por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Les Plaisirs Démodés - José do Vale Pinheiro Feitosa


Antes a sala era cheia. Barulhenta. Brigava-se por dores históricas ou por vaidades passageiras. Alguém sacava uma poesia e a reação se decompunha em encantos, desencantos, tédios e beicinhos pela qualidade literária da obra. Era doloroso até, mas havia gritos, silêncios e sussurros. Uma boia flutuando ou uma pedra afundando.

Mas hoje é como uma solidão. As vozes abandonaram os salões. Deixaram solitários a esgrimir com as sombras de si mesmos. Os que não foram, se recusaram a mudar de bairro, receberam convites de amizades e se recusaram. Os aniversários foram lembrados e não acusaram o recebimento. E as fotos anunciadas e não visitadas. E eles não foram. Ficaram como num eterno Clube da Rapadura, num meio de semana, ali por volta das 22 horas do dia 24 de outubro de 2012.

No outro lugar pulsam fofocas. Outros agentes a criar acompanhantes. Mensagens curtas. Uma rede de interação como uma patota quais aqueles que no velho salão ainda permanecem, tiveram. E tome a vaidade de uma face, tipo aqueles book de candidatas a modelo fashion. E tem os pássaros que não podem cantar. Apenas piar uma breve mensagem de seguidores.

Os que ficaram são démodés. Os esquecidos na penumbra a falar apenas para suas próprias lembranças. Estão num ambiente tão afeto ao contemporâneo, mas rigorosamente se vestem à antiga e desconsideram as luzes, Lady Gaga e Michel Teló. Mas preferem a solidão ao invés do coletivo a si oferecido.

São rigorosamente démodé ao estilo Charles Aznavour. Sem solução para este tipo de corrente de bolhas de sabão. Estão como num salão, com a música pop estourando os ouvidos, luzes de laser a piscar, um clima de fumaça a gelo seco. Estão ali na ambiência, mas retirando prazeres démodés.

Apesar dos ritmos loucos, corações encostados entre si. Corpos colados, face fundida à face. Enquanto a multidão borbulha nos ritmos loucos, separados dos ruídos, das ruínas que fragmentam, somos um todo escorregando na vida com os olhos semifechados e assim vamos até o final da noite: face fundida à face.     

A pista de dança invadida é um espetáculo raro, os que dançam estão em transe e a música ajuda. Os semblantes sobre a mesa de sacrifícios dos ritmos bárbaros, aos ares de hoje em dia envolvendo frequentemente os velhos de todos os tempos. Inclusive destes que cursam célere a atual juventude.

Ambos são estrangeiros enquanto dançam, parecem lutar um contra o outro. A música e o amor não fundem os corpos nesta penumbra propícia ao amor. Então, carpe diem! Vamos descobrir os prazeres à moda antiga. Seu coração junto ao meu, apesar dos ritmos loucos. Quero sentir teu corpo casado ao meu, face contra face. Face suada à face.  

Les Plaisirs Démodés - Charles Aznavour. Versão original dos anos 70, quando Aznavour mostrava na primeira parte os ritmos agitados das discotecas para em seguir entrar no ritmo romântico que era o tema da canção.

Les Plaisirs Démodés - Charles Aznavour em 1991 agora com estilo apenas romântico. Na primeira versão era um jovem com lembrança de um velho senhor e agora um senhor aderindo, sem mais a dualidade da primeira versão, ao assento, embora solitário, da vida que nunca muda. 

Um comentário:

socorro moreira disse...

Eu encaro o silêncio dos nossos salões como uma fase , onde a banda não passa.
Meu coração pulsa por renovação, inovação, conversação.
O coletivo salva o individualismo.
Ainda existimos!

Beijo.