por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A ESTÉTICA NAZISTA NA MÚSICA - José do Vale Pinheiro Feitosa

O domínio do partido nazista no governo da Alemanha durou 12 anos. Mussolini governou a Itália com o regime fascista por 21 anos. Ambos os regimes foram derrotados pelas hostilidades externas com guerras entre nações. 

Mussolini perdeu o governo com a invasão dos Exércitos aliados e depois foi fuzilado pelos partisans tentando fugir com a mulher numa localidade perto de Como. Seu corpo, da mulher e outros membros da hierarquia fascista ficaram expostos por vários dias em Milão. Hitler teria se suicidaria num banker militar já com Berlim tomada pelos exércitos soviéticos.

O Estado Novo de Getúlio Vargas durou 8 anos. Foram estas as ditaduras que nasceram na esteira das crises do liberalismo econômico na primeira parte do século XX. Na segunda parte as ditaduras tiveram caráter imperial em função do domínio bipolar do mundo entre os Estados Unidos e a União Soviética que foram as verdadeiras forças vencedoras da segunda guerra mundial. Aliás no continente Europeu o grande vencedor foram os russos.

Estes intervalos de ditadura têm tempo para montar uma estética? Fazer tal pergunta até parece primário, pois é claro que toda ditadura precisa de símbolos e estes são melhor entendíveis pelos rituais e pelas artes. E no caso do Nazismo, de tão curta duração, mas tão nefasto a ponto de se tornar mais evidente do que seu tempo de história de governo, o centro foi a música.

Mas nenhum governo, mesmo que violento, mesmo que agressivo é capaz de criar uma estética (ou toda a simbologia) que necessariamente cresce nos mitos lentos e ardentes do povo. Por isso, além das canções tipicamente compostas para as instituições nazistas tantas outras foram apanhadas do gosto popular histórico do povo alemão.


A canção mais marcante da estética nazista é o próprio hino do partido composta por Horst Hessel, membro ativo da SA e que foi assassinado por um militante do partido comunista e assim transformado em herói por Goebbels. 
Hino do Partido Alemão - Die Fahne Hoch – numa gravação de 1933 (ela também é conhecida por Horst Hessel Lied em homenagem ao compositor.

Outra canção tipicamente nazista é esta Sieg Heil Viktoria que era a canção da SS.


Outra típica é uma canção militar chamada de Alte Kamaraden Marsch.



Mas aí temos o que falamos. Canções vindas do século XIX e mesmo do Século XX que nada tinham com a guerra nem com o partido nazista, mas se prestavam à exaltação. É o caso do Wester Wald Lied, que foi composta por Joseph Neushäuser, que se referia a uma cadeia de montanha que fica na região oeste da Alemanha. O compositor inclusive chegou a ser perseguido pelos nazistas. 


Estas canções servem para levantar o papel da música e das artes na relação humana e em sua organização política e social. Isso é muito importante pois nem sempre quando ouvimos uma melodia e ela nos remete ao passado isso seja apenas reflexão da memória entre ela e o momento. Na verdade ela representa a estética de uma época.

A estética é uma forma de entendermos, também, de onde viemos e para onde vamos.   

Olha quem está falando! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

João Viana era um tipo popular cratense que viveu aí pelos idos dos anos de 1920 trabalhando nos engenhos de rapadura dos pés de serra do Crato, principalmente nos Sítios Belmonte, Bebida Nova e Guaribas. Além de boêmio era um exímio mentiroso. Quando o patrão reclamava por haver faltado a um dia de trabalho, ele respondia que tinha ido à São Paulo visitar um irmão doente. Mas como ir à São Paulo e voltar no mesmo dia? Coisa impossível, naquela época, quando nem automóveis existia no Crato. E ele, na maior cara de pau, respondia: "Descobri um caminhozinho por trás do Seminário do Crato, que saí de manhã cedo e voltei à tardinha".

Nos dias atuais, com o desenvolvimento das modernas tecnologias, histórias como as de João Viana podem ser verossímeis. Recentemente, eu li numa reportagem da Revista Carta Capital do último dia 22, enviada de Las Vegas, nos Estados Unidos, pelo jornalista Felipe Marra Mendonça, que aconteceu naquela cidade no início deste mês ainda em curso, a Feira Internacional de Tecnologia. E a grande novidade dessa feira é que as gigantes coreanas Samsung e LG lançaram produtos eletrodomésticos que se comunicam entre si e também com seus usuários. Tanto eles falam para o dono, como entendem o que lhe dizemos.

Já  imaginaram avisar à nossa geladeira: "hei, vou hoje ao Crato, passarei uma semana fora." E a geladeira responder: "Boa viagem! Vou baixar o nível de refrigeração para economizar energia". E o aparelho de televisão, além de receber ordens para mudar de canal, gravar nosso programa favorito ou ligar no inicio de um telejornal, também poderá gravar tudo que está à sua frente na sala.
Já imaginaram os estudantes mandando o computador resolver o "dever de casa?" Pois agora tudo isso poderá ser verdade. Não precisamos duvidar mais do João Viana!

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

O CAOS DA MÍDIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Em 29 de setembro de 2006 um Boeing 737-800 SFP da Gol Transportes Aéreos, num voo entre Brasília e Manaus, foi praticamente jugulado caindo feito uma pedra após receber o choque de uma aeronave bem menor. Era o voo 1907 e nele morreram 154 pessoas.

