por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Atriz e poetisa brasileira

 
 
 
 
Débora Duarte

Fada Safada
 
Eu vos convoco, monstros adormecidos, 
E também os congelados,
Duendes, mudos e mutilados,
Esqueletos dos túmulos não selados,
Pro meu circo, pro meu grito 
Pros meus fados
 
 
 

 
Há qualquer coisa errada, entravada, com a tua semente
Ela recusa terra, não quer água
Só tropeça e rola entre soluços estéreis.
 
 
Eu queria tanto estar sem jeito
Mas tudo vai ser tão igual
Você insiste e eu me deito
Tudo mal, meu bem, mas tudo bem mal
 
 
 

 
 
Era uma vez um homem especial
Equilibrava no seu quotidiano um elefante e uma borboleta!
Um sólido voador
Um sonhador arraigado
Um homem que amava lento
 
 
Fico te olhando
Entre espanto e medo
Me irrito e enterneço ante tua dependência passiva
Você ainda não me olha
Já grita na minha barriga, me transforma
E observo no meu corpo
Me pergunto se já reclamas mais espaço
No meu pescoço um laço
Não quero te tratar como um prêmio
Nem te oferecer em sacrifício
Nem  te fazer produto de um vício de amor
Quando mais te pressinto é na insônia, na taquicardia
Quase te ouço respirar
Transpiro, louca tento te adivinhar
Pulsas no meu sangue como um peixe pula no mar
Te desejo
Tenho medo do poder de te matar
Teu grito acorda as noites que se embaralham nos nós das redes
Puxo feroz contra as marés
A ver se te agarro duas estrelas
Te ofereço... Te enfeito os pés
 
Só 
o
apartamento
da
frente
é
amigo.
Porque 
está vazio
e
apagado.
 
 
 
Vem meu mouro
Derruba meu muro e me molha
Me tomba! Me tenta!
Me tudo
Que eu não sou capaz.
 
 
Vê se não fica aí parado, 
Me olhando com raiva num canto
Me culpando pela tua falta de aprumo!
Odeio este teu jeito de sentar
Como quem está de saída
 
 
Procurei este amor (como a gente procura um avião no céu)
Um ronco forte dentro do peito
Estranho, este pássaro metálico
Que faz seu ninho aqui embaixo !
Mais perto da morte quando desce do que quando levanta !
Tudo tão perto da explosão, do inflamável (delícia!)
E quanta inveja arde nos meus olhos submissos:
a) tua liberdade tão leve;
b) estrelas que regem tua navegação;
Você, tão habituado ao espaço total, 
De repente esbarra no meu seio,
Tromba na minha barriga,
Se choca no meu cheiro de carne.
Sou a montanha imprevista
Que te fere o nariz,
E te acolhe numa clareira de grama molhada.
O que eu quero é te agarrar
(Sprunft!)
 
 
 
 
Ages em meus sentidos, de manso como com as flores
Dá-me espinhos para que eu possa furar
A distância que entre nós se instala
 
 
É no colo de Apolo
Que acordo
Sempre ! Todas as manhãs
Se amando, a gente é um solo
E o sol cozinha maçãs
 
 
 

 
Sinto medo de estar viva
Na tua ausência de noite
Pressinto o tempo pesado
O silêncio implacável
Fragilidade como ser
Como se eu fosse uma bomba
O terror
A certeza de que meu peito explode
Se você não chega hábil
E me desarma a tempo, a contento
E a gente festeja com uma gargalhada !
Você me invade, me embriaga
Eu soluço agradecida
Agarrada no teu peito, respirando teu pescoço
A morte amortecida.
Não dorme agora, faz esse esforço
Beija com fogo esta tua frágil adormecida
 
 

 
Um susto de homem me atropelou
Que surpresa !
Tinha no peito um ninho
Gosto de canela e vinho
E eu tive até pudor!
Príncipe encantado tarado
Mais calor que um reator.
Profético trepântico,
Libertou minha envergia
Foi em cósmica orgia
Que a gente namorou
 
 
Ai! Essa fada é safada
Quando afaga, afoga
Maga do tesão
Nem em Deus acredita, Deusa maldita
Tua sina ela dita, tua rendição
Ela é à-toa, tua perdição
Vem, pomba-gira
Pira tua ira
Me vira em tua ação
Amada maga, safada fada
Afoga afaga
Sou teu cão
 
 

 
 
 
Irrompe o homem
Rompe o hímen
Irroga o vassalo a sua alteza
Mas ela mente, ela mente, ela mente
Tontos, soltos, suados
Ela partida, ele chegado
Unidos carrasco e vítima num instante de morte
Ela grunhe, urge que ele aja
Que se arrebate,
Não se dilua lento o tempo e o desgaste
Histérica mártir, no transpasse alagada
Clama a rainha - Chispas! Chicote de fitas!
Um susto, um murro, alucinada
No veludo carmim-real desfalece esquecida
Como uma mancha roxa de vinho
Como um guardanapo dobrado
 
 
 

O lucro feito
Do xucro peito
É sempre ou nunca, ignorância
Atento
Há tempo
Há tanto
E tento
Tremo mula estaco
Pressinto presença
Meus sentidos aguardam teus passos...
 
 
 
Quisera que meu cansaço não perturbasse o silêncio deste mundo
que não acordasse as rosas sonadas e me deixasse ouvir o
prelúdio que toca o orvalho tangendo pétalas dormidas...
quisera ser pura para ser rosa e estar desperta
quem sabe assim eu pudesse encontrar-te imóvel
à minha espera ?
E se não viesses, que eu ficasse eternamente terra para
que me sentisse capaz de gerar-te um dia!
Ai! que meu sonho não grite tão alto e não deixe secar a terra
onde virias como minha invenção...
uma planta nunca tocada... nunca vista... de fortes raízes em mim! 
 
Amigo que chega cansado de andar,
Eu estou cansada de não partir
Me dá um abraço ?

o papel
a caneta
o impulso
?
?
inferno!
as  palavras fugiram.
 
 
Venham todos! Corram! Mas andem! Venham ver a incrível Árvore-mão.
Não percam a chance de serem cumprimentados por uma árvore.
De ganhar autógrafo florestal. De ver como ela mostra bonitinho
como dois e dois são cinco. Meus senhores, notem que, além de Árvore-
mão - atenção, muita atenção -, trata-se também de 
uma roleta mágica. Se cada vez que ela se fechar você conseguir
adivinhar o que ela vai estar segurando quando se abrir, o
senhor leva pra casa, sem contratos nem despesas.
Mas vamos, senhores, sejam corajosos, impetuosos, subam por
esta escada e venham conhecer a única árvore que usa relógio,
que dá bom-dia, que faz que sim, que faz que não. Comprem seus
ingressos; subam, venham. Não percam a chance de ter uma foto
do seu filhinho com uma árvore que dá adeusinho.
  
 
 
 

Juro que é por necessidade, meu mestre!
A mão amada já não aquece
Eu só me salvo por amar as palavras
Com a mais direta, direi ao mais amado
A mais guardada solução

Jornal da Poesia 
 

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