, qual a razão de estarem tão agitadas ???).


Assim, partindo-se do pressuposto de que premissas básicas para ser guindado à função de “conselheiro” de um desses tribunais, além do “douto saber” é que o pretendente deve ter conduta ilibada e acima de qualquer suspeita, chega-se à conclusão que a nova integrante daquele colegiado não atende a nenhum desses predicados, daí o porquê da “excrescência”.  

Uma mulher "diferenciada" - José Nilton Mariano Saraiva

Defensora e ativa participante das causas ambientais, com apenas 38 anos de idade, mãe de 03 filhos biológicos e 03 adotivos, de uma beleza ainda fulgurante, casada com um dos homens mais desejados pelas mulheres (Brad Pitt), rica, poderosa e invejada, a (razoável) atriz Angelina Jolie se destaca pelas atitudes ousadas e a coragem de externá-las publicamente.

Assim é que, dias atrás, surpreendeu meio mundo e mais a outra banda, ao anunciar que, preventivamente, iria submeter-se a uma cirurgia para retirada das mamas, porquanto portadora de uma disfunção genética capaz de causar-lhe a mesma doença que houvera levado sua mãe a óbito, anos atrás. Era ela, pois, estatisticamente, uma candidata em potencial a contrair a mesma moléstia (embora ainda não houvesse se manifestado).

Ora, a amputação de qualquer membro ou parte do corpo humano é algo que tende a marcar de forma traumática os que têm de enfrentar tal ato, normalmente levando-os a um estado depressivo acentuado no pós-operatório; e especialmente para uma mulher bela e jovem, a descoberta da possibilidade da ocorrência do câncer de mama, com a conseqüente retirada das mesmas, deve ser algo doloroso ao extremo. Tanto que, muitas das que se submetem a isso guardam a sete chaves tal segredo. Só os mais íntimos tomam conhecimento.

E aí, o “diferencial” entre Angelina Jolie e as demais mulheres. Por entender que em sendo uma figura pública tinha que dividir com os fãs suas alegrias e tristezas, sucessos e desilusões, botou a boca no mundo e cientificou-os a respeito do seu drama. Sem maiores traumas e contando com o apoio do marido famoso.

Se tal atitude só fez crescer a admiração e o respeito de todos para com ela, eis que novamente ela surpreende ao agora anunciar a retirada dos ovários, e pelo mesmo motivo – simples prevenção.


É ou não é uma mulher "diferenciada" e merecedora de encômios ???  

quarta-feira, 12 de março de 2014

Geléia Geral




J. Flávio Vieira


Cecília Melo e Castro
“Metamorfose”


                        Cecília Melo e Castro é uma artista plástica portuguesa, de vanguarda,   que trabalha com Infopintura, Ciberarte, Arte Fractal e Videoarte. Além de poetisa com três  livros publicados. Procedente de Estoril – agregada anteriormente ao Concelho de Cascais – Cecília  possui ainda uma profícua carreira universitária, tendo se aposentado após trinta anos de docência. Como pintora, ela soma, no currículo,  inúmeras premiações  internacionais, como o ArtMajeur Silver Award e o Prêmio UNESCO para Artes Eletrônicas. Pois bem, separados por todo um oceano , eis que , em pleno Carnaval, recebo um contato da ilustre artista portuguesa, através das redes sociais. Ela, delicada,  mas incisivamente, reclamava, com todas as razões desse mundo, da utilização que fiz de um dos seus belíssimos quadros (“Metamorfose”) , em um dos frontispícios de  meus artigos, sem sua expressa autorização e, mais: sem sequer ter lhe dado os devidos créditos pela obra exposta.  O artigo tinha sido publicado em diversos blogs da região, mas ela  captou  a apropriação indébita no Blog do Crato e me solicitou que fosse procedida à necessária identificação do autor e da obra.