O acidente gerou uma insegurança geral a respeito da qualidade do controle aéreo brasileiro. A grande mídia partiu para cima e fez o diagnóstico de um caos aéreo no país, com má fé, misturando então os frequentes atrasos decorrentes do boom de passageiros que antes não haviam subido numa avião e agora embarcavam em passagens mais baratas e financiadas.

A mídia criou um clima de desestabilização política quando em 17 de julho de 2007 um Airbus A320-233 da TAM, pousando em Guarulhos, que não conseguiu parar e foi terminar em tragédia matando todos a bordo. Na época o repórter da Globo Rodrigo Bocardi (atualmente na bancada do Bom Dia Brasil) foi até a pista de Guarulhos para mostras que não existiriam nela as tais ranhuras que serviriam para frenar o avião.

Era uma tese descida como um julgamento político. O Movimento Cansei pegou carona carregando na passeata senhorzinhos e madames globais na ação política. Mas aí a avaliação técnica mostrou outra coisa e quando houve o desmentido, a Televisão Globo manipulou uma imagem de uma janela do Palácio do Planalto quando um Assessor do Governo fez um gesto de alívio com o problema, então, politizado pela própria Globo.

Não se tratava de notícia. Tudo era a velha técnica do marketing político, era a velha forma de atacar os inimigos com as técnicas inovadoras da mídia. Ai nós que não somos idiotas, mas que fomos soterrados por uma avalanche que mostrava o caos no controle aéreo brasileiros estamos defronte de uma nova notícia negando todo o clima.

A Civil Air Navigation Service Organization (CANSO), sediada na Holanda publicou em sua revista Airspace Magazine uma matéria de capa sobre o bem sucedido controle do espaço aéreo do Brasil durante a RIO +20, a Copa das Federações e a Jornada da Juventude. Todas são ocasiões em que o controle brasileiro estava preparado para uma elevação no tráfego aéreo em até 30%. No entanto o crescimento foi de 18%.


Importante, a Rio +20 aconteceu em Junho de 2012, portanto entre cinco e seis anos após os referidos acidentes. Se houvesse um caos no controle aéreo esse necessariamente seria de infraestrutura e de recursos humanos e nesse intervalo não haveria mudanças entre o caos e um controle sobre stress de aumento de voos.    

domingo, 26 de janeiro de 2014

Veronika, a Primavera Chegou! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Todos temos disto. Fiquei amarrado numa canção que ouvi na trilha sonora do filme Lili Marlene do diretor alemão Reiner Werner Fassbinder. Não me contive enquanto não encontrei seu nome e a ouvi. Chama-se Veronika, der lenz dar is.

Veronika, der lenz dar is - Max Raabe & Palast Orchester

Veronika, der lenz dar is, que se traduz por “Verônica, a primavera chegou”, é uma canção dos anos 20 de Walter Jumann e letra de Walter Borchert.

Walter Jumann, nasceu na Áustria, abandonou o estudo de medicina para se dedicar à música, sendo um dos grandes compositores alemães. Recebeu enorme influência da música americana e nos anos 20 e bem no início dos 30 viveu em Berlim onde o seu maior sucesso foi Veronika, der lenz dar is.
Com a ascensão do nazismo e início da guerra, vai para Paris e depois para os Estados Unidos onde compõe para vários filmes. Uma das mais marcantes foi San Francisco do filme do mesmo nome de 1936.
Veronika, der lenz dar is, é um foxtrot e teve muito sucesso na Alemanha com o conjunto vocal Comedian Harmonist que era um conjunto vocal alemão que também sofreu perseguição nazista em razão de três membros serem descendentes de judeus. Terminou por se dissolver, com parte do grupo indo viver nos Estados Unidos. 


 
Veronika, der lenz das is - Het Fluitekruidt

O mais interessante é que o radicalismo do nacionalismo nazista não conseguiu impor integralmente seu novo estilo. Especialmente o marcial. O exemplo clássico é o Lili Marlene gravado por Lale Andersen que era uma canção suave e amorosa na contramão da marcha de guerra.

Goebbles em uma das suas famosas idiotices (era genial em propaganda mas curto em sabedoria) chegou a proibir Lili Marlene e pôs Lale Andersen na geladeira. Mas os soldados queriam Lili Marlene  e na voz dela e ele teve que dar vida à cantora e até mandou fazer uma nova gravação com cornetas e tambores.

Enfim, o que quero dizer é que mesmo com o clima do nazismo, se misturou o mundo nele e no filme Lili Marlene de Fassibinder com trilha sonora de Peer Raben, apareceu esta bela Veroniza, der lenz dar is. Vejam que as cenas e acompanhem um pot-pourri formado por Polestädtchen, Westerwadlied  duas músicas realmente militares e finalmente Veronika.

Mesmo que só orquestrada, a primavera sempre vem com o verde e a esperança que se multiplica em vida.

Polestädtchen, Westerwallied e Veronika - cenas do filme Lili Marlene trilha de Peer Raben

A partir da tradução para o inglês da letra original em Alemão cheguei a esta em português que segue de Veronika, a primavera chegou:

Verônica, a primavera chegou,
As meninas estão cantando trá lá  lá
Todo o mundo está enfeitiçado
Verônica, o aspargo cresce,
Oh, minha Verônica, o mundo é verde.
Então vamos nos soltar nas florestas,
Mesmo o avô diz para vovó,
Verônica, a primavera chegou.

As moças riem, os rapazes falam,
Mocinha, você quer ou não sabe
Lá fora temos primavera,
O poeta Otto Licht,
Diz que é seu dever,
Escrever este poema.

Verônica,....

