por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 21 de julho de 2013

Onde fica o centro do terrorismo mundial - José do Vale Pinheiro Feitosa

Esta semana, alegando profunda depressão, renunciou à candidatura para a presidência da República do Chile o candidato direitista Pablo Longeira. O agora ex-candidato, que já fora deputado e senador, começou sua liderança embaixo do guarda chuvas da ditadura chilena tendo sido escolhido por Pinochet para ser Presidente da União dos Estudantes da Universidad Catolica. Longueira, em 1986, liderou um quebra quebra sobre os carros que transportavam o ex-Senador e já faelecido Edward Kennedy que fora ao Chile falar em Direitos Humanos.

O radicalismo da direita chilena não foi maior e nem menor do que no resto da América Latina. A direita latino americano foi um substrato sobre o qual os EUA agiram em torno dos interesses próprios de suas empresas e corporações. De modo que o radicalismo da direita por esta região foi um lago de mágoa preenchido pelos interesses exclusivos dos EUA e quase nada dos povos da região.

O pensador ocidental Noam Chomsky falando sobre o móvel da política externa dos EUA em seu livro “O que tio Sam Realmente Quer?” é claro sobre a motivação: o exclusivo interesse das empresas americanas. Análises realizadas pelo economista Edward Herman encontraram uma correlação em todo mundo entre a tortura e a “ajuda norte-americana”.  A conclusão é que a tortura e a ajuda “estão correlacionadas com a melhoria da condições de operações das empresas”. 

Pelos cálculos realizados por Chomsky e outros pensadores, os EUA estão diretamente envolvidos, só na América Central, ao assassinato de 200 mil pessoas além de terem dizimado todos os movimentos populares que lutavam por democracia e reforma social. E antes que alguém pense em Stalin, não falo em Hitler pois este está no espectro político de quem logo assim argumenta e claro os EUA e a direita latino-americana, transcrevo a conclusão do texto de Chosky: essas façanhas qualificam os Estados Unidos como fonte de “inspiração pra o triunfo da democracia em nosso tempo”, nas admiráveis palavras da revista liberal New Rapublic. Tom Wolfe conta-nos que a década de 1980 foi “um dos grandes momentos de ouro da humanidade”. Como diria Stalin: “Estamos deslumbrados com tanto sucesso.”

Não deixam de ser reveladoras as fotos das intervenções americanas na América Latina. Examinenos estas duas fotos que seguem e sintamos o que dizem. A primeira é o encontro do Marechal Castelo Branco em sua face de hospedeiro satisfeito e um sorridente Lincoln Gordon, embaixador americano o homem que operou o Golpe de Estado a favor dos EUA. E a segunda esta ameaçadora foto de Pinochet tendo às suas costas homens com as fardas da Forças Armadas chilenas.

Castelo Branco e Lincoln Gordon

Pinochet: o ódio se instala

Onde esse texto quer chegar? Ele faz parte de uma série que postei sobre o Chile. Ele é uma sequência sobre Pablo Neruda, a quem voltaremos sobre sua vida e obra. Mas a questão básica é que Neruda morreu logo após o golpe de Pinochet. Ele já estava doente com um câncer de próstata. Provavelmente morreria em consequência, mas o que choca a todos é a possibilidade de sua morte ter sido executada sobre as ordens do esquema golpista do Chile e com a participação da CIA. Após a morte de Allende, Neruda era o último símbolo da luta popular no país. Para consolidar rapidamente o poder golpista, eles teriam eliminado intencionalmente Neruda para não deixar nenhuma resistência às forças mortíferas que se instalaram no Chile.

E antes de ouvir o velho argumento de que apesar da ditadura o liberalismo melhorou a vida do chileno, é preciso que se diga o seguinte: a) o Chile viverá algumas gerações com ódios recíprocos em razão da violência; b) em que melhorou a vida de alguns na fase de ouro das exportações de commodities, c) hoje o Chile é um país meramente exportador de matéria prima. E alguns setores chilenos que se acham privilegiados ainda devem gozar os turistas brasileiros se vangloriando dos baixos preços dos automóveis chilenos que lá pagam menos da metade que aqui.


Mas tem uma realidade cruel: o Chile tem que importar o combustível que move sua frota e não gera nenhum emprego no setor. Toda a sua frota é fabricada e geram empregos em outros países. Este modelo é furado: só leva dinheiro do povo chileno que o ganha vendendo matéria prima. A cada dia se aproxima mais o abismo deste tipo de realidade neste mundo que se queira ou não continua sendo industrial.    

PARLAMENTO OU REVOLUÇÃO? - por Pedro Antônio Lima Santos


 

É necessário reconsiderar algumas questões resultantes das manifestações populares de rua. Uma dessas questões é a violência latente, presente e expressa nessas manifestações. Outra questão é o próprio futuro das manifestações: continuar como manifestação, esgotar-se ou transformar-se.

Quanto à violência convém colocá-la em um contexto mais amplo. Pois, a violência, contrariando o sonho idílico dos que querem ver o brasileiro como um povo pacífico, já existia antes das manifestações e se encontra em um processo de crescimento e de expansão por todo o Brasil.

O tráfico e o consumo de drogas produzem, diariamente, cenas de violência (assaltos, espancamentos, assassinatos), que são divulgadas profusamente pelos meios de comunicação.