                    Cecília trouxe à baila um assunto do dia  em tempos de Aldeia Global. A possibilidade de disseminação ampla da comunicação, proporcionada pelo Internet e afins, traz, consigo,  incontáveis efeitos colaterais.  Jogados (  textos, imagens, pinturas, vídeos, fotos)  num mesmo canyon , passa a ser propriedade, aparentemente,  de todos, perdendo-se o direito autoral, a identificação do autor e da obra. Tudo passa a fazer parte de uma imenso pântano , cada qual se sentindo no direito de pescar o que melhor lhe aprouver, achando-se, a partir daquele momento, proprietário da pesca e, muitas vezes, seu autor. Não bastasse isto, estabeleceu-se até o contra plágio, uma espécie de cyberbulling , quando frases , citações e poemas de gosto duvidosíssimo são pespegados na autoria de artistas famosos, alguns, já falecidos, sem lhes ser dado , pois, o direito da legítima defesa. Agora mesmo, abre-se enorme polêmica, a nível mundial, com a digitalização em massa de obras literárias, tantas e tantas vezes ferindo o direito autoral. A Internet trouxe , como irmã siamesa, a aparente impessoalidade, quebrando-se todas as regras históricas da autoria e da privacidade.  Para que criar,  se basta copiar e colar ? A nossa pintora, que transita , diretamente, com a Video e a Cibearte, mais que  ninguém, deve sofrer , na pele,  as freqüentes e contínuas conseqüências  dessa tendência  ao amorfismo  e à geléia geral . Fácil depreender daí, de onde brotam sua ansiedade e  inquietação.

                    Cecília Melo e Castro está coberta de razão quando clama pelos créditos às suas obras.  No fundo, se percebe, claramente, que esta tendência moderna à uniformização , à quebra da individualidade das pessoas e das coisas,  é um caminho perigoso e movediço. Quando tudo estiver perfeitamente uniformizado, quando já não houver aparente distinção entre uma e outra pessoa, todos seremos perfeitamente descartáveis e substituíveis. São Francisco será igual a Hitler, Fernando Pessoa equivalente a qualquer poeta de ponta de rua. O que faz bonita e resplandecente  a aquarela da vida são suas infinitas  cores e nuances  e não a tela branca, lívida e estática.

 

Crato, 10/03/14

domingo, 9 de março de 2014

Postagem antiga, mas... atual - José Nilton Mariano Saraiva

UMA “ODISSÉIA NO ESPAÇO” – José Nilton Mariano Saraiva.

Nos confins do universo, navegando a uma velocidade supersônica na imensidão infinita do cosmos, no interior daquele insignificante artefato construído pela raça humana desenrolava-se um drama inimaginável: é que, através do recurso conhecido como leitura labial, “HAL” houvera descoberto que os até então fiéis companheiros de viagem tencionavam eliminá-lo da missão, silenciá-lo de vez, descartá-lo como um dos responsáveis pelo sucesso da empreitada, seguindo viagem sozinhos. A partir daí, então, depois de infrutíferas tentativas, ciente de que não poderia dissuadi-los a desistir de uma viagem que considerava inviável, “HAL” arquitetou e pôs em prática, paulatinamente, seu fulminante contra-ataque, que culminou por levar o homem (um único sobrevivente) a romper sua dimensão temporal, transportando-o a uma outra galáxia, uma outra dimensão, onde ele, homem, morre e, paradoxalmente, renasce para a vida, começando tudo de novo, só que longe do seu habitat natural.

Sem qualquer pretensão literária, este é um resumo enxuto de uma das maiores obras de ficção científica já produzidas pelo homem, o filme “2001-Uma Odisséia no Espaço”, narrativa premonitória das dificuldades que, no futuro, o homem (tripulantes de aviões ou uma nave espacial) teriam que enfrentar quando tivessem que “bater de frente” com sua própria criação: a máquina inteligente, o computador “HAL”. Enfim, o célebre conflito criador X criatura.