Eles se regozijarão, a primavera chegou,
Todo mundo foi enfeitiçado,
Veronika, o aspargo cresce,
Oh minha Veronika, o mundo é verde
Então vamos andar na floresta,
Meu caro, bom, o grande vovô,
Diz à minha querida, boa, avó
Veronika, a primavera chegou.

Veronika, der lenz is da - Comedian Harmonist - versão que deu sucesso à melodia








sábado, 25 de janeiro de 2014

A BOMBA DEMOGRÁFICA DE BILHÕES DE MEGATONS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Pronto! A demografia voltou aos calos dos conservadores. Lembram das famosas previsões de Thomas Malthus? “As bombas demográficas” estão de volta. A catástrofe que assusta aos bens estabelecidos do Império (então o Inglês) e hoje das Multinacionais (que formam um todo orgânico a dirigir a humanidade).
As ditaduras são regimes que procuram eternizar os privilégios de classe. Ou quando nascidas no corpo de uma revolução, para estabelecer os privilégios da classe que a fez. As multinacionais (o organismo do 1% que carrega o desastre humano) têm horror a mudanças demográficas.
O que significarão para o consumo, o investimento e a acumulação subsequentes?
Olhem estes dados: daqui a cinco anos existirão 1 bilhão de pessoas com 60 anos e mais. Uma marca central do século XXI: o envelhecimento da população.
Enquanto no atual século a população mundial duplicará (passando de 6 para 11 bilhões) a população com 60 anos e mais aumentará 5 vezes, passando de 610 milhões para 3 bilhões. Isso quer dizer que em 2100 um quatro da população estará nessa faixa etária.
Três coisas contribuem para a velocidade e o resultado desses números: no passado recente houve uma alta taxa de fecundidade (exatamente por razões opostas a Malthus ou seja, por aumento da produtividade na produção de alimentos), agora houve uma redução drástica nas taxas de fecundidade e um aumento da esperança de vida ao nascer (a probabilidade da maioria das pessoas atingir uma certa idade).
Para se ter uma ideia do que significa o aumento da esperança de vida: no ano 1000 DC ela era de 24 anos, em 1820 na Europa Ocidental e nos EUA ela era de 26 anos. Atualmente no Japão e Coreia essa taxa é de 81 anos, a dos EUA 79 e a América Latina atingirá 75 anos. A África nestes termos tem o mais baixos resultados.  
A manutenção do quadro econômico de privilégios e sob a tutela de jogo capitalista das multinacionais e do sistema financeiro se torna instável. Muitos velhos significa menor produtividade por redução de atividade e aumento de gastos com cuidados de saúde e gerais. Isso desvia o jogo completamente.

Poderia haver uma face otimista. Sim. Mas com uma revolução histórica, com sistemas mais igualitários, onde conquistas científicas não sejam negócios exclusivos e mediados apenas por renda e salários, onde a solidariedade, o amor e humanismo prevaleçam sobre os individualismo do grande acumulador de grana. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O Grande Forró - Aloísio

O Grande Forró

O céu todo estrelado
De balão está bordado
Pois hoje vai ter festa
Desculpe não é modesta
Os artistas preparados
Vem gente de todo lado
De Bodocondó a Caicó
Pra dançar nesse forró

Sem ter beijado a lua
Zé do Norte desceu a escada
Com uma nova namorada
Pra da festa participar
Encontrou-se com Abdias
e sua sanfona de 8 baixos
Também já indo pra lá
Pra festa poder animar

Chegando lá da Saúde,
Um bairro de Salvador
Gordurinha, sim senhor
Na festa ele adentrou
Lembrou Belém do Pará
Trouxe Ary Lobo de lá
Que descansava na lua
Pra do forró participar

De São Vicente Férrer
Chegou a grande Marinês,
Jacinto veio das Palmeiras
dos Índios das Alagoas
Com todas as tribuzanas
Sivuca de Itabaiana
De Pedreiras, Maranhão,
do Vale, que é João

De Alagoa Grande
Nas terras da Paraíba
Chegou Jackson do Pandeiro
Com seu ritmo por inteiro.
Do alto do seu reinado
De Exu bem preparado
Luiz Gonzaga chegou
Mas uma ausência notou

Então ele foi falando
Com sua voz de trovão
Vamos até Garanhuns
Pois está faltando um
Pra esta festa completar
Aproxime Dominguinhos!
Com a sanfona direitinho
Que o forró vai começar.

Então nessa grande folia
Sem hora para acabar
Juntos tocaram e cantaram
Xaxado, coco e baião
E eu, que pude participar
Do sonho fui despertando
E o coro entoando inteiro:
– Desperta este brasileiro.

ESTRELA SIEBRA - José do Vale Pinheiro Feitosa

As estrelas são luzes. Por luzes são tempo. São mudanças.

Há muito tempo os Astures, 22 tribos dos clãs Pésicos viviam na Galícia, no noroeste da Península Ibérica.

As estrelas impressionam pela humildade de esconder-se às luzes da cidade.

Os Romanos dominaram e a Astúria se fez Hispânia e sua capital Urbs Senabrie.

Estrelas em constelações, em nebulosas tão imensas que a imensidão se torna minúscula.

Os tempos bordam novas imagens e os bárbaros engoliram o império Romano, o Catolicismo dominou os bárbaros e tudo se tornou Paróquia de Sanabria ou Povo de Sanabria.

Estrelas que assustam e este cego pelas luzes da cidade, qual formiga no nos ductos do formigueiro, nunca enxergam o universo além dos restritos fardos da civilização.

Mem Rodriguez de Sanabria, herdou estas terras, tentou salvar um rei e foi traído por outro e se aliou ao reino de Portugal para retomar suas terras.

Estrelas que fluem no ser como aquelas ladainha ao pé do oratório, à luz de vela a dizer: stella matutina, ora pro nobis.

Na Vila da Feira, na cidade do Porto, a família Sanabria começa sua saga na colonização do Brasil. Especialmente no nordeste. E nesta história se tornaram Seabra. Se tornaram SIEBRA.

Estrelas do feto, estrelas do nascimento, estrelas do filho e da mãe, estrelas da infância, da adolescência, do avô, do avô, do avô das estrelas.

Avô das Stelas.






O SOFRIMENTO QUE DENUNCIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Temos, simultaneamente, em nossa estrutura humana a mortalidade e a imortalidade. Ou seja, o tempo que se acaba e ao mesmo tempo a eternidade. Isso decorre de alguns atributos humanos: a memória, a racionalidade, a capacidade de fazer arte, portanto, de transcendência e o conjunto de ações compreendidas como cultura e política. Sujeitos da ação que somos, mesmo que mortais, nos expandimos além do corpo e do tempo (transcendência).

Vivemos o desastre de um ambiente formado numa civilização populosa, quando a consciência do território é o próprio planeta e não mais um pequeno trecho de terra. Todo orientado por concentração de decisões em poucas mãos (daí se origina a palavra imanente) funcionando em “jogos econômicos” que transpõem os atributos humanos. Daí e importância da democracia popular.  

A decorrência das decisões dos “barões do dinheiro” e de seus “jogos econômicos” é a brutal urbanização aliada a enormes privações sociais que atingem sobretudo migrantes e mulheres. Assim a cidade de São Paulo, o maior símbolo do desenvolvimento capitalista brasileiro, aquele que mais se aproxima do modelo dos Estados Unidos, tem alto índice de transtornos mentais. É a segunda cidade do mundo em relação a esses problemas, só perdendo para uma cidade americana.

São Paulo e sua região metropolitana segundo o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas poderia ter 29,6% da sua população com transtornos mentais tais como ansiedade, mudanças comportamentais e abuso de substâncias químicas.

Estudo da Organização Mundial de Saúde estima que 700 milhões de pessoas sofrem algum tipo de transtorno mental, sendo a segunda causa de invalidez. A depressão é a principal de transtorno mental. A estimativa é que 300 milhões de pessoas sofrerão depressão e 90 milhões terão problemas por abuso com substâncias químicas.

Os transtornos mentais são a terceira causa de longos afastamentos do trabalho por doença. E mais nítidas são as evidências do jogo do capitalismo nessa origem segundo estudo da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo.  “Ambiente de trabalho com pouco apoio social, excessivas demandas e baixo controle sobre tarefas, recompensa inadequadas comparada ao esforço de trabalho e comportamento individual excessivo.”


A conclusão mais próxima é que o componente de eternidade humana não suporta a permanente exploração e decisões que apenas respondem a um jogo de interesses restritos. Tudo leva a crer que os transtornos mentais não apenas são consequências do desastre desta situação como inclusive seja uma resposta de negação a ele. 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Só Um Pensamento.


Bendito é o tempo que ruge
que urge, que busca, que traz
que surge, que abafa, que rebusca
e mostra para nós, que somos o destino
e que a vida tem jeito, que o amor
não necessita ser infinito, porque ele acontece
na linha do mundo, sem elaborar finitude
nos abarca e nos laça no melhor ritmo da existência.

Beijos, mil beijos, Socorro e todos do Azul Sonhado.

Um "adendo" necessário - José Nilton Mariano Saraiva

Lendariamente, “milagres” são fenômenos que não acontecem todos os dias. E mais: tal qual um raio, não caem (ou ocorrem) num mesmo local. E exatamente por isso, por serem raros, esporádicos, estanques e solitários, guardam certa curiosidade.

A reflexão é para lembrar que o jornal O POVO (deste 19.01.14, página 38) nos informa que quando do (suposto) “milagre da hóstia”, nada menos que 93 (noventa e três) “encenações” ocorreram no interstício de 02 anos, e todas na “capela-teatro” do Socorro, em Juazeiro do Norte. Com data e hora previamente marcadas pra acontecer.

Assim, em vista da “previsibilidade” e da atuação de “multiplicadores”, de pronto deu-se a adesão de glebas de paupérrimos fanáticos de outros estados do Nordeste. E o script era sempre o mesmo: o padre esperto, a beata inocente e, vapt-vupt, fiat-lux: o (suposto) “milagre” se materializava. Sem maiores delongas. Precisão de um relógio suíço. E assim, face à incessante difusão, exponencialmente as platéias cresceram, daí terem sido necessárias a repetência de incríveis 93 (noventa e três) “encenações” do (suposto) “milagre da hóstia”. 

Resultado: física e organicamente debilitado, o “instrumento” provocador do tal (suposto) milagre (Maria de Araújo) entrou em acelerado processo de “saturação”. E como continuou sendo irresponsavelmente usado sem maiores cuidados, o “instrumento” (Maria de Araújo) faliu. Porque explorada à exaustão. De forma desumana e insensível.

Assim, quando tardiamente a Igreja acordou para o tal “fenômeno”, o (suposto) “milagre” já atingira o objetivo colimado: beneficiar Cícero Romão Batista. Que só então foi “descredenciado” pela hierarquia da Igreja Católica e expulso das suas hostes, acusado de “charlatanismo”. O resto da história todo mundo já sabe: ingressou na política e ficou rico.