A violência do trânsito mata tanto quanto as guerrinhas entre países que andam por aí. Há a violência contra as mulheres, contra os idosos e crianças, contra os homossexuais e os negros (e até contra os nordestinos). Mutilações e mortes, sequestros, sequestro-relâmpago, estupros, explosão de caixas eletrônicos –a lista de violências parece interminável.

Mas, há também a violência do Estado, que se manifesta, por exemplo, nas balas-perdidas e balas-encontradas que matam cidadãos –velhos, adultos, jovens e crianças. O Estado age com violência nos processos de reintegração de posse e, mais recentemente, nas manifestações populares de rua. No passado também era assim.

Também há quem diga, às vezes, como um mero slogan, uma bandeira de luta ou uma figura de retórica, que a violência maior do Estado é manter a maior parte da população na pobreza e na miséria. De certo modo, essa violência histórica do Estado é, como diriam alguns, a mãe de todas as violências.

Embora se verifiquem ações violentas de massa e individuais em países sem pobreza e sem miséria (dir-se-ia que estes são elementos intrínsecos da sociedade capitalista), isso não chega a ser muito comum. Assim, acredita-se que uma população informada, assistida e respeitada, com saúde, educação, trabalho e segurança seria uma população pacífica e ordeira. Não há consenso sobre isso. Os assassinatos em série nos Estados Unidos da América e até na Europa (Noruega), as cenas de intolerância racial, sexual etc. desmentiriam aquele enunciado.

Mas isso não explica tudo ou não explica nada. Nada justifica a violência, nem do Estado contra as pessoas, nem das pessoas, nas manifestações populares de rua, contra a polícia e contra as propriedades.

O Brasil é um Estado democrático e de direito. As leis garantem aos cidadãos direitos de livre expressão e de manifestação, e o direito de ir e vir. Cabe ao Estado garantir a integridade das pessoas e das propriedades.

Aí alguém poderia dizer: -A lei só protege os grandes. Os pobres e os miseráveis são, sempre, os desprotegidos da lei. Neste caso, a solução é mudar as leis, aperfeiçoá-las; e mudar os políticos, escolhê-los melhor.

Isto nos remete à outra questão colocada no início dessas anotações: qual o futuro das manifestações populares de rua?

O Partido dos Trabalhadores teve sua origem, também, nas grandes manifestações de trabalhadores, no sindicalismo e em outros movimentos sociais. Quando participei de sua fundação, em Natal, havia o dilema entre adotar a via parlamentar ou seguir o caminho revolucionário. Muitos dos militantes que defendiam esse caminho saíram do Partido dos Trabalhadores e hoje integram partidos como o PCO, PSTU e PSOL…

Coube ao Partido dos Trabalhadores, a partir de 2002, inverter as prioridades nacionais para realizar uma agenda, que ataca a pobreza e a miséria (seculares), garantindo dignidade e cidadania para milhões de brasileiros.

Mas, hoje as manifestações populares de rua repudiam os partidos, os políticos e até a própria Política. Essas pessoas não se sentem representadas pelo Congresso Nacional, desconfiam dos Tribunais e temem a polícia. Então como encaminhar e realizar suas reivindicações –as transformações que almejam para o Brasil?

Parece pertinente, portanto, evocar, aqui, aquele antigo dilema entre a via parlamentar e o caminho revolucionário.

Os grupos que organizam as manifestações e as pessoas que fazem parte delas tenderiam a se institucionalizar, sob alguma forma de entidade ou até mesmo de partido político?

Ou permaneceriam convocando e realizando manifestações para divulgar suas reivindicações? Esta opção corre o risco de se esgotar com o tempo, por falta de organicidade e de objetivos claros.

Porém, se alcançar organicidade e conseguir definir com clareza os seus objetivos, poderia acenar com a perspectiva, digamos, revolucionária. Neste caso, prefiro acreditar que o conteúdo da palavra REVOLUCIONÁRIA explodiria em alguma forma, ainda não realizada, de democracia, onde a política, como o amor, diria respeito e seria praticada por todos os cidadãos.

Sei que as utopias desse tipo ou desapareceram ou andam escassas. Entretanto, um modo de tornar realizável a utopia de uma democracia radical, hoje reivindicada nas ruas, é defender e aperfeiçoar a temos.