Produzido numa época em que ainda não existiam os famosos “efeitos especiais”, onde o aparato e instrumental tecnológico era uma brincadeira de criança em comparação ao existente nos dias atuais, onde a limitação orçamentária era uma realidade, e sem contar em seu “cast” com nenhum ator famoso capaz de chamar bilheteria, “2001-Uma Odisséia no Espaço” nos mostrava, lá atrás, no hoje distante 1968, a tenebrosa perspectiva de que um dia a “criatura” enfim se rebelasse contra o “criador”, quer que por mero “ciúme” ou, então, pela não aceitação de manter-se “subjugado” a uma “mente inferior”.

A reflexão acima vem a propósito da recente tragédia aérea com a portentosa máquina voadora Airbus, da Air France, dotada com o que há de mais moderno em termos tecnológicos, e em duplicidade (numa tentativa de prevenir qualquer surpresa desagradável), mas que, desaparecida misteriosamente de uma hora para outra, quando empreendia a corriqueira travessia (considerando-se os padrões atuais), do Oceano Atlântico, na ligação entre o continente sul-americano e a Europa.

Estupefatos com a ocorrência e a real perspectiva só agora confirmada da morte dos seus 228 ocupantes, especialistas do mundo inteiro se debruçaram sobre pranchetas, mapas e a vasta literatura pertinente e se puseram, num primeiro momento, a aventar as mais diversas versões na tentativa de justificar a tragédia: turbulência pesada no interior de uma nuvem “cumulus nimbus, de extensão e resistência invulgares, trazendo por conseqüência descargas elétricas assustadoras, ventos com velocidade inimagináveis e capazes de desestabilizar a máquina, congelamento de sensores vitais da aeronave e por aí vai. 

Refeitos do impacto, descobriu-se que a própria máquina, teoricamente preparada para “agüentar o tranco”, sem que houvesse qualquer interferência humana houvera emitido mensagens diversas ao centro de controle, dando conta da ocorrência de uma possível “pane” em um dos seus três principais computadores centrais, gerando conflito de dados e informações e fazendo com que o sistema elétrico entrasse em absoluto processo de falência, comprometendo a navegação automática; como os painéis de orientação simplesmente “pifaram (ou se apagaram), o comando manual tornou-se impraticável, já que sem saberem da velocidade, altura, temperatura externa e outras varáveis absolutamente necessárias, piloto e co-piloto se viram diante da tétrica e assustadora realidade de um vôo absolutamente cego, na escuridão da noite cósmica e tendo abaixo a imensidão do Oceano Atlântico. Algo simplesmente apavorante, de arrepiar.

Agora, ante a perspectiva real de a aeronave ter se desintegrado (por “EXCESSO” de velocidade, que comprometeria sua estrutura) ou simplesmente ter despencado lá de cima de encontro ao oceano (por “INSUFICIÊNCIA” de velocidade, que a desestabilizaria em termos de sustentação), o fato é que talvez nunca venhamos a saber realmente o que aconteceu naqueles momentos aterrorizantes vivenciados por nossos irmãos de mais de trinta nacionalidades, já que as famosas “caixas pretas” (de aproximadamente 50 centímetros de comprimento) dificilmente serão localizadas no fundo do mar.

As perguntas que se impõem são: se, lá atrás (1968), já se ventilava, embora por mera ficção, a perspectiva de falha ou “rebeldia” do computador e, agora, existe a quase certeza que a ficção tornou-se uma dolorida e cruel realidade (um dos computadores “discordou” dos demais e forneceu dados que “baratinaram” todo o sistema de navegação), será que viajar de avião ainda é mesmo o meio mais seguro ???

Quantos “vôos cegos” são realizados, diuturnamente, sem que saibamos se as empresas proprietárias guardam algum sigilo sobre uma possível iminente catástrofe, em razão do componente econômico, como se está a duvidar que a Air France disponha de tais (informações) e jamais as divulgará por mera conveniência mercadológica ???

Post Scriptum

Postagem de meses atrás. Fato é que comprovado restou, depois de surpreendentemente encontrarem a “caixa-preta” no fundo do mar, que o congelamento de um simplório “sensor” externo impossibilitou a tripulação de informações básicas; mesmo assim, houve erro dos tripulantes ao “subirem”, ao invés de “descerem”, na tentativa de se livrar da tormenta.

"777" - José Nilton Mariano Saraiva

O “777-200” não é um aviãozinho qualquer. Com capacidade para 400 passageiros e pesando milhares de toneladas, atinge a estupenda velocidade de 950 km horários e é dotado do que há de mais moderno e revolucionário em termos tecnológicos. Difícil imaginar, pois, que uma máquina tão portentosa desapareça assim, sem mais nem menos, no trajeto “Malásia-China”, com 239 pessoas a bordo.

E, no entanto, a infausta notícia oriunda da Ásia é de que essa maravilha tecnológica, depois de apenas duas horas de vôo e, evidentemente, já em velocidade de cruzeiro, simplesmente haja desaparecido dos radares e, provavelmente, despencado lá de cima e mergulhado nas profundezas do Oceano.

O que teria acontecido: falha humana, defeito técnico ou atentado terrorista ??? Afinal, essas são as únicas opções de um acidente aéreo e, somente se encontrarem a “caixa-preta” da aeronave no fundo do Oceano se terá ciência do ocorrido (lembremo-nos do acidente do voo Rio-Paris, meses atrás, quando conseguiram resgatar a “caixa-preta” do fundo do mar, possibilitando a constatação de que, além da falha técnica, houve erro grotesco do piloto e co-piloto ao levarem o avião para o centro de uma tormenta meteorológica de proporções alarmantes).   
  
Fato é que, embora o transporte aéreo ainda se nos apresente como o que oferece mais segurança, comodidade e rapidez, quando uma tragédia de tamanha proporção acontece, ceifando a vida de tanta gente, é que entendemos da nossa insignificância.

Pessoalmente, já passamos por uma experiência um tanto quanto desagradável e traumática, no tocante a viagens aéreas, quando o avião que faz a rota Fortaleza-Juazeiro, depois de tocar o solo, “arremeteu” de forma abrupta e violenta. E, durante aproximadamente cinco minutos, depois de um silêncio sepulcral, onde só se ouvia o chororô de alguns e as preces de outros, finalmente o pouso se fez. Na saída, como ninguém se manifestou, indagamos dos “simpáticos” componentes da tripulação, postados à porta, o que houvera ocorrido. A resposta: “uma lufada de vento muito forte, daí o comandante preferir arremeter”. Como não “deglutimos” aquele argumento, dia seguinte ligamos para o “0800” da empresa Avianca e, para nossa surpresa, a desculpa foi a mesma.


Agora, aqui pra nós: vento no interior do Ceará, em dia de sol brabo, sem nuvens,  capaz de desestabilizar uma aeronave pesando toneladas ??? Claro que o comandante jamais colocaria em seu relatório que falhou feio, colocando a vida de dezenas de pessoas em perigo. Mas foi isso o que aconteceu. 