Portanto, este é um “adendo” que se faz necessário à nossa postagem anterior (“Os 100 anos de Maria de Araújo”) vez que objetiva mostrar que, contrariando a lenda, em um mesmo local (“capela-teatro” do Socorro, em Juazeiro do Norte), foram 93 (noventa e três) as “encenações” na tentativa de “viabilizar” o tal (suposto) “milagre da hóstia”. Na realidade, uma fraude grotesca, engodo sem tamanho, forçação de barra sem precedentes. Tanto que o Vaticano, por assim considerar, até os dias atuais não o reconheceu (mas o fará algum dia, por imposições político-mercantis, disso não tenham dúvidas).


Agora, aqui pra nós: “milagres” aos borbotões, produzidos como se fora em “escala industrial” merecem mesmo alguma credibilidade ??? Onde já se viu algo tão anômalo, excêntrico e extravagante ???

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Só os tolos consideram aquilo felicidade - José do Vale Pinheiro Feitosa

“Não tenha inveja daqueles que vivem no paraíso dos tolos, pois apenas um tolo consideraria que aquilo é felicidade” – Bertrand Russel em 1969, no Um Decálogo Liberal

Vamos juntar os “causos”: rolerzinho, aumento de presos no Brasil e 85 bilionários com patrimônio igual ao que tem metade da humanidade. São assuntos que abordei nas últimas três postagens.

Fazem sentido: a ditadura dos bilionários (decidem onde e como investir, como deve funcionar a produção, a distribuição e o consumo e, portanto, a política, a cultura, as instituições do Estado e a religião) exclui, persegue, aprisiona e pune. Cria regimes políticos e instituições, os mantém e os conserva.

E antes de tudo têm o controle quase absoluto da violência. Criam e controlam as forças que reprimem e punem. Uma civilização com esta característica é mais absoluta do que o Olimpo Grego. Naquela civilização os deuses (ou os conceitos que representavam) se contradiziam. Nesta a hegemonia pretende-se total.

Agora retorno ao décimo ponto de Bertrand Russel. Só os tolos acreditam que algo assim é duradouro e permanente. O controlador absoluto sofre o controle absoluto. O seu controlado o controla. O controla pela necessidade permanente que o controlador tem de controlar.


Mas é preciso enxergar que só os tolos consideram o seu sucesso dentro desta ordem como a felicidade.  

De "solução" a "decepção" - José Nilton Mariano Saraiva

Quando pela primeira vez se candidatou ao governo do Estado do Ceará, o “carro-chefe” da campanha do então candidato Cid Gomes focava na (in)segurança pública, porquanto um verdadeiro caos. Para tanto, deu-se divulgação exacerbada a um programa denominado “Ronda do Quarteirão”, que seria a redenção do setor.

Assim, uma turma de elite foi treinada para fazer frente à bandidagem e, sob o argumento de que necessitavam de equipamento capaz de enfrentar em igualdade de condições os mafiosos, a providência primeira do jovem governador recém-eleito foi adquirir centenas de caminhonetes da marca Hilux, tração 4 rodas, da Toyota, revendida no Ceará pela empresa Newland (a quem foi garantida a manutenção a frota por anos a fio).

No entanto, de “solução” o “Ronda do Quarteirão” transformou-se em “decepção”, porquanto efetivamente nada mudou no quesito segurança pública no Estado do Ceará. Assim, a bandidagem nunca se sentiu tão à vontade para “trabalhar”.  E mais: os caríssimos e luxuosos carrões em que circula a tropa de elite vivem se envolvendo em acidentes diversos, em razão (comenta-se), do despreparo dos seus guiadores na condução de máquinas tão sofisticadas (não teriam sido treinados para).

Fato é que, de lá até cá já se passaram sete anos, o Governador se acha no último ano do seu segundo mandato e a (in)segurança pública continua a grassar em todo o Estado, constituindo-se o seu calcanhar de Aquiles, enquanto a “menina dos olhos” do governador, o “Ronda do Quarteirão”, é pessimamente avaliado pela população.

Pois não é que agora, faltando menos de um ano para entregar o bastão a quem vier lhe suceder, o senhor Governador do Estado resolveu adquirir nada menos que mais 400 (quatrocentos) novos carros da marca Hilux, da Toyota, com valor unitário de R$ 179.000,00 (cento e setenta e nove mil reais) perfazendo um gasto total de R$ 71.600.000,00 (setenta e hum milhões e seiscentos mil reais), conforme o Diário Oficial do Ceará, de 14.01.14.

Além da “inoportunidade” em gastar toda essa grana já no final do seu mandato, o “detalhe” é que o processo licitatório para a compra dos 400 carrões teria sido ganho pela General Motors (Chevrolet), mas Sua Excelência arranjou um jeito (aumento na cilindrada dos carros) de privilegiar a Toyota e especificamente a empresa Newland (que continuará responsável pela manutenção da frota.


Será que alguém receberá alguma “comissão” ???