 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ariado



J. Flávio Vieira

                                               A história de Zé Felipe não se fazia tão diferente  de muitos outros caminhoneiros Brasil afora. Começara com uma pequena Rural transportando feirantes de Matozinho para cidades vizinhas como Bertioga e Serrinha dos Nicodemos. Aos poucos o negócio foi progredindo  e Zé comprou uma caminhonete, depois uma sopa e, já nos anos quarenta, terminou adquirindo seu primeiro caminhão, ramo em que acabou se fixando pelo resto da vida. Estradas de barro , esburacadas, íngremes, tortuosas,  a profissão era uma aventura digna de um  Fernão Dias Paes Leme. Acostumara-se àquela vida de peregrino, de judeu errante. Mesmo velho, por inércia, já era impossível parar.Transportava cargas sem destino previsível, de um ponto a outro do país. Muitas vezes passava  mais de seis meses sem retornar a Matozinho.  A família não tinha nenhuma notícia de Zé neste período. A única comunicação possível seria via telegráfica e saltando de cidadezinha em cidadezinha, pelos ocos mais inóspitos do Brasil, até esta via se mostrava inexeqüível. Restava aos familiares a saudade e a prece.
                                   Cada retorno de Zé , assim, inundava a vila de alegria, comemorava-se o feito de um herói, como se ele houvesse escalado o Everest ou pisado pela primeira vez no Pólo Sul, como Amundsen. Por outro lado, Felipe vinha também como um Marco Pólo, trazendo notícias e histórias de terras distantes e quinquilharias para vender ao povo de Matozinho: últimas novidades da civilização.  Quando o velho caminhão Mercedes  apontava na descida da Serra da Jurumenha, a vilazinha exultava. Junto de Zé , seu eterno ajudante : Tico Biroba. Eles faziam uma dupla perfeita: D. Quixote e Sancho Pança da Caatinga. As histórias de Felipe ainda hoje inundam o imaginário de Matozinho, tantos anos depois, pelo inusitado, pelo humorístico, pelo doce tom de irreverência.
                                   Cada curva da estrada escondia perigos insondáveis. Felipe computava inúmeros acidentes na profissão. O maior deles , no início dos anos cinqüenta, uma capotagem terrível nas montanhas das Minas Gerais, quase dá cabo dele e de Biroba. Escaparam,  mas o caminhão destruiu-se, em tempos em que seguro de carro  inexistia. Zé ficou com uma mão no cano e outra no feixe, triste e desiludido pelos cantos. Escreveu então a Getúlio Vargas, então presidente, contando o infortúnio por que passava, agora, inclusive, sem mais ter como sustentar a família. Dias depois recebeu, por incrível que possa parecer, uma resposta do Catete. O presidente lhe ofertava um outro caminhão para que continuasse a vida nômade. Felipe recebeu-o no Rio de Janeiro e  escreveu no pára-choque uma frase que demonstrava toda  sua gratidão : “Esse foi Getúlio quem deu !”
                                   Varando as tortuosas estradas do Brasil,  por tantos e tantos anos, Felipe conhecia cada buraco. Familiarizara-se com mecânicos, borracheiros, bodegueiros, motoristas por tudo quanto é de biboca desse país. Bom papo, cheio de presepadas, conheciam-no nos lugares mais ermos, como se fora uma reencarnação de Pedro Malasartes.  Suas peripécias corriam de língua em língua e até foram , um dia, imortalizadas em um cordel atribuído  ao poeta Pedro Pito. Foi do cordel esgotado de Pito que arrancamos algumas dessas histórias  que deixamos registradas aqui, na esperança que este texto tenha mais durabilidade que as páginas já puídas do nosso poeta maior.
                                   Numa das suas raras permanências em Matozinho, Felipe encontrou, um dia, na feira, com Mané Mago, um varapau que morava nas terras do Cel Anfrízio, homem sério como fundo de touro e de pouca conversa. Mané passara uma época em São Paulo e, não encontrando o El Dorado, retornara a sua vila, com o rabinho entre as pernas. Trouxera, junto com ele, aquela indumentária própria para o inverno paulista e não a dispensava , mesmo no sol mais escaldante de outubro. O adereço mais chamativo era um chapelão enorme que mais parecia uma sombrinha. Foi com essa arrumação que Zé Felipe deu com ele, no pino do meio dia, na feira. Cumprimentou-o, cordialmente, mas não perdoou :
                                   --- Zé, meu amigo ! Onde é que você vai montar esse carrossel ?
                                   Zé, enfezado, saltou com quatro pedras na mão :
                                   --- No cu da mãe, Felipe ! No cu da mãe !
                                   Felipe não se enrolou :
                                   --- Bacana, Mané ! Só assim eu rodo de graça !
                                   Em uma das suas incontáveis viagens, no inverno,  o caminhão atolou feio lá pras bandas da Paraíba. Alguns  lavradores ,que limpavam uma roça próxima, reconheceram o motorista e vieram ajudá-lo. Calça daqui, cava dali, empurra dacolá , depois de umas duas horas, conseguiram, por fim, desatolar o veículo. Estavam todos exaustos e calabreados como se trabalhassem em Serra Pelada. Os lavradores eram todos de uma mesma família, residente ali próximo. Todos atarracados e com uma característica interessante, pescoço curtíssimo, como se a cabeça saísse diretamente dos ombros. Já no carro e acelerando, Zé perguntou-lhes quanto devia. Eles, solícitos, disseram que não era nada, enquanto já retornavam meladíssimos ao trabalho da roça. Saindo, Zé Felipe gritou :
                                   --- Obrigado, amigos ! Quando eu voltar de Campina Grande vou trazer um par de pescoço pra cada um de vocês !
                                   Teve que acelerar rápido, pois o palavrão e a pedrada comeram no centro !
                                   De uma outra feita, no interior da Bahia, próximo a Jequié, em plena zona rural, algumas pessoas atravessaram na estrada , pedindo socorro. Zé Felipe freou. Uma mulher contou então que o pai estava muito doente e pedia ajuda para levá-lo, no caminhão improvisado de ambulância, até a cidade.  O motorista mostrou-se solícito, mas pediu para examinar primeiro o paciente, pois se dizia experiente, já fora meizinheiro na feira de Matozinho e, quem sabe, poderia ajudar. Levaram-no até uma casinha de taipa e lá, em um dos quartos, encontrava-se um senhor  gordo, com uma barriga enorme e feio como o diabo com convulsão. Disse que estava sem desistir há mais de uma semana e não soltava um vento nem pelo amor de Deus. Zé o examinou, rapidamente e selou o diagnóstico :
                        --- Minha senhora, não é nada demais! É só um peido ariado. O cabra é feio demais e o peido fica zanzando pra cima e pra baixo :  não sabe se o cu é em cima ou embaixo !
                        Já velho, Zé Felipe, ainda em atividade, caiu doente. Pressentiu que a velha da foiçona arrodeava sua casa. Chamou Tico Biroba, o companheiro de toda uma vida e pediu-lhe que passasse com o velho Mercedes diante da sua casa e desse um apitão daqueles de ecoar na pradaria. Biroba, com os olhos lacrimejando, realizou o desejo do chefe e foi montado naquela buzina  que Zé Felipe empreendeu sua última viagem , desta vez por uma estrada escura e totalmente desconhecida.

