Eu vos convoco, monstros adormecidos,
E também os congelados, Duendes, mudos e mutilados, Esqueletos dos túmulos não selados, Pro meu circo, pro meu grito Pros meus fados Há qualquer coisa errada, entravada, com a tua semente Ela recusa terra, não quer água Só tropeça e rola entre soluços estéreis. Eu queria tanto estar sem jeito Mas tudo vai ser tão igual Você insiste e eu me deito Tudo mal, meu bem, mas tudo bem mal Era uma vez um homem especial Equilibrava no seu quotidiano um elefante e uma borboleta! Um sólido voador Um sonhador arraigado Um homem que amava lento Fico te olhando Entre espanto e medo Me irrito e enterneço ante tua dependência passiva Você ainda não me olha Já grita na minha barriga, me transforma E observo no meu corpo Me pergunto se já reclamas mais espaço No meu pescoço um laço Não quero te tratar como um prêmio Nem te oferecer em sacrifício Nem te fazer produto de um vício de amor Quando mais te pressinto é na insônia, na taquicardia Quase te ouço respirar Transpiro, louca tento te adivinhar Pulsas no meu sangue como um peixe pula no mar Te desejo Tenho medo do poder de te matar Teu grito acorda as noites que se embaralham nos nós das redes Puxo feroz contra as marés A ver se te agarro duas estrelas Te ofereço... Te enfeito os pés Só o apartamento da frente é amigo. Porque está vazio e apagado. Vem meu mouro Derruba meu muro e me molha Me tomba! Me tenta! Me tudo Que eu não sou capaz. Vê se não fica aí parado, Me olhando com raiva num canto Me culpando pela tua falta de aprumo! Odeio este teu jeito de sentar Como quem está de saída Procurei este amor (como a gente procura um avião no céu) Um ronco forte dentro do peito Estranho, este pássaro metálico Que faz seu ninho aqui embaixo ! Mais perto da morte quando desce do que quando levanta ! Tudo tão perto da explosão, do inflamável (delícia!) E quanta inveja arde nos meus olhos submissos: a) tua liberdade tão leve; b) estrelas que regem tua navegação; Você, tão habituado ao espaço total, De repente esbarra no meu seio, Tromba na minha barriga, Se choca no meu cheiro de carne. Sou a montanha imprevista Que te fere o nariz, E te acolhe numa clareira de grama molhada. O que eu quero é te agarrar (Sprunft!) Ages em meus sentidos, de manso como com as flores Dá-me espinhos para que eu possa furar A distância que entre nós se instala É no colo de Apolo Que acordo Sempre ! Todas as manhãs Se amando, a gente é um solo E o sol cozinha maçãs Sinto medo de estar viva Na tua ausência de noite Pressinto o tempo pesado O silêncio implacável Fragilidade como ser Como se eu fosse uma bomba O terror A certeza de que meu peito explode Se você não chega hábil E me desarma a tempo, a contento E a gente festeja com uma gargalhada ! Você me invade, me embriaga Eu soluço agradecida Agarrada no teu peito, respirando teu pescoço A morte amortecida. Não dorme agora, faz esse esforço Beija com fogo esta tua frágil adormecida Um susto de homem me atropelou Que surpresa ! Tinha no peito um ninho Gosto de canela e vinho E eu tive até pudor! Príncipe encantado tarado Mais calor que um reator. Profético trepântico, Libertou minha envergia Foi em cósmica orgia Que a gente namorou Ai! Essa fada é safada Quando afaga, afoga Maga do tesão Nem em Deus acredita, Deusa maldita Tua sina ela dita, tua rendição Ela é à-toa, tua perdição Vem, pomba-gira Pira tua ira Me vira em tua ação Amada maga, safada fada Afoga afaga Sou teu cão Irrompe o homem Rompe o hímen Irroga o vassalo a sua alteza Mas ela mente, ela mente, ela mente Tontos, soltos, suados Ela partida, ele chegado Unidos carrasco e vítima num instante de morte Ela grunhe, urge que ele aja Que se arrebate, Não se dilua lento o tempo e o desgaste Histérica mártir, no transpasse alagada Clama a rainha - Chispas! Chicote de fitas! Um susto, um murro, alucinada No veludo carmim-real desfalece esquecida Como uma mancha roxa de vinho Como um guardanapo dobrado O lucro feito Do xucro peito É sempre ou nunca, ignorância Atento Há tempo Há tanto E tento Tremo mula estaco Pressinto presença Meus sentidos aguardam teus passos... Quisera que meu cansaço não perturbasse o silêncio deste mundo que não acordasse as rosas sonadas e me deixasse ouvir o prelúdio que toca o orvalho tangendo pétalas dormidas... quisera ser pura para ser rosa e estar desperta quem sabe assim eu pudesse encontrar-te imóvel à minha espera ? E se não viesses, que eu ficasse eternamente terra para que me sentisse capaz de gerar-te um dia! Ai! que meu sonho não grite tão alto e não deixe secar a terra onde virias como minha invenção... uma planta nunca tocada... nunca vista... de fortes raízes em mim! Amigo que chega cansado de andar, Eu estou cansada de não partir Me dá um abraço ? o papel a caneta o impulso ? ? inferno! as palavras fugiram. Venham todos! Corram! Mas andem! Venham ver a incrível Árvore-mão. Não percam a chance de serem cumprimentados por uma árvore. De ganhar autógrafo florestal. De ver como ela mostra bonitinho como dois e dois são cinco. Meus senhores, notem que, além de Árvore- mão - atenção, muita atenção -, trata-se também de uma roleta mágica. Se cada vez que ela se fechar você conseguir adivinhar o que ela vai estar segurando quando se abrir, o senhor leva pra casa, sem contratos nem despesas. Mas vamos, senhores, sejam corajosos, impetuosos, subam por esta escada e venham conhecer a única árvore que usa relógio, que dá bom-dia, que faz que sim, que faz que não. Comprem seus ingressos; subam, venham. Não percam a chance de ter uma foto do seu filhinho com uma árvore que dá adeusinho. Juro que é por necessidade, meu mestre! A mão amada já não aquece Eu só me salvo por amar as palavras Com a mais direta, direi ao mais amado A mais guardada solução |
por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Atriz e poetisa brasileira
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário