por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Tostões de memória- socorro moreira




Na década de 50 tínhamos o Rádio, o Cinema, as revistas ( Cruzeiro, Cinelândia...), e oxalá, algum jornal,  nos mantinham em contato com as notícias da Capital, do Brasil e do Mundo.
Guaraná, passas (caixinhas minúsculas), chocolates, biscoito Champanhe, ameixas, amêndoas, castanha do Pará e avelãs eram artigos de luxo. Tudo era artesanal, e primitivo: café torrado e pilado em casa, geladeira a querosene, fogão de lenha, filtros de barro, cascas de laranja penduradas no teto da cozinha, meizinhas  e latrinas no quintal, pinicos dentro do quarto, e até no corredor...Quartos apinhados de rede, família numerosa, feiras diárias, ou no máximo semanais: pra comprar secos e molhados.Mercearias , quase únicas, substituíam os supermercados atuais.O povo do Crato já tinha a mania de fazer compras no Juazeiro. Lá tudo era mais barato e fácil de achar. Lá,  novidades, em primeiro lugar.
Na década de 60 as famílias começaram a usar papel higiênico, e as garotas substituíram os “guardanapos” por “Modess”. Chegou luz de Paulo Afonso pra apagar velas e candeeiros, rodas nas calçadas e desabitar as salas de cinema. As modistas ainda tinham todo espaço, e as revistas em quadrinhos começaram a enfeitar as bancas de revista. Não faltava uma radiola nas salas, cristaleiras nas salas de jantar, e penteadeiras nos quartos.
Leite Moça e Creme de leite começaram a constituir a base dos nossos quitutes e doces.
Em 70 as casas que  cobriam botões, fivelas , lojas de tecido, entraram em crise com o advento das primeiras e definitivas boutiques.
Em 80  dançávamos em “boates”, e curtíamos músicas internacionais.Os eletrônicos , carros, quartos com suítes, pisos de cerâmica eram o sonho de consumo de todos os lares.Manaus e Paraguai eram muito visitados.
Nos anos 90 as atenções foram voltadas para uma política inflacionária. Desativaram o curso “Normal”, que formava professoras primárias, e a corrida saudável por um curso profissionalizante ou Superior motivavam, definitivamente, a população do Crato.
Nos anos 2000 deixamos de conhecer TODOS os moradores da nossa cidade. Gente de fora: professores, alunos, comerciantes, políticos e industriais assumiram uma nossa nova vida.
Todo o passado ficou para trás, menos as nossas lembranças que permanecem vivas.Hoje,na terceira idade,vivemos o cotidiano de esperanças mescladas de muitas saudades.
Envelhecemos e ganhamos um jeito novo de vida. Mais doenças, cujos tratamentos esticam o fim.
Péssimos programas de TV, gosto musical suspeito, contas de celular, luz, planos de saúde, prestação de carro, aluguel de casa, educação dos filhos e material escolar, alimentação, engolindo sem piedade o nosso parco salário. Tempos de conforto bastante oneroso!
O interessante é que a paixão, o amor, a poesia, os sonhos encantados nos enchem de alegria como um “PI”, em todos os tempos.
Nunca mais terei um pijama de flanela feito por minha mãe para enfrentar as noites frias de junho; nunca mais escutarei as histórias da minha avó Dadinha com cantigas e detalhes surpreendentes; nunca mais um tijolo de Joaquim Patrício; nunca mais um jogo clássico de futebol de salão: AAB X Votoran; nunca mais um corte de cabelo por Baysa; nunca mais um corso no carnaval; nunca mais a farda do colégio e os livros suados, debaixo dos braços.;nunca mais uma sessão de cinema no Cassino,nunca mais uma aula de Vieirinha, Alderico, Zé do Vale...Nunca mais quase tudo, quando justamente tudo parece estar ao nosso alcance.
Sejamos satisfeitos com novas realidades. Todo tempo tem a sua graça!
Um abraço aos amigos do meu tempo: Magali, Carlos, Henrique Cruz, Zé Flávio, Bastinha, Joaquim, Dona Almina, Abidoral, Walda, Zé do Vale,mariano, Stella, e todos os rostinhos carinhosos dos quais me recordo,ou encontro em meu caminho.
Nossa geração sobrevive pra contar histórias. Conte a sua!

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