sábado, 8 de março de 2014

"SE..." - José Nilton Mariano Saraiva

“Hilária” (mas se alguém optar por considerá-la “patética”, sinta-se à vontade), a manifestação de um adepto de Cícero Romão Batista quando, inconformado em razão da Infraero haver suspendido a liberação de determinada verba para a ampliação do aeroporto da cidade, saiu-se com essa pérola (realmente digna de um almanaque humorístico) num dos blogs do Cariri:  (ipsis litteris) “...se Padre Cícero ainda fosse o prefeito de Juazeiro esta cidade teria sido escolhida como sede de jogos da Copa, ganharia um novo e luxuoso Romeirão e o nosso aeroporto seria internacional e já estaria concluído. Ah, Como Padre Cícero faz falta”. Como se vê, autentico supra-sumo do “fanatismo” puro e desbragado, beirando às raias da insanidade e da estupidez.
Sim, porque a verdade é que se aquele “mitômano” (Cícero Romão Batista) vivesse na atualidade e adotasse o mesmo “modus operandi” de sua época, de uma coisa tenhamos certeza: teria de enfrentar um Ministério Público Federal e uma Polícia Federal atuantes e expeditos, que decerto o deteriam por improbidade administrativa, enriquecimento ilícito, corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha e outras irregularidades (e não precisaria nem ser julgado sob a égide da teoria  “domínio do fato”).
Aliás, o próprio “testamento” do referido o põe a nu, incriminando-o, porquanto nos expõe um patrimônio generoso e exuberante, incompatível com o seu “statu quo” (fontes de renda ou origem dos recursos).
Há que se atentar, ainda, que quando usou e abusou da coitada da Maria de Araújo, debilitada e assustadoramente doente (expelia sangue pela boca recorrentemente), “obrigando-a” a participar na capela do Socorro da encenação que ficou conhecida como o “milagre da hóstia” (foram 93 “apresentações” no espaço de 02 anos, ou 04 vezes por mês, ou mais precisamente, 01 vez por semana – vide jornal O POVO, de 19.01.14, página 38), outro não era seu objetivo senão beneficiar-se pessoalmente (na tentativa de cristalização de uma farsa grotesca). Só que, em assim procedendo, implicitamente assumiu a responsabilidade de levá-la a óbito prematuro, como de fato aconteceu, aos 51 anos de idade.

Sugestão para reflexão no próximo seminário sobre o dito-cujo: deixar de lengalenga e conversa fiada, examinando, à luz do Direito, se teria havido “dolo eventual” em tal procedimento. 

terça-feira, 4 de março de 2014

FUCK U.E* (Vitória Nuland - Subsecretária de Estado Americana) - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Não os temais, pois não há nada encoberto que não venha a ser revelado e nem oculto que não venha a ser conhecido. Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meu discípulo, e a verdade vos libertará.”
Evangelho de São Mateus e São João.
“Em um mundo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário.”
George Orwell.
Cada pequena vela acende um canto do escuro.
Roger Waters

O momento é muito grave. O que acontece na Ucrânia, na Síria, na Venezuela, no Egito e em muitos outros lugares acontecidos, em acontecimento e por ainda acontecer tem um denominador comum: a mão dos Estados Unidos da América. E, principalmente, os Estados Unidos não atendem mais aos interesses do seu povo: são apenas as marionetes das grandes transnacionais, bancos e corporações.
Quando Snowden revelou toda a trama de espionagem daquela máquina de estratégias, sabotagens e perseguições estava marcado um poder antipopular que atende aos interesses somente de uma minoria (os famosos 1%). Logo o território mais livre que se conseguiu em termos de debate se mostrou um grande embuste manipulado e vigiado por forças que desejam dominar a liberdade de todos.

Esta contradição permanente entre o livre pensar e o controle totalitário (ao estilo big brother) é um móvel dramático do início desse século XXI e é uma longa herança do século passado. Acontece que os grandes e universais meios como os livros, o teatro, o rádio, a televisão, o cinema e agora a internet (que é uma telecomunicação) são instrumentos que facilitam a promoção de controles, manipulações e poderes centrais totalitários.

Esses meios atingem muito rapidamente grandes massas populares usando técnicas de psicologia social, levantando mitos culturais, estimulando ódios antigos e trazendo para o presente aberrações anacrônicas qual o antissemitismo, a perseguição de africanos na Europa, o ódio dos ucraniano aos russos como é o último rastro de ódio e sangue.

Organizações políticas de direita se multiplicam pela Europa, em grave crise econômica, desemprego e quebra dos direitos sociais. O denominador comum destas organizações é o nacionalismo com forte ação de xenofobia. A xenofobia é o denominador comum da direita europeia em seus vários matizes.