Los Perros y el Poeta - José do Vale Pinheiro Feitosa

As longas ruas de Santiago assim as são pelo comprido vale que se estica entre os Andes e a Cordilheira do Mar. E por todas as alongadas ruas os cães vivem soltos, especialmente no centro formigueiro de gente. Ainda não em matilhas, mas em grupos ou solitários.

A sociedade protetora dos animais manifesta sua vontade política de não retirá-los das ruas, os donos de bancas e camelôs os alimentam e assim cães que viram latas, mas vira-latas não são pelos padrões das pobres ruas brasileiras, ocupam um território. Atravessam as longas e movimentadas avenidas da capital ao ritmo das pessoas, pelos sinais, sem compreenderem as cores, mas seguindo a procissão humana em obediência ao verde sinalizado.

Do corpo congelado dos latifúndios conservados e dos feitores da mineração do cobre surgiu uma elite ígnea e por isso mesmo acobertou-lhe uma grossa camada oxidada. Dessa ferrugem em camadas como uma massa folheada, vieram os bastardos do latifúndio e das susseranias, as sobras lanhadas dos feitores rurais, as escolas de fazer guerra aos apelos das novas camadas populares em busca de participação nas riquezas.

Estos perros se convirtieron em matilha. Assaltaram o poder popular, bombardearam a sede do poder democraticamente eleito. Aprisionaram, torturaram e mataram os cantores, os artistas, os líderes, os estudantes, os operários, los obreros como Manoel de Amanda.

Levaram a todos para o Estadio Nacional e ali começaram a seleção de assassinatos, de soltar os cães agressivos, os chutes na barriga das mulheres grávidas. Um oficial louco de ódio trucidou o compositor e cantor Victor Jara. O canil fora alimentado na medida, nem muito e nem pouco, mas com a ameça da escassez pelo governo imperial dos Estados Unidos da América em Saque. A matilha dos cães do Chile orquestradas pela chibata de comando de Augusto José Ramón Pinochet Ugarte.

Os franceses têm muitos créditos com a civilização ocidental. Mas um débito tremendo com os direitos humanos, com a dignidade e a paz dos povos em razão do seu pervertido espírito colonial. Não muito diferente dos outros países colonialistas da Europa, mas esmerados em técnicas de fazer sofrer os oprimidos. A sua prolongada guerra colonial na Argélia gerou o pior dos soldados, aquele pervertido em torturas e destruição da humanidade e das pessoas. Era, Augusto Pinochet, filho de um militar de origem francesa.

Los perros atacaram La Chascona, a residência do poeta Pablo Neruda e de Matilde, que fica ao pé do Cerro San Cristóbal no bairro popular de Bela Vista. Cercaram o bairro com armas e veículos de guerras. Os soldados tomaram as ruas, entraram na casa do poeta, saquearam os livros e os queimaram em las calles próximas. A nuvem negra do sacro espírito das fogueiras inquisitoriais. O ódio ao poeta. Aos comunistas. Ao povo que havia eleito Salvador Allende.

O golpe de los perros aconteceu no dia 11 de novembro de 1973 e no dia 23, doze dias passados, morreu Neruda. Membros das embaixadas, especialmente da embaixada da Suécia se deslocaram em solidariedade a Matilde que cercada por los perros, velava o corpo do poeta. La Chascona estava cercada por baionetas caladas. E Matilde resolveu que iria levar o corpo de Neruda pelas ruas até ao cemitério sobre enorme risco pela saliva de ódios da direita chilena que cercava o poeta.

No dia marcado Matilde não ficou só. O embaixador da Suécia, Harald Edlestam que salvou muitos exilados brasileiros e que é tema de um recente filme sueco, entrou no meio do cortejo em franco desafio às balas dos golpistas. E vieram outros membros de outras embaixadas e los perros não tinham como atacar este pessoal, mas acompanharam o féretro com passadas de fel espelhado pelas ruas de Santiago. Para surpresa da história, anônimos foram surgindo não se sabe de onde e silenciosamente engrossaram o cortejo que honrava o poeta maior do Chile.