O CÉU ESTRELADO DO MEU AVÔ - por Stela Siebra

                                                 
Era uma vez um avô poeta que louvava a Deus louvando a sacralidade da natureza. Era um avô sábio e simples, brincalhão e contemplativo.
Antigamente, não muito antigamente, a energia elétrica não havia chegado aos sertões do nordeste brasileiro, o que fazia com que as noites fossem escuras como breu nas fases de lua minguante e nova. Mas o manto estrelado do céu era um convite à contemplação do infinito, à leitura do mistério das constelações distantes, à viagem interior em busca do brilho divino dentro de nós.
A noite, seja clara de lua cheia, seja clara de estrelas, é tempo e espaço propício aos astrólogos, aos poetas, aos buscadores da Beleza Infinita de Deus.
Stela Siebra

Ouvindo Estrelas José Augusto Siebra

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

OS DITADORES - José do Vale Pinheiro Feitosa

Uma das coisas que mais incomodam a quem não é economista é a moeda. Ela é um instrumento de mensuração do esforço material humano. Se bem que se inclua em materiais coisas imateriais como a cultura, as marcas, e outras mais. Ao dar realidade ao valor que as coisas simbolicamente têm, a moeda é o meio para que elas circulem (ou mudem de dono) entre as pessoas. Também é a moeda o sinal para que algo novo se construa ou comece ao que chamam investir, financiar e outras mumunhas mais.

Mas economia mesmo é o trabalho humano. É produção, a distribuição e o seu consumo. E, portanto, é uma sentença a cada um. Ninguém consegue comer de uma vez só toda a comida de um restaurante, usar todos os sapatos de uma sapataria. A vem a estranheza.

Acaba de sair um relatório de uma ONG britânica chamada de Oxfam que revela que o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população humana. Ou seja 85 pessoas contra 3,5 bilhões de pessoas. E toco a pensar em coisas como democracia.

A famosa frase de Churchill “Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”, assim fica negada. A democracia como um sistema que reduz a condução do mundo (a economia) a 85 pessoas é um desastre oligárquico.

É uma ditadura de poucos sobre bilhões de seres humanos. Eles tomam decisões como aqueles velhos filmes hollywoodiano que mostravam os clubes privês da oligarquia imperial inglesa: tomando chá, praticando jogos e decidindo a vida de milhões por todos os continentes. Afinal é assim que de fato funciona o mundo na mão de meia dúzia de famílias mais concentradas em abuso e poderes do a famigerada nobreza francesa à vésperas da revolução.


Um fato histórico como esse torna todos os economistas em meros serviçais de decisões ad hoc e ontologicamente erradas sobre o futuro da humanidade.  

O AMPLO PORTÃO DA CADEIA NO BRASIL - José do Vale Pinheiro Feitosa

A Justiça acusa de cometer o crime, prende e, ao fim, não consegue provar nada. É um escândalo.” – Julita Lemgruber – Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.

Em dezembro de 2012 o Brasil dobrou a sua população carcerária em relação ao início da década. Estavam aprisionados 548.003 brasileiros na mais variada condição de sofrimento e descaso. Agora pasmem: 40% desses prisioneiros estavam em caráter provisório. Ou seja a Justiça ainda não tinha concluído o processo enquanto o brasileira ficava vendo o sol quadrado por até muitos anos. Presos sem condenação.

Mas isso é a média nacional. No Piauí e no Maranhão o índice de presos provisórios chega a 60%. No Rio Grande do Sul no Presídio Central 60% são presos provisórios. Agora querem compreender os patamares do inferno? Tem gente presa há mais de dois anos por ter furtado um pedaço de queijo num supermercado. Um prisioneiro do Rio de Janeiro foi preso em dezembro de 2011 com acusação de tráfico de droga. É réu primário, teve a primeira audiência em maio de 2012 quando o Juiz mandou que a defensoria do Estado enviassem as últimas manifestações por escrito. Um ano após, em abril de 2013 é que o processo retornou.

São exemplos. Mas o pior dos mundos é que um estudo da Universidade Cândido Mendes, coordenado por Julita Lembruger, conclui que 39% do presos do Rio de Janeiro são provisórios e que uma análise de coorte do resultado de julgamento desses presos mostrou que apenas 37,5% deles foram condenados a regimes fechado ou semiaberto. Se isso representa o conjunto temos que apenas no rio de Janeiro, um quarto das pessoas que estão presas o são injustamente. À revelia da lei e com a prática do anacronismo, da leniência e do preconceito dos tribunais e juízes.

Mesmo com a nova Lei das Medidas Cautelares que se encontra em vigor desde de 2011 e que deu aos juízes alternativas à prisão como o comparecimento em juízo, fiança em sede policial e em juízo, monitoração eletrônica, proibição de se ausentar da comarca, etc., os juízes continuam repetindo as velhas prática: prisão provisória. O estudo da Cândido Mendes mostrou isso no Rio de Janeiro.

Não é por menos que o déficit de vagas no sistema prisional brasileiro é de 238 mil vagas. Mas não deixe de considerar que prisão é uma questão social e representa a vontade de classes dominantes. Por isso de vez em quando algum siderado social pede redução da maioridade penal e deseja prender todos aqueles que representam o fel que seus corações amargos não suportam.


Se o uso de bebidas alcoólicas não enseja prisão, imagine que fumar maconha pode tornar alguém num preso. No futuro será ridículo alguém ser castigado por fumar uns ramos de mato.  

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Uma noite de música como uma homenagem dos rolerzinhos aos shoppings centers - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ofereço esta gravação a todos leitores deste blog. Ofereço aos meus amigos de jornadas que se resumiram aos seus textos e numa jamais vieram aos espaços dos comentários a eles. Socorro Moreira, José Nilton, Zé Flávio, Carlos Eduardo, Joaquim Pinheiro, Zé Almino, Stela e a todos que por esquecimento não citei.


OS ROLERZINHOS AOS SHOPPINGS CENTERS NA VISÃO DE UMA SOCIÓLOGA PAULISTA

Entrevista à socióloga Valquíria Padilha ao site Carta Maior

O que são os shoppings? – são espaços privados travestidos de públicos. Eles segregam, impedindo a entrada de quem não tem poder aquisitivo ou quem não se adequa ao ambiente do shopping, seja pelo modo de se vestir ou de se comportar. Eles funcionam como clubes privados, escolas privadas, hospitais privados: são bunkers onde as classes mais altas se possam sentir protegidas do mundo lá fora. São templos do consumo para poucos.