Acontece que temos desde uma direita democrática que aceita o jogo das contradições até a extrema direita, violenta, do tipo fascista, que não tem limites para a ação de causar danos ao que consideram o inimigo. Em situações de descontentamento popular em relação aos governos esta direita violenta se impõe sobre a maioria. Afasta os lideres moderados e ocupa a cena principal.

Na Ucrânia quem venceu foi a extrema direita manipulada por agentes estrangeiros e certamente pelo papel financiador e estimulador dos EUA que pretendem causar prejuízos à Rússia. Criar uma inquietação na fronteira da sua velha inimiga. A única nação que ainda se contrapõe ao jogo da política externa americana, como no caso da Síria. Este é o jogo político internacional de extrema gravidade.

Muita gente não sabe. Mas quem venceu a segunda guerra mundial foram os Russos. Os americanos fizeram corpo mole sem entrarem na Europa até quando o grande exército russo estava na fronteira da Alemanha. Eles apostaram no desgaste humano e de materiais da União Soviética para que restasse aos EUA, ao final da guerra, uma hegemonia inquestionável.


Não foi o que aconteceu até os anos 90. Mas adveio a crise econômica, a União Soviética destroçada, a União Europeia se compondo e a China crescendo. Esse é o quadro que desemboca nesse ano de 2014, com uma farsa de guerra fria e uma tragédia de terceira guerra mundial que ninguém mais imaginava. 

* Tradução: FODA-SE UNIÃO EUROPEIA

domingo, 2 de março de 2014

Revista "VEJA!"

‘Preferiria não’: a resposta da socióloga Silvia Viana ao pedido de entrevista da Revista Veja


Veja a resposta da socióloga Silvia Viana, autora de “Rituais de sofrimento” à revista Veja.

Ao final ela conclui ao estilo do personagem de  Bartleby (o Escrivão), do escritor Herman Melville: “prefiriria não”.

Procurada pela segunda vez pela revista semanal ‘Veja’ para uma entrevista sobre o BBB14, a socióloga Silvia Viana, disse ao jornalista:

“Respondo  ao seu e-mail pelo respeito que tenho por sua profissão, bem como pela compreensão das condições precárias às quais o trabalho do jornalista está submetido. Contudo, considero a ‘VEJA’ uma revista muito mais que tendenciosa, considero-a torpe. Trata-se de uma publicação que estimula o reacionarismo ressentido, paranóico e feroz que temos visto se alastrar pela sociedade; uma revista que aplaude o estado de exceção permanente, cada vez mais escancarado em nossa “democracia”; uma revista que mente, distorce, inverte, omite, acusa, julga, condena e pune quem não compartilha de suas infâmias – e faz tudo isso descaradamente; por fim, uma revista que desestimula o próprio pensamento ao ignorar a argumentação, baseando suas suposições delirantes em meras ofensas.

Sendo assim, qualquer forma de participação nessa publicação significa a eliminação do debate (nesse caso, nem se poderia falar em empobrecimento do debate, pois na ‘VEJA’ a linguagem nasce morta) – e isso ainda que a revista respeitasse a integridade das palavras de seus entrevistados e opositores, coisa que não faz, exceto quando tais palavras já tem a forma do vírus.
Dito isso, minha resposta é: Preferiria não”.

Atenciosamente, Silvia Viana

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O PODER REAL E O PODER FORMAL