Um desafio ao ódio. À morte. Ao assassinato e à tortura. O poeta não saiu vencedor da morte física, mas a humanidade dos chilenos foi salva neste gesto. Incluso los perros no pueden esquercer de ella.  

quarta-feira, 17 de julho de 2013

TUDO QUE NECESSITAMOS É AMOR: MINHAS EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS INEXPLICÁVEIS (texto revisado)

TUDO QUE NECESSITAMOS É AMOR: MINHAS EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS INEXPLICÁVEIS (texto revisado) “All you need is love” (Lennon/MaCartney) Namastê para todos os irmãos e irmãs, eu acabei de postar agora um video incrível cujo titulo é I AM...após assistir (sugiro a todos que assistam...está no meu facebook...procurem) esse video senti necessidade de compartilhar com vocês minhas experiências espirituais inexplicáveis sobre a essência do Amor Divino. Confesso que não tenho a pretensão de que todos venham me compreender, mas continuo na minha vontade de semear as minhas descobertas inexplicáveis para que possamos ter e viver um mundo melhor do que esse. Em 1988 fui abençoado por uma experiência mística-espiritual com o Amor Divino e a partir dessa experiência decidi escrever e divulgar de forma científica, filosófica e espiritual e não parei até hoje mesmo doente e angustiado como estou agora. A fé de Deus me dá forças para continuar escrevendo minhas reflexões e divulgando para todos o que existe por detrás dessa palavra tão falada, mas pouco vivenciada pela humanidade: Amor Divino. E como se deu esse fenômeno? Tudo começou quando em desespero roguei para Deus que me revelasse a Verdade Dele sobre a nossa vida humana caótica, violenta, acelerada e neurótica. Isso chorando de joelhos copiosamente olhando para um quadro de Jesus, o rosto dele pintado em branco num pano de veludo preto com a coroa de espinho e o sangue escorrendo na face, numa tarde quando morava num quitinete no bairro do Flamengo na zona sul do Rio de Janeiro. Eu era engenheiro e estava começando o meu mestrado na COPPE/UFRJ. Então, numa tarde quando palestrava na minha universidade para um grupo de professores e alunos senti uma voz interior dizendo: "Você está orgulhoso". Eu respondi logo: "de onde fala e quem tu és?". A voz interior me respondeu: "Eu Sou". E eu perguntei novamente: "Eu sou quem?". A Voz interior continuou dizendo: "Eu Sou". E aí sai da universidade chorando e perguntando para mim mesmo: "Quem sou eu?". E a voz continuou respondendo a mesma frase várias e várias vezes. Passei vários dias me questionando sobre a natureza da voz interior misteriosa. Até que um dia Ela me intuiu a ir para o banheiro do meu quitinete e olhar para o espelho. E diante do espelho a Voz Interior falou: "Você quer fazer a sua transformação acordado ou dormindo". Eu respondi: "quero fazer dormindo". E a Voz interior disse: "Não...você vai ficar acordado...e depois vai fazer um trabalho na universidade". Eu não conseguia fazer outra coisa senão "orar e vigiar a mim mesmo a cada segundo". De forma que, fui intuído a buscar ajuda espiritual com uma amiga minha bem próximo de onde eu morava. E ela me deu uma orientação dizendo: "Bernardo, preste atenção...existe em todos nós, dois níveis de existência-consciência: o eu superior e o eu inferior... descubra você mesmo quem é quem em você mesmo". Eu já tinha lido alguns livros da entidade espiritual conhecida como André Luis psicografados por Chico Xavier. E nesses livros eu detectei e anotei duas frases que me chamaram minha atenção e são elas: "a intuição é a base da espiritualidade" e a outra "o pensamento é energia". Eu colei essas duas frases no papel na minha estante de compensado branco para não esquecê-las. Então, comecei uma jornada de investigação a partir desses três princípios básicos: "existe em nós dois níveis de existência-consciência : a inferior e a superior", "a intuição é base da espiritualidade", "o pensamento é energia". Assim sendo, comecei a prestar a atenção nos meus próprios pensamentos, sentimentos e desejos. Eu parti da hipótese de que a natureza (consciência) inferior era de frequência (vibração) baixa (negativa) e a outra natureza (consciência) superior (positiva) era de frequência (vibração) alta. E com muita força de vontade ferrenha vigiava os meus dois níveis de consciência separando que era inferior e superior dentro de mim mesmo. A minha amiga Ana que me orientou sobre os dois níveis de consciência, um dia me convidou para conhecer um lugar místico-espiritual conhecido como PONTE PARA LIBERDADE (até hoje existe!). E não é um templo espiritual ou centro espiritual, mas no quarto ou na sala de uma casa comum de uma pessoa que se diz CANAL dos mestres espirituais muito evoluídos que intuíam o CANAL para que todos conhecessem a Verdade da espiritualidade superior. A primeira vez que eu fui fiquei perplexo com o que eu presenciei e comecei a sentir quando a mulher (CANAL) falava sobre as hierarquias divinas e o que eles queriam que a gente fizesse para uma nova era de evolução espiritual. A mulher muita nova e bonita emitia uma energia que vibrava em mim tão forte que eu achei que ela estava num transe. E depois na segunda vez eu senti também uma energia muito estranha de calor no meu corpo. De modo que comprei um livro básico da PONTE PARA LIBERDADE: HAJA LUZ. E levei para casa esse e outros livros que comprei lá mesmo. Mas, tarde da noite desembrulhei o pacote e abri o livro HAJA LUZ e comecei a ler e o que aconteceu de extraordinário? Eu não conseguia parar de ler o livro e entrei pela madrugada assim. Em dado momento, senti que era tarde e precisava dormir, mas ao mesmo tempo sentia que estava cheio de energia estranha, mas gostosa e forte, que não me permitia relaxar para dormir. E foi aí que lembrei de perguntar a minha intuição de como fazer para conseguir dormir. A minha voz interior me disse: “vá para uma página no final do livro e leia uma oração”. E assim, fui e fiz (a oração era de um arcanjo..não me lembro mais o nome dele). E me deitei e “apaguei” (dormi) imediatamente. Antes de dormi eu pedi que quando eu acordasse de manhã eu estivesse com a mesma energia misteriosa durante a leitura do livro. E assim aconteceu, quando eu acordei estava com a mesma energia gostosa. Eu fui para o Aterro do Flamengo (perto do meu apartamento) e comecei a andar e a praticar os ensinamentos e a disciplina espiritual da PONTE PARA A LIBERDADE. A disciplina consistia em invocar uma chama violeta (ou chamar o mestre espiritual daquela chama – Saint Germain). Essa escola mística-espiritual ensina que cada ser humano vibra numa determinada cor (as setes cores do arco-íris). Eu descobri