E os rolerzinhos? – Os shoppings são os símbolos do consumo: “compro, logo existo.”. Os jovens que sabem que eles não lhes pertencem, estão forçando acesso a esse espaço como a dizer: “quando a vem aqui a gente incomoda os burguesinhos que historicamente nos desprezam”. Uma longa história de invisibilidade vivida pelos pobres no Brasil está vindo à tona com essas “invasões” dos shoppings centers.

Esta é a luta de shopping “um direito de todos? – a crença generalizara de que pertencer ao shopping é alcançar a boa vida é a vitória da sociedade de consumo e um fracasso da humanidade. Todos foram cooptados pela crença alienada de que só é possível ser feliz assim. A ideologia consumista virou uma verdade absoluta. Consumir roupas de marca e equipamentos eletrônicos não vão conquistar liberdade ou emancipação. O desejo e a posse de mercadorias nos alienam a todos. Quando critico a segregação social dos shopping centers não desejo como solução que esses espaços sejam democratizados. Desejo que esses espaços sejam eliminados.

E o que a sociedade terá em troca? – que sejam substituídos por parques, espaços de cultura, bibliotecas, cinemas, teatros, circos, escolas, tudo aberto a todos igualmente. Uma sociedade emancipada e verdadeiramente rica precisa disso, e não de shopping centers. Qualquer solução na contramão da ordem vigente tem status de utopia, tamanha é a complexidade social. A publicidade é a espinha dorsal desse sistema. Ela é a maior descoberta e o maior trunfo da sociedade de consumo capitalista, manipulando desejos, criando necessidade, reduzindo sentimentos. E atinge a todos da mesma forma: ricos e pobres, quem vive na cidade e quem vive no campo. Na ordem do capital, não acredito em nenhuma resposta definitiva. Humanizar o capitalismo, ao menos seria possível, mas não concordo que apenas oferecer mais políticas públicas de lazer e cultura nas periferias seja a solução, pois continua aí a segregação dos espaços urbanos, a cidade continua dividida entre espaços para pobre e espaços para ricos. Isso não é solução, é paliativo.
 
E os juízes que concedeu aos shoppings o direito de selecionar o acesso? Os juízes que deram essas sentenças deveriam perder o direito de julgar se nosso país fosse sério e cumprisse a Constituição. É um absurdo autorizar o inautorizável. Um juiz não poderia permitir que um espaço aberto ao público pudesse segregar. Discriminação é ilegal. Racismo é crime inafiançável no Brasil. Esses juízes deveriam ser presos. Os donos desses shoppings também.





De Você Apenas Interessa A Grana - José do Vale Pinheiro Feitosa

Teve uma missa em que fui tirado do altar, no Convento das Clarissas, porque um padre famoso do Rio queria rezá-la. E fui ameaçado por esse padre, que dizia que faria reclamação ao bispo. Outro me proibiu de pisar na igreja dele. Fiz um casamento lá, e ele se incomodou pela vibração da alegria. Isso é uma perseguição que acontece pela disputa das ovelhas, sobretudo da ovelhas abastadas” – Ex-frade Jhonatha Gerber que acaba de desistir da batina e vai se tornar um psicólogo e assim ganhar a sua vida curando almas. Jornal O Globo Segunda-Feira 20 de Janeiro de 2014

Na maternidade um grande negócio para nascer, somados ao feitiço de serviços, berço, brinquedos e mamadeiras e produtos da Nestlé. Aí começa até o último sopro de vida a parafernália “científica” em razão de toda circulação da mercadoria. Some-se os interesses e todo tipo de serviço, de pequenos por for para atender à “legislação”, sem contar, para os pobres, as máfias organizadas.

Toda a vida neste mundo, assim como era o sofrer na terra da idade média, ainda com alguma paga mediada pelas igrejas no céu, se tornou a sopa amarga do progresso do materialismo financeiro. Considere o seu mais elevado momento de humanidade e exime o quanto ele se encontra na borda da mais ignóbil exploração do outro apenas para que tudo mais funcione e todos tenham direito a circular moedas para sobreviver.

O denominador comum dessa nova era de trevas, por incrível nascida do Iluminismo, é o interesse exclusivo pelo dinheiro que circula de mão em mão. O mão que te ama ou a que tua amas, é importante exatamente por isso: por te devolver em valor monetário tudo aquilo que do teu coração pensava ser humano.

Nenhum sonho, nenhuma discussão a valer consegue ultrapassar esse círculo de giz desenhado no chão ao qual ninguém ousa ultrapassar embora empecilho físico nenhum exista. A moeda, tua vida, teu sopro, é a circulação daquilo que mesmo não o necessites terás que trocar, absorver ou contribuir para a montanha de lixo.

Mas isso não diz tudo do humano e nem do planeta. Diz apenas da era, do momento da história, que criou esse arranjo tocado por lideranças, exércitos, crenças, fés, e instituições que existem para garantir a idade das trevas. Como antes, agora além do lamento, há a possibilidade de compreender.
O denominador comum é a compreensão desse era e em seguida a imaginação para superá-la mediante forte crítica. 

Uma crítica revolucionária e não reacionária como a de Jhonatha Gerber trocando o confessionário pelo divã.
    