Aquela velha estória de manda quem pode obedece quem tem juízo continua valendo, apenas não fica claro qual poder o mandante ou o obediente dispõe. Às vezes o poder aparente de uma arma de fogo é neutralizado pela coragem do desarmado ou pelo preço a pagar se realmente o feito for realizado. Como por exemplo, no fato ocorrido ao final de uma festa nos anos 60 do século passado em frente ao Clube Internacional do Recife. Em disputa por uma bela moça, um dos pretendentes sacou um revólver, o outro imediatamente se aproximou e gritou: Eu compro! Revólver que atira sozinho eu compro! O valentão armado não atirou, desmoralizado foi tirado dali pelos amigos. (não vou citar nomes).  Nos macros acontecimentos da história, talvez sem o humor, algo parecido acontece. Do ponto de vista estritamente militar, fica claro que os vietnamitas não eram páreo para os Estados Unidos, no entanto, os vietnamitas ganharam a guerra. Que houve então? Os norte-americanos perderam a guerra politicamente. Os vietnamitas, cientes de suas carências militares, apelaram para a guerra de guerrilhas, de cansaço e desgaste. Para começar, inverteram o conceito de tempo nas guerras. Quase sempre, premidos pelos ministérios da economia de seus países, os generais contam com a pressa para a conquista da vitória. No caso vietnamita, eles de fato dispunham de tempo. Até a saída do último norte-americano em 1976, os vietnamitas já tinham experiência de quase mil anos de guerras. Guerras contra vizinhos e invasores. Os invasores mais perigosos e famosos foram os japoneses, franceses e norte americanos. Com tempo à disposição, os vietnamitas iniciaram a longa campanha internacional de divulgação dos horrores da guerra,  principalmente  denúncia dos crimes praticados em seu território. O número oficial de 58.000 norte-americanos mortos podia ser maior, pois existia por parte do comando de guerra vietnamita uma diretriz que orientava seus combatentes a não matar o inimigo e sim feri-los. De forma que foram cerca de 150.000 feridos levados de volta para casa. Foram mais de 200.000 famílias com alguma vítima direta do conflito. Era questão de tempo o início do questionamento da necessidade da guerra. Os vietnamitas praticamente ganharam a guerra dentro do território americano. A partir daí os americanos impuseram feroz censura em todos os conflitos que participam. Nem a solenidade da volta dos mortos é divulgada, como era antes. No caso das regiões produtoras de petróleo, a partir do final da 2ª segunda guerra mundial  todos os ditadores, reis etc. foram entronizados pelas grandes potências, o poder estava firme nas mãos das grandes refinarias de petróleo, estas quase sempre longe das fontes produtoras. Precisavam de representantes locais para fazer o serviço sujo. Com o passar do tempo, os antigos amigos começam a questionar a obediência cega às matrizes, tornam-se inconvenientes, precisam ser substituídos. A fonte de poder (petróleo) continua dentro desses países, daí a necessidade de armas e guerras para controlar a situação. No caso do Brasil, a situação é semelhante, como nos tornamos grandes produtores de commodities e matérias primas (algumas perecíveis) quase que unicamente para exportação, a fonte de poder está longe daqui, está no controle das bolsas de valores dessas commodities (açúcar – Londres; cereais – Chicago; ferro – Nova Iorque etc). É suficiente uma pequena alteração (artificial ou não) nas cotações dos preços para desestabilizar economicamente qualquer país que não esteja preparado para esses contratempos. Um dos motivos da onda de golpes militares no mundo patrocinados pelos EUA nos anos 50 e posteriores do século passado era exatamente montar a política de dependência econômica desses países, o máximo permitido seria um desenvolvimento industrial secundário. No Brasil a meta foi alcançada no final dos anos 70 do século passado, não havia mais necessidade da presença de militares amigos no governo.  O Brasil passa por um momento de afirmação, com a produção do pré-sal, o jogo do poder pode mudar, a fonte de poder voltando, pelo menos em parte, para dentro das nossas fronteiras. Do ponto de vista dos EUA, isso seria muito desagradável. Daí talvez, toda essa campanha mundial de desestabilização, não só no Brasil como de governos potencialmente capazes de pensar um pouco diferente e procurar caminhos próprios. Afinal colocar vassalos para tagarelar contra o governo e financiar desordens é barato e fácil de operar, nisso a CIA têm muita experiência e parece que está aplicando no momento.
Escrito por José Almino A. A. Pinheiro