mais tarde que a minha cor era Azul do mestre El Morya – um mestre ascensionado da PONTE PARA A LIBERDADE. Os médiuns videntes já viram ele atrás de mim várias vezes! Voltando ao assunto comecei a praticar também a disciplina da chama violeta para transformar as vibrações negativas em positivas. E fiz com tanta perseverança que comecei a entrar num estado de consciência de paz interior e equilíbrio espiritual. Na minha disciplina espiritual utilizei os mantras (repetições sagradas) da PONTE PARA LIBERDADE por exemplo: “Eu sou Deus” ou “Eu sou a poderosa presença divina em ação” ou “A Vontade de Deus é o Bem, A Vontade de Deus é a Paz, A Vontade de Deus é a Felicidade, A Vontade de Deus é a Bondade”. Essas técnicas todas eu alternava, mas não deixava minha mente desocupada pensando e oscilando entre o passado e o futuro. Eu não poderia em hipótese nenhuma perder a fé e a vontade de continuar minha disciplina de purificação espiritual – durante semanas a fio sem parar! E o que aconteceu percebi em dado momento que eu tinha o domínio de dar ordem e ficar em equilibro quando quisesse. Num final de uma tarde a minha intuição me avisou que eu tinha alcançado o poder de pedir qualquer energia positiva para mim. Então, a cada ordem dada eu experimentava a energia pedida, por exemplo se eu pedisse Paz, a Paz interior se manifestava, se eu pedisse a Alegria eu ficava alegre e assim por diante. De forma que, mantive a disciplina e fui percebendo que eu era o único responsável pelo meu destino e minha felicidade interior. A partir dessa constatação meu nível de consciência já não era mais racional, havia alcançado o estado avançado da intuição. E fiquei totalmente absorvido por essa disciplina a tal ponto que fiquei mais de um mês ausente da UFRJ. Agora eu chego no momento mais fantástico da minha experiência mística-espiritual. Era de tarde do mês de agosto e eu estava fazendo minha disciplina espiritual num estado de consciência transcendental – inexplicável , ou seja, uma sensação de leveza interior, paz e serenidade...até que o telefone tocou e eu de imediato atendi. Do outro lado da linha telefônica (naquela época não existia o celular) estava minha amiga Gláucia que era também aluna de mestrado da minha turma. Gláucia me perguntou: “Bernardo, todos nós aqui estamos preocupados com sua ausência, meu amigo me conte o que está acontecendo com você?”. Eu disse: “Você tem tempo para me ouvir?” . E ela respondeu: “tenho, conte!”. Aí comecei a contar a minha história da disciplina espiritual com uma voz doce e serena, com calma absoluta. Em dado momento da história (bonita!) eu mesmo me emocionei e tive vontade de chorar. Tentei segurar as lágrimas, e de repente escuto a minha intuição falar bem alto na minha consciência: “Bernardo, solte a emoção!”. E aí comecei a chorar e soluçar, e falei para minha amiga que eu precisava parar de conversar para me controlar. Nesse instante, senti o fenômeno mais fantástico que um ser humano mortal comum possa vivenciar na face da terra! No centro do meu peito algo girava numa velocidade e frequência altíssima que me deixava num estado emocional inexplicável: era o Amor Divino! E quando fui colocar o telefone na base vertical senti uma energia gostosa muita fina tocar o meu braço direito. Nesse momento, sem entender o que estava acontecendo voltei-me para minha intuição e perguntei: “de onde vem essa energia?” . A intuição me respondeu: “olhe para o centro da sua mão esquerda”. E aí percebi que essa energia maravilhosa vinha do centro da minha mão esquerda. Em seguida a minha intuição me orientou para sentar sobre os meus calcanhares e levantar a mão direita aberta em direção ao céu. E aí descobri que essa energia vinha também do cosmo e entrava pela ponta dos meus dedos da mão direita e percorria um caminho em direção ao centro do meu peito aumentando mais ainda a velocidade e frequência da energia que saía dele. Fiquei extremamente encantado com esse fenômeno, e descobri que a energia estava em diversos pontos do meu apartamento. No dia seguinte, eu ainda estava nesse estado incomum transcendental e fui trabalhar como médium numa instituição espiritualista (IEVE) que ficava em Ipanema (bairro nobre e rico do Rio de Janeiro). Nesse dia, era uma quinta feira aconteceu algo de extraordinário: uma cura milagrosa, que foi anunciada na semana seguinte. O nosso coordenador e dono do centro espiritualista disse: “quero comunicar e parabenizar a todos vocês, porque houve um milagre aqui na quinta-feira passada, eu não sei de qual de vocês foi o responsável por essa cura milagrosa”. Esse texto, não está completo...procurei fazer uma síntese para não cansar os meus leitores...em outra oportunidade conto outros detalhes inexplicáveis que não foram colocados nesse texto. Namastê...obrigado meu Deus! Prof. Bernardo Melgaço da Silva e-mail: bernardomelga10@hotmail.com Nota: Em 1992 e 1998 fiz dois trabalhos científicos: dissertação de mestrado e tese de doutorado respectivamente. E nesses dois trabalhos, que tem uma cópia de cada um na Universidade Federal do Rio de Janeiro (na biblioteca do Cento de Tecnologia –CT), procurei mostrar (“explicar cientificamente”) o Caminho do Amor Divino que fiz em 1988. Desde 2009 para cá tive dois cânceres e uma metástase no pulmão que me custou o corte em duas costelas (durante anos caminhei e estou caminhando com dor!!!!!!!!!!!!!!...nas costelas). Além disso, tive uma pneumonia durante um mês com febre e um calor terrível no peito. Desde 2011 estou com uma prisão de ventre crônica.....quanto sofrimento!!!!...intestino desregulado...o que me sustenta em pé é a minha fé. Sinto, portanto, que minha vida nesse plano não durará muito...mas farei o possível para me superar e escrever um livro e narrar esse fato místico-espiritual inexplicável. A minha intenção com essa história não é ganhar dinheiro ou ficar famoso. Eu não preciso disso, ganho um bom salário de professor universitário aposentado pelo Estado do Ceará. Solicito a todos os irmãos e irmãs que divulguem essa minha mensagem de fé, esperança e Amor Divino para seus amigos, parentes, vizinhos, desconhecidos etc. E nas redes sociais também. Eu sinto que voltarei a Casa do Meu PAI (Deus) muito em breve...mas antes de ir embora desse plano desejo que a humanidade saiba desse Caminho buscado pelos homens há séculos!!!! Não quero levar para o túmulo essa história. E quem desejar uma cópia dos meus trabalhos científicos envie um e-mail (eu tenho eles no formato Word) para mim, pois terei o maior prazer do mundo de compartilhar minhas pesquisas acadêmicas na UFRJ/COPPE. Namastê...obrigado!