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"Os 100 anos de Maria de Araújo" - José Nilton Mariano Saraiva

Manchete de um dos cadernos do jornal O POVO (Fortaleza-CE), edição de 15.01.14, alude sobre o relançamento do livro “Milagre do Joaseiro”, de autoria do norte-americano Ralph Della Cava, cuja primeira edição data de 1977, evidentemente tratando sobre Cícero Romão Batista.

Que se saiba, não há nenhuma novidade, adendo ou atualização, donde se conclui que teremos o mesmo, do mesmo, do mesmo. Ou seja, o velho, surrado e batido discurso de sempre. Até porque o tema exauriu-se faz tempo, embora os adeptos de Cícero Romão Batista teimem em mantê-lo em evidencia, porquanto a Igreja ainda não lhe tirou o cáustico carimbo de “charlatão”, dificultando sua ascensão à condição de “santo” (mas o fará, mais cedo ou mais tarde, por injunções político-mercantis).

Bem que o eminente autor, aproveitando ser este o ano centenário da beata Maria de Araújo, poderia agregar dois novos capítulos, específicos e necessários: primeiro, discorrendo em profundidade a respeito da “causa mortis” da coitada da beata; depois, tratando do extraordinário enriquecimento (presumivelmente ilícito) de Cícero Romão Batista (no entanto, por motivos óbvios ele jamais o faria, porquanto se o fizesse praticamente estaria a matar a “galinha dos ovos de ouro”).

Com relação à beata Maria de Araújo, por exemplo, sabe-se, apenas e tão-somente que, negra, analfabeta e filha de pais pobres, desde cedo foi adotada por Cícero Romão Batista, que a abrigou em sua própria residência; que, fanática, dispensava ao seu protetor obediência cega, leal e irrestrita, capaz até de por ele sacrificar-se (o que acabou acontecendo); e, o mais importante, que padecia de séria e gravíssima enfermidade, a ponto de recorrentemente expelir sangue pela boca (às vistas do esperto padrinho) muito antes do tal “milagre da hóstia”.

Pertinente, pois, o questionamento: a pobre coitada da beata serviu de mero e vulgar (embora eficiente) “instrumento”, a fim de viabilizar o engodo conhecido por “milagre da hóstia”, definido pela própria Igreja Católica como charlatanismo puro ???  Afinal, todos os indícios apontam que, presumivelmente acometida de tuberculose, ainda assim teria sido usada (desumanamente) até o limite da sua condição físico-orgânica, por aquele em quem tanto confiava.

Lembremo-nos que, à época da farsa, às pressas foram diligentemente confeccionados os famosos “paninhos”, depositários do sangue da beata, para uso exaustivo como uma das “provas do milagre”, mas que, depois, providencial e misteriosamente, sumiram (ou queimados foram) como se houvesse o temor de, num futuro não tão distante, com o vasto instrumental técnico que certamente adviria, um exame mais detalhado pudesse diagnosticar “in totum” algo comprometedor, capaz, inclusive, de “demolir” de vez com o tal “milagre”.

Tanto é que, mesmo sabendo-a a principal protagonista do tal “milagre”, “post mortem” as autoridades eclesiásticas de Juazeiro tomaram imediatas providencias visando apagá-la de vez da memória popular, via destruição de todo e qualquer vestígio que lembrasse sua presença. Assim, sintomaticamente o seu túmulo foi criminosamente violado e, de forma conveniente (para beneficiar Cícero Romão Batista, especificamente) seus restos mortais sumiram, escafederam-se, daí que Maria de Araújo passou a ser conhecida como “a mulher sem túmulo”. Donde se pode conjecturar que tal reflexão - o seu criminoso uso como “inocente útil” – abriga, sim, consistência e fundamento.  

Já no tocante ao estupendo e extraordinário enriquecimento de Cícero Romão Batista, quando ingressou na carreira política depois de expulso da Igreja, as evidencias indicam que o “modus operandi” usado não se diferenciaria em nada dos usados atualmente pelos desonestos políticos brasileiros, já que amealhou um colossal patrimônio (terrenos, imóveis, fazenda, gado e por ai vai) em tempo relativamente curto e, mais importante, sem que tivesse qualquer fonte de renda (nenhuma mesmo) compatível. A(s) dúvida(s), então, seria(m): sobras de campanha??? dinheiro não contabilizado ??? remessa do exterior ??? caixa dois ??? doações ??? descoberta de uma botija ???

E se, à época, houvesse um magistrado destemido e despachado tal qual o Joaquim Barbosa (dos dias atuais), será que Cícero Romão Batista se livraria de uma pena exemplar ???

Como se vê, o octogenário norte-americano Ralph Della Cava perdeu uma excelente oportunidade de se “reciclar”, no relançamento do seu livro, nos brindando com o “complemento” da história real, ao invés de vir com a mesma versão de 37 anos atrás (ao salgado preço de R$ 65,00).

Assim, só nos resta torcer para que futuramente apareça um “historiador” com “H” maiúsculo, capaz de direcionar os holofotes para a “face oculta” de Cícero Romão Batista (mesmo que nessa oportunidade ele já haja sido, provavelmente, ungido ao patamar de santidade).

Agora, risível, desrespeitoso e beirando à cretinice, é que hoje, 17.01.14, no aniversário do centenário de nascimento de Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo, as autoridades juazeirenses tenham resolvido encenar o enterro da própria (para tanto a mídia foi usada para convocar a população), evidentemente que objetivando criar mais um local de exploração dos atarantados romeiros. Dúvidas: o que colocarão dentro do caixão ??? O que mesmo será enterrado ???

São uns impiedosos e insensíveis.