por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"Os 100 anos de Maria de Araújo" - José Nilton Mariano Saraiva

Manchete de um dos cadernos do jornal O POVO (Fortaleza-CE), edição de 15.01.14, alude sobre o relançamento do livro “Milagre do Joaseiro”, de autoria do norte-americano Ralph Della Cava, cuja primeira edição data de 1977, evidentemente tratando sobre Cícero Romão Batista.

Que se saiba, não há nenhuma novidade, adendo ou atualização, donde se conclui que teremos o mesmo, do mesmo, do mesmo. Ou seja, o velho, surrado e batido discurso de sempre. Até porque o tema exauriu-se faz tempo, embora os adeptos de Cícero Romão Batista teimem em mantê-lo em evidencia, porquanto a Igreja ainda não lhe tirou o cáustico carimbo de “charlatão”, dificultando sua ascensão à condição de “santo” (mas o fará, mais cedo ou mais tarde, por injunções político-mercantis).

Bem que o eminente autor, aproveitando ser este o ano centenário da beata Maria de Araújo, poderia agregar dois novos capítulos, específicos e necessários: primeiro, discorrendo em profundidade a respeito da “causa mortis” da coitada da beata; depois, tratando do extraordinário enriquecimento (presumivelmente ilícito) de Cícero Romão Batista (no entanto, por motivos óbvios ele jamais o faria, porquanto se o fizesse praticamente estaria a matar a “galinha dos ovos de ouro”).

Com relação à beata Maria de Araújo, por exemplo, sabe-se, apenas e tão-somente que, negra, analfabeta e filha de pais pobres, desde cedo foi adotada por Cícero Romão Batista, que a abrigou em sua própria residência; que, fanática, dispensava ao seu protetor obediência cega, leal e irrestrita, capaz até de por ele sacrificar-se (o que acabou acontecendo); e, o mais importante, que padecia de séria e gravíssima enfermidade, a ponto de recorrentemente expelir sangue pela boca (às vistas do esperto padrinho) muito antes do tal “milagre da hóstia”.

Pertinente, pois, o questionamento: a pobre coitada da beata serviu de mero e vulgar (embora eficiente) “instrumento”, a fim de viabilizar o engodo conhecido por “milagre da hóstia”, definido pela própria Igreja Católica como charlatanismo puro ???  Afinal, todos os indícios apontam que, presumivelmente acometida de tuberculose, ainda assim teria sido usada (desumanamente) até o limite da sua condição físico-orgânica, por aquele em quem tanto confiava.

Lembremo-nos que, à época da farsa, às pressas foram diligentemente confeccionados os famosos “paninhos”, depositários do sangue da beata, para uso exaustivo como uma das “provas do milagre”, mas que, depois, providencial e misteriosamente, sumiram (ou queimados foram) como se houvesse o temor de, num futuro não tão distante, com o vasto instrumental técnico que certamente adviria, um exame mais detalhado pudesse diagnosticar “in totum” algo comprometedor, capaz, inclusive, de “demolir” de vez com o tal “milagre”.

Tanto é que, mesmo sabendo-a a principal protagonista do tal “milagre”, “post mortem” as autoridades eclesiásticas de Juazeiro tomaram imediatas providencias visando apagá-la de vez da memória popular, via destruição de todo e qualquer vestígio que lembrasse sua presença. Assim, sintomaticamente o seu túmulo foi criminosamente violado e, de forma conveniente (para beneficiar Cícero Romão Batista, especificamente) seus restos mortais sumiram, escafederam-se, daí que Maria de Araújo passou a ser conhecida como “a mulher sem túmulo”. Donde se pode conjecturar que tal reflexão - o seu criminoso uso como “inocente útil” – abriga, sim, consistência e fundamento.  

Já no tocante ao estupendo e extraordinário enriquecimento de Cícero Romão Batista, quando ingressou na carreira política depois de expulso da Igreja, as evidencias indicam que o “modus operandi” usado não se diferenciaria em nada dos usados atualmente pelos desonestos políticos brasileiros, já que amealhou um colossal patrimônio (terrenos, imóveis, fazenda, gado e por ai vai) em tempo relativamente curto e, mais importante, sem que tivesse qualquer fonte de renda (nenhuma mesmo) compatível. A(s) dúvida(s), então, seria(m): sobras de campanha??? dinheiro não contabilizado ??? remessa do exterior ??? caixa dois ??? doações ??? descoberta de uma botija ???

E se, à época, houvesse um magistrado destemido e despachado tal qual o Joaquim Barbosa (dos dias atuais), será que Cícero Romão Batista se livraria de uma pena exemplar ???

Como se vê, o octogenário norte-americano Ralph Della Cava perdeu uma excelente oportunidade de se “reciclar”, no relançamento do seu livro, nos brindando com o “complemento” da história real, ao invés de vir com a mesma versão de 37 anos atrás (ao salgado preço de R$ 65,00).

Assim, só nos resta torcer para que futuramente apareça um “historiador” com “H” maiúsculo, capaz de direcionar os holofotes para a “face oculta” de Cícero Romão Batista (mesmo que nessa oportunidade ele já haja sido, provavelmente, ungido ao patamar de santidade).

Agora, risível, desrespeitoso e beirando à cretinice, é que hoje, 17.01.14, no aniversário do centenário de nascimento de Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo, as autoridades juazeirenses tenham resolvido encenar o enterro da própria (para tanto a mídia foi usada para convocar a população), evidentemente que objetivando criar mais um local de exploração dos atarantados romeiros. Dúvidas: o que colocarão dentro do caixão ??? O que mesmo será enterrado ???

São uns impiedosos e insensíveis.

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