Lembrando um conto...- por socorro moreira



Rua da Pedra Lavrada, Casa aguada de manhã e de tarde. Vassoura de palha levantando aquela poeira fina que nos de deixava gripados. Tosse de cachorro, falso crupe, alto índice de mortalidade infantil...
Eu crio esse menino, pensava a mãe...
Enquanto a faxineira varria pra lá e pra cá eu lembrava a história da Dona Baratinha- aquela oferecidazinha!
Por dinheiro, muitos não resistem. Ela, na janela, testava os bichos que a pretendiam. Na medida em que recebiam “não”, a gente ia descobrindo que era descartado, aquele que fazia zoada, enquanto dormia. O rato ganhou a parada. E começaram os preparos de quitutes para o banquete nupcial. Mataram um boi, um porco, carneiro e galinhas. Mas o prato principal seria uma gostosa feijoada. As panelas começaram a exalar um aroma irresistível. O noivo, Dom Ratão, que relaxava num dos buracos da casa começou a ficar inquieto. Tinha que comer cru, comer antecipado... Na madrugada, depois de toda salivação, aproximou-se da panela que descansava, na boca do fogo, solitária. Mal começou a lamber as bordas, viu-se atraído por um pé de porco. Tibungou no caldeirão ainda pegando fogo, e lá pereceu de morte lenta, e doce... Como diria Caymmi.
Dia seguinte, o noivo era fugitivo. Dona Baratinha abriu sua caixinha de fósforo onde traficara um tostão, que encontrara na varredura da casa.
Um final trágico. Nem poderia ser diferente- ela blefara, no canto do seu tesouro.
Minha mãe contou-me essa historinha quando eu tinha menos de três anos. Viciou-me cedo nos contos.
Agradecemos Zé do Vale, Zé Flávio, Zé Almino, Joaquim Pinheiro, Stela,Mariano,Melgaço,Carlos Esmeraldo, e tantos outros nobres escritores pelo prazer de lê-los.
Ontem reencontrei Rosa Catarina, poetisa cearense, esposa do Fausto. Casal que muito contribuiu pela educação da moçada cratense.
Breve , NÓS teremos nova colaboração!

Todo ritual parece cansativo: antes, durante e depois. Mas, quem tem grana sobrando tem que jogar no lixo ou incinerar. Existe prazer nisso?
Todo prazer é efêmero. Lembranças que nos enchem de prazer são definitivas, até que a morte as tornem esquecidas.
Quem divide o pão compartilha da saciedade sonhada.

terça-feira, 16 de julho de 2013

O Casamento da Senhora Baratinha - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quem quer casar com a senhora baratinha
Que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha
É carinhosa e quem com ela quiser se casar
Terá doces todo dia, no almoço e no jantar.

O genial Braguinha pegou esta música de domínio público, deu-lhe uma letra memorável que muitas crianças pelo Brasil cantaram e ainda cantam. Mas na semana que passou outra Baratinha casou-se, no Copacabana Palace, o mais palácio de todos os palácios da burguesia brasileira. A filha do magnata dos ônibus, Jacob Barata que tem concessões desde o Amazonas até o Rio e que pelo que consta é sócio de Chiquinho Feitosa, o mais próspero magnata dos ônibus mui confortáveis das ruas de Fortaleza e seus subúrbios.

Foi uma festa digna de encher as revistas de consultórios e cabelereiros, uma festa apropriada ao exibicionismo dos riquíssimos cearenses que tão bem o afiadíssimo Jáder de Carvalho estripou em seu livro denúncia intitulado Aldeota. Enquanto as ruas de Fortaleza e das cidades cearenses cruzam com um dos maiores índices de violência eis o que disse a colunista social Hildegard Angel sobre a vestimenta das madames presentes à festa.

“Todo esse décor (ela falava da deslumbrante decoração dos salões) serviu de cenário à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser identificado, falou: Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa festa. E de gente que ninguém conhece. Acredita-se que grande maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura, grandes marcas, fosse de convidados do Ceará, que ocuparam vários apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.”

E a “ocupação” se deveu a duas manifestações que cercarem o grande baile da corte: uma na igreja e outra em frente ao Copacabana Palace. Na igreja enquanto o padre celebrava o enlace, a gritaria vinda de fora ressoava no vão celestial da santa cerimônia. A saída de noivos e convidados foi na base da porrada: policiais e seguranças às cacetadas e cotoveladas enquanto o povo rebelado gritava no mínimo que o noivo iria broxar.

Um destaque da festa foi o padrinho dos noivos: Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Logo a maldade levanta na rede uma série de processos que tiveram o dedo do ministro que se originavam na família Barata. Mas a razão é mais familiar: Chiquinho Filho, é filho de Chiquinho que é irmão de Guiomar mulher de Gilmar. Chiquinho Feitosa, o pai, também teve um pai. Que foi Carlos Albuquerque, nascido na localidade de Jardim na cidade de Paracuru. Temos duas derivativas dessa história: Carlos Albuquerque para melhorar de vida migrou para Tauá. Lá montou um grande armazém e se envolveu no assassinato da primeira mulher por “questões de honra” como se dizia antigamente. Mas casou-se com uma filha de uma das matriarcas dos Inhamuns.

O pai de Carlos Albuquerque, conta uma lenda, que deve ser lenda, embora toda a Paracuru acredite nela. Consta que um navio carregado de fardos de borracha navegava próximo à costa da cidade e foi bombardeado por submarino alemão. Os fardos de borracha se espalharam nas correntezas do mar. O pai de Carlos Albuquerque, que tinha barcos de pesca, navegou em busca dos fardos, além de estimular os jangadeiros da cidade a arrastá-los até a costa que ele os compraria. Seria esse o nicho ecológico desse imenso capital.

Mas fardo pesado quem vivenciou mesmo foram seu bisneto e convidados do seu casamento com Beatriz Barata. Filha de Jacob Barata. Não adiantou que um dos três salões da frente do Copacabana Palace fosse destinado a ser o Salão de Doces como bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates de Fabiana D´Angelo, chá, café, brownies. O chamapagne era Veuve Clicquot e garrafas de Black Label eram virais no copo que o desejasse. Vários bares de caipirinha, saquê e assim por diante. O bolo de Regina Rodrigues em vários andares numa brancura de fazer inveja aos mais puros anjos.

O buffet foi do Copacabana Palace, distribuído em vários salões e varandas, mesas de frios, pratos quentes e o cerimonial de Ricardo Stambowsky e fotos de Ribinhas. Não sei nada disso.  Tudo foi copiado da nota de Hildegard Angel.

E o povo na rua assistindo a todo tipo de desprezo com a dor dos outros, a mobilidade urbana, o baixo salário, fome e a miséria. Uma das evidências foi que nesse dia a Lei Seca não funcionou para o convidados mamados que pegavam seus carrões. O povo na rua gritando, vaiando e os convidados lá de cima esnobando suas posições. Jogavam notas de vinte reais, salgadinhos até que um parente da noiva jogou um cinzeiro que feriu um manifestante e aí a OAB entrou no circuito e parece que alguma punição haverá.

Mas a linda festa da Baratinha terminou mesmo foi com a polícia de choque com gases lacrimogêneos, spray de pimenta, balas de borracha, prisões e pancadaria. No povo da rua. Naqueles que até vivem na zona sul mas têm horror a este exibicionismo de bilionários que insultam o povo.

Na manhã seguinte um dos manifestantes da zona sul foi abrir a porta para sua faxineira que viajara quatro horas nos miseráveis ônibus do pai da Senhora Baratinha. Nem só de fora Dilma as manifestações vivem. Parece que alguma consciência de classe também entra nesta dispersa agenda dos movimentos de rua pelo mundo todo e aqui nas ruas brasileiras.  

Ps. Hildegard Angel é uma das últimas remanescentes do colunismo social à moda antiga. Mas tem uma matriz dolorida em sua vida: o irmão Stuart Angel foi preso e assassinado na Ditadura Militar e a mãe Zuzu Angel sofreu uma morte suspeita de ter sido provocada enquanto investigava a morte do filho. No texto dela, em seu blog, ela toma o pulso desta luta de classe nas ruas do Brasil